Há alguns anos, um conferencista da Ciência Cristã disse algo que realmente me chamou a atenção: “O fermento guardado na prateleira não leveda o pão”. Para fazer pão, o fermento precisa ser adicionado à farinha, ao sal e à água, e em seguida esses ingredientes devem ser bem incorporados para que a massa cresça e depois seja assada. Vejo que essa é uma metáfora clara para a necessidade de colocar em prática os ensinamentos da Ciência Cristã — cultivar o que estamos aprendendo espiritualmente a respeito de Deus e da relação do homem com Ele, por meio da aplicação e da vivência desses ensinamentos.
Um artigo incluído no livro The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos] traz esta declaração de Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã: “Caro leitor, pensar corretamente, sentir corretamente e agir corretamente — honestidade, pureza e desprendimento do ego — na juventude, conduzem ao êxito, à capacidade intelectual e à felicidade na idade adulta” (p. 274).
Como podemos incorporar esses ingredientes — o pensamento correto, o sentimento correto e a ação correta — em nossa vida? Com que frequência dizemos a nós mesmos que gostaríamos de ter refletido mais antes de falar ou ter agido de maneira diferente em uma reunião na comunidade ou na igreja?
Na Regra Áurea da Bíblia, Cristo Jesus ensina que “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles…” (Mateus 7:12). Quando seguimos a Regra Áurea e amamos o próximo como a nós mesmos, estamos demonstrando a Ciência Cristã, a Ciência do Amor divino, e ganhando mais clareza a respeito de nossa relação com nosso Pai-Mãe Deus todo-amoroso. Esse é o meio pelo qual podemos ter mais harmonia, paz e alegria em nossa vida, inclusive em nossas interações com os outros.
Vamos pensar em cada um desses ingredientes da felicidade:
Pensar corretamente
O significado mais básico da palavra corretamente diz respeito a agir ou estar em conformidade com o que é lícito e misericordioso. O pensamento correto pode incluir receptividade, ouvir e obedecer à Mente divina (um sinônimo para Deus encontrado em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy). Isso envolve ter pensamentos saudáveis, amorosos e atenciosos, em vez de pensamentos imersos no orgulho ou na justificação do ego. O pensamento correto nos capacita a expressar aos outros palavras de conforto, a corrigir alguém com amor e sem condenação, a permitir que alguém não passe vergonha, ou a pedir desculpas quando nós mesmos perdemos a calma.
Pensar corretamente é não se impressionar com os vários traços de personalidade, peculiaridades de comportamento ou falhas de caráter e, em vez disso, manter na consciência o homem perfeito da criação de Deus. Rotular as pessoas como taciturnas, egoístas ou excessivamente falantes, por exemplo, é aceitar imagens falsas do reflexo de Deus. A oração corrige e inverte tais falsidades e traz a resolução correta e a elevação moral de outras pessoas.
Talvez precisemos de paciência — uma qualidade ativa, não passiva, que pode se tornar o pano de fundo para um resultado construtivo. A paciência, como parte do pensamento correto, traz a confiança em que a solução virá no tempo de Deus, em vez de confiar na obstinação humana. Felizmente, não surpreende que os resultados às vezes sejam melhores do que o planejado.
Sentir corretamente
O sentimento correto pode ser descrito como estar consciente da presença da Alma (outro sinônimo para Deus na Ciência Cristã). Em Ciência e Saúde, o “senso da Alma”, o senso espiritual, é o exato oposto do senso material a respeito das coisas, o qual não merece confiança (ver p. 85). O senso correto pode ser considerado análogo ao discernimento espiritual, ou à intuição — o oposto da mera emoção humana.
Por exemplo, se no trânsito alguém nos corta o caminho, ou em conversa alguém descarta nossas observações, talvez fiquemos com raiva ou magoados. No entanto, conhecendo a fonte do sentimento (espiritual) correto, podemos reagir da maneira certa, sem retaliação e sem mágoa — mesmo que a outra pessoa esteja errada.
O amor do Cristo que Jesus expressou pela humanidade pôs a nu e destruiu o chamado poder do mal. Os sentimentos de Jesus não eram abstratos nem evasivos; eles manifestavam “…a natureza divina abraçando a natureza humana…” (Ciência e Saúde, p. 561).
Os Evangelhos contam como até Jesus teve de lidar com as emoções humanas. Ele lutou muito no jardim do Getsêmani, antes de encontrar sua paz interior, derramou lágrimas quando Lázaro estava no túmulo, e em Ciência e Saúde nós lemos que ele “…repreendia os pecadores severamente e com firmeza porque era amigo deles…” (p. 53). Jesus teve compaixão das multidões que curou e sabia que todas as situações humanas poderiam ser enfrentadas por meio do amor e da sabedoria de Deus.
