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Original para a Internet

A política como fórum para a prática da amizade

DO Arauto da Ciência Cristã. Publicado on-line – 20 de outubro de 2022


Cerca de um ano atrás, deparei-me com uma ideia surpreendente relativa à política. Foi em um discurso proferido por Václav Havel, uma figura de destaque na “Revolução de Veludo” que impulsionou a antiga Tchecoslováquia a ficar independente da União Soviética, na década de 1990. Havel, como presidente do país recém-libertado, sugeriu que a política deveria ser um fórum para a prática da amizade.

A política como fórum para a amizade? Seria isso possível?

Em minha própria vida, amizade e política andam de mãos dadas desde a década de 1970. Tenho um círculo de amigos chegados, desde o ensino médio, de diferentes origens raciais e culturais e, ao longo das décadas, uma de nossas atividades preferidas sempre foi falar de política. Todos nós conhecemos as opiniões uns dos outros sobre o papel do governo, a política nacional, o que o setor privado deveria fazer etc., e, embora nossas discussões às vezes tenham sido um tanto acaloradas, elas também foram muitas vezes bem-humoradas. Mas, no final, sempre estamos todos satisfeitos pelo tempo que passamos juntos, por nos informarmos e aguçarmos os argumentos uns dos outros. Às vezes até mudamos os pontos de vista uns dos outros. Será que alguma vez deixaríamos as discussões políticas afetarem negativamente nossa amizade? Nunca! Por que não? Porque valorizamos nossas amizades mais do que nossas opiniões políticas.

Na década de 1980, para dar um exemplo de nosso país, a Câmara dos Comuns do Canadá tinha um membro ativo do Partido da Oposição Oficial, uma senhora que fazia todo o possível para tornar a vida o mais difícil possível para o partido que estivesse no poder. Essa deputada indispôs-se particularmente com um ministro do governo que era famoso pela franqueza, linguagem direta e vontade de entrar em uma guerra de palavras com qualquer pessoa, especialmente com alguém da oposição. Mas, durante a permanência deles no cargo e, especialmente depois, aconteceu uma coisa engraçada. Esses “naturais” inimigos políticos tornaram-se amigos. Seus gabinetes eram próximos e os dois políticos interagiam cordialmente. Depois que ambos se aposentaram da política, embora ainda estivessem ativos na vida pública, sua amizade se fortaleceu ainda mais e eles passaram a frequentar-se tanto mutuamente como também entre as duas famílias. Duvido que eles tenham concordado em tudo no que se referia à política pública, mas eles não deixaram que isso atrapalhasse sua amizade e respeito mútuo. 

Um amigo meu, ambientalista aposentado que atuou no Parlamento, faz uma observação simples a respeito de como melhorar o sistema político: mudar os assentos na Câmara dos Comuns para que os deputados não se sentem apenas junto com os membros de seu próprio partido, mas se misturem entre os membros dos outros partidos. Ele diz que, com certeza, depois de 15 minutos, todos estariam mostrando à pessoa ao lado fotos dos filhos e netos, dos peixes que pescaram nas férias, e assim por diante. Em suma, a condição humana de cada um, independentemente do partido político, transcenderia as diferenças, transformando o ambiente na Câmara em espírito de cooperação acima do partidarismo.

Acho que é isso o que Havel tinha em mente, quando falou sobre amizade na política: uma irmandade que supera as questões do momento, por mais urgentes que possam parecer, e um senso humanitário que pode servir de base para as decisões a respeito dessas questões.

Mary Baker Eddy, que fundou o Arauto, tinha grande confiança na capacidade de nos unirmos graças a um senso humanitário mais elevado. Ela escreveu: “O cimento de uma humanidade mais elevada unirá todos os interesses na natureza divina, que é una e única” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 571). 

