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SALMO 23

O pastor em cada um

Da edição de janeiro de 2010 dO Arauto da Ciência Cristã


Quando começou a raiar o dia, ouvi nosso cão Laddie, um pastor escocês, ganindo mansamente na porta da frente. "Provavelmente deve ser algum alce pastando lá fora, bem cedo, no gramado da frente", pensei. Não era inusitado ver, ocasionalmente, em nossa casa nas montanhas, um urso, às vezes um leão montês, um coiote ou um cervo. Mas, quando fui até a porta, percebi que o cachorro estava vendo através do vidro uma cena com a qual nunca havia se deparado antes.

Cerca de uma dúzia de ovelhas haviam vagueado pelo nosso terreno e acabaram entrando no gramado da frente. Deixei o cão sair só para ver o que ele faria. Ele sabia respeitar os animais selvagens. O que ele iria pensar sobre esse animal completamente diferente? Não houve nenhuma hesitação. Ele começou a pastorear esse pequeno rebanho de volta para a estrada. Em seguida, retornou para buscar um carneirinho que ficara preso atrás da cerca, empurrando-o gentilmente até que todas as ovelhas se ajuntaram e seguiram novamente seu caminho.

Algumas pessoas chamariam as atitudes do cão de instinto natural. De certa forma, isso é verdade. Mas acredito que exista algo muito mais elevado nessa atitude. Sua tendência em pastorear aquelas ovelhas representava o símbolo de um talento que todos nós temos. Um sinal de intuição espiritual que talvez possamos descrever como um senso interior de conduzir, guiar, proteger, alimentar e que pode ser expresso de várias formas. Tais qualidades não são incomuns aos pastores, bem como aos cães que costumam utilizar nesse ofício.

Parte do sudoeste do estado de Idaho, região de montanhas rochosas, e do leste do estado do Oregon contêm uma das maiores comunidades bascas do mundo fora da Espanha. Os bascos têm contribuído muito para o desenvolvimento dessa região, inclusive com sua habilidade em lidar com rebanhos de ovelhas. Não nos surpreende se, ao dirigirmos pelas estradas rurais, encontrarmos uma pequena carroça de pastor, coberta com lona, que nos remeta ao passado. Essa espécie de carroça é uma casa portátil para aqueles que vivem com as ovelhas e as conduzem em segurança para locais onde exista água, alimento e abrigo.

Podemos imaginar o que significa ficar em áreas isoladas, completamente solitário, cuidando de ovelhas? Há muito tempo e muito silêncio disponíveis para se pensar e ponderar. Aqueles céus de noites infindáveis com inúmeras estrelas podem proporcionar ocasiões de muita inspiração, talvez uma revelação para cada estrela!

Meu tio cuidava de ovelhas. Suponho que todo o tempo que ele passou sozinho, cuidando desses animais dóceis, tenha lhe proporcionado momentos muito especiais para pensar em Deus e na busca de um significado mais profundo sobre o que representa ser um pastor, cuidar de outros. Sua vida certamente se desenvolveu ao longo dessas linhas. Ele se tornou um Praticista da Ciência Cristã e, por meio de seus escritos, tanto em prosa como em verso, pastoreou muitas pessoas. Presumo que ele tenha escrito, no total, cerca de 10.000 poemas. Obviamente, alguns desses poemas vieram da inspiração que recebeu, sob céus estrelados.

Pessoas em toda parte foram tocadas por essas qualidades pastorais, quando ele serviu na igreja em cargos, cujas ações alcançaram o mundo todo. Suas percepções espirituais tinham uma maneira de guiar e de conduzir outros em direções mais espiritualizadas e constantemente renovadas. Portanto, muitas pessoas que amam a Deus e amam seus semelhantes devem ter ponderado estes pensamentos de Isaías sobre Deus: "Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente" (Isaías 40:11). Cristo Jesus usou a analogia de pastor e ovelhas, não apenas porque as pessoas naquela época conseguiam facilmente relacionar esse cenário com aquilo que lhes era familiar em sua experiência de vida, mas porque ele percebia a tendência natural de cuidar como algo inerente a todos. Na verdade, sua própria vida ilustrou muito bem o pastor que há em cada um. Embora ele descrevesse a si mesmo como um pastor e o povo como ovelhas, ele também reconhecia a fonte dessas características pastorais: "...o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras" (João 14:10).

