Há a fábula sobre uma pequena aranha que ficou acidentalmente presa no mecanismo de um relógio. Sua situação parecia sem esperança. Mas ela fez a única coisa que uma aranha sabe fazer. Teceu uma teia. E isso fez com que o relógio parasse de funcionar! Quando o relógio foi aberto para limpeza, a aranha foi libertada. Ela se libertou porque usou o talento especial que as aranhas possuem.
Nós também temos um talento. Aliás, todos possuem esse talento. É o talento mais poderoso que existe. Não há absolutamente nada que esse talento não consiga realizar. Mas ele precisa ser desenvolvido. É o talento para amar.
O homem tem esse talento por ter sido criado por Deus, e porque Deus é o próprio Amor. Portanto, amar é tão natural para nós como tecer teias é natural para as aranhas. Até um bebê ama, quando agarra com as mãozinhas as contas do colar no pescoço da mãe e sorri. A criança em idade escolar está amando, quando compartilha o lanche com seu cão. Os pais amam, quando pensam no bem-estar dos filhos.
Mas o amor tem uma profundidade muito maior, um alcance mais amplo. O puro amor é totalmente isento de ego, tem uma inteligência vital, visto que o Amor também é a Mente. À medida que progredimos e refletimos mais esse amor sem traços de ego, nós constatamos que, espontaneamente, realizamos curas.
Somente o amor isento de ego dá vida ao tratamento pela Ciência Cristã. A Sra. Eddy declara: “Pelos argumentos verídicos que empregas, e especialmente pelo espírito de Verdade e Amor que abrigas, curarás os doentes” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 418).
O amor isento de ego não tem nenhum elemento de apego pessoal. É o reflexo daquele Amor divino que só reconhece o fato de que o Amor é tudo, ou seja, não reconhece pecado, pesar, doença ou morte. Tal amor se expressa humanamente em dois níveis — o moral ou ético, e o espiritual.
No nível moral, ou ético, devemos ter suficiente amor livre de ego para atender tanto ao pedido de ajuda que é expresso, como o não expresso, seja qual for o inconveniente que isso possa nos causar.
“…Alguém me tocou…” (Lucas 8:46), disse Cristo Jesus, sentindo o apelo silencioso da mulher doente, em meio à multidão que se aglomerava ao redor, enquanto ele estava a caminho para curar a filha de Jairo. Ele parou para atender ao apelo silencioso da mulher desconhecida, antes de prosseguir para o que humanamente parecia ser um caso mais urgente e mais importante.
Agindo com amor isento de ego no nível moral e ético, o praticista visita os casos que necessitam ser visitados, percorre a segunda milha quando necessário, é consciencioso nos tratamentos dados, é paciente com os impacientes. Por meio do Cristo, esse amor desprendido do ego traz o amor do Pai à humanidade, de maneira que possa ser percebido pela humanidade.
Mas o que dizer desse amor em um nível mais profundo, mais espiritual? “A favor deles eu me santifico a mim mesmo”, disse Jesus, orando pelos discípulos, “…Para que eles também sejam santificados na verdade” (João 17:19). A Sra. Eddy destaca a necessidade de uma renúncia ao ego semelhante à de Jesus: “A verdadeira compreensão da cura pela Mente, na Ciência Cristã, jamais se originou no orgulho, na rivalidade ou no endeusamento do ego”. E mais além: “Os caminhos do Cristianismo não mudaram. A mansidão, o desprendimento do ego e o amor são as sendas do testemunho de Deus e os passos de Seu rebanho” (Rudimentos da Ciência Divina, p. 17).
Costumamos nós orar para ter amor suficiente a ponto de obedecer a essas diretrizes? Elas podem nos mostrar o caminho, mas nós mesmos é que temos de percorrê-lo. O Amor nos faz exigências profundas e contínuas, para que desenvolvamos esse talento até realizarmos curas. Ao ceder a essas exigências, sentimos a inigualável recompensa da bênção do Pai.
Amar assim significa aprofundar-se na metafísica divina da Ciência Cristã, pesquisar a Bíblia e os escritos da Sra. Eddy, segui-la em sua descoberta e unir-se ao amor e à gratidão que ela expressa nestas linhas do seu poema intitulado: “O Novo Século”:
Querido Deus! quão grandioso, quão bondoso és Tu
Que curas o sofrido coração da humanidade;
Que sondas a ferida antes de aplicar o bálsamo —
Uma vida tornada perfeita, forte e calma.
(Poems [Poemas], p. 22)
Amar é abandonar, a qualquer custo e por meio de todo esforço necessário, tudo o que em nós for dessemelhante do Cristo sanador, e reivindicar a nossa verdadeira identidade semelhante ao Cristo, por mais que o diabo pareça escarnecer e frustrar nossos esforços. Tal amor cura. Cura a nós próprios e aos outros.
O amor isento de ego que levamos a um paciente nos permite discernir sua necessidade, que nem sempre é aquela que aparenta ser. O próprio paciente talvez nem sempre tenha consciência da sua real necessidade.
Certa noite, uma praticista recebeu a ligação de um jovem muito assustado, pois sua esposa ficara subitamente doente e perdera o uso dos membros. A praticista já estava ocupada com um trabalho muito urgente e, como o casal morava muito longe, ela sugeriu que procurassem alguém mais próximo. Mas como não haviam conseguido ajuda local, a praticista compreendeu, naquele momento, que não havia nenhuma limitação para amar, e aceitou o caso de bom grado.
Começou seu tratamento negando os sintomas físicos e substituindo-os pelo conceito perfeito da atividade espiritual de todas as ideias de Deus. Todavia, à medida que o seu amor se aprofundava, ela vislumbrou a necessidade real. Lembrou-se de que sempre que esse jovem lhe escrevia, mencionava o apoio que sua esposa lhe dava. Como um clarão de luz, ocorreu-lhe que um apoio é algo que tem de sustentar outro peso, e que pode acabar desabando sob muita pressão. Ao procurar o fato espiritual sobre a situação — o fato contrário à sugestão errônea, ela compreendeu que a verdade estava na ideia de parceria.
Ela trabalhou até tarde da noite para estabelecer em seu próprio pensamento o maravilhoso fato espiritual de que os filhos de Deus, tendo todos o mesmo valor, estão empenhados em uma parceria. De manhã, ela não ficou surpresa, mas humildemente grata, com a notícia de que a jovem esposa estava bem e cuidando das suas atividades normais.
À medida que desenvolvemos o nosso talento para o amor isento de ego, o discernimento espiritual fica mais apurado, e a cura mais certa.
Esse amor isento de ego nunca culpa o paciente pela falta de cura. Nunca argumenta com um paciente ingrato, mas ocupa-se em saber que não existe tal coisa como ingratidão.
O amor isento de ego nunca se vangloria do seu trabalho de cura nem sofre de orgulho ferido ou de desânimo, se a cura não se manifesta rapidamente. Nunca dita ordens, nem dá conselhos humanos ou faz exigências. Por outro lado, não tem medo de correr o risco de desagradar, ao fazer advertências oportunas. O amor isento de ego irá “sondar a ferida” bem como “aplicar o bálsamo”, não de uma forma pessoal que possa machucar, mas por refletir o Amor que é Deus.
Podemos aceitar esse precioso talento — esse talento para amar que o Amor divino concede a cada um de nós — e desenvolvê-lo até à plena compreensão espiritual. Aliás, podemos confiar, com amorosa expectativa, em que essa compreensão espiritual se aprofundará mais a cada dia que passa.