Recentemente, um jovem rapaz, passando pela vizinhança, parou em nossa casa para informar que estava disponível para fazer qualquer tipo de tarefa ou de limpeza, dentro ou fora da casa. Embora nós não tivéssemos trabalho para ele naquele momento, peguei seu número de telefone e lhe disse o quanto admirava o seu espírito empreendedor. Falamos um pouco sobre o que significa iniciar um negócio e prestar serviços aos outros.
Eu mesmo, quando mal havia terminado o ensino fundamental, comecei o meu próprio negócio de cortar grama. Em pouco tempo, em meu novo e próspero empreendimento, eu já cuidava de vários gramados na vizinhança. Aliás, um dia memorável para mim foi quando um dos clientes, por conta própria, decidiu me dar um aumento de 25% para cortar a grama em sua casa (de 1 dólar para 1,25)!
Há inúmeros exemplos de pessoas de todas as idades e camadas sociais as quais têm a visão de desenvolver um negócio que, não só acaba sendo rentável, mas também gratificante. O empreendedorismo abençoa a sociedade de muitas maneiras, especialmente quando é impelido pelo desejo desprendido de ajudar os outros.
Será que podemos estabelecer alguns paralelos entre empreendedorismo e a prática da cura pela Ciência Cristã? Bem, sim e não. O trabalho de cura é um ministério cristão e não é um negócio no sentido tradicional da palavra. No entanto, Cristo Jesus disse, quando tinha apenas doze anos: “Eu devo tratar dos negócios do meu Pai” (Lucas 2:49, conforme a Bíblia em inglês, versão King James). Ele estava se referindo ao trabalho de cura espiritual ao qual dedicou a sua vida, em cumprimento da missão especial, dada por Deus, em prol da humanidade. Também para nós o trabalho de cura é um chamado divino, chamado esse que exige visão espiritual e o desejo genuíno de servir.
Ao longo dos anos, os periódicos da Ciência Cristã têm publicado numerosos artigos escritos por aqueles que seguiram os ensinamentos de Jesus, dedicando-se a tratar dos negócios do Pai, pessoas que têm o propósito profundo de despertar a todos nós para dar-nos conta de que, por direito divino, somos livres de conflitos e desilusões, de carência e limitação, da desarmonia e sofrimento. E, acima de tudo, despertar-nos para a libertação do pecado — especialmente o pecado de acreditar que somos mortais vulneráveis, separados daquele Deus que é infinitamente bom. Não há nada mais gratificante do que ajudar alguém a descobrir o que significa ser a própria imagem e semelhança de Deus, o Espírito, isto é, ter domínio sobre as limitações da matéria e ver a realidade a partir do ponto de vista do Espírito.
Embora possamos ter lido muitos artigos, nO Arauto, a respeito da natureza do ministério da cura cristã, ao qual os praticistas da Ciência Cristã se dedicam em tempo integral, provavelmente vimos muito menos referências escritas sobre o “lado empresarial” da prática, tal como a necessidade de manter registros para fins fiscais, e a de elaborar um orçamento que permita pagar as despesas mensais. É útil examinar esse lado do negócio, de vez em quando, e assegurar-nos de que esse aspecto prático seja um apoio, em vez de um obstáculo, ao nosso propósito principal que é a cura. Alguns pontos que me vêm à mente são os seguintes.
MOTIVOS
É bom que o empreendedor faça uma análise das suas razões para iniciar um negócio. A mesma recomendação se aplica ao Praticista da Ciência Cristã. Se o nosso verdadeiro desejo é ajudar os outros, seremos bem sucedidos e menos inclinados a resvalar para motivos egoístas, como querer simplesmente ganhar um sustento, pagar as contas, ou se tornar mais conhecido. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy diz: “A Ciência Cristã revela que a Verdade e o Amor são as forças motrizes do homem” (p. 490). Quando alguém se sente separado de Deus, da Verdade e do Amor, somos divinamente impelidos a dizer a essa pessoa a verdade sobre a sua verdadeira união com Deus. Que trabalho maravilhoso nós temos: o de ser reveladores da Verdade e ver as curas que resultam por afirmarmos, com convicção, que Deus e Seu filho são um.
REGISTROS
Países como os Estados Unidos exigem, para questões de impostos, que haja registros corretos e precisos das receitas e despesas referentes a qualquer tipo de negócio, inclusive o de Praticista da Ciência Cristã. Ter uma forma ordenada de controlar as receitas provenientes dos tratamentos e as despesas incorridas com a prestação dos serviços, tais como de publicidade (inclusive o custo de colocar o nome no The Christian Science Journal, caso se sinta levado a dar esse passo), compra de material de escritório, taxas telefônicas e outros dispositivos de comunicação. A prática da cura pela Ciência Cristã exige um mínimo de despesas iniciais e, com um pouco de disciplina, é possível manter um custo fixo baixo.
Você também poderá considerar como parte importante do empreendimento anotar as percepções espirituais que foram fundamentais para alguma cura específica. Por exemplo, lembro-me de ter tomado bastante notas a respeito da natureza espiritual da Igreja, ao orar sobre um determinado caso. Senti que aqueles pontos foram fundamentais para a cura.
