Ocasionalmente, os noticiários dão destaque a ações judiciais de grande visibilidade que envolvem questões controversas e despertam sentimentos e opiniões em vários graus de intensidade.
Os sentimentos que eles despertam podem ser considerados sinalizadores que impelem a nos elevar espiritualmente. Quando o caminho que percorremos tem por base a humildade e um profundo amor a Deus, nosso crescimento espiritual é significativo e ajuda na cura, nossa e de outros.
É provável que tudo o que acontece em nossa vida seja um chamado que se apresenta como desafio, para despertar nosso pensamento para o que é eternamente verdadeiro e real. Tal despertar é o “nascer de novo” de que Jesus falou (ver João 3:3), ou o despojar-se do velho homem e o revestir-se do novo homem, segundo o livro de Efésios, na Bíblia (ver 4:22–24). Ao aceitarmos esse chamado, constatamos que a graça de Deus está presente para nos guiar. E os sinalizadores ao longo do percurso terão um significado de santidade, de paz e daquilo que é simplesmente certo.
Ao orar sobre a justiça divina, tem sido para mim oportuno começar com algumas ideias apontadas por Mary Baker Eddy em seu artigo “O novo nascimento” (Escritos Diversos 1883–1896, p. 15). O artigo fala dos dois grandes mandamentos mencionados por Jesus: amar a Deus de todo o coração e amar o próximo como a nós mesmos. O artigo os denomina “…leis proeminentes que impelem o nascimento na ordem divina da Ciência…” (p. 18).
Quando eu oro, começo por manter em mente o amor que sinto por Deus, um amor que vem do fundo do coração. Para mim é importante que esse sentimento tome conta de meu pensamento e amplie minha compreensão espiritual. Essa é a força que silencia o falso senso de ego que tenta assumir o controle, impondo suas opiniões, sentimentos, desejos e subterfúgios. O profundo amor a Deus gradativamente liberta do senso pessoal. Ajuda a libertar-me de pensamentos que talvez eu inconscientemente identifique como “eu” e, a partir daí o pensamento começa a se abrir como uma flor que se volta para o sol da manhã, para “…o Princípio divino e a ideia divina, a saber, o divino ‘Nós’ — um no bem e o bem no Uno e Único” (Escritos Diversos, p. 18).
Quando sentimos mais a presença do amor do Pai-Mãe Deus por toda Sua criação, naturalmente nos voltarmos para a luz que é o Amor, ficamos mais conscientes do que é amoroso e amável — e descobrimos que somos capazes e desejosos de amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento (ver Marcos 12:30, 31). Assim alcançamos a trilha mais elevada e nela prosseguimos, amando o próximo como a nós mesmos. Passamos a nos apoiar mais completamente no que compreendemos sobre o fato de que Deus é Tudo-em-tudo e é amável, assim como é íntegra e amável Sua ideia composta, o homem.
Outra ideia que me ajuda, na busca pela justiça divina, encontra-se nos relatos sobre um processo de 1907 contra Mary Baker Eddy, a ação judicial dos “Amigos próximos”, que foi por fim considerada improcedente. Havia sido apresentada por familiares interessados em obter o controle dos bens da Sra. Eddy. Como muitos de nós faríamos, ela pediu apoio em oração a pessoas de sua confiança. Um de seus alunos, Calvin C. Hill, lembrou mais tarde das instruções específicas que ela lhe dera: “Eu não deveria determinar qual devia ser o veredito, mas deveria saber que a Verdade prevaleceria e que a Mente divina determinaria o veredito — o que de fato aconteceu” (We Knew Mary Baker Eddy, Expanded Edition [Reminiscências de pessoas que conheceram Mary Baker Eddy, Edição ampliada], Vol. 1, p. 363). E em sua obra principal, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy dá a seguinte orientação: “Deixemos que a Verdade ponha a descoberto o erro e o destrua do modo como Deus o destrói, e que a justiça humana se amolde à divina” (p. 542).
Essas orientações me foram muito úteis, pois me inspiraram a confiar o resultado de questões humanas à justiça divina, e a
orar para permanecer em sintonia com um senso duradouro de Deus como a única Vida e o único poder em ação. Em Isaías encontramos a seguinte promessa feita aos que buscam a Deus, e a Ele se voltam repetidas vezes com amor, entrega e gratidão: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. … Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. …assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55:6, 8, 9, 11).
