Para mim, não jogar na loteria é uma questão de atitude para com o dinheiro.
Presume-se que, tendo dinheiro suficiente para comprar tudo que necessitarem, os ganhadores de prêmios elevados não mais precisarão trabalhar, pelo resto da vida. Pelo menos, é isso o que promete, na minha terra, a propaganda da loteria. O dinheiro é automaticamente equiparado com todas as coisas boas.
Entretanto, quando os amigos me perguntam por que nunca jogo na loteria, acho difícil dar uma resposta curta e simples. Ao invés de fazer uma pregação contra os males do jogo, procuro contar o que compreendo acerca de Deus e o que Sua natureza significa para mim.
A base do que penso hoje me foi dada em lições que me são muito caras e que aprendi na infância. A mais elementar entre elas é, provavelmente, a de que Deus é Espírito infinito. Nas Escrituras, uma das declarações mais fortes, contudo mais ternas, de Cristo Jesus, é esta em que diz: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." Em minha família, meus pais esperavam que vivêssemos de acordo com o espírito dessas palavras.
Todas as pessoas indubitavelmente adoram algo. Jesus deixou claro que, se é a Deus que adoramos, o que predomina em nosso pensamento são as considerações espirituais. Aprendi, assim, com os preceitos e com o exemplo de meus pais, que as coisas como vestuário, alimento, dinheiro, carros, casas, etc. têm seu valor, mas é meu amor a Deus como Espírito infinito e meu amor ás coisas do Espírito o que dever regular minhas atitudes para com essas coisas terrenas.
Algumas pessoas talvez achem esse conceito um tanto antiquado. No entanto, fundamenta-se na verdade eterna e confiável acerca de nossa identidade real. A Bíblia diz claramente que o homem é o filho de Deus. Se o Progenitor do homem é o Espírito divino, não é lógico que o descendente de Deus, feito à Sua semelhança, deva ser espiritual? O conceito de que Deus é Espírito e a criação é espiritual se opõe diametralmente ao de um mundo biológico e material onde tudo é obra do acaso e, portanto, está sujeito ao azar. Com sua vida, com o que fez e ensinou, Jesus mostrou como podemos vencer tudo o que pretende se opor às coisas do Espírito.
A corrida incessante, atrás daquilo que o dinheiro parece proporcionar, contraria inevitavelmente nossa natureza feita à semelhança de Deus. Mas está claro que, para nos beneficiarmos dessa verdade do ser espiritual, é imprescindível haver sinceridade em nossos motivos e propósitos. Uma passagem no livro Ciência e Saúde escrito pela Sra. Eddy conseguiu muitas vezes me despertar, quando acontecia fixar o pensamento em metas estritamente materialistas: "Para nos certificarmos de nosso progresso, precisamos saber onde pomos nossos afetos, e a quem reconhecemos e obedecemos como Deus. ... Os objetivos que procuramos alcançar e o espírito que manifestamos, revelam nosso ponto de vista e mostram o que estamos ganhando."
Aprofundar os valores espirituais por meio de uma adoração mais pura de Deus, aí está o jeito de realmente "ganhar" sempre. Assim ensina a Ciência Cristã, diga o que quiser a propaganda das loterias. Ilustro o assunto com esta experiência de minha família.
Quando, há alguns anos, nos mudamos de um lado para o outro do país, ganhamos apreciável soma de dinheiro na venda de nossa casa. Pensei comigo mesmo que, com aquele dinheiro, eu ia poder deixar de trabalhar durante um ano inteiro, enquanto procurássemos novo lugar para morar. Logo, porém, comecei a ter problemas com esse estilo de vida folgado.
Aquele modo de viver não era o que eu tinha imaginado. O que eu precisava mesmo era uma direção e um propósito. Além disso, havia medo quanto à segurança de nossos fundos. Tínhamos, também, opiniões divergentes na família com relação à quantia a ser destinada à aquisição da nova casa.
Quando me dei conta do que estava acontecendo, retornei aos parâmetros espirituais que, na casa anterior, nos asseguraram uma vida feliz em família. Recordei que Deus é a fonte de nossa felicidade e suprimento. E é a Deus, o Espírito divino, que adoramos.
Eu planejara tirar "férias" de atividades vitais como o trabalho e a participação na igreja. Mas depressa voltei atrás e mudei minha atitude egoísta. Comprei um terreno e construí uma casa adequada às necessidades da família. Minha mulher e eu encontramos trabalho e, com ele, crescemos tanto individualmente, que nenhum de nós teria gostado de perder o progresso associado a esse trabalho. Novamente nos envolvemos nas atividades de nossa igreja filial e na escola da localidade.
O dinheiro não é, em si mesmo, nem bom nem mau. É apenas um meio. Com quanta facilidade, no entanto, vergam sob o seu peso as nossas atitudes e os nossos valores! A Bíblia diz: "O amor do dinheiro é raiz de todos os males" (1 Timóteo). Aprendi que o amor do dinheiro pesa no sentido contrário ao do amor às coisas do Espírito.
Quando olho para minha família e relembro o progresso moral e espiritual contínuo que cada um de nós realizou nos últimos anos e vejo como a sensação de que Deus nos ama tem realmente enriquecido nossa vida em família, percebo que a riqueza é algo ao alcance de todas as pessoas. Essa riqueza não se ganha em nenhuma loteria.
