“Perdi totalmente o fio da meada” disse-me uma grande amiga. Ela não encontrava mais significado nas coisas básicas da vida, como casa, propósito e trabalho. Havia problemas não resolvidos e um sentimento geral de “para quê tudo isso?” Mas essa sensação, explicou ela, estava dando lugar a um simples reconhecimento: o “fio da meada” — ou o propósito — da vida é o amor.
Quando ocorrem mudanças mentais como essa, sentimos o Cristo em ação: a mensagem do Cristo momento a momento, lembrando-nos de quem realmente somos como reflexo do Amor. Pensemos nas mensagens enviadas pelo Amor, que ganharam voz por meio de Cristo Jesus. Basicamente, ele disse às pessoas: “Vocês não são maus. Vocês não estão doentes, não são um caso perdido. Vocês são completos, perfeitos, espirituais, imortais, amados e amorosos, são até mesmo a luz do mundo!”
Jesus estava diante de agricultores, pescadores e outras pessoas simples, inclusive pessoas doentes, famintas, tristes e desesperadas. “Eu? A luz do mundo?” elas devem ter se perguntado. Mas imaginem a centelha de esperança que sentiram, quando sua vida de fato mudou. Quando os cegos passaram a ver. Os paralíticos instantaneamente ficaram em pé. Os que tinham raiva sentiram o coração se encher de amor.
O Cristo é a atemporal mensagem divina de amor universal por todas as pessoas, todas as coisas, em todos os lugares. Essa mensagem teve um mensageiro perfeito em Jesus: Cristo era a mensagem, Jesus foi o mensageiro enviado por Deus. Os profetas que vieram antes dele foram inspirados pelo Cristo, mas Jesus foi a tal ponto unido ao Cristo, que mensagem e mensageiro eram inseparáveis. O Cristo transcende tempo e espaço; é a eterna mensagem do Amor que está em contínua comunicação com todos nós.
Todos fomos tocados pelo Cristo, de maneira simples ou mais profunda. Essa voz persistente da Verdade e do Amor divino nos fala da natureza de Deus como todo o bem, sendo ele todo-poderoso, todo-misericordioso, todo-sábio, sempre presente. E revela que nossa natureza é exatamente como a de Deus — é a imagem refletida de Deus. A mensagem do Cristo nos faz chorar lágrimas de arrependimento e enxuga as lágrimas de tristeza, suaviza os espinhos de nosso caráter, infunde esperança e resgata-nos do egoísmo e da autodestruição. Mesmo aqueles que não se consideram religiosos, com frequência sentem a influência do Cristo: o chamado para o amor — para ser honesto, bom, misericordioso e paciente.
A brilhante estrela de Belém, que guiou os magos para o local do nascimento de Jesus, é simbólica do Cristo como aquele que ilumina a humanidade. Mary Baker Eddy abre seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras com uma bela descrição de como essa “estrela-guia do existir” (p. vii) está despontando para o mundo todo. Seus escritos cintilam como descrições luminosas do que é o Cristo e de como ele cura, e a autora refina o conceito de Cristo como: “a ideia espiritual do Amor divino” (Ciência e Saúde, p. 38).
O Cristo vem à consciência individual e coletiva para nos ensinar sobre a natureza essencial de Deus como o Amor, e para mostrar a evidente consequência desse fato: nós somos os progênitos do Amor, a própria expressão do Amor. É nossa natureza amar como Deus ama. É por isso que nos sentimos mais nós mesmos, quando somos amorosos e desprendidos do ego, e menos nós mesmos, quando agimos de outra forma. É por isso que Jesus enfatizou a necessidade de amar com desprendimento e perdoar incondicionalmente, tal como o sol brilha, “…para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5:45).