Há alguns anos, essa ideia foi a base de minhas orações para resolver um problema da comunidade local. Um órgão federal, responsável por uma grande área em nosso bairro histórico, decidiu instalar uma alta cerca, no estilo industrial, bem atrás de nossas casas, cujos quintais dão para um pequeno parque, próximo ao rio. Antes podíamos ter acesso fácil ao parque, agora estávamos prestes a perder esse acesso que sempre havíamos desfrutado.

 Alguns dos proprietários rapidamente organizaram uma campanha para que escrevêssemos cartas e fizéssemos pressão junto ao órgão federal. Também foi pedido que cada um de nós se dispusesse a contribuir com quinhentos dólares para um fundo, caso fosse necessário abrir um processo judicial. 

Quando participei da reunião dos proprietários, compreendi que eu poderia contribuir mais, se silenciosamente orasse. Meu ponto de partida foi de que há um único Deus governando, uma única Mente divina, e de que cada pessoa era a expressão plena e constante dessa Mente inteligente, quer essas pessoas estivessem pensando em termos de Deus, quer não. Tentei pensar em uma humanidade mais elevada — podemos até dizer no espírito de amizade — que poderia unir a comunidade, incluindo o órgão federal, os proprietários das casas e todos os usuários do parque. Ocorreu-me que havia algo que todas as partes interessadas tinham em comum: o desejo de melhorar a qualidade de vida para todos. Eu vi esse desejo comum como uma oração silenciosa que promoveria respeito e flexibilidade, e harmonizaria as diferentes abordagens, levando todos juntos a uma solução, graças a esse elo comum.

 E foi exatamente isso que aconteceu. Os proprietários das casas escreveram cartas, e a repartição as recebeu respeitosamente, apesar de seu histórico de falta de resposta às reivindicações da comunidade. O resultado foi que os proprietários puderam apresentar algumas opções alternativas no projeto da cerca, com a opção de comprarem portões para ter acesso direto ao parque, se assim desejassem. Todos ficaram satisfeitos, e o belo parque continua sendo amplamente utilizado por muitos, tanto pelos moradores do bairro quanto pelos de fora. As ideias que trouxeram a solução para esse problema local exemplificam como as respostas podem ser encontradas também para problemas maiores.

A ideia de que há um único Deus, uma única Mente governando, é fundamental nos ensinamentos da Ciência Cristã. Afirmar em oração que há uma única Mente não significa ignorar opiniões humanas ou tolerar opiniões extremistas, nem significa que todos têm os mesmos pensamentos ou raciocinam da mesma maneira. Mas esse conceito tem o efeito de diminuir a vontade própria, suavizar as reações e esvaziar a retórica para que assim possam surgir os pontos comuns e as soluções.

Jesus falou sobre tirar a “trave” de nosso próprio olho antes de tentar tirar o “argueiro”, do olho de nosso irmão (ver Mateus 7:5). Cultivar e expressar qualidades divinas, tais como humildade, quietude e paciência, muitas vezes nos permite não apenas ficar mais satisfeitos a respeito de nós mesmos, mas também ver um irmão, uma irmã ou um vizinho da maneira como Deus os vê — como a imagem e semelhança espiritual de Deus. Essa elevação de nosso pensamento até o ponto de vista de Deus, para ver o que todos nós realmente somos como Seus filhos, traz a cura e melhora nosso próprio caráter e o dos outros. Praticar a Regra Áurea — fazer aos outros o que desejamos que eles nos façam — é fundamental para a ética prática de Jesus (ver Mateus 7:12), bem como para muitos outros sistemas religiosos e filosóficos. E isso traz uma maior civilidade e respeito às discussões políticas, seja entre amigos ou em nível nacional.

 É normal que haja opiniões diferentes a respeito de como resolver problemas e de como fazer progredir a sociedade. Contudo, algumas vezes as opiniões políticas são tão extremas que inflamam a raiva, o medo e provocam uma divisão aparentemente irreparável. Mas, quanto mais deixamos a Mente divina nos inspirar e nos guiar, mais esses extremos são subjugados, havendo então uma maior união em favor de ideias verdadeiramente inspiradas, e vivenciamos mais a amizade e a fraternidade.

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