Meu pai e eu sempre tivemos uma relação muito carinhosa. Geralmente concordávamos em tudo. Então, quando recebi o diagnóstico de uma doença terminal, pensei que ele me apoiaria. Mas não foi o que aconteceu.
Eu estava cansada e com medo, contudo, faltando uma semana para a Páscoa, disse à minha família que queria prosseguir com as celebrações, as quais incluíam caça aos ovos de Páscoa e brunch. Toda a família concordou, menos meu pai. Só recebi dele um cartão, com os dizeres: “Não estarei no brunch de Páscoa este ano”. Assinado: “Papai”. Não me deu nenhuma explicação, mesmo sabendo que eu estava passando por um período difícil. Fiquei magoada e confusa. Não sabia o que eu havia feito de errado. Achava que se ele tivesse simplesmente falado comigo, poderíamos dar um jeito no que quer que tivesse acontecido.
Meus esforços para conversar com ele depois das celebrações da Páscoa não deram em nada. Eu estava sempre ocupada com minhas funções de mãe e esposa e precisava de tempo para estudar e orar. Queria que meu pai tivesse me apoiado e ajudado. Mas ele ignorou tanto a mim quanto aos meus pedidos de ajuda. Eu não fazia ideia de que isso se arrastaria por seis anos.
Embora eu estivesse magoada, sabia lá no fundo que ficar ressentida com ele não era a solução. Instintivamente eu sabia que raiva e ressentimento não me ajudariam na cura. Depois de uma grande batalha mental, eu sabia que tinha uma opção diante de mim: continuar me sentindo magoada, ou radicalmente amar e perdoar meu pai. Escolhi esta última, e sou muito grata por tê-lo feito.
Depois de optar por amar meu pai, minha saúde melhorou e comecei a recuperar a energia. Eu ligava para meu pai algumas vezes por semana para contar-lhe sobre meu progresso, mas minhas ligações caíam sempre na caixa postal — mesmo após minha completa recuperação, alguns meses depois (ver “A gratidão e a cura de câncer”, Arauto, maio de 2014, [publicação original “Gratitude and the healing of cancer”, Sentinel, 25 de novembro de 2013]).
Depois de um ano, eu ligava apenas quando passava com meus filhos perto de onde ele morava. Eu dizia apenas: “Oi, papai. Vou jantar com as crianças em um restaurante aí perto. Gostaríamos muitíssimo que você aceitasse jantar conosco. As crianças também querem muito ver você. Eu amo você, papai. Não há nada sobre o que não possamos conversar”. Mas ele nunca atendeu ao telefone.
Embora eu o tivesse visto tratar minha mãe dessa maneira antes do divórcio, nunca pensei que receberia o mesmo tratamento. Durante esse período, confiei nas palavras e obras de Jesus para guiar minhas orações. Na cruz, orando a seu Pai divino, ele intercedeu por seus inimigos: “…Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem…” (Lucas 23:34).
Quando me sentia desanimada e profundamente ofendida, orava para compreender meu verdadeiro valor aos olhos de Deus, nosso divino Pai. Quando era tentada a dizer coisas ásperas devido à mágoa, eu me deixava confortar por Deus, o Amor divino. Fui percebendo que não havia feito nada de errado e que deveria continuar a me aproximar cada vez mais de Deus.
O Salmo 23 foi meu farol nas horas mais escuras, quando me senti incompreendida e não amada. Tenho apreço especial pela interpretação de Mary Baker Eddy sobre esse salmo, que exemplifica que o Amor divino é nosso Pastor e guia. Diz assim:
“[O amor divino] é o meu pastor: nada me faltará.
“[O amor] me faz repousar em pastos verdejantes. “[O amor] leva-me para junto das águas de descanso;
“[O amor] revigora-me* a alma [o senso espiritual]: “[O amor] guia-me pelas veredas da retidão* por amor do Seu nome.
