Já pensou você alguma vez na natureza abnegada da cura cristã, tal como a demonstra a Ciência Cristã? É fácil compreender por que o amor abnegado faz parte integral da vida de quem está disposto a devotar seu tempo — parcial ou integralmente — à prática pública da cura. A pessoa precisa demonstrar aquele amor cristão que conforta, e precisa estar à disposição imediata do paciente, quando recebe um chamado.
Na demonstração da cura cristã genuína, no entanto, o amor abnegado por parte de quem está em busca de ajuda é igualmente importante. Diz a Sra. Eddy na primeira página do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde: “A oração que reforma o pecador e cura o doente é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado.” Ciência e Saúde, p. 1.
Você talvez pergunte o que tem “amor abnegado” a ver com a cura de um estado desarmonioso à sua frente. Volver-se alguém a Deus em busca de cura, não bastará isso para indicar amor abnegado e para haver cura?
Sim, às vezes basta, mas no mais das vezes temos de examinar quais são os motivos pelos quais nos volvemos a Deus. Motiva-nos apenas o desejo de ficar livres de uma situação dolorosa? Almejamos somente o conforto na matéria, em vez de o crescimento espiritual? Alimentamos o desejo de obter o que queremos, e quando o queremos? Perseguimos outros propósitos que nos satisfazem o eu? Esses tipos de motivação sempre nos levam a buscar, nos sentidos físicos, as informações sobre o desenvolvimento de uma cura, em vez de buscá-las no sentido espiritual. Em outras palavras, em vez de nos volvermos a Deus para conhecer o verdadeiro estado do homem, tendemos a perguntar: “Houve modificação nas condições físicos? Estamos recostados mais comodamente na matéria?”
A maneira de pensar assim orientada de acordo com a matéria não constitui a Ciência genuína do Cristo como Jesus a praticava. Na Ciência Cristã, a cura sempre ocorre em vista de uma modificação na consciência individual, e não depende, na realidade, do que a matéria diz. É um ceder do conceito falso, mortal, acerca do homem, dando lugar a uma compreensão mais ampla da identidade espiritual e verdadeira do homem como o reflexo de Deus. Esse reconhecimento da natureza espiritual do homem se faz, então, representar em nossa experiência como harmonia e paz, seja por um estado físico que se corrigiu, ou por relações humanas mais harmoniosas, ou por alguma necessidade suprida.
Como a verdadeira cura resulta da consciência espiritualizada, nossos motivos ao buscar a cura espiritual têm de ser elevados a um ponto mais alto do que as meras considerações daquilo que nós queremos obter. À medida que nos volvemos a Deus, vemos a finalidade mais ampla, de glorificá-Lo em cada pensamento e ação. Nosso desejo mais elevado deve ser o de assemelhar-nos mais ao caráter cristão. Adquirimos esse caráter cristão ao assumirmos um compromisso para com Deus. Quando deixamos atrás a crença egocêntrica de que somos mortais agindo com mentes separadas de Deus, e à medida que alcançamos a verdade acerca de Deus e Sua idéia espiritual, isto é, o homem, a cura se torna inevitável. Nada pode detê-la. Deus é Tudo-em-tudo, e o homem como Sua imagem e semelhança incorpórea jamais pode ser separado, nem por um instante, de sua origem. Essa unidade de Deus e o homem, quando compreendida, se manifesta na experiência humana como harmonia, paz, controle constante pela lei divina. O Salmista descreveu belamente essa atividade sanadora, quando disse: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.” Salmos 37:5.
Quando esse compromisso para com Deus se torna evidente em nosso desejo abnegado de ser melhores cristãos, Deus é glorificado aqui e agora em nossa experiência. Na realidade, a própria cura testifica essa glória! Demonstramos, até certo ponto, o significado da interpretação espiritual de uma parte da Oração do Senhor, como aparece em Ciência e Saúde: “O Teu reino já veio; Tu estás sempre presente.” Ciência e Saúde, p. 16. O homem está constantemente dando testemunho da totalidade e da bondade de Deus!
