Eu não conseguia entender por que me sentia inerte, como se um cobertor pesado invisível me impedisse de agir e me deixasse deprimida. A vida parecia sombria e meus pensamentos, letárgicos.
Então me deparei com esta surpreendente declaração de Mary Baker Eddy, a descobridora da lei divina universal da cura cristã: “As formas brandas do magnetismo animal estão desaparecendo e seus aspectos agressivos estão vindo à tona. Os teares do crime, ocultos nos recantos escuros do pensamento mortal, estão tecendo a toda hora tramas mais complicadas e sutis. Tão secretos são os métodos atuais do magnetismo animal, que fazem cair esta época na armadilha da indolência, e produzem, sobre o assunto, exatamente aquela apatia que o criminoso deseja” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 102).
Eu já conhecia a definição de magnetismo animal dada pela autora: “Como é usada na Ciência Cristã, a expressão magnetismo animal ou hipnotismo é o termo específico para o erro, ou seja, a mente mortal. É a crença errônea de que a mente esteja na matéria e que seja tanto má quanto boa; que o mal seja tão real como o bem, e mais poderoso” (Ciência e Saúde, p. 103). Mas quando procurei o significado da palavra indolência, soou um sinal de alarme. A palavra significa inação ou falta de atividade do corpo ou da mente, na busca do menor esforço ou por aversão ao trabalho.
Eu notei que a “busca do menor esforço” estava se manifestando em minha vida, e o que fez acender o sinal de alerta foi perceber que isso estava tornando apáticos a mim e a outros e, por conseguinte, condescendentes com o mal em si.
Uma das exigências mais imperativas feitas aos Cientistas Cristãos é a de vigiar: estarmos sempre alertas e em guarda. A palavra vigiar significa permanecer desperto. Cristo Jesus disse especificamente a seus seguidores: “O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai!” (Marcos 13:37). Permanecermos atentos ao bem de Deus, à manifestação de Seu poder e presença, para ter certeza de não cair na tentação de pensar e agir de modo incompatível com a natureza do Cristo que Jesus ensinou e demonstrou.
À medida que eu vigiava mais atentamente meu pensamento, comecei a ver que, no âmago da escuridão, da angústia e até da confusão que me atormentavam, estava essa agressiva e sutil armadilha da indolência. Aqui estão apenas três das maneiras pelas quais percebi que eu estava me entregando à “busca do menor esforço”, pelo desejo de ficar na zona de conforto:
1. A primeira dessas maneiras pode ser resumida na frase “não tenho vontade” — simplesmente a falta de vontade de trabalhar para Deus. Trabalhar para Deus parece exigir, digamos, muito trabalho. Mas traz grandes recompensas. Trabalhar para Deus significa reconhecer e aceitar a natureza divina de Sua criação, com tudo funcionando em perfeita harmonia. Significa ser humildemente grato pelas bênçãos já recebidas e estar pronto para o desdobramento do bem infinito. Trabalhar para Deus engloba a oração diária, abastecer-se espiritualmente com o estudo das Escrituras e das obras da Sra. Eddy, além de adotar bons pensamentos e agir de acordo com eles, enquanto rejeita os maus pensamentos centrados no ego.
Pedro, o discípulo de Jesus, escreveu: “graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pedro 1:2–8).
The New Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible [A Nova Concordância Bíblica de Strong] diz que a palavra original grega, traduzida em português como inativos, significa preguiçosos. A preguiça não é produtiva, ao passo que as qualidades listadas por Pedro mutuamente se reforçam para nos tornar abundantemente produtivos. Trabalhar para Deus não é tanto um sistema pelo qual trabalhamos em troca de recompensa, mas sim um meio de expressar todo o bem que já temos!
2. A segunda maneira que eu detectei era o desejo de ter uma vida material mais confortável, sem disposição para rejeitar o pecado no pensamento e na ação. A Sra. Eddy escreve: “A cura da doença física é a menor parte da Ciência Cristã. É apenas o toque de clarim para o pensamento e a ação, quanto ao alcance mais elevado do bem infinito. A Ciência Cristã dá grande destaque ao objetivo de curar o pecado…” (Rudimentos da Ciência Divina, p. 2).
Jesus curou a doença expulsando os pensamentos — às vezes chamados espíritos maus, ou demônios, em algumas traduções da Bíblia — os quais causavam a desarmonia exterior. Certa vez seus discípulos perguntaram-lhe por que não haviam conseguido curar determinado caso. Ele respondeu: “…Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível. Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum” (Mateus 17:20, 21).
