No início de fevereiro de 1866, Mary Baker Eddy, então Sra. Daniel Patterson, havia caído na rua coberta de gelo, em Lynn, Massachusetts. Sua repentina recuperação, após aquele acidente quase fatal, levou-a à descoberta da Ciência Cristã, que ela compreendia ser uma revelação de Deus.
Passados apenas alguns meses, seu marido fugiu de casa com uma de suas clientes. A mulher era casada, o marido foi atrás dos dois e trouxe a esposa de volta para casa. Alguns dias depois, essa mulher apareceu à porta da casa de Mary, pálida e perturbada. A Sra. Eddy, ao relatar esse episódio a Irving Tomlinson, anos depois, contou que ela disse à mulher:
Por que você veio aqui? Você, que me roubou o marido e trouxe desventura a meu lar tranqüilo? Você, que desgraçou a si mesma e à sua família.. .. Ela respondeu: "Eu vim pelas coisas que seu marido me disse a seu respeito. Sei que você deve ser uma boa mulher e acho que não vai me negar ajuda."
A mulher penitente explicou que o marido a trancara no quarto, deixando-o a pão e água e ela temia que ele viesse a matá-la. Com a ajuda dos criados, havia conseguido fugir, com o objetivo de implorar à Sra. Patterson que intercedesse por ela junto ao irado marido. Mary foi falar com o homem. Ele estava fora a negócios, naquele dia, e ela lhe deixou uma carta. Naquela noite, ele veio perguntar à Sra. Patterson se realmente ela conseguia perdoar ao seu próprio marido e à mulher:
Eu respondi que lhes perdoava a ambos e pedi que ele também lhes perdoasse. Ele foi embora e eu continuei pensando nele. Só sei que fui a Deus em oração, em favor daquele marido e de seu lar. Algum tempo depois, fiquei sabendo que a mulher já estava novamente comendo à mesa, pois o marido injuriado lhe havia perdoado e seu lar voltara a ter harmonia. Anotações de Irving C. Tomlinson, Departamento de História da Igreja d'A Igreja Mãe.
O mesmo não pode se dizer do lar de Mary. Embora ela tivesse aceitado Daniel de volta, ele voltou a abandoná-la alguns meses depois. Quando tentou voltar uma vez mais, ela lhe disse que não era possível.
Junto com o marido, foi-se o pouco dinheiro com que podia contar. Embora na época não tivesse outra escolha, foi difícil para Mary Patterson viver à custa da benevolência dos amigos. Ela fora educada no princípio de que " 'a caridade mais nobre é impedir que um homem aceite a caridade.' " Mary Baker Eddy, Miscellaneous Writings, p. ix. Somente no ano de 1866, ela mudou de moradia dez vezes.
Para seguir fielmente a estrela d'alva da cura cristã, os que querem trilhar o caminho indicado pelo Cristo, os que almejam alcançar um entendimento prático da cura divina, enfrentam exigências realmente extraordinárias. Mary, todavia, havia aprendido no evangelho que "ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus". Lucas 9:62. Abigail, sua irmã mais velha, escreveu, oferecendo-lhe casa e renda fixa, mas acrescentou: "Peço-lhe apenas uma cousa, Mary, que você desista dessas idéias que ultimamente têm ocupado seu pensamento, que você freqüente nossa igreja e desista dessa teoria da cura divina." Já uma vez Mary fora obrigada a abrir mão daquilo que lhe era mais caro, seu próprio filho. Naquela ocasião, ela não tivera nem a força nem a compreensão para se opor. Desta vez, com a revelação divina firme em sua mente, já apreendendo o conceito recém-nascido da cura cristã, ela respondeu: "Eu preciso fazer a obra que Deus me ordenou." Sibyl Wilbur, The Life of Mary Baker Eddy (A vida de Mary Baker Eddy), (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1976), p. 134. Não só ela se sentia divinamente impelida a buscar uma compreensão demonstrável daquilo que lhe fora revelado, mas também era-lhe imperioso transmitir essa compreensão a outros.
Durante a maior parte de sua vida adulta, Mary havia procurado a compreensão de como curar males físicos, como obter a cura completa, não só melhoras. Com o estudo da homeopatia e dos métodos de Phineas Quimby, estes baseados na mente humana, ela se convencera, a principio, de que todas as doenças são de natureza mental e de que seu tratamento reside apenas na mente. Agora, estava compreendendo que a Mente necessária no tratamento da doença deve ser a Mente divina, Deus, e mais nenhuma. E o que tornava a cura divina superior a qualquer outro método, era que não somente curava o mal físico, mas também melhorava o paciente moralmente.
