Quando o tema é criança, não há quem ignore o grave problema mundial da pobreza infantil. Um estudo feito pela UNICEF em 46 países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, revela que 1 bilhão de crianças no planeta sofre de pelo menos um dos efeitos da pobreza: falta de água potável, condições sanitárias precárias, moradia precária, falta de informação, falta de educação, falta de alimento e condições de saúde precárias (Folha de São Paulo, 24 de outubro de 2003).
No Brasil, a moradia precária é um grave problema. Aproximadamente uma em cada nove crianças brasileiras mora em local inadequado. As crianças não desfrutam de sua infância, dedicam-se a algum tipo de trabalho na sua idade mais tenra. O amadurecimento é precoce, pois repartem com os adultos a preocupação do ganho para a subsistência da família.
O Projeto Meninos e Meninas de Rua, cuja sede é em São Bernardo do Campo, SP, realizou uma pesquisa entre agosto e setembro de 2003 com 397 crianças da cidade de Diadema. (Jornal Diário do Grande ABC, 28 de novembro de 2003). O resultado revelou que a maioria exerce algum tipo de atividade, não usa drogas e o dinheiro adquirido com a venda de balas ou castanhas é fundamental para a renda familiar. Mostrou também a inocência infantil. Ao serem indagadas sobre sua cor de pele, as crianças respondiam que era azul, verde, café com leite, branco escuro, marrom e bege. Essa constatação quebra o estereótipo a respeito das crianças de rua e leva os cidadãos à reflexão sobre seu comportamento diante do assunto.
Quando ocorre um ato violento praticado por crianças ou adolescentes, reacende-se o debate sobre o sistema penal e carcerário. O temor do público pende para a antecipação da responsabilidade do infrator. Agravam-se discussões amparadas em julgamentos sobre o comportamento delinqüente. Vem à tona o artigo 228 da Constituição, que estabelece a maioridade penal por faixa etária — 18 anos. A mídia denuncia a falta de políticas sociais que transformam uma criança, vítima da pobreza, em um jovem delinqüente. Enquanto alguns reforçam as punições aos menores infratores, os formadores de opinião alertam para o fato de que não é possível resolver o problema da violência, conseqüência da exclusão social, apenas castigando os infratores.
Esse cenário é cíclico nas grandes cidades do mundo e é preciso mudá-lo. A causa é conhecida de todos. Carol Bellamy, Diretora Executiva da UNICEF, declarou: "nenhum esforço para a redução da pobreza no mundo pode ser bem sucedido sem atingir, em primeiro lugar, as crianças" (Jornal Folha de São Paulo, 24 de outubro de 2003). Essa constatação transmite e representa o sentimento da humanidade: preservar em cada criança a pureza, a ingenuidade, a alegria, o respeito e o direito de se desenvolver física e intelectualmente.
Tais qualidades infantis não devem ser restritas a apenas um período da vida, mas preservadas e cultivadas, pois constituem a maior riqueza de cada ser. Não fosse assim, o Mestre, Jesus, não teria dito: "...se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus" (Mateus 18: 3).
