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A unidade espiritual e a paz mundial

Da edição de setembro de 1986 dO Arauto da Ciência Cristã


Provavelmente, os maiores inimigos da paz — a nossa e a do mundo — são o ódio, as dissensões pessoais e o desentendimento. A tentação de apartar-se do amor parece tão persistente e difundida que é necessário trabalharmos continuamente para livrar-nos desse rancoroso mal. E é exatamente essa a exigência que se faz aos membros da Igreja de Cristo, Cientista. No Manual de A Igreja Mãe a Sra. Eddy escreve: “Nem a animosidade nem o afeto puramente pessoal devem ditar os motivos e os atos dos membros de A Igreja Mãe. Na Ciência, só o Amor divino governa o homem, e o Cientista Cristão reflete os suaves encantos do Amor, pela repreensão do pecado, pela verdadeira fraternidade, caridade e perdão.” Man., § 1° do art. 8°.

É lógico que essa advertência inclui não só as grandes e óbvias animosidades — o ódio impetuoso, o preconceito escandaloso, o amargo antagonismo — mas também o desamor, como o ressentimento ardente, os resmungos da justificação própria, a impertinência indignante ou a mera impaciência, a irritabilidade ou a obtusa insistência em que as coisas devem ser feitas de determinado modo.

Tudo isso contribui para os conflitos e a infelicidade. Perturba a paz das famílias, das comunidades e das nações. E, por acaso, não são esses traços sedutores e tentadores que quase sempre põem a culpa nos outros? “Ele é tão cabeça-dura.” “Por que ela não pode ser mais organizada?” “Eles simplesmente não compreendem.” Nunca admitimos que nós é que erramos.

Mas, todos sabemos que, às vezes, somos nós os culpados. É da natureza do mal lançar uma cortina de fumaça tão espessa quanto possível, no afã de nos impedir de detectar a raiz do problema e de resolvê-lo. Não raro é a hostilidade, a falta de compaixão, o sentimento de superioridade de nossa parte, o que precisa ser curado.

E esses podem ser curados, ao compreendermos melhor a verdadeira natureza de Deus e do homem. Começamos por ver que a animosidade não é, nem um pouco, de nossa propriedade. É fantasia da mente carnal, daquela mentalidade impostora que quer convencer nos de que o homem é egocêntrico e um poço de ódio.

Exatamente o oposto é que é verdadeiro. O homem reflete Deus. Não podemos sentir ou conhecer nada que Deus não sinta ou conheça, porque, em verdade, somos a expressão pura de Seu ser, Sua imagem e semelhança exatas, como no-lo diz a Bíblia.

A resposta à animosidade reside nisso, nessa unidade espiritual de Deus e Sua família universal. Logicamente, para usufruir da paz temos de despertar e reconhecer mais plenamente que essa unidade existe; precisamos ver que cada um de nós, em verdade, coexiste perpetua e diretamente com Deus, e que o Seu amor envolve com vigoroso laço a cada um de nós individualmente em Seu cuidado. Talvez precisemos montar guarda valentemente e não acreditar que a animosidade possa ser real, quer para nós quer para outrem, sendo, nas torres de vigia de nosso pensamento, atalaias adestrados contra esse invasor.

Na medida em que realmente tivermos fome e sede da verdade acerca do ser do homem, que cedermos a essa verdade e a vivermos, observaremos que as diversas formas de ódio — grandes ou pequenas — desaparecem de nossa vida. Por fim, o discipulado prático do cristianismo — o obedecer aos mandamentos de nosso Mestre, Cristo Jesus — abafará e extinguirá o fogo da animosidade. Comprovaremos nossa capacidade de exultar confiantemente na paz inquebrantável que Deus dá — embora algum torvelinho emocional pretenda abalar as próprias bases de nossa existência. Isaías assegura-nos: “Os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o Senhor, que se compadece de ti. ... Serás estabelecida em justiça.” Isaías 54:10, 14.

O mundo, no entanto, prefere não se voltar a Deus na busca pela paz. Tem uma resposta “mais simples”. Diz: “Se pudéssemos chegar a um acordo a respeito das coisas, encontrar um ponto comum, então tudo estaria bem. As pessoas cessariam de odiar-se mutuamente.” Ainda que sejam bem-intencionadas, essas opiniões tendem a edificar sobre a areia movediça da afinidade e da afeição pessoais.

Certamente devemos encorajar os esforços honestos de aproximar pessoas da mesma índole, visando estabelecer relações mais amistosas e cordiais; mas temos de ver que a simples proximidade humana — ou seja, a mera compreensão mútua e os tratados políticos — se desprovida de uma base espiritual, não pode produzir a paz duradoura. Mesmo que se consiga persuadir as pessoas a resolverem suas diferenças, os sentimentos esfriam, as alianças enfraquecem, os pontos de vista e metas comuns vêem-se superados.

Os alinhamentos e as alianças pessoais mudam. Deus não muda. E, a menos que a base da união seja Deus e não o acordo pessoal, nossos esforços para encontrar paz terão êxito apenas temporário. Assim, não foi acidentalmente que a Sra. Eddy comparou o “afeto puramente pessoal” e a “animosidade” no trecho do Manual mencionado no início deste artigo.

