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REFLEXÃO

Nós, o consumismo, e uma nova economia

Da edição de janeiro de 2010 dO Arauto da Ciência Cristã


Enquanto o mundo continua a sair da última série de desafios econômicos, as atenções se voltam para saber como será a nova economia.

Muitos entendem que simplesmente retornar ao que caracterizava a economia antes da recessão global não seria desejável, porque alguns elementos naquele formato são altamente falhos e podem ser considerados como a própria causa do problema. Isso tem gerado intensos debates entre os especialistas do setor. Alguns buscam um novo modelo que promova a saúde, a educação e as energias renováveis, ou seja, todos os esforços enfocados no bem comum, ao invés de no ganho individual. Contudo, seja qual for o rumo que essa nova economia venha a tomar, sabe-se desde já que qualquer reação será conduzida pelos consumidores.

A economia divina focaliza o modo como Deus, o Espírito divino, gerencia os recursos que o Espírito cria

Seriam os consumidores apenas seres anônimos que compram coisas? Na verdade, poder-se-ia dizer que existe um sistema de valores espirituais por trás da aquisição de bens. De modo geral, as pessoas consomem aquilo que acham desejável e aprazível para elas. Portanto, talvez seja justo concluir que é preciso dar a mesma atenção tanto aos valores e princípios espirituais, quanto ao tipo de projetos e programas que emergirão vitoriosos.

Ao considerar as inúmeras razões pelas quais a sociedade enfrenta esse desafio econômico, temas recorrentes revelam atitudes como: ganância, falta de autocontrole e de amor pelo bem comum. Tudo indica que fará pouca diferença apenas reconstruir uma economia com um enfoque revisado, se as atitudes negativas permanecerem.

Felizmente, há consumidores e pensadores espirituais, como nós, que podem fazer algo em relação a esses impedimentos subjacentes à sustentabilidade e ao progresso. Embora talvez não estejamos em posição de definir a política econômica mundial ou mesmo de tomar decisões de alto escalão a respeito das empresas falidas, podemos levar em conta o que mobiliza nosso consumo e os efeitos que as compras exercem sobre as pessoas e o ambiente ao nosso redor.

Para espiritualizar esse sistema, podemos começar por considerar o que tem sido chamado de economia divina. Um dos significados da palavra economia é gestão de recursos. A economia divina considera como Deus, o Espírito divino, governa os recursos criados pelo Espírito. Compreender esse processo envolve o reconhecimento da natureza de Deus. Mary Baker Eddy apresentou diversas observações úteis em Ciência e Saúde.

A economia divina considera como Deus, o Espírito divino, governa os recursos criados pelo Espírito.

O ato de escolher em que investir exige ponderar sobre o impacto do investimento em um contexto mais amplo

Em certa passagem, ela escreveu sobre a natureza de Deus como Amor: "O Amor é imparcial e universal na sua adaptação e nas suas dádivas" (Ciência e Saúde, p. 13). Se esse for o caso, então Deus, como o Amor, considera o bem-estar de toda a criação naquilo que ele concede. Esse modelo talvez possa sugerir a cada pessoa, como reflexo desse Amor, que não basta simplesmente olhar para aquilo que a satisfaz individualmente. É preciso também considerar como suas compras e escolhas afetam o mundo e as pessoas como um todo. Muito do que consumimos está interligado; as ações raramente existem isoladamente.

O ato de escolher em que investir exige ponderar sobre o impacto do investimento em um contexto mais amplo. Existem muitas pessoas que estão fazendo exatamente isso, ou seja, optando por comprar produtos de empresas engajadas em ações que apoiem o bem-estar dos outros e promovam sua autossuficiência, por meio da aquisição de produtos que sejam produzidos de acordo com práticas trabalhistas humanitárias.

Outra observação de Mary Baker Eddy aprofunda o significado espiritual da passagem bíblica no livro de Gênesis, em que Deus concede recursos à Sua criação: "Deus dá a menor idéia de Si mesmo como elo para a idéia maior, e em troca, a mais elevada sempre protege a inferior" (Ciência e Saúde, p. 518). A partir dessa ação divina, conseguimos inferir a necessidade de se ter respeito pelo que consumimos, sabendo que os recursos naturais que Deus concede, tais como água, alimentos e a terra para cultivá-los fornecem um elo para uma compreensão espiritual mais profunda a respeito de toda a vida e sobre a própria Vida.

Não importa qual seja nossa estratégia para mudar nossas práticas de consumo, a questão mais importante são os valores e a espiritualidade que trazemos para a forma de gerir nossa vida

De fato, se compreendermos que o propósito da criação, percebido espiritualmente, é o de dar expressão ao ser de Deus, talvez possamos desenvolver maior respeito para com esses recursos como ideias espirituais, em vez de meramente elementos materiais. Valorizar o significado espiritual dos recursos pode ser o meio pelo qual conseguiremos anular com êxito os impulsos que levam ao desperdício, à ganância, e à autoindulgência.

Esse modo de agir ajuda a desenvolver a responsabilidade para não somente planejar a continuidade dos recursos, mas também de assegurar que eles se multipliquem e floresçam, cumprindo este mandamento bíblico "...enchei a terra..." (Gênesis 1:28). Tal respeito corrigiria o desequilíbrio de consumo de algumas sociedades, em detrimento de outras.

