Nenhuma vida foi perdida. Quando o voo 1549 da US Airways aterrissou sobre o Rio Hudson, em 16 de janeiro de 2009 com seus motores completamente parados, apenas alguns minutos após ter decolado do Aeroporto LaGuardia, muitas pessoas, incluindo o Governador de Nova Iorque, David A. Paterson, consideraram isso um milagre.
Logo houve muitos comentários sobre a ação corajosa do Capitão Chesley B. Sullenberger III, que calmamente manobrou a aeronave, cujos motores não funcionavam, fazendo com que aterrissasse e pousasse sobre a água e, em seguida, dirigiu os 155 passageiros e a tripulação durante a retirada de emergência incrivelmente bem organizada. Por algum tempo, falouse a respeito das orações que essas pessoas fizeram depois que lhes foi dito para se prepararem para o impacto, como também a respeito das orações de carinhosos espectadores, como o Rabino Gideon Shloush de Manhattan, que foi até o local para oferecer suas orações e consolo aos passageiros. Por um momento, o incidente foi o mais importante do noticiário da noite, mas desapareceu rapidamente das manchetes. As investigações continuaram, mas os repórteres já não estavam mais lá.
Vale a pena voltar a falar um pouco mais sobre o resultado maravilhoso desse acontecimento, não tanto pela história em si, mas pela esperança e fé que ele pode despertar em nós quando o futuro parece ameaçador. Coisas boas estão acontecendo. Elas nem sempre são tão dramáticas como o caso do voo 1549, mas acontecem todos os dias na vida pessoal, como também no mundo, como um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, após semanas de lutas, uma hipoteca salva à beira da execução, a recuperação de uma doença.
Entretanto, algumas vezes parece existir um questionamento sutil a respeito das coisas boas que acontecem: seria coincidência? Acaso? Sorte? Teria sido a oração um fator ou isso teria ocorrido de qualquer maneira? Se as coisas não tivessem saído tão bem? Pensamentos articulados, com argumentações convincentes sempre aparecem dizendo que o cessar-fogo não durará; ou que a hipoteca pode ter sido salva, mas aconteceu às custas da educação das crianças; ou que a doença teria seguido seu curso, quer houvesse oração ou não. As coisas nem sempre vêm embrulhadas em pacotes perfeitos e parece mais fácil, mais prático, duvidar. Olhamos para todas as dificuldades no mundo e nos juntamos às vozes desesperadas de como tudo isso parece sem esperança (mesmo quando as coisas acabam bem) e como nunca haverá uma melhoria duradoura.
Ninguém deveria sentir-se culpado por ter esses pensamentos. Ao contrário, pode-se reconhecer que eles são tentações que negam a existência de Deus ou Sua influência na vida de todos nós.
É necessário algum esforço para fazer como recomendou a Fundadora de O Arauto, Mary Baker Eddy, quando escreveu: "...temos primeiro de volver nosso olhar para a direção certa, e então seguir esse caminho. Precisamos formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente, senão nunca os esculpiremos em vidas sublimes e nobres. Que o altruísmo, a bondade, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor — o reino dos céus — reinem em nós, e o pecado, a doença e a morte diminuirão até que finalmente desapareçam" (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 248). Procurar por sinais do bem e ponderar sobre eles como exemplos da presença de Deus não é o mesmo que um pensamento do tipo Pollyanna porque essa maneira de pensar está, em realidade, fundamentada na verdade espiritual, em vez de apenas em desejos humanos. Simplesmente porque não enxergamos com nossos olhos um mundo perfeito o tempo todo, não há razão para duvidar da onipotência de Deus. De fato, o caminho para a cura e para a paz, ver cada vez mais o bem pelo qual a humanidade tanto anseia, é começar com esforços individuais de volver nosso olhar para as coisas de Deus e ativamente procurar ver a evidência do bem, para que possamos magníficá-lo em pensamentos e obras.
Parece haver nesta época uma atração magnética sobre as pessoas, e essa é, ao mesmo tempo, enorme e sutil. É a atração de se fixar naquilo que é errado e perturbador, amedrontador e ameaçador. A Ciência Cristã denomina essa atração de magnetismo animal, uma influência dos cinco sentidos físicos e da mente humana que diz que, devido ao fato de o bem na vida ser desnatural e sujeito a uma força má mais poderosa, devemos aceitar a possibilidade de dificuldades a todo o momento; que se algo maravilhoso acontece, isso se deve a um milagre que certamente não podemos esperar que se repita. As pessoas que estudam a Ciência Cristã aprendem rapidamente sobre a necessidade de dispersar os efeitos ilusórios do magnetismo animal e de contra-atacar sua influência no pensamento, magnificando a evidência do bem, atendose aos fatos espirituais da existência contidos nas Sagradas Escrituras e exemplificados na vida e nos ensinamentos de Jesus Cristo.
As curas de Jesus eram frequentemente vistas como acontecimentos milagrosos, mas ele nunca as caracterizou dessa maneira. Suas curas eram consistentes e ele sempre as creditava a um Deus onipotente de total bondade. Quando ele contemplava uma cena sórdida, ele a transformava, muitas vezes, primeiro dando graças, como uma testemunha com a expectativa do bem que se tornaria visível. Ele andou pela terra para que pudéssemos esperar cada vez mais o bem sobrevindo à humanidade, em todas as épocas.
Os ensinamentos de Jesus levaram Mary Baker Eddy a concluir: "O bem é natural e primordial. Para si mesmo, não é milagroso" (Ciência e Saúde, p. 128). Antes que o Voo 1549 tome seu lugar na história, talvez valha a pena ponderar seu significado um pouco mais. Seria demasiado dizer que esse incidente foi a evidência tangível de que o bem jamais poderá acabar, uma vez que ele é, realmente, supremo?