Carlos desejava ter um amigo que fôsse de sua idade e que morasse perto — alguém que fôsse junto com êle para a escola e com quem pudesse partilhar os seus segredos. Quando seu pai e sua mãe lhe contaram que iriam se mudar para a cidade, êle disse: “Viva! Lá talvez tenha um menino morando bem perto de nossa casa.”
No dia em que chegaram à nova casa, Carlos viu um menino do tamanho dêle parado nos degraus de uma casa, na esquina da quadra onde iam morar.
“Ali está o meu amigo”, pensou Carlos. “Êle mora numa esquina e eu moro na outra.”
Carlos acenou para êle, mas o outro menino não respondeu.
No dia seguinte, Carlos foi a pé para sua nova escola, distante algumas quadras apenas. Não viu o menino em nenhuma das salas de aulas. Mas assim que terminou a última aula êla viu o menino montar em sua bicicleta e ir para casa sòzinho. Havia crianças indo para casa em quase tôdas, as direções, mas nenhuma parecia ir para a direção à qual Carlos tinha de ir. Quando êle passou defronte à casa do outro menino, sentiu dois socos fortes em suas costas. Carlos virou-se ràpidamente, e ali estava o seu vizinho, de cara fechada, os punhos cerrados, pronto para brigar.
“Volte para a esquina!” comandou êle. “Ninguém passa nesta rua a não ser que eu, Zé Valente, dê permissão.”
Surprêso, Carlos caminhou de volta para a esquina.
“Você é o Zé Valente?”
“Todo mundo sabe disso”, resmungou o outro menino.
“Por que você bateu nas minhas costas?” perguntou Carlos.
Zé Valente não respondeu. Um rapaz alto, que vinha batendo uma bola de basquete, cruzou a rua e veio na direção dêles, e disse a Carlos:
“Por que você não quebra a cara dêle?” Você é tão grande quanto êle!”
Carlos tentou explicar. “Eu não quero brigar com êle. Eu quero que êle seja meu amigo.”
O rapaz alto olhou surprêso, e disse: “Então você que se arrume sòzinho!” E foi-se embora batendo a sua bola.
Zé Valente continuava bloqueando a calçada, então Carlos tomou outra rua para chegar à sua casa. Caminhava devagar, tentando pensar. Carlos tinha aprendido na Ciência Cristã que o filho de Deus é bom porque foi assim que Deus o fêz. Esforçou-se por ver Zé dessa maneira, mas suas costas ainda doíam, e sentia-se magoado porque o Zé não gostava dêle.
Quando chegou em casa, sua mãe lhe serviu um copo de leite e biscoitos.
“Eu vi que você fêz a volta na quadra para vir para casa”, disse-lhe a mãe.
Carlos comeu um biscoito.
“Eu estou tentando ser amigo dêsse menino chamado Zé Valente — êle é o menino que mora na outra esquina, mas êle me bateu nas costas e não me deixa passar pela rua. Êle não quer ser meu amigo.”
A mãe de Carlos ficou quieta por um momento.
“Cristo Jesus continuava sendo amigo das pessoas, sem se importar com o que fizessem para êle. Até mesmo quando seu discípulo Judas trouxe soldados para prendê-lo, Jesus ainda o chamou de «Amigo» (Mateus 26:50). Talvez você deva continuar tentando ser amigo dêle.”
Essas palavras de ânimo trouxeram um sorriso à face de Carlos. “Bem, se Jesus era amigo de Judas, então eu penso que posso ser amigo de Zé Valente”, disse êle.
Mrs. Eddy pediu a Deus para que lhe mostrasse como podia ser amiga de todos, até mesmo das pessoas que pensavam não gostar dela. Escreve ela em seu livro Miscellaneous Writings, (Escritos Diversos, pp. 11, 12): “Eu gostaria de tomar pela mão todos os que não gostam de mim, e dizer a êles «Eu vos amo e não vos faria mal, conscientemente».” E ela continua, dizendo: “Se vos causaram um grande mal, perdoai e esquecei.”
“Vou esperar e confiar em Deus para que Êle me mostre como posso ser amigo de Zé”, disse Carlos, terminando de comer outro biscoito.
Passaram-se alguns dias, mas Zé Valente não mudava de atitude. Todos os dias êle gritava: “Você não pode passar nesta rua!”
A mãe de Carlos lhe disse para não desanimar. “Você está fazendo o que é certo. Algo de bom certamente terá de acontecer.”
Ao voltar da escola no dia seguinte, Carlos estava preocupado. O que é que êle podia fazer para dar um jeito nas coisas? Então, de repente, Deus lhe deu a solução. Veio sob a forma de um versículo que êle havia aprendido na Escola Dominical da Ciência Cristã: “Resisti ao diabo, e êle fugirá de vós” (Tiago 4:7). Isso significava enfrentar o problema e não ficar com mêdo dêle, perceber que Deus é tudo e que o mal nada é.
Num relance Carlos percebeu que esgueirar-se em volta da quadra não era enfrentar o êrro. Êle não estava sendo um bom amigo de Zé Valente, permitindo que êste continuasse a ser um valentão. Decidiu-se a não fazer mais a volta, para chegar em casa.
Zé estava parado no meio da calçada com os punhos cerrados, mas Carlos caminhou diretamente a êle. E aí lhe vieram as palavras certas: “Por que é você vai bater em seu amigo?”
Zé parou surprêso.
“Eu não tenho amigos”, resmungou.
“Sim, você tem!”, insistiu Carlos, “Eu sou seu amigo”.
Zé enfiou as mãos nos bolsos e chutou uma touceira de capim que havia crescido no meio da calçada. Desanuviou a face, e olhando para Carlos perguntou: “Você tem uma tartaruga pequena?”
Carlos sacudiu a cabeça, dizendo que não.
“Eu tenho uma!” disse Zé pressurosamente. “Ela está sempre no meu quarto. Você quer vê-la?”
“Tenho de correr até minha casa e pedir licença para mamãe”, respondeu Carlos.
“Eu vou com você”, disse Zé. “Aposto que eu ganho de você na corrida até a sua casa! Um, dois, e ... já!”
E saíram na disparada. Mais tarde Carlos contou para sua mãe: — “Sabe, o Zé ganhou a corrida, mas eu ganhei um amigo!”
Sucedeu que, acabando Davi de falar com Saul,
a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e
Jônatas o amou, como à sua própria alma.
Despojou-se Jônatas da capa que vestia e a deu
a Davi, como também a armadura, inclusive a
espada, o arco, e o cinto.
I Samuel 18:1, 4