O Cristo revela nossa “identidade mais elevada e desprendida do ego” — expressão essa que a Sra. Eddy cunhou em uma mensagem para sua Igreja. Ela incentivou a congregação dizendo: “Permanecer em nossa identidade mais elevada e desprendida do ego significa eliminar para sempre os pecados da carne, as ofensas da vida humana, o tentador e a tentação, o sorriso e a fraude da danação eterna” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, [Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Escritos], p. 6).
Jesus foi o exemplo perfeito de como viver de maneira totalmente desprendida do ego; ele foi uma transparência tão humilde da natureza de Deus, que o Amor divino fluía por todas as suas palavras e ações. Menos ego = mais Deus. Por meio do Cristo, deixamos para atrás aquele “ego” que acreditamos ser nossa identidade — focada no corpo, focada no prazer, focada no eu. Compreendemos então nossa verdadeira identidade semelhante ao Cristo, que é inteiramente espiritual, porque “Deus é espírito” (João 4:24) e totalmente amorosa, porque “Deus é amor” (1 João 4:8).
Recentemente, passei pela experiência de transpor o egocentrismo e passar para o desprendimento do ego, ao ajudar um familiar, em uma cidade distante. Fazia-se necessário muito trabalho humano e certamente minha participação não demonstrava muita disposição. Os dias eram longos, quentes e complicados, e envolviam a limpeza de anos de abandono e acúmulo de objetos inúteis, em uma casa que precisava ser rapidamente vendida.
No início, ofereci resistência e fiquei ressentido, achando que aquela tarefa não cabia a mim. Eu tinha um trabalho muito melhor e “mais espiritual” para realizar! Mas quando superei o ego e abri meu coração para as necessidades do momento, percebi que todo aquele esforço era uma questão de amor — o tipo de amor centrado em Deus e que Jesus recomendou. Peguei o fio da meada do trabalho, quando perdi de vista o “Chet” e me concentrei simplesmente em viver o amor. Ficou claro que não se tratava de simplesmente desocupar uma casa. Tratava-se de trazer amor e alegria tão necessários a uma família que precisava de cura. Calma e benevolência entre ex-cônjuges e seus filhos entraram em cena. Nossa pequena equipe cresceu e passou a incluir também um jovem pai sozinho que precisava de trabalho, e um homem em situação de rua que lutava contra o vício.
Juntos, realizamos em poucas semanas o que poderia facilmente ter levado meses. Em vez de nos sentirmos exaustos, ao final dos longos dias, muitas vezes nos sentíamos animados. Era como se outras pessoas estivessem fazendo o trabalho. “Tudo posso naquele que me fortalece”, como diz Paulo (Filipenses 4:13). Senti o Cristo — o Amor divino em ação — elevar a todos nós e revelar ordem, beleza, afeto e soluções inspiradas.
O efeito dominó dessa experiência envolveu uma amiga que estava enfrentando alguns problemas de saúde, na época. Embora ela estivesse aposentada havia bastante tempo, minha esposa e eu nos sentimos impelidos a ligar para ela e pedir suas orações. O maravilhoso foi que seu amor desprendido de ego e suas orações ajudaram a ela também e não só a nós, como ela mesma nos contou depois. Realmente, nós vivenciamos o amor do Cristo, quando de nossa parte o expressamos.
Há um propósito divino que se desdobra para todos nós, todos os dias — oportunidades de nos superarmos, de orarmos pelos outros e pelo mundo, de vivenciarmos o amor que Jesus viveu e ensinou, e de conhecermos melhor nossa “identidade mais elevada e desprendida do ego”, que Deus conhece muito bem e ama.
Ao relembrar uma vida inteira de crescimento espiritual para mim e minha família, o fio de ouro — o fio da meada — fica bem claro: é o Amor, com “A” maiúsculo — o Amor que não fica apenas conosco, como um casaco de inverno que vestimos no frio, mas o Amor que é o Tudo-em-tudo da Vida. O Amor que está impulsionando — e capacitando — cada um de nós a refletir a luz e o amor do Cristo!
