Como seguidores de Cristo Jesus, parte de nosso dever consiste em cultivar nossa espiritualidade, a luz da Verdade e do Amor que existe em nós, para que essa luz possa iluminar os outros e abençoá-los. Para cumprir com esse dever é fundamental estarmos atentos aos pequenos aborrecimentos que seriam um bloqueio para essa luz. A Bíblia menciona as “raposinhas, que devastam os vinhedos” quando “as vinhas estão em flor” (ver Cânticos de Salomão 2:15).
Para mim, essa passagem bíblica é um chamado a que ajustemos as pequenas questões do dia a dia que talvez nos levem a reclamar e criticar, bem como a nos aborrecer e ficar ressentidos facilmente. Embora não sejam extremamente graves, essas ocorrências talvez cheguem a prejudicar relacionamentos, influenciar negativamente nossa opinião sobre os outros ou resultar em uma atitude mental intolerante e muito negativa.
Com o passar do tempo, essas pequenas tentações corroem a boa vontade, a satisfação e a saúde. Mas, acima de tudo, elas parecem esconder a luz do Cristo, que brilha em cada um de nós em benefício de outros. Elas obscurecem o pensamento humano, de modo que as qualidades espirituais de Deus, que curam e abençoam, como a compaixão, o perdão e a generosidade, parecem não fazer parte de nós. Permitir que essas “raposinhas” ocupem nosso pensamento é como jogar lama em uma vidraça e depois se perguntar por que o quarto está escuro.
As vinhas “em flor”, mencionadas no texto bíblico, podem representar o amor puro, saudável e terno existente entre as pessoas. Se os mal-entendidos não forem resolvidos, podem se desenvolver e gradativamente destruir o amor e a confiança. Muitas vezes, são as pequenas questões que estragam o que é verdadeiramente importante em um relacionamento. Por isso, é recomendável adotar medidas preventivas para proteger esse amor mútuo de qualquer coisa que possa prejudicá-lo.
Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, alerta-nos para essa necessidade. Ela escreve: “Considerando o fato de que temos de estar à altura do ministério da retidão em todas as coisas, não podemos ignorar as minúcias do que é bom ou do que é ruim, pois ‘os detalhes fazem a perfeição’ e ‘as raposinhas… devastam os vinhedos’ ” (A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos, p. 123).
O Cristo, a santidade que Jesus corporificou, nos capacita a “estar à altura do ministério da retidão”. O Cristo está sempre ativo na consciência humana, incentivando-nos individual e coletivamente no caminho da salvação — nossa liberdade definitiva de toda consciência e condição desarmoniosas.
Lemos em um relato bíblico, referindo-se ao nosso Mestre: “E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos” (Lucas 6:19). O bem divino, que Jesus corporificava, era o que curava os outros. O bem, a ternura e o poder de Deus fluíam pela consciência benévola de Jesus e curavam todos os que estavam no âmbito de seu pensamento.
Em outra ocasião, uma mulher, que havia muito tempo sofria de uma hemorragia, foi curada sem que Jesus soubesse sequer quem o havia tocado em busca de ajuda. Mas ele sentiu a emanação do Amor divino, Deus, fluir dele e perguntou: “Quem me tocou?” O relato continua: “Como todos negassem, Pedro com seus companheiros disse: Mestre, as multidões te apertam e te oprimem e dizes: Quem me tocou? Contudo, Jesus insistiu: Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder” (Lucas 8:45, 46).
Esse poder é muito mais do que mera bondade humana. Ele emana do Amor divino, é o poder e a luz de Deus que fazem parte de cada um de nós. É a nossa espiritualidade, que é muito valiosa e vital para nós. Não devemos permitir que ela seja perturbada por minúcias do teatro da experiência humana pois, do contrário, essa luz pareceria ofuscada e a cura seria protelada, como aprendi certa vez.
Eu havia acabado de me comprometer de todo o coração a praticar mais os ensinamentos da Ciência Cristã, quando uma amiga e eu nos desentendemos. Eu estava tomada pela justificação do ego, pois acreditava que havia ajudado essa amiga no esclarecimento de um problema. Ela, no entanto, não ficara agradecida, nem fora receptiva à minha tentativa de ajudar, e o ressentimento e a mágoa tomaram conta de nós duas. Eu também comecei a sentir uma pressão no peito, a qual me incomodava.
No início, fui inflexível, e me recusei a considerar uma reconciliação. Mas, logo percebi que seguir Cristo significava orar para superar qualquer adversidade, fosse ela emocional ou física. Ao orar para superar os sentimentos negativos, voltei-me ao exemplo de nosso Mestre, na ocasião em que dele emanou poder e a mulher foi curada. Dei-me conta de que, como Cientista Cristã, dedicada à prática da cura, eu também precisava ser transparente para que a Verdade pudesse brilhar. Dessa maneira, todos com quem eu entrasse em contato seriam abençoados. Isso significava deixar tudo pelo Cristo — inclusive os ressentimentos.
Enquanto orava em busca de uma solução, pude perceber a influência do magnetismo animal, a crença de que exista um poder maligno capaz de desviar a espiritualidade, a me perturbar e a me manter absorta em uma indignação amarga e na justificação do ego. O mal raramente se manifesta como o que ele é ou como seu possível resultado. Muitas vezes, ele se esconde na forma de pequenos aborrecimentos que nos irritam e abalam nossa compreensão de que Deus é o bem sempre presente.
Assim que percebi que esse mal-entendido entre mim e minha amiga era uma flagrante tentativa, desse erro sem sentido, de nos dividir e conquistar, descartei-o com base no fato de que Deus é bom e é tudo. Logo me senti livre do ressentimento. Desapareceram todos os sentimentos ruins que haviam se interposto entre minha amiga e eu, e nos reconciliamos. A dor no peito também desapareceu. Nada mais restou além do terno afeto que eu e minha amiga sentíamos uma pela outra.
Quando optamos por seguir o exemplo do Mestre e nos recusamos a abrigar a justificação do ego, a sentir pena de nós mesmos ou a ficar melindrados, descobrimos que os mal-entendidos, a mágoa e o ressentimento desaparecem do pensamento e de nossa experiência.
Quando conscientemente vigiamos e nos defendemos todos os dias das “raposinhas”, essas retorcidas sutilezas do erro que obstruem nossa espiritualidade não dão resultado, e descobrimos que nossos pensamentos estão firmemente alicerçados no amor sanador de Deus e são mais aptos a refleti-lo.