Há alguns anos, houve um movimento ambiental muito enfático sobre "um estilo de vida 'light' ". (Não é novidade que esse modo de pensar reapareceu ultimamente). O ponto fundamental da ênfase em uma vida mais light era incentivar a simplificação do nosso estilo de vida, tornando-nos mais conscientes de como nossa maneira de viver afetava os outros. Lembro-me de pensar que, se expandíssemos essa ênfase incluindo nossas atitudes e pensamentos mais profundos, talvez pudéssemos chegar ao âmago do que realmente poderia remodelar nossa economia.

"Viver de modo 'light' " então enfatiza o estado mental que eleva a cultura à nossa volta, em vez de oprimi-la. Não importa qual seja nossa estratégia para mudar nossas práticas de consumo, a questão mais importante são os valores e a espiritualidade que trazemos para a forma de gerir nossa vida.

Minhas orações me levaram a escolher a melhor forma de servir a Deus

Jesus falou sobre esse tema quando seus discípulos foram criticados pelos fariseus por seus hábitos alimentares. Ele elevou as coisas a um nível espiritual e salientou que não é o que entra pela boca que contamina, mas o que sai do coração (ver Mateus 15:10-20). Quando aplicarmos essa advertência na reestruturação da economia, será útil certificarmo-nos de que é o que "sai" em termos de atitudes e valores o que abastece a terra, em vez de contaminá-la. Práticas tais como: autoimolação, amor abnegado, bondade, justiça e respeito devem reinar dentro de nós, para que possamos ver sinais aparentes de crescimento na economia.

Quando iniciei minha vida profissional após sair da faculdade, tendo de ganhar meu próprio sustento, achei muito útil a orientação que esses princípios espirituais trazem na tomada de decisões. Quer fosse para escolher uma carreira, um lugar para viver, ou um meio de transporte, primeiro perguntava a mim mesmo: "O que posso fazer que me ajude a servir a Deus e a abençoar aos outros e a mim"? Curiosamente, em cada escolha, eu acabava fazendo algo para o qual inicialmente parecia que não tinha os recursos necessários. Meu primeiro projeto de vida se resumia na escolha entre um estúdio e um apartamento de um quarto. Escolhi o apartamento de um quarto porque achei que esse seria um meio de abençoar outras pessoas; os amigos poderiam aparecer e caso precisassem, teriam um lugar para ficar. Na época, só poderia pagar pelo estúdio menor, mas tão logo fiz a escolha, fundamentado no que melhor abençoaria a outros e com o propósito de servir a Deus, minha renda aumentou e pude cobrir essa despesa extra.

Quando me decidi por uma carreira, precisava escolher entre algo que fosse muito lucrativo ou me estabelecer na prática da cura pela Ciência Cristã, a qual abençoaria diretamente outras pessoas. As pessoas me aconselhavam a esperar até que estivesse estabelecido financeiramente, antes de ingressar na prática. Entretanto, não foi isso que fiz; minhas orações me guiaram a escolher o que eu achava que melhor serviria a Deus e, desde aquele dia, minhas necessidades financeiras sempre foram supridas.

A própria natureza do ato de dar assegura que o que você dá é reabastecido com abundância

Hoje, adoto o mesmo método ao considerar de que forma posso compartilhar o que tenho por meio da doação daquilo que já me serviu bem, mas que agora poderá ser útil a outra pessoa. Embora a maneira pela qual pessoas façam isso talvez seja a de reduzir seus pertences pessoais vendendo-os por preços convidativos, uma ação simples e modesta que pode ser útil à comunidade, dedicar-me a orar pelos outros continua sendo a melhor maneira pela qual posso dar.

O desejo natural de dar provém da observação que Jesus fez com relação à gestão de recursos espirituais: "...de graça recebestes, de graça dai" (Mateus 10:8). Para mim, isso comprova que na economia divina os recursos não são escassos, eles são infinitos. Significa que não há desgaste nos recursos verdadeiros.

Podemos compartilhar o que temos por meio da compreensão de que a própria natureza do ato de dar assegura que não haverá falta, mas que o que for doado será reabastecido com abundância. Fazendo uma analogia, considero o processo como uma torneira de água. A única maneira de se obter mais água da torneira é abri-la e deixar que o fluxo se expanda.

Podemos compartilhar o que temos por meio da compreensão de que a própria natureza do ato de dar assegura que não haverá falta, mas que o que for doado será reabastecido com abundância.

Embora em muitas partes do mundo a economia seja usualmente caracterizada em termos negativos, existe uma outra maneira de vê-la. O que tomou forma como instabilidade pode ser visto como um chamado para se repensar e reformular nossas práticas e nossos pensamentos, a fim de que possamos passar para um estado mais saudável de gestão. O antídoto mais poderoso é o de considerar o papel que os princípios espirituais desempenham em todo o processo. O consumidor tem as ferramentas necessárias para abrir o caminho pelo exemplo, vivendo valores que promovam o amor e o respeito pelo bem comum e abraçando o propósito de estar a serviço do nosso Criador. *

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