Tive uma experiência com a qual posso ilustrar essa natureza abnegada da cura. Numa ocasião fui acometida de muita dor, e volvi-me a Deus em busca de verdades e de inspiração acerca do corpo e da identidade verdadeiros. Em minha oração, inverti — mentalmente neguei — os sintomas físicos, com a verdade da identidade espiritual do homem. Entretanto, apesar de eu apegar-me à verdade de que o homem está em unidade com Deus e de que o homem é constante e consistentemente perfeito, e a perfeição é inteiramente espiritual, não tive alívio da força hipnótica da dor. Enquanto eu continuava a volver-me de todo o coração a Deus em busca de Sua orientação, fui procurar referências bíblicas sobre o que Jesus dissera a respeito do perdão. Essa inclinação era natural, pois havia pouco tempo eu estivera envolvida numa situação na qual julgava que me trataram injustamente, e lutara com a necessidade de perdoar sinceramente a outra pessoa envolvida no caso.
Enquanto eu estava lendo acerca da cura do homem paralítico, por Cristo Jesus, fiquei surpresa diante da declaração de Jesus àqueles que estavam observando a cura: “Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados ...” Mateus 9:6. Tornou-se-me de repente claro que a autoridade para perdoar era de fato uma qualidade de Deus, refletida. Visto sob esse ângulo, o ato de perdoar não precisa vir precedido de uma luta para absolver alguém de uma ofensa que, cremos, cometeu contra nós. Realmente não nos resta outra escolha senão a de demonstrar perdão, devido à própria natureza de nossa identidade espiritual. Quando percebi que nisso não havia uma luta pessoal difícil, e que eu nada perderia de real se abandonasse a autojustificação, a dor cessou e senti-me livre.
A cura, porém, não se resumiu nisso!
Logo depois de eu haver alcançado a paz, enfrentei de novo um problema físico agressivo. Prontamente volvi-me a Deus, abrindo o coração a uma compreensão mais ampla de Seu amor infinito para com o homem, e comecei a dar atenção ao que dizia a “exposição científica do ser” acerca de Deus e do homem. (Essas palavras, que aparecem na página 468 de Ciência e Saúde, são lidas ao final de todos os cultos dominicais nas igrejas da Ciência Cristã.) Começam: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-em-tudo.”
Essa verdade poderosa expandiu ainda mais o que eu já começava a entender sobre o poder sanador inerente ao perdão. Comecei a compreender que o homem nunca teve um eu mortal suscetível de ser ofendido por alguma pessoa ou coisa. Nenhuma faceta da identidade espiritual do homem está fora do nosso Deus perfeito, o único criador. O homem perfeito jamais, por nenhum momento, reside na matéria. Praticar o verdadeiro perdão, em seu mais amplo sentido espiritual, é ver a nós mesmos e ao nosso próximo como Deus realmente nos criou. Então o poder de Deus, poder sanador, transforma nossa experiência humana, e Deus é glorificado à medida que Sua ternura e amor debelam as trevas do medo, do ódio, da culpa, e assim por diante. Percebemos que o homem, o qual em sua própria natureza está constantemente glorificando a Deus, não poderia, por um instante sequer, aceitar a crença de que houvesse ofensor ou ofendido.
Com a paz e a alegria dessa cura, tomei humildemente consciência do amor infinito de Deus. O que começara como um problema físico desagradável, terminou com um enaltecedor vislumbre da eterna presença de Deus e de Seu terno poder. E fiquei curada!
Em seu livro Unity of Good a Sra. Eddy escreve: “Qual é o ponto cardeal que distingue meu sistema metafísico? É este: que, ao reconhecer a irrealidade da doença, do pecado e da morte, demonstrais a totalidade de Deus. Essa diferença separa inteiramente meu sistema de todos os outros.” Un., pp. 9–10.
Consola-nos saber que a cura sempre ocorre quando esse pensamento nos guia. Que maior satisfação podemos ter, senão a de saber que nosso único propósito é glorificar a Deus?
 
    
