Com o ritmo acelerado da sociedade moderna, a humanidade parece ter perdido de vista o que alguns consideram uma arte: a quietude.
Ficamos acostumados com a agitação gerada por um turbilhão de informações, um banquete de estímulos diários, que nos mantêm sempre em atividade. Mas, embora as novas tecnologias tenham tornado mais fácil do que no passado nos mantermos conectados, graças ao uso de telefones celulares, relógios inteligentes e outras formas de tecnologia, esse fato faz com que sejam levantadas algumas questões significativas. Por exemplo, será que mergulhar em um fluxo contínuo de informações e estar constantemente conectados fez com que algumas vezes renunciássemos à quietude e ao desejo de ouvir a Deus? Na minha experiência, a comunhão com Deus é fundamental para o progresso.
Em toda a Bíblia, lemos muitas histórias que falam da vitória sobre situações problemáticas, vitória essa alcançada com base em uma compreensão cada vez mais profunda da presença, do amor e do bem de Deus. Mesmo nos dias de hoje, esses relatos bíblicos podem nos encorajar a encontrar uma solução espiritual para problemas de saúde, incertezas, medos, conflitos, ou seja, para tudo aquilo que nos preocupa. Para percebermos a influência divina do bem e da harmonia, precisamos ficar sintonizados no que a Mente (um sinônimo de Deus) revela em nossa consciência e deixar de ficar sintonizados com tudo aquilo que é dessemelhante de Deus.
Certa vez, fiz um pequeno exercício e ponderei sobre as qualidades relativas ao conceito de quietude, mais especificamente considerando a quietude como uma forma de arte. Fiz uma lista que incluía tranquilidade, calma, silêncio e serenidade.
Então abri a Bíblia e encontrei passagens relacionadas a essas ideias. O livro de Salmos, por exemplo, nos encoraja a estarmos em comunhão com nosso divino Pai-Mãe, Deus, como canta o Salmista: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus…” (Salmos 46:10). Aprofundando o conceito de “saber” podemos entender esse trecho bíblico desta maneira: “Aquietai-vos e sabei (reconhecei, compreendei) que eu sou Deus”.
Também li a respeito da jornada do provo hebreu rumo à Terra Prometida. Enquanto os israelitas seguiam Moisés, os carros do Faraó avançavam ao seu encalço, nas margens do Mar Vermelho. Moisés declarou: “…Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do Senhor…” (Êxodo 14:13). Fiquei intrigada com o fato de que Moisés não disse simplesmente: “Não temais; vede o livramento do Senhor”. A instrução específica que ele deu foi: “aquietai-vos”! Isso foi muito importante. Essa quietude, em vez de pânico ou medo, trouxe inevitavelmente segurança e liberdade. O mar se abriu e os israelitas o cruzaram em segurança em solo seco.
No Novo Testamento, as orações de Cristo Jesus sem dúvida o prepararam para silenciar as crenças materiais mortais que o cercavam, quando multidões de pessoas clamavam para vê-lo, quer fosse por curiosidade ou porque precisavam de cura e conforto. No mar, em meio a uma forte tempestade, juntamente com os discípulos assustados, Jesus dormia imperturbado na popa do barco, até que o acordaram. “Acalma-te, emudece!”, disse Jesus à tempestade (ver Marcos 4:39). A tempestade e a turbulência do mar imediatamente cessaram. Podemos concluir que o que Jesus silenciou não foi apenas uma tempestade, mas sim as alegações de medo, perigo e destruição. Jesus conseguia prontamente libertar outros do sofrimento, do pecado e da doença, e até mesmo ressuscitar mortos, em oposição direta a qualquer problema que se apresentasse fisicamente.
Relacionada a essa arte da quietude está a receptividade, que se associa à nossa inabalável e alegre consciência espiritual, a qual recebe o bem de Deus e atua de acordo, na superação do mal. Tal como acontecia nos tempos bíblicos, cada um de nós pode sentir a presença do único Deus, o nosso Pai-Mãe, que nos ama, e que pode ser ouvido quando estamos atentos — independentemente de qualquer circunstância que clame por nossa atenção.
Às vezes, realizações surpreendentes resultam dessa arte da quietude, dessa tranquilidade em nossa comunhão com Deus. Quando abrimos o pensamento e reconhecemos nossa capacidade individual de ouvir a Mente divina, percebemos que somos capazes de vivenciar qualidades divinas como gentileza, inspiração, generosidade, paciência, bondade e confiança espiritual, ao longo de cada dia. Não se trata de inércia ou estagnação, de ignorar a desarmonia ou de mergulhar no escapismo. Trata-se de ceder ao que Deus está nos comunicando.
Alguns anos atrás, pude colocar em prática essas ideias. Eu havia decidido me mudar para outro bairro, e coloquei meu apartamento à venda em uma imobiliária bem-conceituada. Recebi várias ofertas. Curiosamente, o valor de uma delas era quase o dobro da segunda oferta mais alta. Uau! No entanto, as conversas que tive com outro possível comprador, que havia apresentado uma das outras propostas, convenceram-me de suas boas intenções. E, por querer apoiar o envolvimento comunitário de meus vizinhos, esse comprador parecia ser uma boa opção.
Durante a semana seguinte, enquanto ponderava sobre a decisão que iria tomar, prestei atenção à Mente divina em quietude e oração. Isso significava silenciar a vontade humana. Percebi que essa venda não envolvia uma questão de ganho financeiro, mas de ceder à vontade boa e perfeita de Deus. Pensei no verdadeiro significado de lar e no fato de que estamos sempre no lugar certo para nós, quando confiamos em nosso Pai-Mãe Deus. Eu desejava verdadeiramente que quem quer que fosse morar nessa casa fosse uma boa opção. Então, decidi não escolher a oferta extremamente mais alta, mas aceitar uma menor. Decisão incomum? Talvez. Mas eu confiei em que Deus estava me guiando e em que minha decisão traria bênçãos para todos.
A venda foi concretizada e, posteriormente, fui informada de que a pessoa que fizera a maior oferta tinha um histórico muito complicado, o qual poderia ter interferido na transação.
Devido a essa e outras experiências, fiquei mais confiante de que a arte da quietude e de compreender a Deus é, em verdade, normal para toda criança, homem e mulher. Na Ciência Cristã, esse é um fato universal e inegável, embora essa arte não seja adquirida por meio da obstinação humana ou do mero desejo. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria de Mary Baker Eddy, lemos: “A Ciência Cristã silencia a vontade humana, acalma o medo com a Verdade e o Amor, e mostra que a energia divina atua sem esforço na cura dos doentes” (p. 445).
Também aprendemos na Ciência Cristã que silenciar o senso material não consiste meramente em ignorar sugestões mentais agressivas, e fazer com que a mente humana se torne uma espécie de recipiente vazio. A quietude vem com a receptividade espontânea e a aceitação do Cristo, a Verdade, a mensagem de amor que vem de Deus, a qual não apenas expulsa, mas já impede a entrada da falsa evidência material e acolhe a realidade espiritual.
Talvez isso levante mais algumas questões significativas: Estamos ouvindo e prestando atenção à Mente divina? Podemos receber bênçãos hoje, se não estivermos ouvindo e atentos? Estamos verdadeiramente ouvindo os outros — familiares e colegas de trabalho, por exemplo — e nos importando com eles tanto quanto nos importamos com nós mesmos?
A arte da quietude é um convite à cura. É mais do que uma mera atitude humana. Um senso mais elevado de paz e tranquilidade, aceito em nosso pensamento, nos permite sentir a espiritualidade que já é nossa e perceber que Deus nos mantém em perfeita paz.