No livro do profeta Isaías, na Bíblia, lemos: “…com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o Senhor, o teu Redentor. Porque isto é para mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não mais inundariam a terra, e assim jurei que não mais me iraria contra ti, nem te repreenderia. Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o Senhor, que se compadece de ti” (Isaías 54:8–10).
Quando nos sentimos imersos em uma enxurrada de problemas, tanto pessoais como mundiais, será que é possível acreditarmos em uma promessa como a contida em Isaías? Um estudo profundo da Bíblia à luz de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria de Mary Baker Eddy, nos proporciona uma perspectiva diferente sobre o que as dificuldades representam. Ciência e Saúde explica que as ações e forças que aparentam ser tão poderosas e nos fazem sentir tão indefesos, são influências mentais, sugerindo erroneamente que a criação divina — totalmente boa e espiritual — não é perfeita como diz a Bíblia, e que existe um mundo material separado de Deus, suscetível ao caos, à decadência e à destruição. Então, o que uma pessoa pode fazer, ou o que muitas pessoas sinceras e comprometidas podem fazer, para combater essas influências?
Há alguns anos, fiz uma descoberta inesperada, que me ajudou a compreender que existe, de fato, algo que pode ser feito.
Meu marido e eu temos uma árvore em nosso jardim, cujos galhos alcançam os mais baixos de um carvalho adulto. Em certas épocas do ano, aquele espaço se torna um parque de diversões para esquilos, e isso fazia com que nossa cadela começasse a latir agressivamente sem parar, pulando e arranhando a árvore com as patas. Aquele não era seu latido normal, como costumava latir a outros cachorros ou a alguém passando na rua. Seus olhos ficavam vidrados, em uma espécie de transe, e ela parecia não nos reconhecer. Também era rápida demais para que eu ou meu marido conseguíssemos segurá-la pela coleira.
Isso se repetiu algumas vezes a ponto de não sabermos mais como controlá-la. Certo dia, quando aquele comportamento estranho recomeçou, eu tentei impedi-lo. Mas, de repente, percebi que podia orar, em vez de correr atrás dela ao redor da árvore.
Aproximei-me dela e falei com firmeza: “Daisy, você não é um animal mesmerizado, hipnotizado. Você não é governada por instintos animais. Você não é controlada por um cérebro canino. Você é uma ideia de Deus, é parte da criação espiritual infinita dEle, onde todas as criaturas são harmoniosas, perfeitas, obedientes e indestrutíveis”. Estava convicta de que tudo aquilo era verdade. Eu estava afirmando essas verdades espirituais porque, com o estudo da Ciência Cristã, aprendera que, quando reconhecemos o que é verdadeiro a respeito da criação de Deus, vemos essa verdade se manifestar em nossa experiência.
Continuei falando por alguns minutos, e ela parou de latir, afastou-se da árvore e foi em direção à casa. Mas, depois de uns poucos passos, deu meia-volta e recomeçou. Então, eu fui firme com ela durante mais algum tempo, até que parou completamente. Dessa vez, Daisy voltou ao normal e se dispôs a entrar em casa. Desde esse dia, nossa cadela tem me atendido com mais rapidez e se mostrado menos hipnotizada pela atividade dos esquilos.
Essa experiência foi uma lição para mim. Aprendi que podia falar com autoridade e seguir a instrução de Ciência e Saúde: “Dize a verdade a toda forma de erro” (p. 418). Ver o efeito que teve sobre a Daisy a afirmação da verdade com autoridade, me trouxe mais clareza sobre como Jesus libertou o homem que tinha o espírito imundo (ver Marcos 1:23–27), e a respeito de como a Sra. Eddy aquietou e curou um homem que apresentava problemas mentais (ver Mary Baker Eddy: Uma Vida Dedicada à Cura, de Yvonne Caché von Fettweis e Robert Townsend Warneck, pp. 67–68).
Nós podemos falar com autoridade sanadora e repreender a influência mesmerizante daquilo que Ciência e Saúde denomina “magnetismo animal” — o pensamento proveniente da crença em um poder oposto a Deus, o Amor divino. Agindo assim, reconhecemos que essa influência mental é desprovida de poder no reino infinito sob a jurisdição da Mente única, Deus, e vemos que só existe uma única influência realmente em ação: o Cristo — a “influência sagrada da Verdade” (ver Ciência e Saúde, p. 146).
Quando Jesus foi tentado no deserto, ele refutou as tentações de que a matéria teria poder para sustentá-lo, de que ele poderia ser influenciado a fazer alguma tolice e de que adorar outro poder que não Deus lhe daria grande autoridade. “Com isto, o deixou o diabo…”, diz a Bíblia (ver Mateus 4:1–11). Quando aprendemos a reconhecer a origem dos pensamentos que chegam a nós, somos capazes de identificar as influências que não provêm de Deus, a Mente divina, e rejeitá-las.
