Quando Cristo Jesus foi até a casa de Jairo para ressuscitar a filha deste de entre os mortos (ver Marcos 5:22-24, 35-43), Jesus primeiro pediu que todos se retirassem da casa, com exceção dos pais da menina e dos discípulos que escolhera para acompanhá-lo. Mais tarde, Pedro, seguindo o exemplo de Jesus, fez o mesmo, quando ressuscitou Dorcas da morte (ver Atos 9:36-41).
Por que eles acharam que isso seria necessário? Os relatos bíblicos mostram que naquelas casas havia muita gente se lamentando e chorando, mas tanto Jesus como Pedro já haviam curado pessoas, mesmo em meio a ruidosas multidões.
O fato é que não se tratava de multidões ruidosas, mas do pensamento das pessoas ao redor. Naquelas duas situações, o pensamento estava tão centrado na morte, que era contrário à expectativa de cura. Esse pensamento precisava ser expulso a fim de dar lugar para o Cristo na consciência humana, o poder ressuscitador próprio da Vida divina, o qual Jesus incorporou e ao qual Pedro recorreu, a fim de restaurar a vida.
Por que isso foi necessário se Deus, a Vida, é onipotente? Na realidade divina, a única que existe, o homem e a mulher da criação de Deus são espirituais, imortais e eternamente sadios e indestrutíveis. Portanto, a cura e a ressurreição ocorrem somente e só precisam ocorrer no pensamento humano, para que se manifestem na experiência humana. As crenças individuais e coletivas de pecado e de morte, as quais fazem parte da consciência humana e mortal, governam a experiência humana até que essa consciência seja elevada pelo Cristo, que abre o pensamento para a energia divina e o poder da Vida, trazendo cura à humanidade.
Os ensinamentos de Mary Baker Eddy seguem o exemplo de Jesus, e ela compreendia essa necessidade de lançar fora da atmosfera mental presente e que rodeia o pensamento do paciente aquilo que possa ser contrário à cura. Ela escreve: “Na prática médica, haveria objeções se um médico administrasse uma droga para neutralizar a ação de um remédio prescrito por outro médico. É igualmente importante, na prática metafísica, que as mentes ao redor do paciente não atuem contra tua influência, expressando de contínuo opiniões que possam alarmá-lo ou desanimá-lo — seja mediante conselhos antagônicos ou mediante pensamentos não expressos, enfocando teu paciente. Embora seja indubitável que a Mente divina tem o poder de remover qualquer obstáculo, ainda assim é preciso que o paciente te ouça” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 424).
Às vezes, pode ser que nós, ou algum paciente que tenha solicitado nossa ajuda por meio da oração, nos encontremos cercados por pessoas bem intencionadas, mas cheias de medo, e que expressam várias preocupações e dúvidas. Como podemos remover, de nosso pensamento e do pensamento do paciente, a influência do medo, de uma forma amável e eficaz, a fim de abrir o caminho para que o Cristo possa curar o problema?
Uma experiência pela qual nossa família passou ilustra como isso pode acontecer. Quando nossa filha mais nova estava dando à luz a seu filho, a médica ficou preocupada porque o parto não estava progredindo bem, uma vez que algo estava obstruindo o nascimento do bebê. Nosso genro e vários membros da família estavam com nossa filha na sala de parto do hospital e, a seu pedido, nós a estávamos apoiando por meio da oração.
Veio-me ao pensamento a verdade espiritual de que somente o que Deus conhece a respeito de Seus filhos é o que os governa. Ciência e Saúde explica que a maneira de anular a aparente influência do pensamento humano é compreender que Deus, a una e única Mente sempre presente, é supremo. Logo após a passagem mencionada anteriormente, lemos: “Não fica mais difícil te fazeres ouvir mentalmente, ainda que outros estejam pensando nos teus pacientes ou conversando com eles, se compreendes a Ciência Cristã — o fato de que o Amor divino é uno e é tudo; mas é bom estar a sós com Deus e o doente quando tratas a doença” (p. 424).
O que Deus conhecia sobre esse bebê? Ele o conhecia como Seu filho espiritual, perfeito, criado e cingido pelo Amor divino. Essa profunda realidade espiritual era a única realidade e ela governava cada aspecto do existir do bebê. Por ser a imagem e semelhança de Deus, o bebê só podia refletir e expressar o que a Vida divina estava transmitindo, e isso incluía harmonia e perfeição. Nada podia obstruir esse fato. Não havia nenhum elemento ou condição fora ou além do que Deus, a Mente, havia estabelecido e mantinha como a identidade do menino. Isso também era verdadeiro para a mãe do bebê.
