Quando eu era criança, ir à Escola Dominical era uma parte importante da minha vida, especialmente no domingo de Páscoa. As flores da primavera estavam se abrindo em toda parte e havia uma sensação de renovação. Se eu tivesse alguma roupa nova para essa estação do ano, eu a reservava para usá-la nesse domingo. Mas para mim, o relato bíblico da ressurreição de Cristo Jesus era sempre o ponto mais importante do dia. Em nossa Escola Dominical protestante, tínhamos uma professora muito querida, que enfeitava seu vestido azul marinho com uma enorme orquídea roxa. Não importava que ela tivesse tirado aquela orquídea de uma velha caixa de chapéus guardada na prateleira do armário. A flor era perene. Ela aparecia todos os anos. E quando conseguíamos tirar os olhos da “eterna” orquídea, como algumas pessoas a chamavam, então nos aquietávamos para ouvir o maravilhoso relato da vitória de Jesus sobre a morte.
O designer da orquídea roxa estava tentando mostrar, de uma forma duradoura, a beleza da flor verdadeira, real, porque as flores aparentemente morrem. Da mesma forma, não importa o quão bela e harmoniosa nossa vida possa ser, não importa o quão próspera possa ser, o pensamento humano está convencido de que nós, também, temos começo e fim.
Podemos demonstrar saúde constantemente e desfrutar da harmonia, que é muito natural no nosso existir à semelhança de Deus.
Mas a ressurreição de Jesus nos ajuda a ver além dos ciclos de florescimento e decadência que caracterizam a existência mortal. O Mestre, por meio de sua ressurreição, não só deu prova da imortalidade da vida. Ele indicou uma compreensão mais profunda, mais prática, do que é a ressurreição. Seus ensinamentos mostram que a ressurreição é mais do que algo que ocorreu uma única vez. Ela implica abandonar diariamente o conceito materialista a respeito da vida, conceito esse que é a própria essência da mortalidade, com seus começos e fins.
Em sua interpretação metafísica da palavra ressurreição, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, desperta o pensamento para que este perceba a ressurreição em seu senso mais amplo, para compreender que ela pode ser um período belo e contínuo de desdobramento. A palavra ressurreição é definida como: “Espiritualização do pensamento; uma ideia nova e mais elevada da imortalidade, ou seja, da existência espiritual; a crença material rendendo-se à compreensão espiritual” (p. 593).
Logo após a morte de Lázaro, suas irmãs Maria e Marta pediram a Jesus que fosse à aldeia de Betânia. Quem o recebeu foi Marta (ver João, capítulo 11). “Senhor”, disse ela, “se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão. Mas também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá”. O relato continua: “Declarou-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Eu sei, replicou Marta, que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia”. Nesse ponto, Jesus faz uma declaração profunda: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. E por meio do poder divino, Jesus realmente ressuscitou a Lázaro, que havia morrido quatro dias antes. O Mestre sabia que ele mesmo era o reflexo de Deus, Sua ideia espiritual perfeita — em realidade, o Filho de Deus. Além disso, ele indicou claramente a fonte divina de seus ensinamentos e obras, quando disse: “...As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (João 14:10). Ele também declarou: “...Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17). Jesus salientou que o divino Eu, ou Ego — o “EU SOU” revelado a Moisés (ver Êxodo 3:13, 14) — era o Princípio da vida, que podia ser demonstrado na cura do doente e do pecador, como também na ressurreição dos mortos, por meio da compreensão de que a vida nunca está na matéria e não pode ser extinta. A Vida é Deus, o Ser
Supremo, o Espírito onipotente.
Lembro-me de que, quando eu estava começando a estudar a Ciência Cristã, perguntei a uma praticista se eu sempre teria de trabalhar e estudar com tanto afinco, como estava fazendo naquela ocasião, para me manter “ressuscitada” e em paz. “Será que vai chegar o momento”, disse eu, “em que eu vou poder sair da matéria para poder seguir adiante sem fazer esforço?” A resposta dela, segundo me lembro, foi neste sentido: “Como ideia espiritual de Deus, você já está no reino do amor e da harmonia de Deus. Você não tem de ressuscitar para fora da matéria. A matéria não é a realidade do existir. O Espírito, Deus, é essa realidade! Seu estudo e prática da Ciência Cristã ensinam como deixar Deus ressuscitar seu pensamento para fora da crença de que a matéria seja real”.
A matéria não é a realidade do existir. O Espírito, Deus, é essa realidade!
Espiritualizar o pensamento, purificá-lo progressivamente do falso senso de vida na matéria, envolve a compreensão diária de que, se colocamos a Deus em primeiro lugar em nosso pensamento e obedecemos às Suas leis de orientação amorosa, podemos exercer domínio sobre o materialismo, que do contrário nos arrastaria para a terra e nos soterraria com dificuldades. Podemos demonstrar saúde constantemente e desfrutar da harmonia, que é muito natural no nosso existir à semelhança de Deus. Esse bem-estar faz parte do plano de Deus para nós, para todos.
