Fui criada em uma devotada família de Cientistas Cristãos, e eu me identifiquei com muita convicção e de forma consistente a este chamado ao dever: amar a Deus de todo o meu coração, seguir fielmente a Líder da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, servir A Igreja Mãe e minha filial da Igreja de Cristo, Cientista, e adotar a prática da cura pela Ciência Cristã.
Em seus escritos, a Sra. Eddy repetidamente se refere, direta ou indiretamente, a “dever”: diversas vezes em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, inúmeras vezes nos escritos reunidos em “Prose Works” [Obras em Prosa], e no Manual da Igreja Mãe. Aliás, poderíamos dizer que o tema principal do Manual é “dever”.
Além dessas referências ao dever, há também outras que são como toques de clarim, como esta: “Ireis vós entregar-vos inteira e irrevogavelmente à grande tarefa de estabelecer a verdade, o evangelho e a Ciência, que são necessários para salvar o mundo do erro, do pecado, da doença e da morte? Respondei imediatamente e de forma prática, e respondei corretamente!” (Mary Baker Eddy, Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 177). Meu amor pela Ciência Cristã como sendo a própria Ciência do existir, ou seja, a verdade absoluta da vida em Deus e de Deus, me fez vibrar com essas afirmações e ansiar por responder: Sim!
No entanto, sinto-me às vezes como se estivesse aquém desse chamado ao dever e, consequentemente, tenho lutado com um senso de culpa por essa lacuna que parece existir entre meu desejo de atender ao chamado e minha capacidade de cumpri-lo.
Com o tempo, passei a ver essa luta como um sintoma da teologia escolástica e não como a prática genuína da Ciência Cristã. A teologia escolástica parte de um conceito a respeito do homem criado por Deus, ou seja, sobre cada um de nós, como um mortal material que caiu em pecado e que é finito, limitado e incompleto. O mal assume o papel de um poder oposto a Deus, o bem, constantemente nos desafiando. Essa premissa está exemplificada com detalhes no segundo capítulo do Gênesis, com a história de Adão e Eva.
Segundo esse ponto de vista, a tarefa do homem mortal pecador é tentar ganhar o caminho de volta ao reino do céu, carregando o problema que é inerente a essa tarefa, ou seja, o de começar a partir de uma capacidade finita e tentar alcançar a união com o infinito. Mesmo que alguém aborde esse dilema aceitando uma salvação vinda da graça divina, supostamente imerecida, a tendência da mente humana é acreditar que haja uma lacuna em alcançar a salvação sem realmente merecê-la. Além disso, pode haver um sentimento de culpa e de autocondenação devido à suposta incapacidade de “chegar lá”.
Ao longo dos anos, por estar alerta a essa crença intrusa, tenho percebido algo valioso que me faz ver qual é a melhor maneira de atender a esse chamado ao dever.
Foi importante alcançar um senso mais espiritual do que isso significa. Uma definição comum de dever inclui a obrigação legal e moral de fazer algo, a responsabilidade de executar uma tarefa como parte de uma missão. Mas em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy lança uma nova luz e um senso mais divino de dever. Ao nos alertar sobre a falta de confiança em nossa capacidade, que pode nos levar ao fracasso, ela diz: “A Ciência revela a possibilidade de se alcançar todo o bem e põe os mortais a trabalhar para descobrir o que Deus já fez; ...” (p. 260).
Estamos praticando para ver que a obra da criação é completa e é una, não dividida.
Que grande alívio é esse para o problema do anseio de cumprir nosso dever, com a sensação de que nos falta a capacidade para isso. Esse trecho faz com que mudemos nosso foco de um senso de dever de fazer as coisas, para o dever de ver que Deus já fez tudo eternamente. Nós assumimos então o dever, o compromisso firme de ver a perfeição e a completude que Deus, a Mente divina, vê e mantém em Sua própria criação.
Uma manhã de sábado, enquanto meu marido e eu líamos a Lição Bíblica da Ciência Cristã juntos, em voz alta, ele mencionou uma inspiração que teve a respeito da passagem em 1 Coríntios 15:58, que muito nos encoraja: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão”. Meu marido disse que o que mais o impressionou foi que a nossa firmeza tinha de estar na tarefa de ver o que Deus já fez, ver que a cura está sempre aqui e que o reino do céu está próximo, à nossa volta. Eu lhe disse o quanto isso era útil para mim, uma vez que eu estivera diligentemente orando para encontrar renovação no desempenho de meu trabalho como Praticista da Ciência Cristã.
Durante mais de trinta anos estive disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, na maioria das semanas do ano, para atender aos chamados que vinham de pessoas em busca de ajuda em oração, e continuo a me sentir profundamente dedicada a esse trabalho, que amo sinceramente. Também encontro tempo para fazer algumas pausas em meu trabalho e desfrutar da companhia da minha família, bem como encontrar tempo para uma renovação espiritual para mim mesma. Mas, às vezes, eu me pego pensando: “Todos à minha volta estão se aposentando e desfrutando de uma bem merecida folga da labuta diária, mas e os praticistas e professores de Ciência Cristã, quando é que eles conseguem essa ‘folga’?”
Reconheci que essa é uma sugestão antiquíssima, não muito sutil, da mente carnal, alegando que todos, em um determinado período da existência, inevitavelmente se cansam e querem parar de contribuir. Estou perfeitamente ciente das declarações da Sra. Eddy a respeito de como o trabalho divino é repousante e não estafante, tal como esta que consta em Ciência e Saúde: “Seja qual for o teu dever, podes cumpri-lo sem te prejudicares” (p. 385). Mesmo assim, senti que havia algo que eu estava sendo impelida a entender, além da mera eficiência humana e administração de minhas responsabilidades.
