Ao longo da história, o gênero humano tem usado a inteligência de modo tanto bom quanto mau, puro ou impuro, e até mesmo de uma forma em que essas características se mesclam — uma casa dividida. Essa história tem levado à suposição generalizada de que a inteligência pode ser tanto boa quanto má. Mas é razoável pensar assim? Ou será que a inteligência é exclusivamente boa?
A Bíblia fala da “mente do Senhor”: e da “mente de Cristo” (ver 1 Coríntios 2:16). Com base na Bíblia, e sob a autoridade dela, a Ciência Cristã ensina que Deus, o bem, é o Espírito, e o Espírito é a Mente. Os pensamentos que vêm de Deus abrangem o universo espiritual, inclusive o homem espiritual (nossa verdadeira identidade), cuja consciência é o reflexo de Deus, a Mente divina.
A verdadeira inteligência é uma qualidade de Deus. Aliás, conforme definido por Mary Baker Eddy no livro-texto Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Deus é a inteligência (ver p. 587). Essa inteligência divina opera constantemente a nosso favor, governando, guiando, satisfazendo, harmonizando todo o existir.
Qualquer alegação de que exista outra inteligência ou outra ação inteligente, é falsa, é uma suposição baseada na matéria, de que exista outra mente ou mentes além de Deus. Partindo de uma mentalidade teórica oposta, chamada na Bíblia de “pendor da carne” (ver Romanos 8:7), ou seja, mente carnal, segue-se a suposição de que o pensamento se origine no cérebro. Na Ciência Cristã essa crença é conhecida também como mente mortal, pois inclui em si a morte e a finitude. Essa mentalidade se nutre do medo, o medo de que possamos ser separados de Deus, o bem, o Amor, e isso Jesus ensinou e demonstrou ser uma impossibilidade.
A mente mortal se apresenta como capaz de criar algo, apesar de, em última análise, ser irreal e, portanto, destituída de qualquer poder criador verdadeiro. No noticiário da mídia contemporânea, a inteligência artificial (IA) ganhou proeminência em artigos que, às vezes, expressam preocupação quanto ao que os autores percebem como perigos inerentes a essa inteligência. Devido ao fato de que esse termo, “inteligência artificial”, é uma contradição gritante, tal receio deve ser contestado por todos os pensadores. O livro-texto da Ciência Cristã declara que “Deus é a inteligência” (Ciência e Saúde, p. 2) e, na Bíblia, Deus declara Sua unicidade: “…Eu sou o Senhor, e não há outro” (Isaías 45:18).
Então, o que é a inteligência artificial? É a manipulação de dados, de informações materiais, por meio de software de computador “preparado” (codificado) — é uma repescagem de material antigo. Reconfigurar não é inventar. O único originador de algo é Deus, o Criador divino, a Mente, cujas ideias são os únicos componentes da realidade.
A inteligência artificial não é a realidade, mas sim um artifício e, como tal, não tem nenhum controle, nem poder, sobre o homem que é a ideia espiritual de Deus, ou seja, Sua manifestação. A pintura de um rio, por exemplo, embora com aparência real, não tem água e não pode causar dano a ninguém nem estragar coisa alguma.
Referindo-se aos deuses materiais, o profeta Jeremias afirma: “Os ídolos são como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e não está neles o fazer o bem” (10:5; vale a pena reler o capítulo todo).
A chamada realidade expandida também é digna de nota; ela combina experiências do “mundo real” com conteúdo de 3D gerado no computador, portanto, sobrepõe um conceito material a outro conceito material. Deus, porém, é o único verdadeiro Criador e Suas ideias são realidades espirituais. Quem ou o que poderia aumentar a realidade, ou seja, o que Deus já fez?
Deus, o Espírito, é bom e infinito, portanto, não devemos nos surpreender por constatar evidências do bem nos inventos humanos, inclusive em alguns usos da IA, que podem ter utilidade na melhoria de processos por meio de algoritmos — como por exemplo, o aumento da eficiência no trabalho das fábricas. A Sra. Eddy escreve: “Acolhemos de bom grado o aumento do saber e o fim do erro, porque até a inventiva humana tem seu momento, e queremos que esse momento seja sucedido pela Ciência Cristã, pela realidade divina” (Ciência e Saúde, p. 95).
Quaisquer resultados bons produzidos pela IA são derivados da operação do Princípio divino nos assuntos humanos. Todo efeito nocivo é uma ilusão do erro, ou seja, da mente mortal. Encontramos na Bíblia esta promessa de Deus: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jeremias 29:11).