“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque [o amor] está comigo: o bordão [do amor] e o cajado [do amor] me confortam*.
“[O amor] prepara-me uma mesa na presença dos meus adversários, [o amor] unge-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
“Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa [a consciência] do [amor] para todo o sempre” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 578).
Certo dia, seis anos depois, o telefone tocou. Era meu pai. Ele disse: “Oi, querida! Estou a caminho de sua cidade; por que não nos encontramos?” Meu queixo caiu, mesmo ao ouvir-me dizer: “Claro, papai, daqui a pouco estou aí”. Quando cheguei, nos abraçamos como se o tempo não tivesse passado e, embora não tenhamos conversado muito e ficado somente nas trivialidades, continuei minha oração, perdoando-o e amando o verdadeiro homem criado por Deus.
Meu pai ligou novamente duas semanas depois e pediu que eu o encontrasse em um café nas redondezas. Enquanto seguia para encontrá-lo, orei sobre como proceder. Eu sabia que tinha de dizer alguma coisa e não apenas conversar sobre banalidades. Depois de nos abraçarmos e nos sentarmos, expliquei carinhosamente o quanto eu sentia falta dele e como me senti por ficar sem notícias por tanto tempo. Ele não respondeu. Em vez disso, olhou para o outro lado e mudou de assunto, sem reconhecer o silêncio prolongado.
Foi quando percebi que não me importava se meu pai me compreendia ou não. Eu não tinha de explicar o que eu passara naquele período em que ficamos sem nos falar. Eu havia cultivado a relação com Deus, meu verdadeiro Pai, e Ele me conhecia; Deus estivera me confortando e me fazendo companhia, todos os anos em que meu pai não o fez. Essa compreensão me capacitou a mudar de assunto e continuar conversando sobre trivialidades com meu pai.
Eu estava sentindo “a energia divina do Espírito, que nos traz a uma vida nova e que não reconhece nenhum poder, mortal ou material, capaz de praticar destruição” (Ciência e Saúde, p. 249). Eu sabia que Deus estava limpando toda a mágoa e os sentimentos ruins de dentro de mim. Ele estava me limpando e purificando “mediante torrentes de Amor” (Ciência e Saúde, p. 201). Senti-me impulsionada pelo Amor divino e sabia que a mágoa e o ressentimento — que antes eram esmagadores — haviam me deixado. O perdão e a compaixão cristã tomaram seu lugar.
Quando meu pai me acompanhou até o carro depois do café, senti tamanha compaixão, que o olhei bem nos olhos, e disse: “Papai, eu te perdoo e te amo”. Ele caiu nos meus braços e chorou compulsivamente. Ficamos fortemente abraçados por um longo tempo. Eu podia ficar abraçada a ele pelo tempo que fosse necessário, porque eu havia crescido e estava curada. Eu havia aprendido a amar quando os outros não eram amorosos; havia aprendido a perdoar quando os outros não perdoavam; e o melhor de tudo, aprendera que o amor e o carinho de meu pai podem aumentar e diminuir, mas meu Pai, Deus, meu verdadeiro Pai, sempre me amará incondicionalmente.
Desde aquele dia no estacionamento até o dia em que meu pai faleceu, ele me ligava diariamente para dizer que me amava e que estava orgulhoso de mim. Nosso amor era forte porque estava enraizado no Amor divino. Senti a verdade das palavras de Deus em Joel 2:25: “Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador…” Deus havia restaurado os anos perdidos entre mim e meu pai. Deus me deu a força para perseverar no momento de maior sofrimento, e o amor isento de ego e o perdão genuíno eliminaram não apenas a dor emocional, mas também a doença física. O vale estivera escuro, mas o Amor divino iluminou meu caminho. Sou eternamente grata pelo crescimento espiritual que ganhei com essa experiência. Sinto-me eternamente humilde pela graça e pelo amor infinito de Deus por todos os Seus filhos.