Eu era assistente de um sócio sênior de um grande escritório de advocacia em Washington, Estados Unidos, onde imperava um elevado clima de hierarquia e poder. As promoções dependiam de quem você conhecesse ou de quem gostasse de seu trabalho.
Esse advogado era conhecido por seu extremo mau humor. Quem discordasse dele ou o provocasse estava sujeito a ser demitido ou a colocar sua carreira em jogo. Ele me encarregara de preparar uma ação judicial importante que seria apresentada em tribunal, o que me exigiu muitas horas de trabalho. Eu precisava dessa experiência e, por estar trabalhando sozinha e sem ajuda, parecia justo que eu fizesse a defesa oral. No entanto, à medida que a data do julgamento se aproximava, esse advogado foi se apropriando de peças do processo. Certo dia ele retirou a última peça, o que significava que eu não iria fazer a defesa do caso em que eu trabalhara com tanto afinco.
Ao receber essa notícia, fui para minha sala e fechei a porta. As atitudes desse sócio eram muito injustas, e parecia que não havia nada que eu pudesse fazer. O incentivo para continuar a trabalhar longas horas e terminar o processo simplesmente desapareceu. Eu estava desesperada. Voltei-me a Deus em oração, pedindo que me ajudasse.
Lembrei-me deste trecho do Sermão do Monte, em que Jesus diz: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; fazei o bem aos que vos odeiam, orai pelos que maldosamente vos usam e vos perseguem” (Mateus 5:44 conforme a Bíblia em inglês, versão King James).
Fazer o bem aos que maldosamente nos usam, ser isento de ego com quem está tirando vantagem de nós? Não estaria essa atitude perpetuando, ao invés de corrigir, desequilíbrios de poder que resultam em injustiças?
No entanto, Jesus triunfou de maneira extraordinária sobre os grandes poderes de sua época e sobre as injustiças impostas sobre sua vida e obra. Ele encontrava em Deus uma fonte mais elevada de poder, que corrige injustiças e traz cura e restauração. Ao seguir o exemplo de Jesus nesse caso, será que eu conseguiria me reerguer? Encontraria o consolo que eu buscava?
Perguntei-me: Quem controla minha carreira? A Bíblia ensina: “Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus…” (Salmos 62:11). Compreendi que Deus é responsável por minha carreira. Esse pensamento me trouxe grande alívio.
Deus é Deus de misericórdia e eu sabia que podia confiar minha carreira a Ele. Lembrei a mim mesma de que meu objetivo não era satisfazer uma ambição pessoal, mas glorificar a Deus da melhor maneira possível. Eu sabia que canais corretos de progresso seriam abertos, se eu confiasse em Deus e vivesse em obediência a Seus preceitos.
Depois de muita oração pude dizer, do fundo do coração, que não importava quem fizesse a apresentação oral, e me senti em paz com a possibilidade de o sócio sênior fazê-la. Não senti que abrir mão do caso seria aceitar uma derrota. Ao contrário, seria ceder a Deus, que é o bem e é Tudo. Seria confiar em Deus para cuidar de minha vida e carreira. Praticar o que Cristo Jesus ensinou e praticou, desprender-me do ego e ser amável, e fortalecer minha fé no poder e na bondade divinos, trouxe-me um grande senso de paz e libertação.
Continuei a orar, e tive um pensamento surpreendente: amar meu próximo como a mim mesma não significa amar qualidades deploráveis. Não significa deixar-me esmagar por um rolo compressor! Amar meu próximo como a mim mesma significa ver a meu próximo como Deus o vê e reconhecer suas qualidades divinas. Foi assim que Jesus amou e curou. Ele separava da pessoa as más qualidades, e via ali mesmo a identidade espiritual de cada um, feito à imagem e semelhança de Deus. Essa forma de orar curava.
O verdadeiro significado de amar meu próximo foi uma ideia nova que chamou minha atenção. Orei para ver esse sócio como Deus o vê — desprendido do ego, amável, bom, refletindo a mesma Mente divina, Deus, que eu reflito.
A Bíblia diz que somos feitos à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27). Por sermos feitos à imagem de Deus, que é inteiramente bom, não fomos criados para exercer poder abusivo sobre os outros ou para prejudicar-nos mutuamente. Tais ações não subsistem quando enfrentadas com oração sanadora. Sem dúvida, honrar o bem e o poder de Deus e compreender que Ele é a causa única e o único Criador habilita-nos a trazer essas verdades sanadoras para nosso dia a dia, e dessa forma ajudar os que estão próximos a nós.
Depois de haver orado com essas ideias veio-me: “É você quem deve fazer a apresentação oral. Diga ao sócio sênior que é você quem deve fazê-la”. Senti que a instrução era divinamente inspirada, mas questionei: “Tens certeza, Deus? Esse é o homem que explode, expulsa pessoas de seu escritório pelas mínimas coisas — e esse caso não é pequeno!” Mas percebi que precisava estar disposta a permanecer com minhas convicções — com a nova compreensão do que realmente significa amar meu próximo como a mim mesma, e apoiar-me no entendimento mais claro de que o poder nesse relacionamento (e em todos os relacionamentos) está apoiado em Deus, o bem.
Aguardei até sentir-me bem segura, e então falei com o sócio e disse-lhe que eu precisava fazer a defesa oral. Ele ficou surpreso, e respondeu: “Sabe de uma coisa, você tem razão”.
Algumas semanas mais tarde fiquei sabendo, por outro sócio, que essa havia sido a primeira vez, em toda a carreira desse advogado, em que ele não tomara um caso importante para si, em detrimento de um advogado mais jovem. Fiquei muito grata por essa clara evidência de que compreender a verdade sobre o poder — que procede de Deus e, portanto, sempre inclui justiça e misericórdia — e verdadeiramente amar nosso próximo, nos capacita a testemunhar curas significativas e profundas em benefício dos que estão dos dois lados do conflito.
O Cristo, a atividade corretiva e regeneradora da Verdade e do Amor, que Jesus demonstrou de modo tão efetivo, está aqui hoje para corrigir e resgatar questões de abuso de poder e injustiça no mundo e em nossa vida.
A Ciência Cristã ensina que o bem e o poder de Deus operam como lei divina. O governo da Vida, da Verdade e do Amor é supremo. Não há lugar onde a luz do amor sanador de Deus não brilhe. Como imagem de Deus, o homem e a mulher refletem o bem, a ação e o pensamento fundamentados no Princípio, e o desprendimento do ego e a bondade da natureza divina.
Um hino do Hinário da Ciência Cristã nos descreve a atividade redentora e restauradora de Deus, a qual está disponível a todos:
Quem injustiça sofre,
Deus já vem socorrer;
Ao fraco, triste, pobre,
Sustento vem trazer.
Liberta o cativo,
Quebranta a opressão;
O Deus equitativo
É bom em toda ação.
(James Montgomery, No. 75 adapt.
e trad. © CSBD)
É necessária coragem, força e convicção para demonstrar essas verdades em um mundo que parece estar apoiado em premissas muito diferentes. No entanto, a oportunidade de trazer cura para o mundo por meio da oração contém a grandiosa promessa de felicidade e prosperidade para a humanidade.