O despertador soou às primeiras horas da madrugada, muito antes do horário em que a maioria das pessoas pensaria em se levantar. Pulei da cama, vesti-me e arrastei-me sonolenta escada abaixo para ir lá fora e observar um eclipse lunar. Meus cachorros pareciam confusos com o meu comportamento incomum, em meio à madrugada, mas estavam mais do que dispostos a me acompanhar nessa aventura inesperada.
Enquanto os cachorros farejavam em volta, fiquei observando a lua que vagarosamente desaparecia do céu. Por algum tempo, tudo aconteceu como eu esperava: a lua transformou-se em um quarto crescente, logo em uma pequena lasca e, então, seu brilho desapareceu, embora o disco escurecido no céu negro ainda fosse identificável, se você soubesse para onde olhar. Mas, aí aconteceu algo que eu não esperava.
Continuei a olhar, esperando que uma lasca brilhante reaparecesse. Em vez disso, o disco escuro desvaneceu-se ainda mais e acabou desaparecendo. Eu sabia exatamente onde ele estava, mas não conseguia visualizá-lo. No entanto, embora não pudesse vê-lo, eu sabia que a lua ainda estava lá, exatamente como ela havia estado minutos antes.
Entrei em casa emocionada com as implicações daquilo que eu acabara de ver. Pensei: “Não é isso o que um senso material de vida, com a crença na morte, parece fazer, ou seja, obscurecer o fato espiritual de que Deus é a Vida eterna, e que nós refletimos essa Vida agora e sempre?” É uma tentação, quando não podemos mais ver, ouvir e tocar alguém que amamos, achar que a vida se perdeu, e ter o desejo de continuar convivendo com aquela vida.
É aqui que a cura começa: a compreensão crescente de que o senso material de vida, não a própria Vida, é a única coisa que podemos perder. Somos criados unicamente por Deus, o Espírito. Essa criação divina expressa completamente a Deus. A missão de Cristo Jesus, o Professor que nos mostrou o caminho, foi demonstrar, com suas obras de cura, que a realidade espiritual pode ser discernida e comprovada, de maneira prática. Jesus nos ensinou a começar com Deus e a olhar a partir desse ponto de vista, em vez de começar com o homem mortal e raciocinar a partir daí.
Que mundo completamente diferente vemos então! Mary Baker Eddy escreve em sua principal obra, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “À medida que os mortais alcançam perspectivas mais corretas a respeito de Deus e do homem, inumeráveis objetos da criação, que antes eram invisíveis, se tornam visíveis” (p. 264).
Ao começar com Deus como a Vida infinita, como a única causa e o único Criador, descobrimos o homem criado espiritualmente, a imagem e semelhança de Deus, perfeito e eterno, a expressão bela e pura do nosso divino Pai-Mãe. Essa é a própria essência, inteireza e realidade do nosso existir. Começar com Deus assegura ao nosso coração que a vida nunca desaparece, mesmo quando não a vemos materialmente, e que podemos, ainda assim, saber que a Vida está intacta!
Quando eu não mais consegui detectar nenhum contorno da lua e ela parecia ter sido engolida pelo céu negro, minha compreensão sobre o que é um eclipse anulou todo possível medo quanto ao que poderia ter acontecido à lua, porque essa compreensão fez com que eu soubesse exatamente qual era a realidade. Da mesma forma, podemos vislumbrar a realidade espiritual ainda que a evidência material em contrário pareça dominar o quadro. Lembro-me de uma ocasião específica em que vi essas ideias sendo comprovadas por meio da oração.
Rufus, o cão labrador muito querido da nossa família, já idoso, havia recebido o diagnóstico de insuficiência renal por parte do veterinário, que tristemente nos informou que não havia nada que ele pudesse fazer. Duas noites depois, eu estava no chão com a cabeça de Rufus sobre meu colo e, de olhos fechados, eu orava. Ele estava morrendo e, com o passar das horas, nada parecia mudar isso.