Esse senso interior de cuidar e proteger, guiar e abrigar era uma força divina que sua vida manifestava, de forma natural. Ele podia facilmente dizer: "O Pastor que permanece em mim...". Ele compreendia que Deus, o Amor divino, estava no âmago da consciência e que ele expressava essa tendência divina de cuidar e guiar. Jesus encorajou a todos nós a reconhecer isso como verdadeiro a respeito da nossa própria vida. Fazer o que ele fazia, repetia ele. Seguir o seu exemplo. Quando ele viu que o povo era como ovelhas que precisavam de um pastor, o que ele fez? Ele os ensinou (ver Marcos 6). Mais tarde, ele alimentou uma multidão faminta. Ele ilustrou como eram práticos esses ensinamentos. Ele pastoreou aqueles milhares de pessoas com a evidência de um fato que Mary Baker Eddy, séculos mais tarde, afirmaria desta forma: "O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a toda necessidade humana" (Ciência e Saúde, p. 494).

Os ensinamentos de Jesus se constituíram no acesso às bênçãos duradouras para aqueles que os ouviam. Algumas vezes, esses ensinamentos eram enigmáticos. Por exemplo, a certa altura ele explicou que iria deixá-los. Ele tinha outra obra para realizar.

Para onde ele iria? Que outra obra seria essa? Essas teriam sido perguntas naturais para as "ovelhas", que estavam interessadas principalmente na provisão de necessidades imediatas.

No entanto, Jesus lhes ensinou: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas... Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor" (João 10:11, 16). Quem seriam essas "outras ovelhas"? Você alguma vez imaginou o que ele estava lhe dizendo? Vale a pena ponderar suas palavras.

Dentro de cada um de nós existe um desejo, concedido por Deus, que almeja certificar-se de que os outros também estão sendo cuidados, da mesma maneira como nosso cão quis cuidar das ovelhas. Alguns expressam essas qualidades pastorais como pais em relação aos filhos. Outros talvez possam vê-las manifestadas no chefe de escoteiros ao ajudar a carregar a bagagem dos escoteiros menores em uma caminhada. Ainda um outro pode fazer o mesmo ao reger uma orquestra ou ensinar alunos do ensino fundamental.

Claro, às vezes as pessoas personalizam essas qualidades pastorais e então elas se tornam distorcidas, com características despóticas ou controladoras. Precisamos preservar a verdadeira fonte do pastoreio como genuinamente divina. Em seus escritos, Mary Baker Eddy adicionou adjetivos especiais ao conceito de pastoreio. Ela usou palavras tais como admirável, grandioso, gentil, bom, leal, amável, vigilante, profeta. Um de seus poemas, que está impresso na página 14 de seu livro Poems [Poemas], ilustra os elementos significativos que ela percebeu no pastoreio espiritual: guiar, abrigar, conduzir, alimentar e, finalmente, purificar.

Então, para onde levam essas qualidades divinas? Elas nos levam rumo à proteção ao invés de ao perigo. Mas muito mais coisas ocorrem se o pastor natural em nós estiver realmente se expressando. Quando conseguirmos verdadeiramente permitir que essa natureza divina resplandeça em nossa vida, quando refletirmos um pastoreio espiritual autêntico, seremos uma grande benção para os outros. Ajudaremos os outros a caminhar em direção à espiritualidade, em vez de à materialidade. Guiaremos o pensamento em direção a uma experiência do tipo ressurreição, a uma direção elevada e inspirada na vida. Podemos, por exemplo, ajudar a despertar os outros para que vejam que a realidade espiritual é a única realidade.

Foi esse o exemplo pastoral de Jesus. Ele capacitou todos nós a percebermos como podemos ajudar os outros por meio de um amor divino que perdoa. Ele mostrou como uma pessoa pode transpor até mesmo os desafios mais cruciantes na vida. Ele ilustrou para cada um de nós o caminho que abre nossos olhos para a totalidade e a eterna presença de Deus.

A ressurreição de Jesus fala diretamente à nossa vida. Tal como o escritor de Hebreus o colocou: "Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém" (13:20, 21). De fato, esta passagem da Primeira Epístola de Pedro sugere ainda o que a ascensão de Jesus significa para cada um de nós: "Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescivel coroa da glória" (5:4).

Quer reconheçamos isso ou não, temos o anseio e a capacidade naturais para pastorear outros seguindo o exemplo do Cristo. A disposição em reconhecer: "O Pastor que permanece em mim, ele faz as obras" proporcionará tanto a oportunidade quanto a capacidade de fazer progredir a vida de outros. Não nos esqueçamos: a disposição de sermos nós mesmos espiritualmente pastoreados nos conduz direto ao céu! *

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