Como principiante no estudo da Ciência Cristã, com certeza não pensei nestes termos: “Agora vou estudar a Lição Bíblica para espiritualizar meu pensamento”. No entanto, o estudo consagrado da Lição semanal, que aparece no Livrete Trimestral da Ciência Cristã, e a disposição de viver aquilo que estamos aprendendo, realmente espiritualizam o pensamento. Geralmente, eu mal podia esperar para abrir a Bíblia e o livro Ciência e Saúde, porque eu tinha muitas indagações que precisavam ser respondidas e muita necessidade daquelas respostas em minha vida. À medida que estudava a Lição com inspiração, reconhecendo a onipresença de Deus, minha recompensa foi não só uma ressurreição contínua que me trazia para fora da crença de que a matéria seja real, mas também as belas curas que resultaram desse estudo.
A espiritualização do pensamento envolve autodisciplina. Será que aceitamos intelectualmente a lógica e a beleza dos ensinamentos da Ciência Cristã, e depois simplesmente paramos aí? É necessário que haja uma ressurreição contínua do pensamento, deixando para trás as crenças materiais, para que possamos aplicar de forma ativa e prática em nossa vida os fatos espirituais da existência. Isso é essencial se desejamos realizar a obra de cura que Cristo Jesus disse que éramos capazes de realizar (ver João 14:12).
Aprendi que, se desejamos viver com mais liberdade e mais harmonia, não basta meramente declarar verdades absolutas a respeito de Deus e do homem. Necessitamos discernir a verdade, ou seja, vê-la graças ao nosso próprio esforço, e viver em harmonia com essa verdade. À medida que vivemos a verdade do existir, nosso exemplo cristão de amor e de cura pode ter influência no mundo, e de fato influenciará muito o nosso mundo.
O discernimento espiritual e o viver de modo semelhante ao do Cristo ressuscitam nosso pensamento da crença de que vivemos na matéria, de que o homem seja um mortal físico com começo e fim. Revelam nossa identidade espiritual, imortal, criada à semelhança de Deus e nos capacitam a ajudar outros por meio da nossa visão purificada a respeito de Deus e do homem.
Referindo-se à influência da ressurreição de Cristo Jesus sobre seus discípulos e sobre o mundo, Ciência e Saúde diz: “Por tudo o que os discípulos vivenciaram, tornaram-se mais espirituais e compreenderam melhor o que o Mestre havia ensinado. A ressurreição dele foi também a ressurreição deles. Ajudou-os a elevarem-se a si mesmos e aos outros da lerdeza espiritual e da crença cega em Deus, até a percepção de possibilidades infinitas” (p. 34).
A cada dia, podemos vislumbrar e comprovar a verdade sobre algo novo que vemos com relação à realidade espiritual.
Nossa ressurreição diária nos beneficia de incontáveis maneiras. Ela nos capacita a ver cada vez mais claramente que a Vida realmente é o Espírito, Deus, e que a vida do homem como reflexo de Deus está intacta. Isso ficou vividamente demonstrado na experiência de uma jovem que estava sofrendo de um colapso nervoso. A depressão era tão agressiva que, certa noite, ela decidiu acabar com tudo. Uma companheira, que estava cuidando dela na ocasião, encontrou-a pendurada com uma corda no pescoço. A companheira conseguiu levantá-la, e percebeu que ela estava sem pulso e não havia sinal de respiração. Imediatamente ligou para uma Praticista da Ciência Cristã. A praticista lhe pediu para colocar o telefone ao ouvido da jovem. As primeiras palavras que a praticista disse foram: “Deus é sua Vida”, e chamou-a pelo nome, repetindo isso muitas vezes, com grande convicção. Depois de algum tempo, as duas ficaram animadas com alguns sinais de respiração e débeis sons que a jovem emitiu. Logo ela recuperou totalmente a consciência. Não houve nenhum efeito colateral dessa experiência penosa. E com o tratamento pela Ciência Cristã, que continuou a ser dado, a depressão foi curada.
A Sra. Eddy escreveu certa vez para uma filial da Igreja de Cristo, Cientista: “O propósito do Amor divino é ressuscitar a compreensão e o reino de Deus, o reino da harmonia, que já está dentro de nós. Por intermédio da palavra que vos é comunicada, vós sois libertados. Permanecei em Sua palavra e ela permanecerá em vós; e o Cristo sanador novamente se manifestará na carne — compreendido e glorificado” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 154).
À medida que alcançamos um senso mais profundo, mais prático do que é a ressurreição, podemos vivenciar surpresas espirituais, por assim dizer. A cada dia, podemos vislumbrar e comprovar a verdade sobre algo novo que vemos com relação à realidade espiritual. Nossa verdadeira identidade emerge, ou seja, torna-se mais evidente em toda a sua bondade e beleza, à medida que os pensamentos enterrados na matéria cedem a uma inspiração maravilhosa, que vem de Deus.
Tradução do original em inglês publicado na edição de abril de 1998 do The Christian Science Journal e reimpresso na edição de março de 2016 dessa mesma revista.
