Nasci e cresci na quinta maior cidade do mundo. São Paulo é cheia de contrastes: marcas caríssimas da moda francesa batem recorde mundial de vendas, enquanto milhões de habitantes passam fome. Em alguns bairros, famílias pequenas desfrutam de apartamentos ou casas de mais de mil metros quadrados, enquanto seus vizinhos, a poucas quadras, são casais com cinco ou seis filhos, tentando sobreviver em um só cômodo, muitas vezes, de madeira e chão de barro.
Durante minha infância, esses contrastes tão gritantes não faziam parte do meu pequeno mundo, da minha vida pacata. Morava em uma casa grande, com minha família. Freqüentemente todos saíam à noite, mas eu não tinha o menor receio de ficar sozinha. Sentia-me muito segura. Mas, a situação deteriorou muito nos últimos vinte e cinco anos. Hoje, minhas sobrinhas adolescentes não andam sozinhas pela cidade.
Certa vez, estava dentro do carro, parada no farol, aguardando o sinal abrir. Minha janela estava aberta. De repente, um menino de, talvez, oito ou nove anos chegou perto de mim e, com algo na mão — um caco de vidro ou estilete — ameaçou-me e pediu minha bolsa. Olhando para ele, imediatamente pensei: “você é o filho amado de Deus e Deus está protegendo a nós dois". Movi meu braço para pegar minha bolsa e tentei conversar. Ele, porém, me ameaçou novamente. Continuei pensando: “Deus está aqui conosco e Deus é Amor.” Ouvimos, então, a buzina insistente de um carro. O menino se assustou e saiu correndo.
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