O medo ao mal — assaltos, tempestades destrutivas ou acontecimentos futuros — é um tirano. Brotado de ocorrência real ou de alguma suposição nebulosa, o medo pode ser algo esmagador.
Em qualquer caso, porém, o medo se origina na crença de que o homem possa estar separado do bem e assim tornar-se vítima. O antídoto ao medo é uma convicção prática e segura de que Deus, o bem, é o único poder absoluto, presente em toda situação possível. Recorrer, em oração, ao auxílio divino ecoa o conselho de Provérbios (3:25, 26): “Não temas o pavor repentino, nem a arremetida dos perversos quando vier. Porque o Senhor será a tua segurança, e guardará os teus pés de serem presos.”
“Você não tem medo de voltar para uma casa vazia?” minha amiga perguntou. Sem esperar resposta, passou a contar detalhes do encontro com um intruso que entrara em sua casa enquanto ela e a família estavam fora. Não sofreu nenhum ataque físico, mas a experiência a assustara e parecia não lhe sair da lembrança. “Tome cuidado”, advertiu-me, quando nos separamos.
E lá fui eu, a caminho de casa pelas ruas da cidade, sexta-feira à noite. Quatro quadras, sozinha. E para uma casa vazia!
Sei que minha amiga quis que seu comentário me fosse útil, que me alertasse. Mas, perturbou-me. Por um momento, o medo me dominou. Senti-me tentada a voltar para a casa dela, onde acabáramos de passar algumas horas ouvindo discos. Ir lá seria, porém, um incômodo para a família dela, já que meus pais não voltariam para casa antes da meia-noite.
Acima de tudo, aquela não seria uma solução cristã e científica.
A Ciência Cristã ensinou-me a reconhecer Deus como o Pai carinhoso e sempre presente que criou Seus filhos à Sua semelhança: espirituais, perfeitos, eternos. Também estava aprendendo que Deus é a única Mente, governando tudo. Essa compreensão agia agora serenamente em minha consciência, destruindo o medo e assegurando-me do domínio dado por Deus ao homem.
Cristo Jesus demonstrou esse domínio de modo total. Seu discernimento claro da realidade espiritual habilitou-o a permanecer imperturbável, quando o medo clamava por atenção. Muito alarmados quando uma tempestade no mar lhes ameaçava a vida, os discípulos despertaram Jesus quando este dormia na popa do barco. Quando Jesus repreendeu o vento, o mar se acalmou. A tempestade cessou. “Por que sois assim tímidos? como é que não tendes fé?” Marcos 4:40. perguntou ele.
Quer enfrentemos fortes ventos e ondas altas ou noites escuras e casas vazias, o medo provém basicamente dum conceito errado: o de que o homem possa estar alguma vez separado de Deus. Ora, podemos ficar imperturbados e não temer em proporção à nossa fé e confiança em Deus. Por meio de oração e fé absoluta no Seu poder, aprendemos a discernir a presença e a fortaleza do Amor. É possível experimentar harmonia em todas as circunstâncias. Podemos perceber que o homem, nossa identidade verdadeira, é de fato inseparável de Deus.
Assim se deu comigo. Tendo tomado a posição mental de vencer o medo com o Amor, caminhei para casa com confiança. Enquanto andava, vieram-me ao pensamento as palavras de um poema da Sra. Eddy, “A oração vespertina da mãe”. A primeira e a última estrofes dizem o seguinte:
Gentil presença, gozo, paz, poder,
Divina Vida, reges o porvir;
Susténs da avezinha o voejar,
Meu filho guarda em seu progredir.
Não mais cilada, peste ou terror
Vem oprimir o peito em aflição.
Pois Teu sorriso, a lágrima secou;
E a mãe, em Ti, seu lar e paz achou.Hinário da Ciência Cristã, n° 207.
Que poder adveio desses pensamentos, enquanto eu ponderava com atenção a profunda mensagem sanadora de cada verso! Uma calma maravilhosa se apoderou de mim. Não mais dependia da proteção de pessoas. Pelo contrário, a promessa de segurança e conforto no Amor predominaram e essa promessa trouxe-me a convicção absoluta de que a ternura e o amor de Deus abarcavam a todos.
Logo cheguei e subi os degraus que levam à porta da frente. Eu encontrara um novo conceito acerca de meu lar: não uma estrutura material num determinado endereço, mas um sentido mais espiritual de lar e de repouso celestial. Foi um vislumbre como o do Salmista, que a Sra. Eddy cita e explica em Ciência e Saúde: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa [a consciência] do [amor] para todo o sempre.” Ciência e Saúde, p. 578.
Nenhuma sugestão de mal ou de pode invadir a consciência repleta do Amor divino. Não há lugar para ruas escuras e vazias, casas vulneráveis nem momentos de ansiedade, quando percebemos a totalidade de Deus e de Seu amor. Deus é o bem sempre presente e habitamos em Deus agora e eternamente.
É ele quem forma os montes,
e cria o vento,
e declara ao homem qual é
o seu pensamento; e faz
da manhã trevas, e pisa
os altos da terra: o Senhor,
Deus dos Exércitos, é o seu nome.
Amós 4:13
 
    