Os amigos e conhecidos achavam difícil hospedar Mary Patterson por um longo período. Embora gostassem da doçura de sua obra sanadora, era-lhes difícil digerir as idéias revolucionárias que ela ansiosamente lhes transmitia. Ela, por sua vez, debatia-se com a pergunta: "Como podem mortais pecadores provar que um Princípio divino cura o doente, bem como governa o universo, o tempo, o espaço, a imortalidade, o homem?" Mis., p. 380. A fim de responder a essa pergunta, passava horas a fio estudando a Bíblia, escrevendo o que aprendia, a partir da perspectiva da revelação. Fez isso na maior parte de seu tempo, no período de 1866 a 1870.
Mary diria, mais tarde:
... parecia que seriam necessários séculos de crescimento espiritual, para eu poder elucidar ou demonstrar o que havia descoberto: mas um imperioso pedido de socorro, que eu não procurara, impeliu-me a iniciar imediatamente esse trabalho estupendo, e ensinar a Ciência Cristã ao primeiro aluno.Ibidem.
O "pedido de socorro" veio sob a forma de uma criança com o dedo infeccionado e inflamado. Sibyl Wilbur, na biografia The Life of Mary Baker Eddy (A vida de Mary Baker Eddy), descreve detalhadamente a cura de Dorr Phillips, ocorrida da noite para o dia (pp. 140—141). Quando a Sra. Patterson se ofereceu para curar-lhe o dedo, fê-lo prometer que não faria nada, nem deixaria ninguém fazer nada naquele dedo, se ela começasse o tratamento. A confiança radical e inteira na graça sanadora de Deus havia se tornado seu padrão ético. Serviria de base para aquilo que ela viria a ensinar a outros, seria o único padrão da cura cristã.
Anos mais tarde, a Sra. Eddy disse a seus alunos que "nos primeiros quatro anos [após a descoberta da Ciência Cristã] meu trabalho de cura não foi reconhecido, embora eu curasse constantemente." Reminiscências de Abigail Dyer Thompson, História da Igreja. Existem, todavia, registros de algumas das curas realizadas por ela no verão e outono de 1866: George Norton, de sete anos, que havia nascido com os pés tortos e nunca havia andado, Ver Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Discovery (Mary Baker Eddy: Os anos da descoberta), (Boston: The Christian Science Publishing Society, publicado originalmente por Holt, Rinehart and Winston, 1966), p. 201. a mãe de Dorr Phillips, Hannah, que deslocara a bacia, Documento da História da Igreja: A11070. um moço que delirava de febre, Wilbur, pp. 142—143. e James Wheeler que, como Dorr, estava com uma infecção num dedo. A Sra. Eddy escreveu sobre a cura de James Wheeler, anos depois: "No dia em que seu médico propôs a amputação do dedo, eu pedi que me deixassem tratá-lo. Deram-me permissão e, com um único tratamento mental o dedo foi curado. ..." Documento da História da Igreja: A10224. Ela contou a Irving Tomlinson alguns detalhes dessa cura:
[O Sr. Wheeler] se opunha à Ciência, mas sua esposa era simpatizante. ... Ela já havia me contado a respeito do sofrimento dele e havia me pedido para ajudá-lo. Ele já estava de chapéu na cabeça, pronto para subir no carro que o levaria ao cirurgião. Eu lhe perguntei: "O senhor me permite ficar aqui por alguns minutos antes de o senhor it. ...?" Ele respondeu: "Se a senhora não demorar, está bem." Recolhi-me, em pensamento, uns cinco minutos e logo ele disse: "Não sinto nem um pouco de dor nem inflamação no dedo." ... Meia hora depois, após esfregar o dedo e dizer: "Não dói nem um pouquinho", ele saiu, subiu no carro e foi cuidar de seus negócios. Nunca mais teve problemas com o dedo, depois disso. Anotações de Tomlinson, História da Igreja.
No outono daquele ano, a Sra. Patterson conheceu Hiram Crafts e sua esposa, em Lynn. Hiram foi seu primeiro aluno. Ela se mudou para East Stoughton só para dar-lhe aulas. Embora ainda possuísse as anotações feitas a partir das conversas com Phineas Quimby, não foram essas que ela utilizou para lecionar. Ela usou a Bíblia. Para dar aulas a Hiram, escreveu uma explicação dos capítulos 14 a 17 do Evangelho de Mateus. Por exemplo, sobre Mateus 15:2, onde os fariseus perguntaram a Jesus por que os discípulos quebravam a tradição e comiam sem lavar as mãos, ela comentou:
Pergunta do Erro, questionando por que a Verdade abandonou a tradição dos anciãos, já que não toma nenhuma forma de matéria para curar os doentes.