O que devemos pensar sobre as ameaças de crimes contra a humanidade, organizados por meio da IA? A Sra. Eddy diz: “Só a Ciência pode explicar os incríveis elementos bons e maus que agora estão vindo à tona” (Ciência e Saúde, p. 83). Ao ler isso, lembremo-nos de que a palavra incríveis se aplica, igualmente, aos elementos bons e maus. Procuremos reconhecer os “elementos bons”, e não apenas os amplamente divulgados “elementos maus”, que estão vindo à tona.
A Ciência Cristã é o pináculo do incrível bem, pois explica e demonstra, por meio da cura, a lei de Deus perfeito e homem perfeito — o Princípio infinito do bem eternamente em união com seu reflexo, o homem. A onipresença de Deus impossibilita, de maneira absoluta, tanto a existência, quanto o desenvolvimento e atuação de algo diferente do bem, ou que seja o seu oposto. O Espírito infinito, Deus, é a inteligência que não pode ser utilizada a favor do mal, nem o mal tem o poder de imitar essa inteligência.
A lei do Amor infinito opera perpetuamente a nosso favor, sustentando o bem, a saúde e o progresso, ao mesmo tempo em que nos permite detectar, denunciar e destruir toda falsidade — e esse fato se torna visível quando é reconhecido pelos pensadores. Podemos, calma e humildemente, confiar em Deus para suprir a humanidade de capacidade para vigiar e de sabedoria oportuna para a ação correta. As entidades governamentais, ao redor do mundo, estão tomando providências para garantir transparência no desenvolvimento e aplicações da IA. Qualquer uso maldoso da IA é destituído de autoridade divina, portanto, está condenado à destruição, tal qual aconteceu com a figueira estéril que Jesus encontrou (ver Mateus 21:19).
O Espírito é também a Verdade. Em sua infinitude, a Verdade apoia e cumpre, eternamente, os justos propósitos e esforços da família humana. Jesus nos assegura que: “…vosso Pai se alegrou em dar-vos o seu reino” (Lucas 12:32). Por meio da graça divina, a Verdade imortal satisfaz a nossa necessidade, e desdobra perfeitamente as ideias corretas, às vezes antes de pedirmos ou até mesmo sem que tenhamos pedido.
Durante muitos anos me empenhei em escrever uma dissertação sobre análise literária. Inicialmente, possibilidades promissoras se fecharam. Eu frequentemente me deparava com uma barreira intransponível, e parava de trabalhar no projeto. Novas direções, porém, surgiam espontaneamente, as quais eu não havia considerado, e me traziam de volta ao trabalho, até que finalmente concluí o artigo e o submeti para publicação em um jornal acadêmico bastante respeitado. O ensaio foi avaliado por um especialista em análise literária, o qual não sabia quem eu era, nem conhecia minhas conexões, sendo que eu também não sabia nada sobre ele. O trabalho foi rapidamente aceito e considerado “brilhante” pelo revisor.
Ao mesmo tempo em que fiquei feliz com o bom resultado, tornou-se bastante evidente para mim que o mérito pela análise não era meu, assim como não era de meu cachorro. Tendo prática e experiência em escrever, eu certamente tinha as habilidades necessárias para fazer a composição, mas não a profundidade analítica com que fui inspirado. Sei andar de bicicleta, mas eu jamais poderia ter inventado tal veículo. Eu não havia orado especificamente em busca da ajuda divina; mas a inspiração veio.
Com essa experiência, compreendi, como nunca antes, o papel da graça divina, que é impessoal, mas exata. Apesar de o tema do artigo visar a estética literária, o foco era moral, voltado para causas e efeitos divinos. A finalização e o sucesso da dissertação foram, para mim, uma demonstração clara de que apenas Deus é a origem de toda verdadeira inteligência criativa.
Todos somos filhos de Deus. O mal nunca é uma característica de nosso existir, nem agora nem no futuro. Podemos aceitar e confiar nos pensamentos de Deus a nosso respeito, certos na compreensão de que, por sermos Sua imagem, sempre somos guiados em segurança. A Sra. Eddy escreve: “Os bons pensamentos são uma armadura impenetrável; assim revestidos, estais completamente resguardados contra os ataques do erro de qualquer espécie” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos], p. 210).
Os propósitos da inteligência são manifestados em bênçãos continuamente concedidas ao homem, a imagem de Deus. Tais dons incluem paz, integridade, alegria, segurança, justiça, prosperidade, êxito e conhecimento. Esses constituem a herança inteligente de cada um de nós, o reino dos céus dentro de nós, conforme Jesus prometeu.