Uma maravilhosa resposta me veio ao pensamento, à medida que meu marido e eu continuávamos a ler a Lição juntos, naquela manhã. Compreendi muito claramente como Cristo Jesus ensinava, vivia e curava a partir deste ponto de vista do “já feito”.
Nossa leitura chegou à história de Lázaro, que foi ressuscitado (ver João 11:1–44). Jesus não se apressou a viajar, quando foi notificado pela primeira vez de que Lázaro estava doente. Na verdade, ele ainda esperou algum tempo para fazer a viagem até a casa do amigo. Quando ele chegou, Marta, a irmã de Lázaro, lamentou que Jesus não tivesse chegado antes, contudo ela disse que estava confiante em que Jesus poderia trazer Lázaro de volta, muito embora ele estivesse morto havia já quatro dias.
De repente, lembrei-me da história de Maria e Marta, quando Jesus as visitara, tempos antes (ver Lucas 10:38–42). Marta queixara-se ao Mestre de que sua irmã ficava aos pés de Jesus, ouvindo-o pregar, em vez de ajudá-la a servir a refeição. Muito embora a hospitalidade de Marta fosse algo bom, Jesus havia ressaltado que Maria tinha a noção correta quanto às prioridades.
Uau, pensei, Jesus não considerava seu ministério como se simplesmente estivesse “de plantão”, atendendo a todo tipo de pedido que viesse de fora. Sua vida era permanecer em comunhão consciente com Deus, e o seu reconhecimento de que Deus é Tudo-em-tudo curava. Ele estava sempre reconhecendo as mensagens de Deus, exatamente como Maria havia feito, quando reconheceu a mensagem do Cristo, ouvida aos pés de Jesus. O trabalho de Jesus estava inteiramente isento do senso de êxito e fracasso de uma história mortal. Conforme lemos em Ciência e Saúde: “A Verdade, a Vida e o Amor são as únicas exigências legítimas e eternas feitas ao homem, e são legisladores espirituais, que compelem à obediência por intermédio de estatutos divinos” (p. 184).
Essa nova compreensão tirou um peso dos meus ombros. Eu não havia me dado conta de quão pesado meu conceito de dever havia se tornado. Compreendi que isso tinha de mudar e que eu tinha de fazer o meu trabalho na prática da cura, reconhecendo de uma forma mais consistente que o trabalho devia partir da premissa do “já está feito”.
Não tenho palavras para dizer o quanto sou grata por esse conceito melhorado de dever, por despertar a cada manhã, não para o que parece uma enxurrada de tarefas, problemas e afazeres inacabados, mas para um senso renovado de sentar-me aos pés do Cristo. Estava surgindo uma nova definição a respeito da prática da Ciência Cristã e do meu dever, em linha com o que a Sra. Eddy escreveu em The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos]: “Viver de maneira a manter a consciência humana em constante relação com o divino, o espiritual e o eterno, isso é individualizar o poder infinito; e isso é Ciência Cristã” (p. 160).
No final do capítulo “A Ciência do existir”, em Ciência e Saúde, há uma interpretação das Escrituras que sempre me emocionou, mas que agora tem um novo significado para mim: “O seguinte texto do livro de Eclesiastes transmite o pensamento da Ciência Cristã, especialmente quando se omitem as palavras dever de, que não estão no original: ‘De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os Seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem’. Em outras palavras: De tudo o que se tem ouvido, a suma é: ama a Deus e guarda os Seus mandamentos: porque isso é o todo do homem à imagem e semelhança de Deus” (p. 340).
À medida que sigo em frente, está se tornando para mim cada vez mais fácil compreender que, independentemente de ser um aluno na faculdade, um pai ou uma mãe de família, um comerciante com seus clientes, um membro da igreja que atua em vários cargos ou um praticista e professor de Ciência Cristã com trabalho a fazer na prática da cura e no ensino da Ciência Cristã, é possível e vital abordar o trabalho a partir do ponto de vista do que Deus já fez. Estamos praticando para ver que a obra da criação é completa e é una, não dividida.
Visto que essa é uma tarefa jubilosa, o trabalho é sustentável e pode ser cumprido. De certa forma, nos tornamos ainda mais eficazes em ajudar os outros, porque estamos menos distraídos pelo fardo do esforço pessoal ou pela necessidade de acharmos espaço em nossa agenda para tirarmos uma folga. Sentamo-nos com reverência aos pés do Cristo com toda nossa atenção voltada para a Palavra de Deus e seguimos a orientação dEle. Além disso, somos abundantemente abençoados.
Em uma carta para um de seus alunos que estava na prática pública da Ciência Cristã, a Sra. Eddy deu um conselho a respeito de como praticar a Ciência Cristã de forma mais tranquila e sustentável. Ela escreveu: “A cura ficará mais fácil e será mais imediata à medida que perceberes que Deus, o bem, é tudo, e o bem é o Amor. É preciso ter Amor, e abandonar o senso errôneo chamado amor. É preciso sentir o Amor que nunca falha — aquele senso perfeito do poder divino que faz da cura não mais poder, mas graça. Então terás o Amor que lança fora o medo e, quando o medo desaparece, a dúvida se desvanece e seu trabalho está feito. Por quê? Porque nunca deixou de estar feito” (Yvonne Caché von Fettweis e Robert Townsend Warneck, Mary Baker Eddy: Uma Vida Dedicada à Cura, p. 158).
Compreender que nosso trabalho “nunca deixou de estar feito” — esse é o dever que podemos cumprir perpetuamente!