O medo e a tristeza que eu sentia estavam praticamente me dominando, quando uma mensagem divina me veio à mente com tal clareza que minhas lágrimas pararam de rolar no mesmo instante. Compreendi que minhas orações haviam se concentrado na tentativa de prolongar um senso material de vida, quando o que eu realmente necessitava era ver esse querido animal como uma ideia espiritual, amada, de Deus, uma expressão indestrutível da eterna Vida divina.
Só podemos perder o senso material de vida, não a Vida em si.
Foi então que algo maravilhoso aconteceu. De repente, passei a pensar apenas nas qualidades espirituais que esse cachorro expressava, tais como: lealdade, afeição, energia ilimitada, alegria e inteligência, e vi como essas qualidades eram evidentes. Eu soube com certeza que essas qualidades, que constituíam sua verdadeira e única identidade, eram permanentes e nunca poderiam se perder.
Compreendi que eu não tinha de me prender à visão material de sua vida, para continuar a conhecê-lo. Penetrando em meio à inquietação do medo e da tristeza, o Cristo, a Verdade, havia falado e eu havia vislumbrado, de forma muito vívida, a realidade espiritual que, momentos antes, parecera estar completamente oculta.
Na página 598 de Ciência e Saúde está escrito: “Um simples momento de consciência divina, de compreensão espiritual da Vida e do Amor, é um vislumbre antecipado da eternidade. Esse panorama sublime, que se obtém e retém quando se compreende a Ciência do existir, estenderia, com a vida discernida espiritualmente, uma ponte sobre o intervalo da morte, e o homem estaria na plena consciência de sua imortalidade e eterna harmonia, onde o pecado, a doença e a morte são desconhecidos.” Nesse momento sagrado, quando vemos além do alcance limitado da visão material, a cura ocorre.
No caso que estou narrando, fiquei muito feliz quando abri os olhos e vi meu cachorro sentado, fitando-me diretamente. Nossa família ainda desfrutou de sua companhia amorosa e alegre por mais dois anos.
A Vida está sempre presente, é cognoscível e existe sem interrupção. A matéria, que inevitavelmente desaparecerá, só pode dar uma fraca ideia da verdadeira criação. Mas, à medida que a visão limitada da vida se desvanece, a realidade espiritual se nos torna mais sólida e a vemos mais claramente onde antes parecia obscurecida.
Quando o pesar parece dominar nosso pensamento, podemos nos lembrar de Maria Madalena, que foi ao túmulo de Jesus (ver João 20:11–17). No terceiro dia após o sepultamento dele, enquanto ela olhava parao túmulo, seu coração estava dominado pela tristeza. Mas quando ouviu a voz de Jesus atrás dela e desviou o olhar do sepulcro, ela descobriu a prova da vida que a morte não havia atingido.
Gosto de dar um “passeio” mental por aquele encontro matinal, quando Jesus se apresenta perante os discípulos, depois da ressurreição. Ciência e Saúde descreve esse encontro assim: “Que contraste entre a última ceia de nosso Senhor e seu último desjejum espiritual com os discípulos, nas horas luminosas da manhã, na alegre reunião às margens do mar da Galileia! A tristeza de Jesus se transformara em glória, e o pesar dos discípulos em arrependimento ― o coração havia sido purificado, e o orgulho, repreendido. Convencidos da infrutuosidade de seu trabalho nas trevas e despertados pela voz do Mestre, eles mudaram de método, deixaram para trás as coisas materiais, e lançaram a rede para o lado direito. Com um novo discernimento do Cristo, a Verdade, nas margens do tempo, eles puderam elevar-se em certo grau acima daquilo que assenta nos sentidos mortais, ou seja, o enterro da mente na matéria, para alcançar um novo conceito de vida como sendo o Espírito” (pp. 34–35).
O senso material dos discípulos a respeito da vida havia começado a desaparecer e, em seu lugar, ficou um reconhecimento mais claro e jubiloso de que o existir é espiritual e imortal. Nós, também, podemos sentir o “novo conceito de vida como sendo o Espírito”. Isso é possível nos dias de hoje!