À medida que as horas passavam, a médica ficava ainda mais preocupada e cética quanto à possibilidade de o bebê nascer de parto normal. Ela anunciou que, se a criança não nascesse em uma hora, seria necessária uma cirurgia, e então deixou minha filha por alguns momentos aos cuidados das enfermeiras. Mas nossa filha se lembra de que ela sentia muita paz, à medida que continuávamos a orar, até que todo o medo desapareceu. A oração havia “lançado fora” os pensamentos de medo expressados pela médica. Em menos de uma hora, houve enorme progresso no trabalho de parto, o que representava uma mudança radical em relação à situação anterior. A enfermeira se apressou em chamar a médica, que ficou muito surpresa e chegou exatamente a tempo de ajudar no nascimento do bebê. O nascimento transcorreu calmamente e todos recebemos alegremente esse querido bebê em nossa família. Hoje, ele é um menino muito inteligente e ativo, que acaba de ingressar no jardim de infância.
Voltemos àquela passagem de Ciência e Saúde citada anteriormente; precisamos compreender claramente “o fato de que o Amor divino é uno e é tudo”. Isso não significa que o Amor divino está presente e ao mesmo tempo sofrendo oposição de muitas mentes, mas sim que não importa que outra presença ou pensamento esteja ao nosso redor, a una e única Mente infinita, o Amor, é a única consciência verdadeira do homem e esta não pode ficar amedrontada.
Perceber a natureza impessoal do pensamento adverso ajuda-nos a remover devidamente do nosso próprio pensamento a sua influência. Não precisamos adotar uma mentalidade defensiva e achar que estamos em guerra com muitas mentes cheias de medo, porque pensamentos temerosos ou antagonistas não pertencem a ninguém. Cada um de nós é, em realidade, o reflexo, ou a expressão, da Mente divina única e suprema. O medo e a dúvida podem tentar alegar que têm uma identidade ou que provêm de alguém, com o objetivo de ganhar influência e autoridade, mas eles nunca são pessoais. Eles não passam de sugestões errôneas desfilando como se fossem o pensamento de alguém, quer seja nosso ou de outra pessoa. Temos de compreender claramente que eles não fazem parte da verdadeira consciência de ninguém, consciência essa que é governada pelo Amor, a única consciência existente.
Observe com atenção a maneira como essa necessidade é tratada por Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde: “Não deixes que o medo ou a dúvida obscureçam tua clara compreensão e tua calma confiança de que o reconhecer a vida harmoniosa — como a Vida é, eternamente — pode destruir toda sensação dolorosa daquilo que a Vida não é ou toda crença naquilo que ela não é” (p. 495). Obtemos “clara compreensão e calma confiança” por meio da compreensão da Vida e do Amor divinos, compreensão essa que nos capacita a ver que o medo e a dúvida, que não ocupam nenhum lugar em Deus, não podem pertencer a ninguém; eles são apenas sugestões mentais agressivas, independentemente de como sejam expressados ou pensados. A maneira de dissolver o medo e a dúvida é perceber que estes são falsos e não fazem parte da Mente que todos nós refletimos. Todos nós, inclusive aqueles que são pais, realmente refletimos e expressamos a confiança e a paz da maternidade e da paternidade de Deus, nosso verdadeiro Progenitor; consequentemente, todos nós temos a capacidade de ter o claro senso e a calma confiança de que o Amor está constantemente se comunicando com sua criação, isto é, com todos nós. A presença ativa do Cristo, a qual Jesus exemplificou por meio da cura, é universal e suprema em todas as épocas. As tentativas do medo e da dúvida de nos influenciar podem ceder, e cederão, à influência do Cristo, à medida que esta é discernida e reconhecida. Não é necessário dissuadir os outros a abandonar seus temores. Quando, em nosso próprio pensamento, cedemos silenciosamente ao Cristo e estamos atentos à inspiração divina, esta cala nosso medo e substitui nossas dúvidas pela confiança. À medida que reconhecemos a supremacia do Cristo em nossa própria consciência e na de todos, o caminho para a cura se abre, pensamentos adversos se dissolvem e somos capazes de, juntos, regozijar-nos com a totalidade de Deus.
