Uma amiga minha passou por algumas situações perturbadoras quando criança e, no início da fase adulta, acabou fazendo escolhas das quais posteriormente se arrependeu. Ela se perguntava se os problemas físicos que estava enfrentando poderiam estar ligados a esses traumas.
Muitas pessoas que passaram por situações traumatizantes, ou que tomaram decisões das quais se arrependem, enfrentam persistentes turbilhões íntimos, e a sensação de estarem separadas do bem, Deus. É frequente serem acometidas por sintomas crônicos mentais ou físicos.
Mary Baker Eddy, a Fundadora da Ciência Cristã, escreveu sobre esse ciclo: “É preciso revisar a história humana, e o registro material precisa ser totalmente apagado” (Retrospecção e Introspecção, p. 22). Revisar significa “examinar novamente a fim de corrigir ou melhorar”, diz o dicionário (merriam-webster.com). Quando as experiências do passado resultam em problemas que persistem ainda hoje, o que precisa ser revisado é o senso de que, em algum momento, possamos ter estado separados de Deus, sozinhos e magoados. A percepção de ter sido vulnerável ao mal é corrigida pela compreensão da união imutável que cada um de nós tem com o Espírito divino.
É transformador reconhecer em oração que, no exato momento em que fatos estressantes pareciam estar acontecendo, em realidade estava em ação uma verdade mais profunda. A realidade espiritual é que Deus sempre esteve totalmente presente, harmoniosamente governando Sua criação, e nós, filhos e filhas espirituais de Deus, sempre estivemos intactos e completos. O que quer que pareça contradizer essa verdade acaba se revelando uma ilusão sem fundamento nos fatos espirituais.
Isso foi abordado em um artigo publicado nO Arauto da Ciência Cristã, há alguns anos: “Exatamente quando … nesse mesmo instante”. Paul Stark Seeley escreve a respeito de como podemos ver as experiências traumáticas a partir de uma perspectiva espiritual, e nos libertar dos efeitos desses eventos humanos por meio da compreensão acerca de Deus e do fato de que a verdadeira identidade espiritual de cada um continua intacta.
Ele escreve: “Por ser Deus eternamente o bem infinito, nunca houve um instante em que qualquer fase do mal tenha podido encontrar ponto de apoio dentro dessa infinidade. A universalidade eterna do reino de Deus, onde todas as manifestações de Deus habitam com segurança, não pode ser invadida. …
“Exatamente quando o mal afirma possuir ponto onde fincar o pé na infinidade de Deus, nesse mesmo instante Deus é infinito e é Tudo, e a individualidade do homem é de Deus e está em Deus, para sempre” (edição de setembro de 1976).
O reino de Deus a que esse artigo se refere é aquela integridade que Cristo Jesus disse que está dentro de nós e ao nosso redor, que “está próximo” (Marcos 1:15). A palavra reino também dá a ideia da soberania do Amor divino — nenhum outro poder está presente, nenhum outro poder tem o direito ou a capacidade de entrar e causar dano.
Na Oração do Senhor, Jesus ensinou os discípulos a orar: “Venha o teu reino” (Mateus 6:10). Em sua interpretação espiritual da Oração do Senhor, em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy muda o tempo verbal da frase: “O Teu reino já veio” (p. 16) — enfatizando que a harmonia do reino de Deus não é algo que está “distante” no tempo ou no espaço, mas sim está completamente presente agora.
Exatamente onde a história humana alega ter impacto negativo no bem-estar de alguém — seja no corpo, no pensamento, nos sentimentos ou nas circunstâncias — exatamente ali o registro material dos males precisa ser, e pode ser apagado e eliminado da consciência. Todavia, é preciso mais do que esforço humano para fazermos isso. É por meio da oração que vislumbramos a totalidade infinita do Amor divino e a integridade de todos, como a expressão espiritual do Amor. Então, os problemas do passado deixam de parecer reais e começamos a sentir a verdade que cura.
Ficar em silêncio, e ouvir o que Deus tem a nos dizer sobre a realidade espiritual, exige que deixemos de nos ver como vítimas do destino, dos outros ou de nossas próprias escolhas. Não existe lei espiritual que dê suporte a um registro de doenças materiais, erros ou traumas. Pelo contrário, a compreensão da lei divina da harmonia eterna resulta em cura. À medida que o senso de vitimização desaparece, as lembranças do sofrimento do passado perdem sua influência sobre nós e encontramos liberdade e bem-estar no momento presente.
Um exemplo que consta no ministério de Jesus é relatado no Evangelho de Mateus. Um paralítico deitado em um leito foi levado ao Mestre por algumas pessoas. “…Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados” (9:2). O homem se levantou e partiu para sua casa.
Jesus percebeu que algo no passado daquele homem o fazia sentir-se separado de Deus, e que o homem acreditava ser ele mesmo a causa do próprio sofrimento. Mas Jesus compreendia que não existe lei no reino de Deus que justifique a noção de que qualquer coisa, passada ou presente, tenha o poder de nos fazer sofrer.
Em Ciência e Saúde, encontramos esta explicação: “Jesus reconhecia na Ciência o homem perfeito, que lhe era visível ali mesmo onde os mortais veem o homem mortal e pecador. Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes. Assim, Jesus ensinou que o reino de Deus está intacto e é universal, e que o homem é puro e santo” (pp. 476–477).
Durante muitos anos eu fiz parte de uma equipe voluntária de busca e resgate, em nossa comunidade nas montanhas, ajudando a encontrar pessoas perdidas no mato, resgatando os feridos e recuperando os corpos dos que não sobreviveram. A certa altura, após uma série de missões difíceis em que vários amigos perderam a vida, comecei a sentir sintomas perturbadores relacionados ao estresse do trabalho — insônia, raiva, imagens mentais e outros problemas. Isso passou a afetar minha saúde, meu bem-estar e minha participação na equipe, bem como minha vida cotidiana; então fiz uma pausa no trabalho de resgate e pedi a ajuda em oração a uma praticista da Ciência Cristã.
Ela me ajudou a compreender que Deus está sempre presente, portanto, eu nunca estivera, nem poderia estar, fora do reino de Deus. Exatamente quando parecia que eu havia testemunhado tantos danos e destruição, e que aquela contínua angústia estava me fazendo muito mal, exatamente naquele momento a verdade imutável era de que eu, junto com todos os envolvidos, era completo e estava intacto, nunca estivera separado do amor de Deus.
Foi preciso estudo espiritual consagrado e profunda oração, mas comecei a sentir a verdade dessa ideia e com o tempo consegui voltar para a equipe. Estando mais firmemente fundamentado em uma sólida base espiritual, pude manter o foco na oração e ajudar também os outros envolvidos nos trabalhos de resgate.
A amiga que mencionei no início do artigo também encontrou sua liberdade depois de anos lutando contra os efeitos negativos daquelas experiências do passado. Ao constatar a verdade sobre si mesma, como filha de Deus, ela percebeu que aqueles eventos passados não estavam fundamentados em fatos espirituais, isto é, na realidade divina. Visto que Deus não os criou nem os sustentou, não tinham nenhum poder para separá-la do Amor divino, nem no passado nem no presente.
O Cristo, que cura, diz de maneira enfática a cada um de nós: “Tem bom ânimo. Também tu estás livre!” Deus nos deu autoridade para revisar a história humana, apagar o registro material e encontrar nossa liberdade.