Antigamente, as pessoas eram definidas por aspectos como quantidade de membros de sua família, quantos hectares de terra possuíam, sua posição social etc. E, embora talvez sejamos gratos por alguns desses parâmetros não serem mais tão comuns como costumavam ser, temos parâmetros semelhantes hoje em dia.
Atualmente, talvez pareça razoável definir a nós mesmos e aos outros em termos de posses, profissão, história pessoal e elementos semelhantes. No entanto, se usarmos esses parâmetros, talvez tenhamos medo de não ter o suficiente, de nunca estar à altura das expectativas, de sermos desvalorizados, de nossa identidade ser usurpada. Essa é uma questão que precisa ser enfrentada.
Recentemente, relacionei essa questão ao segundo mandamento do Decálogo, o qual diz, em parte: “Não farás para ti imagem de escultura… Não as adorarás, nem lhes darás culto…” (Êxodo 20:4, 5). Veio-me ao pensamento a pergunta: considerar o homem como sendo material não equivaleria porventura a uma “imagem de escultura”?
Uma escultura é “moldada no formato desejado” ou “entalhada em uma superfície”, segundo a definição do dicionário. Inúmeras influências em nosso dia a dia parecem moldar imagens dessemelhantes de Deus em nossos pensamentos. A começar com o segundo capítulo do Gênesis, na Bíblia, no qual o homem é descrito como mortal, pecador e limitado. Ali, Adão e Eva são retratados como materiais, separados de Deus, o Espírito.
Em contrapartida, Gênesis 1, que descreve o homem criado à imagem de Deus, é o relato da criação que os estudantes da Ciência Cristã têm como real e verdadeiro. O homem verdadeiro, a imagem e semelhança do Espírito, é filho de Deus, é Sua criação espiritual. Deus deu à Sua criação tudo de que poderíamos necessitar. Por isso, já somos completos e não podemos ser realmente moldados ou modelados pelo mundo ao nosso redor.
Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, faz esta afirmação junto ao título marginal “Origem espiritual”, em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Na Ciência o homem é gerado pelo Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência. Sua origem não está no instinto bruto, como a origem dos mortais, e o homem não passa por condições materiais antes de alcançar a inteligência. O Espírito é a fonte primordial e suprema do seu existir; Deus é seu Pai, e a Vida é a lei do seu existir” (p. 63).
Aceitar essa verdade é elevar-se acima dos sentidos para a Alma — de um senso errôneo de nós mesmos, de que sejamos seres materiais e mortais, para a compreensão daquilo que sempre fomos como reflexo da Alma, Deus.
Antigamente, eu costumava me esconder nos “bastidores” da vida, onde o medo dizia ser o lugar mais seguro para se viver. Ali eu pensava que poderia me esconder das minhas inseguranças e temores: de não ser suficientemente capaz; de não corresponder ao que o mundo dizia que eu deveria ser; de eu ser um fracasso. Sair à luz significaria expor a todos que eu era incompleta. Eu estava aceitando uma perspectiva errônea de mim mesma, de minha identidade.
Por meio do estudo da Ciência Cristã, comecei a enfrentar esse medo. Comecei a ter confiança no poder de Deus para governar minha vida. Eu abri mão de um controle pessoal e saí daquela atitude mental errônea. Em espírito de oração, lembrei-me de que minha identidade me foi dada, e é perpetuamente mantida, por meu Pai-Mãe Deus, de que “o belo, o bom e o puro” fazem parte da minha verdadeira história de vida e de que eu não poderia ser vulnerável nem ser colocada em alguma situação que estivesse fora do amoroso cuidado de Deus. Minha verdadeira identidade é espiritual e está sempre segura sob a proteção de Deus.
Surgiu a oportunidade de aplicar a uma situação angustiante algumas das lições que eu estava aprendendo sobre a identidade que Deus me deu. Algumas das informações pessoais a meu respeito foram comprometidas devido a um vazamento de dados. Minhas contas bancárias foram alvos de ataques; dinheiro foi sacado delas; houve tentativas de cobranças improcedentes nas minhas contas e até mesmo tentativas de controlar meu telefone. Algumas senhas chegaram a ser alteradas. Enquanto orava a esse respeito, buscando a orientação de Deus, perguntei a mim mesma se minha identidade é aquilo que o mundo diz a meu respeito e se ela está sujeita a ser perdida, roubada ou ludibriada. Ou, é minha identidade aquilo que Deus, o Espírito, sabe a meu respeito e, portanto, é sempre espiritual, segura e intacta?
Eu não queria me conformar com o medo, que sugeria um inevitável resultado negativo desse vazamento de dados. A oração me permitiu manter a calma em meio à adversidade, em vez de acreditar na legitimidade do medo ou permitir que ele moldasse meu comportamento. Deus nos capacita a manter na consciência que Ele está sempre presente e cuidando de nós. Portanto, eu não aceitei a ideia de que havia um inimigo em algum lugar que pudesse me prejudicar. Lembrei-me das palavras de Cristo Jesus no Sermão do Monte: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem…” (Mateus 5:43, 44). Em espírito de oração, reconheci a verdadeira natureza espiritual das pessoas envolvidas, sua condição como filhos honestos e amorosos de Deus. Então uma amiga me lembrou de que minha identidade fora dada por Deus e, portanto, ela estava sempre em segurança.
Eu sabia da importância de me lembrar de que Deus, o bem, está sempre no controle de toda forma de vida, inclusive da minha. Ele não poderia perder o controle de nenhuma parte de minha vida. O roubo e o ultraje não têm poder para mudar o que Deus estabeleceu. Também foi importante que eu reconhecesse minha inocência e me mantivesse firme na minha verdadeira identidade como filha de Deus. Recusei-me a aceitar a sugestão de que eu pudesse ter sido responsável pelo que havia acontecido, por não ter cuidado o suficiente de meus dados pessoais. Em vez disso, mantive-me fiel à verdade de que Deus nos protege dos erros e que eu era inocente de qualquer transgressão.
Alguns problemas demoraram para ser resolvidos, mas minha confiança no bem de Deus aumentava à medida que continuava em oração. Vi-me guiada a dar os passos práticos, como entrar em contato com os bancos, alterar as senhas, bloquear temporariamente as contas bancárias etc. Houve momentos em que recebi o “toque angelical” de Deus, com ideias para verificar algo e conseguir impedir que alguma ação prejudicial acontecesse. No fim, tudo foi restaurado, e nada foi perdido. Fiquei muito grata por não ter sucumbido à “imagem de escultura” que incluiria a crença de que eu fosse vulnerável, precisando recuar, com medo do que os outros pudessem fazer comigo. “O Senhor está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem?” (Salmos 118:6).
Eu me sinto cada vez mais segura em confiar em Deus, à medida que avanço com confiança como filha de Deus, criada à Sua imagem e semelhança, com um senso de propósito dado por Deus.
Sempre valorizei muito este trecho de 1 João 3:1–3: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro”. É libertador abandonar todo e qualquer critério que o mundo usa para nos definir e, em vez disso, reconhecer nossa verdadeira identidade espiritual, quem somos e sempre fomos, da maneira como Deus nos conhece.
