A história de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego é um dos relatos mais extraordinários da Bíblia, nos quais Deus liberta Seus filhos do perigo. Como narra o livro de Daniel, os três hebreus cativos foram amarrados e jogados em uma fornalha de fogo ardente, como punição por se recusarem a adorar o ídolo de ouro do rei da Babilônia. Mas o fogo não os tocou. Para espanto do rei, os três saíram da fornalha ilesos, suas roupas e cabelos não estavam chamuscados e “nem cheiro de fogo passara sobre eles” (ver 3:27).
O fato de que os jovens não tinham cheiro de fumaça parece indicar que sua fé em Deus os protegera de tal maneira que não ficou neles nem medo nem ressentimento dessa experiência.
Recentemente, li um artigo sobre esse relato, publicado originalmente em 1920 no The Christian Science Journal com o título “O cheiro de fogo” (Louise Knight Wheatley, O Arauto da Ciência Cristã, julho de 2014). Ele aborda vários tipos de pensamento mesmérico que poderiam nos manter apegados à memória de desafios passados — orgulho, autopiedade, pesar, autocondenação e culpa.
Contudo, como expressão espiritual de Deus, o homem reflete somente os pensamentos de Deus. Nossas verdadeiras lembranças são totalmente boas e são mantidas na Mente divina, na qual não há espaço para nada dessemelhante de Deus. Em momentos de pura iluminação vindos do Cristo, quando despertamos para a paz e a harmonia eterna de Deus, tanto o mal como a lembrança dele desaparecem. Gosto de me referir a esse importante componente da cura pela oração como o fato de esquecer espiritualmente.
A cura que nos liberta do passado é alcançada, quando nos recusamos a aceitar as sugestões errôneas de que o mal seja real. Deus é infinito; portanto, o mal nunca teve nenhuma real presença, poder ou inteligência, então não há sentido em ficar remoendo sobre isso. A tendência de continuar falando ou pensando sobre uma doença, um acidente ou outro problema só retardaria a cura completa.
Certo dia, uma pessoa de minha família pediu-me que orasse com ela a respeito de um problema que estava tendo com uma colega de trabalho, com quem tivera uma discussão; os ânimos haviam se inflamado e palavras duras haviam sido ditas. Orei para ver que somente Deus, o Amor divino, a Mente única, é que se comunica com cada um de nós e que um filho ou filha de Deus não pode impor sua vontade ao outro, nem pode expressar algo que não seja amor. Em seguida, as duas colegas pediram desculpas uma à outra e parecia estar tudo bem.
Pouco tempo depois, recebi um telefonema desse familiar me contando que houvera outra discussão ainda mais acalorada. Enquanto conversávamos, ficou claro que mesmo depois do primeiro desentendimento ter sido resolvido, ela continuara a remoer sobre o que havia sido dito. O ressentimento persistente entre as duas havia gerado mais desarmonia.
Orei para ver que nosso amoroso Pai-Mãe divino nunca nos faria passar por uma situação de fogo ardente, muito menos nos atormentaria com lembranças de mágoas passadas. Deus, nossa verdadeira Mente, está sempre desdobrando ideias novas sobre Seu bem. Não existem lembranças recorrentes do mal nessa Mente, nem em nós, como reflexos dessa Mente, lembranças que possam fazer com que fiquemos mentalmente revivendo incidentes negativos. Cada filho de Deus é livre para conhecer e expressar as qualidades do Cristo, tais como pureza, gentileza, compaixão e perdão. Esse é nosso direito divino e o verdadeiro propósito do existir.
Dois dias depois, essa pessoa de minha família telefonou-me para dizer que a desarmonia havia sido completamente curada. Anos mais tarde, a relação das duas permanece harmoniosa e em paz, sem ter deixado nenhum “cheiro de fogo”.
Quando vemos a nós mesmos e aos outros como Deus nos vê, como Seu próprio reflexo espiritual, compreendemos que nada que possamos ter enfrentado pode macular nossa perfeita individualidade. Nem mesmo pode ser detectado em nós qualquer cheiro de fogo, porque em realidade o fogo nunca passou por ali.