Quando nos sentimos sobrecarregados, estressados, desvalorizados ou deprimidos, podemos reivindicar vigorosamente nossa identidade espiritual e sentir o toque sanador e harmonioso do Cristo. Percebemos então que os únicos sentimentos legítimos que podemos ter incluem harmonia, paz e alegria, qualidades de Deus, o Amor divino. Também podemos ser pacientes e compassivos, tanto conosco mesmos quanto com os outros, podemos manter o senso de humor e até rir de nós mesmos, às vezes! Sentimentos fundamentados no senso espiritual nos capacitam a ser testemunhas da natureza divina abraçando a experiência humana, onde quer que estejamos.
Agir corretamente
Às vezes, sentimos o impulso de fazer algo imediatamente, tomar uma posição para corrigir erros ou consertar as coisas por conta própria.
Para agir corretamente, é importante compreender que um dos obstáculos ao progresso ou à harmonia é concluir que as coisas devem ser feitas sempre da maneira que nós queremos. As pessoas, em qualquer organização ou família, nem sempre trabalham da mesma maneira ou concordam em tudo. Às vezes, pode ser necessário algum esforço para levar em consideração outro ponto de vista, antes de agirmos, mas quando nossas ações são o fruto de ouvir e obedecer a Deus, esse tipo de paciência e flexibilidade pode refrear a preocupação com o “eu em primeiro lugar” e promover uma inversão do egocentrismo e do orgulho.
Pensar corretamente, sentir corretamente e agir corretamente são ingredientes perpétuos, universais, nunca obsoletos que constituem um levedo espiritual. Embora possa haver poucas alternativas para resolver um dilema ético, temos a oportunidade de nos voltarmos para a Alma, Deus, em oração e compreendermos que podemos tomar decisões sustentadas pelo profundo compromisso de fazer o que é justo.
Cada um de nós pode recusar-se a aceitar uma intenção ou uma ação como inevitável, quando lhe falta integridade, compreendendo que ela não tem nenhum poder nem autoridade. Deter uma percepção errônea em nosso próprio pensamento e corrigi-la, reconhecendo aquilo que é divinamente verdadeiro, nos coloca em sincronia com a Mente una e única, e conseguimos pensar com clareza e descobrir soluções para nós e para aqueles que nos pedirem ajuda.
Quando atuei como capelã visitante em um sistema prisional, certa vez me deparei com um dilema ético significativo, onde o pensamento correto, o sentimento correto e a ação correta levaram a um resultado correto. O sistema carcerário tende a ser muito rígido quanto a não dar quaisquer objetos ou presentes aos presidiários, nem recebê-los deles. Qualquer coisa que não fosse a literatura da Ciência Cristã que nos era permitido distribuir, era considerada contrabando.
Durante uma visita individual com uma presidiária, ela pediu uma caneta emprestada para poder fazer algumas anotações. No entanto, no final da visita, percebi que a caneta emprestada não me fora devolvida. Teria esse descuido sido intencional ou não? Um descuido da parte dela? Ou talvez um descuido meu?
Devido à situação, esse não era um problema tão simples quanto emprestar uma caneta a um colega de trabalho e não recuperá-la. Então decidi pensar corretamente em espírito de oração. Eu sabia que Deus era a autoridade e o poder supremos e afirmei a identidade espiritual da presidiária, expressa em integridade, retidão, pureza e receptividade ao bem.
Na visita seguinte que fiz à prisão, ela me contou que havia encontrado no corredor uma caneta que pertencia a um dos seguranças. Ela disse: “Devolvi-a imediatamente, embora por uma fração de segundo eu quisesse ficar com ela”. Em seguida, disse: “Lembrei-me de sua caneta que não havia devolvido”. Com genuína sinceridade, acrescentou: “Vim falar com a senhora hoje só para lhe contar uma coisa”. Ela então me revelou que também havia entregado minha caneta ao segurança da prisão. Essa honestidade clara e direta foi significativa tendo em conta o motivo pelo qual essa detenta estava no sistema prisional. Ela frequentava nossos cultos da Ciência Cristã, na prisão, com bastante regularidade e também parecia impressionada com o que estivera lendo nos periódicos da Ciência Cristã.
Os dilemas morais, pequenos ou grandes, nos desafiam a tomar decisões morais boas e corretas. O dilema moral que tivera no dia em que a presidiária guardou minha caneta pode parecer inconsequente, mas pensar corretamente, sentir corretamente e agir corretamente trouxe progresso espiritual para ambas as partes. Senti que a presidiária e eu havíamos aprendido um pouco mais sobre integridade e sobre confiança na lei divina, que está sempre atuando a nosso favor.
A Ciência Cristã ensina que, à medida que acalentamos e cultivamos valores que incorporam a Regra Áurea, amando os outros como amamos a nós mesmos, bem no meio do que parece ser uma sociedade conflituosa, materialista e interesseira, podemos vivenciar e testemunhar mais harmonia, o resultado prático de pensar corretamente, sentir corretamente e agir corretamente.