Com a globalização, o número de pessoas que estudam ou trabalham fora de seu país de origem cresceu significativamente, nos últimos anos. As leis de imigração controlam essa movimentação de pessoas, exigindo que os não cidadãos, ou seja, pessoas vindas de outros países, obtenham vistos que lhes permitam morar, estudar ou trabalhar. Contudo, passar por esse processo pode ser uma tarefa assustadora, quando envolve “burocracia”, ou seja, trâmites burocráticos excessivos. Felizmente, a oração pode mostrar o caminho que devemos seguir.
Certa vez, precisei obter um visto de trabalho para aceitar um emprego que me fora oferecido, quando morava no exterior. Parecia muito pouco provável que eu conseguisse a tempo as autorizações necessárias. Em busca de uma perspectiva espiritual mais elevada, recorri à Bíblia e aos escritos de Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, para compreender melhor as inúmeras referências feitas por Cristo Jesus ao reino de Deus.
Jesus disse que o reino de Deus está “dentro de vós” (ver Lucas 17:21). O que vem a ser esse reino? Jesus não estava falando de uma localidade geográfica, cercada por fronteiras nacionais e dividida por raça ou cidadania. Esse reino não é um local físico, mas, sim, um estado de pensamento ou consciência espiritual.
Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy descreve o reino dos céus como “o reino e o governo da harmonia universal” (p. 208) e “o âmbito da Mente onipotente, infalível e eterna” (p. 590). Ela também o descreve como “o desprendimento do ego, o bem, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor” (p. 248). O reino de Deus é uma habitação santa e espiritual, o novo céu e a nova terra mencionados no livro do Apocalipse na Bíblia (ver 21:1).
Como filhos de Deus, todos nós — todo homem, mulher e criança — somos cidadãos desse reino celestial, com direitos e privilégios iguais. Governados pelo Princípio divino, o Amor, todos os cidadãos estão sob a jurisdição da lei de Deus, que é a “lei perfeita, lei da liberdade” (Tiago 1:25) — a liberdade de ser o que Deus nos criou para que sejamos. Cada cidadão tem o direito de viver, de se locomover, de aprender e trabalhar livremente, nesse reino dos céus. Deus, o Amor divino, está continuamente proporcionando a todos os Seus filhos oportunidades para progredirem e serem produtivos, quando diz: “Sedes fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gênesis 1:28).
Cristo Jesus comparou o reino dos céus ao fermento, uma substância que faz a massa se expandir e crescer. Reconhecer, compreender e colocar em prática o reino dos céus faz com que nosso pensamento se eleve de uma perspectiva material limitada para a aceitação de uma percepção espiritual mais grandiosa. A Sra. Eddy conclama os “cidadãos do mundo” a fazer exatamente isso, quando diz: “aceitai a ‘gloriosa liberdade dos filhos de Deus’, e sede livres!” (Ciência e Saúde, p. 227).
Essa liberdade se manifesta por meio da compreensão de que nossa verdadeira identidade espiritual é a imagem e semelhança de Deus, ideia da Mente divina. A aceitação dessa mensagem do Cristo a respeito de nós mesmos, ou seja, de que somos ideias no reino de Deus, cidadãos desse reino governados pelas leis divinas, não nos autoriza a desrespeitar as leis do país, contudo, nos liberta do medo de que o rumo de nossa vida dependa de governos humanos ou de políticas legislativas; de que as perspectivas de progresso possam se perder no emaranhado de exigências burocráticas; de que o bom êxito possa estar fora do alcance de certas pessoas, devido à de sua nacionalidade ou localização geográfica. O poder do Cristo, a Verdade, nos capacita a discernir e superar qualquer senso de que nossas perspectivas sejam definidas ou limitadas pela matéria.
Enquanto eu ponderava profundamente sobre essas ideias, meu visto de trabalho chegou muito rapidamente. Providências simples relacionadas ao processo de solicitação do visto haviam surgido à medida que meu pensamento se elevava por meio do reconhecimento de que eu estava sujeita à perfeita lei divina da liberdade, e de que nada poderia constituir um obstáculo ao plano de Deus para mim.
Na Bíblia, o governador romano Pôncio Pilatos, ao questionar Jesus, antes da crucificação, perguntou-lhe: “Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?” Pilatos certamente tinha a alegada autoridade humana para determinar o destino terreno de Jesus. Mas ele não podia impedir o cumprimento do propósito que Deus tinha para nosso Mestre. Isso fez com que Jesus respondesse: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada” (João 19:10, 11). E a confiança de Jesus foi justificada, quando a crucificação foi seguida por sua ressurreição, a demonstração da natureza imortal da Vida divina, que é Deus.
Cada um de nós tem um propósito e um lugar designados no reino dos céus, e é esse propósito espiritual que determina nossas oportunidades práticas de viver plenamente. A Sra. Eddy escreveu: “Cada um tem de ocupar seu próprio nicho no tempo e na eternidade” (Retrospecção e Introspecção, p. 70). Na realidade, nenhuma circunstância material pode impedir que uma ideia correta se concretize. Se estivermos sendo chamados para cumprir o propósito espiritual de abençoar os outros, expressando os talentos e capacidades que nos são dados por Deus em determinados momentos e em determinados lugares, então o caminho se abrirá para que possamos fazer isso da maneira mais completa possível.
E se parecer que existem fatores que limitam nossa perspectiva de vida, mesmo em nosso próprio país? Pode ser que haja uma barreira no pensamento que nos cerceia com limitações ― talvez a ausência de uma qualificação educacional, uma infância problemática ou um diagnóstico médico. É possível nos elevarmos para além dessas supostas barreiras reconhecendo que nossa verdadeira identidade espiritual é a de um cidadão do reino de Deus, cidadão esse que não é definido nem limitado por eventos do passado, por teorias médicas ou por qualquer outra avaliação humana.
Quando confrontados com circunstâncias limitantes, nós, tal como Jesus, podemos dizer com confiança: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada”. Deixemos o fermento da Verdade divina ― do reino de Deus dentro de nós ― “Alarga[r] o espaço da [nossa] tenda” (Isaías 54:2). Em outras palavras, abramos o pensamento para além do senso material, rumo ao senso espiritual a respeito do nosso propósito e missão na vida, e sintamos os resultados transformadores.