A seu modo, o afeto puramente pessoal pode fazer-se obstáculo à paz, tanto quanto a animosidade. Por que razão conduta aparentemente tão inocente deveria ser tão destrutiva? Porque, de fato, toma uma forma sutil de endeusamento.

O afeto puramente pessoal envolve uma adoração falsa, é a adoração de pessoas e não a de nosso Pai celestial. Argumenta: “As pessoas, e não Deus, me dão prazer. As pessoas, e não Deus, são a origem das coisas boas. O barômetro de minha felicidade sobe ou desce, conforme as pessoas me tratam.”

Inocente? Sem importância? Dificilmente. A Sra. Eddy emprega linguagem forte ao dissecar o mal do afeto puramente pessoal, e aponta, tanto a indivíduos como à humanidade em geral, os terríveis efeitos de tolerá-lo. Escreve: “Os que chamamos amigos parecem adoçar o cálice da vida e enchê-lo com o néctar dos deuses. Levamos o cálice aos lábios; mas ele nos cai das mãos e faz-se em pedaços ante nossos olhos.” E continua, logo adiante, no mesmo artigo: “E, por que não seguimos desfrutando dessa sensação efêmera, com suas deliciosas formas de amizade, com as quais os mortais se educam na satisfação dos prazeres pessoais e se exercitam numa paz ilusória? Porque esse é o grande e único perigo no caminho que conduz ao alto. Um falso conceito do que constitui a felicidade é mais desastroso para o progresso humano do que tudo o que um inimigo ou uma inimizade possa impor à mente ou imprimir nos seus propósitos e realizações, a fim de obstruir-lhe as alegrias da vida e aumentar suas penas.” Miscellaneous Writings, pp. 9–10.

Sutil? Sim. Por isso, ao “grande e único perigo no caminho que conduz ao alto” devemos dedicar atenção urgente e constante. Não admira que a instrução do Manual continue com estas palavras: “Os membros desta Igreja devem vigiar e orar diariamente para se livrarem de todo o mal, para se livrarem de profetizar, julgar, condenar, aconselhar, influenciar o serem influenciados erroneamente.” Man., § 1° do art. 8°.

E, antes de pensarmos que o afeto puramente pessoal tenha pouco a ver com a paz ou com o livrar-se do mal, deveríamos considerar que a animosidade mostra-se facilmente como o outro lado da moeda em relações humanas cômodas. Quando há desavença entre amigos, irritação, o ressentimento, os sentimentos feridos podem produzir reações tão violentas quanto o ódio cego. Em escolas, negócios, comunidades, nações, ocorrem desavenças, e todos aprendem quão temporária pode ser essa “paz ilusória” do afeto puramente pessoal.

Certa vez verifiquei como é fácil — e quase inconsciente — aceitar conceitos populares errôneos a respeito de relações pessoais. Tive a felicidade de casar-me com minha melhor amiga, e nossa amizade aprofundou-se com o passar dos anos. Contudo, houve uma época em que eu me sentia descontente, porque falávamos muito pouco sobre coisas sérias. É certo que tínhamos muito em comum, gostávamos de compartilhar das mesmas atividades. Mas isso raramente levava a uma longa e profunda troca de idéias.

Depois de algum tempo, percebi que o que me aborrecia era a crença enganadora de que minha esposa e eu éramos pessoalmente responsáveis pelo crescimento mútuo, e que eu estava perdendo uma grande oportunidade. Quando vi que, pelo contrário, Deus estava realmente guiando e ensinando cada um de nós, individualmente, parei de estar ansioso. Entendi que cada um de nós podia progredir livremente, em harmonia com Deus, e desse modo ser levado a zelar pelo outro da melhor maneira.

Não quero dizer com isso que devemos encarar a amizade como uma cilada ou como algo a ser evitado. Longe disso! É apenas contra o depender de forma idolatrada de outras pessoas que a Sra. Eddy nos adverte. Ela se alegrava com as relações genuínas e ternas, com o companheirismo cristão, com o sentimento cálido de família do qual todos nós podemos gozar como filhos de nosso divino Progenitor comum.

Escreve ela: “A humanidade pura, a amizade, o lar, o amor recíproco trazem à terra um antegozo do céu. Unem as alegrias terrenais e as celestiais, e as coroam com bênçãos infinitas.

“O Cientista Cristão ama mais o homem, porque ama a Deus acima de todas as coisas. Compreende esse Princípio — o Amor.” E o que ela diz, interrogando no mesmo parágrafo, parece-me, poderia constituir uma lista de verdadeiros pacificadores: “Quem se recorda que a paciência, o perdão, a fé duradoura e a afeição são os sinais pelos quais nosso Pai indica as diferentes fases da redenção do homem ao livrar-se este do pecado e ingressar na Ciência?” Mis., p. 100.

Essas qualidades, tão simples e afetuosas, alimentadas conscientemente, trazem para nós e para os que estão ao redor de nós serenidade espiritual, felicidade e verdadeira satisfação. À medida que desenvolvemos essas características, elas auxiliam a revelar aquela profunda união espiritual que nos salva destes males gêmeos: a animosidade e o afeto puramente pessoal. O genuíno caráter cristão, cultivado, leva-nos a Deus e a relações mais harmoniosas com os demais. Abre o caminho para a paz real.

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