Há alguns anos, comecei um novo negócio no ramo imobiliário. Um cliente me contratou e passei seis meses pesquisando, selecionando e localizando imóveis para ele. Alguns meses depois, ele fechou a compra de um imóvel diretamente com o vendedor, sem que eu recebesse a comissão por meu trabalho.
Corretores com quem eu trabalhava sugeriram que eu contratasse um advogado especializado no setor de imóveis. O advogado afirmou que meu caso era tão óbvio que não cobraria nada adiantado, mas apenas uma porcentagem de qualquer acordo que fosse estabelecido pelo juiz. Ele achava que o cliente claramente violara as leis e a ética nesse ramo de negócios.
Fiquei tentado a seguir a recomendação do advogado, pois a atitude do cliente me parecia injusta e, além do mais, eu precisava do dinheiro. No entanto, decidi parar e pensar.
O Primeiro Mandamento, que encontramos na Bíblia, foi a base de minha profunda oração, adorar apenas o Deus uno e único. Eu desejava sentir o amor e a orientação de Deus mais do que qualquer outra coisa. Isso era o mais importante para mim. Lembrei-me do processo dos “Amigos próximos” e do conselho da Sra. Eddy para Calvin Hill. Portanto, em vez de pensar em um resultado que me parecia humanamente justo, procurei ir mais a fundo em meu amor a Deus e no desejo de obedecer à justiça mais elevada que existe. Assim, fiquei cada vez menos apegado à ideia de um determinado resultado e confiei na justiça divina que inclui a todos, e que cumpre o elevado propósito para cada um.
Quando oramos para reconhecer o melhor caminho a seguir, talvez fiquemos inclinados a adotar o caminho das ações legais. Historicamente tais medidas frequentemente trouxeram resultados positivos para a humanidade. Em meu caso, porém, eu sentia que estava sendo suavemente guiado a não levar o caso para o tribunal. Havia algo em mim que argumentava contra esse passo. Não estaria eu sacrificando o que merecia? A palavra sacrifício está relacionada a expressões latinas que significam tornar sagrado, e ao mesmo tempo eu ouvia uma voz mais elevada que me encorajava a ser paciente em minhas orações e atender o chamado para tornar sagrada essa questão. As argumentações silenciaram e finalmente deram lugar à ideia de deixar de lado um possível processo e continuar orando para perdoar, expressar amor incondicional e sentir a presença de Deus em minha vida.
Um ano depois, quando eu estava totalmente em paz com relação ao assunto, encontrei o cliente que não havia me pagado. Cumprimentei-o, sentindo no íntimo genuína bondade. Não muito depois, por uma extraordinária reviravolta de circunstâncias, surgiu um novo cliente e em pouco tempo de trabalho recebi uma comissão significativa. Esse pagamento foi o dobro do que eu normalmente esperaria, e a parte excedente correspondeu ao valor exato do que o cliente anterior deveria ter pago.
No entanto, o que foi mais importante, com esse desafio meu crescimento espiritual elevou-se de tal maneira que valeu mais do que ouro. Ao me dedicar a orar profundamente para perdoar, com um forte desejo de aprender mais sobre o amor incondicional que é a luz do Cristo, senti que eu era uma nova pessoa. Sentia-me mais leve. Minha capacidade de sentir o amor de Deus, e ver a harmoniosa expressão do Espírito, expandiu-se de maneira significativa.
É essa luz do Cristo que podemos trazer para o noticiário dos processos judiciais. Se estamos dispostos a seguir os metafóricos sinais de qual deve ser nosso caminho, e aceitamos o chamado para crescer espiritualmente, deixamos de lado nossas ideias, opiniões e julgamentos pessoais. Individualmente podemos nos apoiar nas duas grandes leis que conduzem ao novo nascimento e confiar o bem-estar de todos, inclusive o nosso, nas mãos da justiça divina
Quando nos rendemos à orientação de Deus, estamos verdadeiramente seguros. É preciso coragem para fazer isso. Talvez seja contrário às tendências do senso comum, ou pareça estranho. No entanto, a paz, a santidade e a elevação espiritual que sentimos pelo empenho de amar a Deus de todo o coração, e amar o próximo como a nós mesmos, traz um sentimento de jubilosa entrega e confiança de que o Amor divino está no controle de tudo.