Um significado espiritual de jejum, que se aplica aqui, é: “…abster-se de aceitar as alegações dos sentidos” (Mary Baker Eddy, The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos], p. 222). Não podemos confiar nos sentidos materiais para reconhecer a realidade, ou seja, aquilo que é universalmente verdadeiro aqui, agora e em todo lugar. Eles sempre anunciam que existe um poder, uma inteligência, uma substância, uma presença, uma lei independentes de Deus e opostas a Ele. Por isso, quando erroneamente confiamos nas alegações dos sentidos, estamos invariavelmente violando o Primeiro Mandamento do Decálogo: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3).
Será que realmente desejamos expulsar o pecado de nosso coração, de nossos pensamentos, de nossa vida — qualquer tendência a acreditar na sugestão de que exista outro deus, outro poder? Estamos nós buscando apenas uma existência humana mais confortável, ou desejamos verdadeiramente trabalhar para Deus? É claro que a dor e a doença nunca foram o desejo do Pai-Mãe Deus para Seus amados filhos e não podem ser a ordem divina das coisas. Elas resultam da crença — uma crença que podemos expulsar. Como o propósito da Ciência Cristã é a cura, e os efeitos ou “sinais que se seguem” da cura do pecado são a cura física, não podemos ter preguiça de enfrentar o pecado em nós mesmos.
3. A terceira maneira, pela qual eu estava vendo a indolência se manifestar, era a constante atração por distrações, disfarçadas de descanso e entretenimento. Os acontecimentos mundiais, juntamente com os desafios em nossa própria vida, podem ser sufocantes, exigindo que façamos uma pausa. Mas a preguiça nos engana quanto ao que realmente oferece repouso e satisfação. Talvez sejamos tentados pela preguiça a ficar muito tempo em frente à tela do computador ou do celular, como um escape, que pode ser mera diversão ou se transformar em uma contínua absorção de opiniões mortais e notícias ruins. Em vez de ceder à tentação que nos arrasta ainda mais para a escuridão e a depressão, podemos nos voltar para Deus, em busca de respostas inspiradas.
Quando buscamos a Deus de todo o coração, constatamos que cada oração, cada tratamento da Ciência Cristã, atesta que a natureza de Deus é amorosa, harmoniosa, inteligente e fundamentada em leis espirituais. O pensamento se eleva acima da indolência e vemos que nosso único propósito de existir é sermos testemunhas e expressões da natureza de Deus, e que fazer isso traz alegria, vigor e satisfação. A Bíblia nos diz: “Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, o meu servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá” (Isaías 43:10).
Lembra-se da escuridão, depressão e letargia que mencionei no início deste artigo? Foram meses de dedicado esforço diário, estudo e oração para enfrentá-las. Mas a palavra indolência me manteve alerta. Eu não queria dar meu consentimento ao mal. A cada dia, a cada momento, eu me mantive desperta para o fato de que Deus é minha fonte, meu verdadeiro Amor, meu foco, o Um e o Tudo.
Aprendi a me defender da atração de ficar na zona de conforto, lembrando da “Oração diária” que a Sra. Eddy nos deixou e que diz em parte: “ ‘Venha o Teu reino’; estabeleça-se em mim o reino da Verdade, da Vida e do Amor divinos, eliminando de mim todo o pecado…” (Manual dA Igreja Mãe, p. 41). Ao orar, eu substituía a palavra pecado por indolência.
Ao começar a me reconectar com o Amor divino, pensei em Deus como Mãe. Isso trouxe ao meu pensamento tanta ternura, firmeza e misericórdia, que colocar a Deus em primeiro lugar passou a ser irresistível, desejável, jubiloso. Passei a ficar mais ávida para ver o que Deus, como Mãe, tinha para compartilhar comigo e fiquei mais disposta a ouvir o evangelho (as boas-novas) da presença do Amor, em vez de ficar com medo da indolência.
Depois de trabalhar mentalmente por várias semanas para colocar a Deus em primeiro lugar o tempo todo — no pensamento e nas ações — senti-me renascer! E continuo a sentir esse revigorante senso de inspiração, ao valorizar o trabalho para Deus como a coisa mais importante que posso fazer.
A uma nova igreja filial em Massachusetts, EUA, a Sra. Eddy ofereceu uma orientação muito semelhante à de Pedro: “Honrai vosso Pai e Mãe, Deus. Permanecei em Seu amor. Dai frutos — ‘os sinais que se seguem’ — para que não haja obstáculos às vossas orações. Orai sem cessar. Vigiai diligentemente; jamais abandoneis o posto de vigilância espiritual, e do exame de si mesmo. Esforçai-vos para que haja justiça, mansidão, misericórdia, pureza, amor e renúncia ao ego. Fazei com que a vossa luz seja o reflexo da Luz. Não tenhais nenhuma ambição, nem afeto, nem propósito a não ser a santidade” (Escritos Diversos 1883–1896, p. 154).
O esforço de sair da “zona de conforto” e vencer a indolência leva à salvação, à segurança, à saúde e à santidade — uma convicção e vivência mais profundas da graça de Deus.