MODÉSTIA
Mary Baker Eddy, que fundou a Igreja de Cristo, Cientista, bem como várias publicações, inclusive O Arauto — e foi uma das mulheres de negócios mais bem sucedidas do seu tempo — escreveu: “O estudante honesto da Ciência Cristã é modesto em suas afirmações e consciencioso no dever, esperando e trabalhando para que amadureça aquilo que lhe foi ensinado” (Não e Sim, p. 2). Há muitas oportunidades para os praticistas praticarem a modéstia. Em outras palavras, eles não achariam natural impor-se como pessoa, mas também não devem subestimar sua individualidade espiritual. A busca por esse ideal de equilíbrio pode se refletir em várias áreas, tais como: o que eles afirmam sobre sua própria atuação na cura; como se comportam entre os outros membros da igreja; como cobram os pacientes pelos serviços prestados; que papel assumem como praticistas dentro do movimento da Ciência Cristã; e como são vistos por amigos e vizinhos que não são Cientistas Cristãos. Importa lembrar que a Sra. Eddy associa o ser “modesto em suas afirmações” com o ser “consciencioso no dever”. Uma ênfase na primeira declaração irá reforçar a capacidade de cumprir a segunda.
RETORNO FINANCEIRO
Tal como as outras pessoas, os praticistas da Ciência Cristã pagam as suas contas de luz, água e telefone, compram mantimentos, e contribuem financeiramente para a igreja. É natural que valorizem o próprio trabalho e que esperem ter uma renda adequada, para que possam levar avante sua missão de cura. Quando comecei a trabalhar na prática da cura, minha renda era bastante modesta, e minha esposa e eu não tínhamos certeza de que iria cobrir as nossas despesas. Mas eu me lembrei de um amigo praticista que certa vez chamou minha atenção para esta declaração, nos escritos da Sra. Eddy: “Nos primórdios da história da Ciência Cristã, entre meus milhares de alunos, poucos eram ricos. Agora, os Cientistas Cristãos não passam necessidade; e é curando a humanidade, moral, física e espiritualmente, que alcançam uma situação econômica confortável” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883 –1896, p. ix). Reconheci o grande valor da ordem em que ela mencionou esses três aspectos na cura da humanidade. Lembro-me de ter pensado que “uma situação econômica confortável” deveria ser mais do que adequada! As bênçãos de Deus que vieram à minha vida certamente têm sido abundantes.
DISPONIBILIDADE
Recentemente, minha esposa comentou que já várias vezes encontrou fechada a loja de ferragens local. Por isso, não está muito propensa a voltar lá, quando precisa de algo. Certamente ela irá a uma loja mais confiável em seu horário de abertura. Os pacientes, compreensivelmente, sentiriam a mesma relutância no caso de um Praticista da Ciência Cristã que seja difícil de encontrar. Quando um paciente tem algum problema, a situação geralmente precisa ser resolvida de imediato e não de acordo com a conveniência do praticista. O paciente espera que o estabelecimento esteja aberto. Mais ainda, ele ou ela deseja sentir o Amor divino que cura e que impele o praticista a atender com empenho a todos os que lhe pedem ajuda por meio da oração. Essa atmosfera do Amor isento de ego, proporciona o melhor ambiente para a cura.
Seria difícil imaginar uma carreira ou missão mais gratificante do que a de um sanador cristão. Embora a Sra. Eddy considerasse a modéstia como uma qualidade central para a prática da cura, ela escreveu: “Um verdadeiro Sanador científico é a posição mais elevada que se pode alcançar nesta esfera do existir” (Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Authority [Mary Baker Eddy: Anos da Autoridade], p. 101). É assim que gostaríamos de ver esse trabalho único e sagrado. E gostaríamos de ser realistas quanto aos passos a dar para melhor levar a cabo nosso empreendedorismo espiritual.
CONHECER O CLIENTE
O empreiteiro se familiariza com as necessidades da casa do cliente, o contador conhece a condição financeira do cliente, o mecânico conhece bem o seu carro, e o médico procura entender a condição física do paciente. Mas o Praticista da Ciência Cristã se familiariza com a consciência do paciente, por meio daquilo que o Cristo, a Verdade, traz à luz. Essa é uma relação muito especial que se tem com alguém — uma experiência sagrada. Por meio da oração, descobrimos a forma distinta como Deus Se reflete nessa pessoa, que é a expressão inteligentemente concebida pela Mente. A sua beleza e pureza, a harmonia e alegria do seu existir único. Valorize o que Deus está revelando. Isso contribui para o trabalho de cura que você faz para o seu paciente.
Voltando ao jovem que veio à nossa casa oferecer seus serviços, ele estava provavelmente mais interessado em conseguir trabalho do que apenas receber sugestões sobre como conseguir trabalho. Mas as poucas ideias que lhe dei foram de acordo com aquilo que beneficiou o meu negócio de cortar grama: pense em seus motivos, esteja disponível, mantenha bons registros, mantenha baixas as despesas fixas. Faça com que a modéstia caracterize suas palavras e ações. Conheça o seu cliente.
Constatei que essas atitudes foram boas para meu próprio trabalho na prática da cura, e o são para qualquer pessoa que queira ser um “empreendedor espiritual” bem sucedido.
