Vocês já perceberam, isto é, já atentaram realmente para o fato de que a chegada do Ano Novo é comemorada exatamente uma semana depois do Natal, na maior parte do mundo? Um pouco de pesquisa na Internet revelou que existem algumas possíveis razões históricas para isso, mas o que chamou minha atenção foi que eu realmente nunca havia parado para pensar na relação entre as duas datas. Então, perguntei-me se não seria bom refletir sobre isso.
Gosto muito da ideia de celebrar o nascimento de Cristo Jesus. É claro que gosto de muitas tradições dessa época natalina, como a música, as confraternizações, a decoração e a comida. Mas, à medida que cresço espiritualmente, percebo que minha atenção está se voltando cada vez mais para o nascimento da ideia espiritual na consciência humana, pois é isso que está representado na natividade de Jesus.
Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, levou meu pensamento nessa direção pela primeira vez, quando li esta descrição de como ela gostava de celebrar o Natal: “Essa origem simples do menino Jesus está longe de representar o que eu entendo do eterno Cristo, a Verdade, que não tem nascimento nem morte. Eu celebro o Natal com minha alma, meu senso espiritual, e assim comemoro a vinda, à compreensão humana, do Cristo concebido do Espírito, Deus, e não de uma mulher — comemoro o nascimento da Verdade, o alvorecer do Amor divino, que irrompe sobre as trevas da matéria e do mal, com a glória do existir infinito” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos], p. 262).
O dia do Ano Novo, por outro lado, sempre foi uma data sem nenhum interesse para mim. Embora eu frequentemente reflita sobre as resoluções de Ano Novo, as festas até tarde da noite para celebrar um novo começo sempre me pareceram contraditórias e desinteressantes. Mas, uma vez mais, a Sra. Eddy traz luz a essa ocasião com este pequeno poema que ela escreveu no primeiro dia do último ano de sua existência terrena:
IMPROVISO
1º de janeiro de 1910
I
Oh bênçãos infinitas!
Oh feliz Ano Novo!
Doce sinal e substância
Da presença de Deus aqui.
II
Dá-nos não apenas canções de anjos,
Mas a vasta Ciência, à qual pertencem
A língua dos anjos
E o cântico dos cânticos.
Mary Baker Eddy
(Miscellany, p. 354)
Isso me deixou impressionada! Essa mulher de oitenta e nove anos ainda mantinha alegremente a expectativa do bem, compreendendo a bênção que é o chegar a novas percepções da presença de Deus naquele exato momento. Ela estava traduzindo as canções angelicais, as mensagens inspirativas, que sempre procurava ouvir, como o “cântico dos cânticos”, ou seja, a mensagem completa daquilo que ela descobrira sobre a Ciência de Deus e do homem, que são para sempre unidos como Princípio e ideia, eternos e indestrutíveis. Sua própria longevidade, após anos de saúde debilitada na juventude, em uma época em que a expectativa de vida era bem menor, foi para ela, sem dúvida, uma prova de que nós sempre podemos esperar todo o bem, se olharmos para o infinito, para Deus, e compreendermos melhor a verdadeira natureza do homem — de cada indivíduo — e a união desse homem com Deus.
Não é esse realmente o significado do Natal e do Ano Novo, bem como de todos os outros dias? Estamos rompendo o fascínio por nossa história finita e mortal, tendo começo, meio e fim, e estamos cantando o novo cântico da Ciência divina. Estamos vivenciando o novo nascimento que, como Cristo Jesus disse a Nicodemos, nos direciona para a nova, se bem que antiga, origem da Vida em Deus, e para a Vida que é Deus (ver João 3:1–8). Estamos celebrando o desdobrar incessante do bem que é a Mente infinita, Deus, completa em si mesma e que manifesta infinitamente sua própria gloriosa plenitude. Estamos reconhecendo que em nossa verdadeira origem, tanto quanto Cristo Jesus, somos a ideia pura da Mente divina. Estamos nos identificando, passo a passo, com a união atemporal e eterna que temos com Deus — pelo fato espiritual de que literalmente vivemos, nos movemos e percebemos todo o existir como expressão de Deus.
Portanto, o Natal e o Ano Novo não precisam ser dois dias de comemoração — um espiritual e sagrado e o outro secular e mundano — separados por uma semana. Em realidade, ambos estão relacionados ao nascimento originado no Espírito — o novo nascimento da consciência sagrada. A Sra. Eddy declara: “O novo nascimento não é obra de um momento. Começa com momentos e continua com os anos; momentos de entrega a Deus, de confiança como a dos pequeninos e de jubilosa aceitação do bem; momentos de renúncia ao ego, consagração de si mesmo, esperança celestial e amor espiritual.
“O tempo pode dar início, mas não pode levar a cabo o novo nascimento; é na eternidade que ele se completa, pois o progresso é a lei da infinitude. … Que pensamento iluminado pela fé é este! — que os mortais podem despojar-se do ‘velho homem’, até constatar que o homem é a imagem daquele bem infinito que nós denominamos Deus, e assim aparece a plenitude da estatura do homem em Cristo” (Escritos Diversos 1883–1896, p. 15).
“Que pensamento iluminado pela fé é este”, de que podemos comemorar todos os dias como um dia sagrado — em que podemos recomeçar do zero, sem nenhum obstáculo que impeça de nos despojarmos do velho homem e constatarmos que exatamente onde esse senso finito de vida nos limitaria, bem ali está a plenitude imensurável de nossa natureza em Cristo. Podemos começar a perceber que cada dia está repleto de novas descobertas do que é que significa o fato de Deus ser a Mente infinita e cada um de nós sermos a manifestação infinita da Mente. Não há dias, tempos nem atividades seculares na plenitude do Espírito, Deus, que está sempre presente, e que é Tudo-em-tudo.
Como diz um hino do Christian Science Hymnal de que gosto muito:
Os dias todos são Natal.
Irmãos, os símbolos guardai,
Por breve tempo os vereis.
Feliz será o coração
Que sempre o Cristo vê nascer.
(John Greenleaf Whittier, Hino 170, trad. © CSBD)
Talvez este ano nossa resolução seja sentir esse novo nascimento do Cristo — nossa união com Deus, nascido de novo em nosso coração todas as manhãs, a toda hora, a todo instante — pois todos os dias são o dia infinito das bênçãos de Deus.