Para Mateus 15:24, onde Jesus diz aos discípulos que fora enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, seu comentário é:
Então a verdade respondeu: "Eu fui enviado pela sabedoria para salvar aquelas idéias tão desviadas, que estão perdidas no erro, pois são essas que a ciência veio salvar." Documento da História da Igreja: A10062b.
Já em 1867, Mary Baker Eddy começou a trabalhar naquilo que se tornaria um texto para suas aulas e que acabou sendo incorporado à terceira edição de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, constituindo o capítulo "Recapitulação".
Na época em que morava em East Stoughton, a Sra. Patterson curou James Ingham de tuberculose. O testemunho dele apareceu na primeira edição de Ciência e Saúde (p. 338). Ele termina seu depoimento assim:
Por experiência própria, sou levado a crer na ciência pela qual ela não só cura o doente, mas também explica como manter-se em saúde, ... suas curas não são o resultado da medicina, mediunidade, ou mesmerismo, mas a aplicação de um Princípio que ela compreende.
Na primavera de 1867, o casal Crafts e a Sra. Patterson mudaram-se para Taunton. Ali, Hiram anunciou seus serviços como sanador. Anos mais tarde, ele escreveu sobre o ensino recebido da Sra. Eddy:
A Sra. Eddy nunca me instruiu a esfregar a cabeça, ou o corpo do paciente nem a fazer qualquer tipo de manipulação. Mas quando era espírita, eu costumava utilizar água e esfregar a cabeça, os membros e o corpo. Por isso, às vezes, quando estava estudando com ela, eu tentava fazer o mesmo, mas sem contar nada a ela. ...
Nós não usávamos nada além do Novo Testamento, ela não usava nenhum tipo de manuscrito, a não ser depois que eu já estudava com ela havia seis meses. Documento da História da Igreja: 23 de fevereiro de 1902.
Hiram acabou abandonando sua crença no espiritismo, mas a esposa dele não conseguiu. A Sra. Crafts começou a ter ressentimento contra a professora do marido, e Mary viu que seria prudente mudar-se. Mas antes disso, fez uma visita a Sanbornton Bridge, em New Hampshire. Durante sua breve permanência ali, ela curou sua sobrinha, Ellen Pilsbury, que estava morrendo de enterite, tendo sido desenganada pelo médico da família. Peel, Discovery, pp. 215–216. Todavia, nem sua visita nem essa cura ajudaram a acalmar a oposição da família à sua "ciência".
Sibyl Wilbur, em sua biografia, comparou essa oposição familiar à resistência que Jesus encontrou na cidade de Nazaré. "Não é este o filho do carpinteiro?" perguntavam eles. "Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs?" A Sra. Eddy ficou sensibilizada com essa referência e confirmou a Irving Tomlinson: "Sim, foi assim mesmo." Wilbur, p. 165; anotações de Tomlinson, História da Igreja. Efetivamente, essa visita pôs fim às relações entre Mary e as irmãs. Também um irmão recusou sua ajuda e logo faleceu. Ela voltou para Taunton por breve período e depois encontrou abrigo na casa de Mary Webster, em Amesbury. Ali, ela conheceu seu segundo aluno, Richard Kennedy, de dezenove anos.
Durante sua estada com Mary Webster, a Sra. Patterson começou a escrever uma explicação do livro do Gênesis, versículo por versículo. Na introdução dessa obra, ela fala da "ciência" que havia descoberto: "... nós ... encontramos a abençoada declaração dessa ciência contida na Bíblia, e sua plena demonstração na expulsão do erro e na cura dos doentes." Documento da História da Igreja: A09000. Ao escrever essa frase, ela primeiro colocou "cura dos doentes" antes de "expulsão do erro", mas depois trocou a ordem. O terceiro versículo do Salmo 103 confirmaria essa opção. Ela fora curada, na infância, quando seu irmão Albert lera esse salmo em voz alta para ela: "[O Senhor] é quem perdoa todas as tuas iniqüidades; quem sara todas as tuas enfermidades." Nota manuscrita da Sra. Eddy: O Livro Salmos (New York: American Bible Society, 1879), Coleção de Bíblias de Mary Baker Eddy, AA16, História da Igreja. Mary sabia que os doentes poderiam ser curados com sua "ciência" somente se esta expulsasse o erro do pensamento, tanto do sanador quanto do paciente. Também sabia que a única maneira de conseguir isso era voltando-se para Deus em oração.