Na época em que eu estava na universidade, havia períodos em que me sentia aprisionada em uma espécie de redoma, com pensamentos sombrios, solitários e tristes — às vezes suicidas, apesar de nunca ter falado a respeito disso. A escuridão durava vários dias e depois ia desaparecendo. Eu também ficava irritada porque meu namorado passava mais tempo com sua irmã mais nova e uma amiga dela do que comigo. Minha colega de quarto ficou tão preocupada que me encaminhou a um conselheiro do campus. Gentilmente, ele me ofereceu uma caixa de lenços, mas não disse nada que eu já não soubesse.
Alguns anos depois, já formada e com um bom emprego, morava sozinha, estudava a Lição Bíblica semanal que se encontra no Livrete Trimestral da Ciência Cristã, e estava muito ativa em minha igreja filial da Ciência Cristã. Certa noite, os pensamentos sombrios, que de tempos em tempos ressurgiam, começaram a me envolver. Mas, ao contrário do que acontecera nos episódios anteriores, nos quais esse sentimento ruim levava dias para me deixar, dessa vez a seguinte ideia me veio de repente: “Esse pensamento não é seu!” E o sentimento sombrio desapareceu — e desapareceu por completo, naquele mesmo instante. Pela primeira vez, pude identificar claramente que a influência mesmérica que me incomodara por tanto tempo era uma mentira a meu respeito.
Agora vejo que Deus não nos deixa cair na tentação de acreditar em um poder maligno. Ele nos criou para que tenhamos apenas pensamentos semelhantes aos dEle, portanto totalmente bons. O Salmista diz: “Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos” (Salmos 91:11). Anjos são mensagens elevadas que vêm de Deus e nos dizem que Ele está aqui, que Sua presença constante é o único poder. Essas mensagens nos guiam harmoniosamente.
Isso não quer dizer que eu nunca sinta desânimo ou sufoco, mas está presente a realidade espiritual inabalável de que esses sentimentos e pensamentos não vêm de Deus, e com isso encontro alívio. Eu sei que o Cristo, a Verdade, está sempre presente, e pode ser ouvido e sentido.
Um poema da Sra. Eddy começa assim: “Viste o meu Salvador? Ouviste o som de júbilo? Sentiste o poder da Palavra?” (Escritos Diversos 1883–1896, p. 398). Embora possa parecer difícil conter a maré agressiva do magnetismo animal e seus pensamentos mesmerizantes, nós podemos responder “sim” às perguntas desse poema, quando percebemos que nosso universal Pai-Mãe Deus e Seu Cristo, a verdadeira ideia de Deus, estão presentes. A Ciência Cristã ensina que Deus é o Princípio, e o Princípio sustenta a lei divina. Por sermos governados por essa lei e pelos pensamentos de Deus, nós expressamos autoridade e autocontrole. Em realidade, já estamos sob essa lei, e o braço forte do Amor divino nos sustenta.
Quando se trata de pessoas e situações que aparecem no noticiário, a mesma verdade espiritual está em ação, em escala mais ampla. A lei que me ajudou com minha cadela não está restrita a meu jardim; a verdade que me libertou dos pensamentos depressivos não era verdade apenas dentro de meu pequeno apartamento. A Verdade é infinita, sempre presente e universal.
A diferença a respeito dessa escala mais ampla é que o conjunto da humanidade — que inclui não só o país em que moramos, mas também todos os outros, nossas igrejas, todas as famílias — é uma experiência coletiva, da qual a consciência humana participa como um todo.
O poema da Sra. Eddy, que mencionei anteriormente, continua: “Foi a Verdade que nos libertou”. Em outro poema dela, lemos: “Amado Cristo, sempre aqui, sempre perto” (O que o Natal significa para mim, p. 2). Deus transmite a nós, por meio do Cristo, a Verdade, a segurança e a ajuda de que precisamos. “Deus conosco”, o Cristo, é definido em Ciência e Saúde como “…uma influência divina sempre presente na consciência humana, e que se repete, vindo agora como fora prometido antigamente:
“Para proclamar libertação aos cativos [dos sentidos]
E restauração da vista aos cegos,
Para pôr em liberdade os oprimidos”
(p. xi).
Tendo como ponto de partida o fato de que a Mente divina é tudo, é a única, e é infinita, não precisamos acreditar que aquilo que denominamos mentalidade do mundo seja suscetível às assim chamadas forças do mal. Rótulos negativos, sejam impostos por outros ou autoimpostos, têm de ser reconhecidos como limitações e argumentos das crenças materiais e das opiniões pessoais, e não como fatos espirituais. Pensamentos humanamente positivos não são suficientes para superar esses rótulos, limites e argumentações. A única solução é nos volvermos à fonte de toda verdadeira criação — o Espírito, a Mente; e ficarmos firmes no fato de que em Deus “…vivemos, e nos movemos, e existimos…”, como diz Paulo (Atos 17:28). Isso se refere a todos nós, sem exceção.
Não existe um universo oposto ou alternativo criado pelo mal. Deus é Tudo, o grande Eu sou, o único Ego, e em Seu reino todas as coisas funcionam juntas em unidade; o pensamento errôneo é desprovido de poder porque não tem criador; o homem e o universo são completos, eternos, indestrutíveis, verdadeira e totalmente bons, sempre.
Por isso, de acordo com o desígnio de Deus, “…a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Habacuque 2:14).