Quando adolescente, eu gostava de ficar sentado sozinho no quintal de nossa casa, nas calmas noites de verão. Havia uma cálida sensação de paz e eu ficava pensando, especialmente no futuro. Aqueles eram momentos especiais, ocasiões de avaliar e ponderar as coisas sem a pressão, ou mesmo a carinhosa preocupação, dos pontos de vista alheios.
Desde então, aprendi a apreciar uma forma diferente de quietude, ainda mais enriquecedora. Embora eu achasse aqueles momentos no passado confortadores e talvez tivesse tido, ocasionalmente, alguns pensamentos elevados, agora vejo o quanto é mais valiosa, e, mesmo, indispensável, a calma espiritual, a comunhão com Deus.
Alcançamos temporária sensação de alegria e conforto ao pensarmos nas coisas que nos agradam e nos fazem sentir valiosos. Isso pode ser muito bom, mas o pensamento humano, por si, nunca fica de todo satisfeito, pois percebe limitações; tem dúvidas; se enfada. Vê a vida mais como o resultado de circunstâncias e no fim à mercê de doença e decadência. O conceito humano acerca da realidade não oferece nenhuma esperança duradoura, por mais promissora que às vezes pareça.
Ora, a vida é mais do que meramente aquilo que a percepção humana discerne e o raciocínio humano conclui. Tem de ser, se Deus existe e é bom. Tem de ser, se Deus ama Sua criação e cuida dela. Há uma realidade que transcende o quadro, às vezes desolador, que confronta a humanidade.
Ainda que não saibamos disso, aquilo pelo que de fato ansiamos é discernir esta realidade. Necessitamos daquela percepção das coisas que provém de momentos de calma comunhão com o único Deus. Isto não constitui uma forma de escapismo; é um meio de discernir a verdade em seu sentido mais profundo, em sua natureza real, espiritual. “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” Salmos 46:10., é como o Salmista representa o que Deus diz.
Sem esta quietude espiritual, tendemos a aceitar a ilusão de que Deus esteja ausente, a aceitar a noção precária de que o mal seja um poder consciente capaz de exercer autoridade sobre pessoas e nações. Descurando de renovar nossa visão por meio da oração, achamos que o infortúnio acidental vem a ser natural. A doença passa a parecer um fato obstinado e o pecado, inerente ao homem. Por outro lado, em resultado de oração iluminada, o infortúnio, a doença e o pecado diminuem porque são curados.
Deus, o Amor, não criou o homem sujeito a forças malignas. A sabedoria infinita nunca teve o intuito de que alguns deveriam sofrer, e outros, prosperar. A crença de que Ele o tenha feito é um conceito errôneo. O homem de Deus (o que nos inclui a todos) é, neste momento, sadio e está sendo bem cuidado. Seu ser não é carnal; não está vivendo de modo precário num mundo material caótico. O homem é a semelhança espiritual de Deus, mantido na perfeição estabelecida por seu criador. Longe de ser apenas otimismo, esta é a realidade divina, realidade que nossos olhos e ouvidos talvez neguem, mas que tem de existir, e de fato existe, porque Deus é onipotente — é Espírito infinito e onipresente. Temos, porém, de discernir esta verdade pela oração.
A Sra. Eddy diz: “Pensa-se mais em ilusões materiais do que em fatos espirituais.” Miscellaneous Writings, pp. 7–8. A oração, pela qual prestamos atenção aos pensamentos sanadores e puros de Deus, nos habilita a entender os fatos espirituais. Dá-nos a percepção da realidade divina, na qual o homem fica intocado do mal, na qual o mal não existe. Habilita-nos a perceber que esta é a verdade e que a verdade tem de manifestar-se de modo tangível em nossa vida.
Tendemos, muitas vezes, a concentrar-nos na ilusão, naquilo que está errado e não quer desaparecer, na falta de solução. Concentramo-nos na ilusão de que o Amor esteja ausente, de que não haja esperança para o homem. Mas esse enfoque não provê remédio (como descobri em várias ocasiões!). O que de fato nos ajuda é aquietar o pensamento do mortal, com a oração. Então, vemos mais claramente que aquilo que o sentido físico relata, não é a história completa. Na verdade, não é nem um pouco acurada, porque ao sentido físico não é possível ver Deus ou o que Deus faz. Não discerne a realidade imediata do cuidado divino.
A visão enaltecida de Cristo Jesus tornou possível suas obras. Por discernir o homem desde um ponto de vista espiritual — como a semelhança imaculada de Deus — Jesus pôde reconhecer a fraudulência do sofrimento e trazer à luz, pelas curas, a realidade da perfeição outorgada ao homem por Deus. Percebeu na harmonia o fato onde a desarmonia parecia irremovível, o que fez grande diferença. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “Jesus orou; retirou-se dos sentidos materiais para retemperar o coração com perspectivas mais luminosas, perspectivas espirituais.” Ciência e Saúde, p. 32.
O sentido materialista e terrenal das coisas está convencido de que a vida começa e termina, de que a existência é estritamente física. Ora, não há justiça nem esperança nessa visão. Felizmente, as circunstâncias podem ser melhoradas, ainda que aos poucos, graças a nossos momentos de quietude, de nossa profunda percepção de que a verdade espiritual é a única realidade da existência. O quadro pode ser alterado quando ouvimos o que Deus nos diz acerca de Sua criação. Isto é verdadeiro, quer o desafio seja individual quer seja de âmbito mais amplo. E temos Jesus como nosso Modelo. O Mestre não previu que tudo seria fácil para a humanidade, mas mostrou-nos o remédio para todos os males pela sua adoração ao único Deus, o Espírito infinito.
Quando observamos o mundo, vemos inúmeros desafios: desde ameaça nuclear até desabrigo, fome, doenças. Por onde começar a atacá-los? Pela quieta oração chegamos a perceber que Deus não deixou de ser Deus; que Deus é bom e onipotente e está presente em toda parte. É-nos possível afirmar, com convicção, que o homem não é um mortal capaz de ser vitimado, mas é a imagem espiritual de Deus, bem cuidada, sadia e satisfeita. Conseguimos perceber que o que os sentidos afirmam sobre o homem não é a palavra final, não tem nenhuma autoridade. Deus é a autoridade, e o bem-estar de Sua criação é um fato perpétuo e irreversível. Nas palavras do Salmista, podemos escutar “o que Deus, o Senhor, disser, pois falará de paz ao seu povo e aos seus santos” Salmos 85:8.. E “muito pode ... a súplica do justo” Tiago 5:16..
Os Cientistas Cristãos não ignoram um problema nem ficam apenas no desejo de que se vá. Adoram a Deus e dão testemunho do que Deus de fato criou. E os resultados, ainda que modestos às vezes, atestam a validade dessa perspectiva.
Por vezes haverá ocasiões em que nossos momentos calmos envolvam luta; em que se fará necessário esforço vigoroso para eliminar do pensamento os elementos do materialismo, as sugestões diabólicas que pretenderiam alojar-se na consciência humana. Ora, nossos esforços valem a pena, como Jesus o provou no deserto, quando, após repreender o diabo, “vieram anjos, e o serviam” Mateus 4:11..
Com o fluxo de acontecimentos em nossa vida, quiçá pareça sobrar pouco tempo de ficar quietos. Estes momentos de oração são, porém, preciosos. São momentos de quietude e, ainda mais importante, de vislumbres da realidade.
 
    
