Um dos ensinamentos de Jesus que acho mais difícil de seguir é o de amar da maneira como ele pede — amar verdadeiramente nossos inimigos, nossos vizinhos e a nós mesmos. Muitas vezes me perguntei como poderia amar alguém que cometeu crimes hediondos contra a humanidade. Ou como posso amar minha vizinha, cujo apetite noturno faz com que os entregadores dos restaurantes toquem minha campainha às 3h da madrugada, porque ela forneceu o número errado do apartamento? E como posso amar a mim mesma, se parece que não consigo deixar de lado os ressentimentos do passado?
Encontrei resposta a essas perguntas ao ler um diálogo entre Pedro e Jesus, após a ressurreição. Notei algo que nunca percebera antes.
Pedro era um dos discípulos amados de Jesus e frequentemente os Evangelhos o citam pelo nome. Era impetuoso e franco. Foi ele que saiu do barco para andar sobre a água, como Jesus lhe disse que fizesse, e foi ele quem identificou Jesus como o Cristo, um reconhecimento que é o fundamento da Igreja Cristã. No entanto, em meio ao tumulto da prisão e do julgamento de Jesus, cercado por uma multidão hostil, Pedro ficou com medo e por três vezes negou que fosse seguidor de Jesus.
Segundo o Evangelho de João, capítulo 21, Pedro foi pescar com os outros discípulos, após a ressurreição de Jesus. Embora já tivessem visto Jesus ressuscitado, aquilo não fora suficiente para eliminar a lembrança do horror da crucificação. Eles voltaram a seus velhos hábitos. O relato indica que os discípulos pescaram a noite toda sem pegar nada, ficando ainda mais desanimados. Todavia, pela manhã, embora os discípulos não tenham reconhecido seu amigo e Mestre, Jesus os chama da praia e eles, sob sua orientação, lançam a rede do lado direito do barco e conseguem uma enorme quantidade de peixes.
Depois de alimentar os discípulos, Jesus pergunta a Pedro se ele o ama “mais do que estes”. Pareceu-me uma pergunta razoável, pois Pedro anteriormente negara esse amor, quando insistiu em que não era um seguidor de Jesus. Pedro responde que ama Jesus. Jesus diz: “Apascenta os meus cordeiros”. Esse diálogo prossegue com a mesma pergunta, e novamente Jesus insta: “Pastoreia as minhas ovelhas”. Na terceira vez, Pedro fica irritado. Ele diz: “…Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”. Jesus repete: “Apascenta as minhas ovelhas”.
A revelação me veio quando consultei um comentário bíblico que explicava as palavras gregas para amor usadas no Evangelho de João, nesse diálogo. Quando Jesus pergunta pela primeira vez a Pedro se ele o ama, usa a palavra grega agapaō, que é frequentemente usada para se referir ao amor de Deus. A vida de Jesus foi um exemplo desse amor isento de ego. Ao responder, Pedro usa a palavra grega phileō, que pode ser interpretada como afeto de amigo, ou amor fraterno, um senso mais pessoal de amor. O mesmo se dá no segundo diálogo. Quando Jesus pergunta a Pedro pela terceira vez: “Tu me amas?” usa a palavra grega phileō. E Pedro responde com a mesma palavra.
Dei-me conta de que Pedro não havia entendido realmente a pergunta de Jesus, e Jesus percebeu isso pelas respostas de Pedro. Pedro o amava, mas era um amor pessoal, fraternal. Embora profundamente sincero, não era o amor que de fato deixa de lado todo o senso de um ego separado de Deus, e ama com o imutável e todo abrangente amor de Deus. Jesus, então, dirigiu-se a Pedro a partir do pensamento do discípulo, e muda a pergunta.
A Bíblia relata que mais adiante Pedro realizou muitas curas e que aprendeu a pastorear todas as ovelhas e cordeiros de Cristo, entre eles judeus e gentios. Essa revelação me fez perceber que eu podia parar de me censurar por não amar o suficiente e de ruminar sobre erros do passado. Certamente, o Cristo, a Verdade divina, está agindo agora, onde estou, transformando o amor que sinto em amor cristão universal, que enxerga cada um de nós como um precioso filho de Deus.
Essa compreensão me foi útil quando, devido ao comportamento inadequado de um colega, saí de um emprego de que gostava muito. Foi difícil não nutrir pensamentos de rancor em relação a essa pessoa e, por muito tempo, a sensação de ter sido injustiçada tomou conta de mim. Eu sabia que não era certo abrigar esses sentimentos, mas não conseguia me livrar deles.
Eu havia frequentado a Escola Dominical da Ciência Cristã por muito tempo, mas, devido à minha intensa carreira profissional, havia deixado o estudo da Ciência Cristã. No entanto, quando percebi que essa situação estava tomando conta de meus pensamentos, procurei a ajuda de um praticista da Ciência Cristã. Eu sinceramente desejava perdoar essa pessoa e desejar-lhe todo o bem. Queria amar como Jesus amava.
Orei ao longo de vários anos sobre o caso. Durante esse tempo, recebi muitas bênçãos, graças a uma compreensão mais profunda do amor imutável de Deus por mim, o que me conduziu a uma carreira gratificante, em uma área muito mais adequada para mim. No entanto, eu ainda tinha dificuldade em perdoar e ver essa pessoa incluída no amor de Deus.
Foi então que um dia, em um restaurante, vi alguém que se parecia com essa pessoa. Para minha surpresa, em vez da emoção intensa que costumava sentir, me sobreveio uma imensa sensação de paz e percebi que toda a raiva e ódio haviam se desvanecido completamente. Foi um grande alívio me sentir livre daqueles maus sentimentos e saber que eu podia sinceramente desejar o melhor para essa pessoa, e ver que nosso relacionamento é sempre mantido pelo Princípio divino, o Amor.
Mary Baker Eddy, que fundou A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, deu exemplos de amor inabalável diante de imensas injustiças. Comecei a notar em seus escritos como ela descreve a atuação do Cristo que nos transforma ao purificar nosso amor pelos outros. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, ela diz: “Os mortais têm de gravitar para Deus, seus afetos e objetivos têm de se tornar mais espirituais — eles têm de se aproximar das interpretações mais amplas do existir, e obter algum senso correto do infinito — para que o pecado e a mortalidade possam ser descartados.
“Esse senso científico do existir, que abandona a matéria pelo Espírito, não sugere de modo algum a absorção do homem na Deidade nem a perda de sua identidade, mas proporciona ao homem uma individualidade mais ampla, uma esfera mais extensa de pensamento e de ação, um amor de maior alcance, uma paz mais elevada e mais permanente” (p. 265).
Esse foi o toque divino — o Cristo — que havia atuado em meu coração, transformando o amor que eu já sentia por meus entes queridos e por minha comunidade, elevando-o de maneira a incluir mesmo alguém que agira mal comigo. Toda a raiva e ódio, que me haviam aprisionado por tanto tempo, simplesmente desvaneceram.
Sinto muita paz em reconhecer que o Cristo está agindo no coração de todos, elevando o senso pessoal de amor para o amor universal, que cura e transforma a humanidade.
