Eu Estava Com minha classe de adolescentes, na Escola Dominical, examinando a questão da eternidade. A quando remontavam nossas primeiras memórias? Eu me lembrava de uma ocasião, aos três anos de idade, em que fiquei impressionado com as enormes patas de um cavalo, e fui guindado por alguém até a sela, junto ao meu avô. Outros alunos também tinham claras lembranças de quando tinham aproximadamente a mesma idade.
Será que alguém, na classe, conseguia se lembrar de algo anterior ao nascimento? Não. Seria possível ter conhecimento de alguma coisa além desta experiência mortal? Chegamos à conclusão que sim, que seria possível, de alguma forma.
No decorrer da aula, a Bíblia nos ajudou com alguns esclarecimentos. Mais tarde. fiquei pensando no vislumbre que Jeremias teve da existência eterna, quando discerniu estas palavras de Deus: "Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações" (Jeremias 1:5). O evangelho de João registra estas profundas palavras de Jesus: "E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo" (João 17:5). Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy faz referência especifica ao fato de que há vida antes do nascimento (ver 429:18-30).
Durante nossa conversa, porém, o significado exato de se pensar em uma experiência anterior ao mento, pareceu vago e precisava ficar mais claro. A questão da preexistência não encontra resposta nas várias teorias psicológicas. Nem corresponde às várias hipóteses defendidas pela cultura espírita. A questão não é de ordem esotérica. É o cristianismo inspirado que nos dá a resposta, através do despertar espiritual impelido pelo Cristo.
Em vez de tentar nos lembrar, por meio de uma mentalidade mortal, de uma existência anterior ao nascimento, de uma história material que em realidade não ocorreu, o de que precisamos é começar a nos submeter à verdade espiritual de que a verdadeira Mente do homem, sua real substância e existência, é imortal, não mortal. Trata-se de despertarmos para o fato de que Deus é Mente e que o homem expressa essa consciência sem limites que nos capacita a conhecer o significado de "existir" anteriormente a esta aparência humana das coisas. Em vez de simplesmente descobrir uma preexistência, encontramos uma eterna coexistência uma união com Deus que nunca foi rompida. Em vez de relembrar de maneira mortal, estaremos sabendo de forma imortal.
A mente humana é incapaz de conhecer algo fora de si mesma. Sua capacidade limitada de lembrar poderia ser ilustrada da seguinte maneira: suponhamos estarmos andando por um caminho tortuoso, com mata fechada de ambos os lados. Olhando para trás, para o percurso já feito, não se vê muito bem, por causa da mata. Ao olhar para a frente, as curvas e voltas do caminho nos impedem de ver exatamente a senda à nossa frente. A memória mortal consiste em armazenar uma coleção de percepções. No caminho da vida material, o esforço pessoal de recordar assemelha-se à tentativa de manter em mente como era todo o trajeto percorrido até o momento.
Suponhamos que desejássemos ver como eram as coisas antes de nós entrarmos na trilha, ou o que é que nos espera depois que a trilha acaba. Uma opção seria mudar a maneira como estamos olhando o todo. Poderíamos subir em um helicóptero. Elevando-nos no ar, começaríamos a ver as coisas de uma perspectiva totalmente nova. Estaríamos superando as barreiras que limitam nossa visão.
Esse tipo de analogia pode pelo menos nos dar uma idéia de como pensar sobre essa questão da existência antes do nascimento. Serà que nós existíamos antes de nascer? Sem dúvida que sim. E para sermos mais exatos, nós continuamos tendo essa mesma existência que já tínhamos. Precisamos de uma mudança redical em nossa forma de pensar, de uma base mortal para a imortal. Veremos, então, a existência sob uma luz completamente diferente. A vida não é representada por uma trilha material, feita de acontecimentos passados, presentes e futuros. Damo-nos conta de que a memória, ou seja, a consciência de algo anterior à experiência humana, é muitíssimo diferente da lembrança de episódios materiais por parte da mente humana. A memória de nossa preexistência pode ser descrita melhor como sendo a expressão, de nossa parte, do conhecimento que a Mente divina, sempre presente, tem da realidade espiritual. Isso não quer dizer que a existência se torne abstrata ou sem substância. O homem existe. A substância existe. A forma, a cor e o contorno existem. Mas nós começamos a perceber, a conhecer, essa existência a partir de uma perspectiva diferente. Uma perspectiva que se origina da visão espiritual, semelhante à de Deus, o que elimina a visão mortal, material.
A capacidade de expressar esse conhecimento da realidade é inata em cada um de nós. Ela não pode ser perdida, nem nos pode ser tirada. Por exemplo, a Christian Science afirma: "Se a ilusão disser: 'Perdi a memória', contradize-a. Nenhuma faculdade da Mente se perde" (Ciência e Saúde, p. 407).
Acima e além de uma mente pessoal
No trecho que acabamos de mencionar, não está a Sra. Eddy falando de algo maior do que a capacidade que uma mente pessoal teria de se lembrar de acontecimentos? Ela está falando de uma "faculdade da Mente". Mente é um sinônimo de Deus. Essa declaração aparece com o título marginal: "Memória imortal". A Sra. Eddy continua: "Na Ciência, todo ser é eterno, espiritual, perfeito, harmonioso em toda ação." Depois adverte: "Esteja presente em teus pensamentos o modelo perfeito, e não seu oposto desmoralizado."
Ponderar o "modelo perfeito", ou seja, o ser imortal, elevar-se acima do caminho que simboliza uma vida de eventos mortais, capacita-nos a pensar com mais inteligência sobre aquilo que estava "acontecendo" antes do nascimento. Ao alcançarmos uma visão mais elevada e mais espiritual, esse modelo puro torna-se, não só presente no pensamento, mas a própria substância de nosso pensamento. Com isso, acabamos conhecendo melhor, e portanto expressando, em maior proporção, o Ser real, eterno.
A vida material de hoje não é alguma forma de reencarnação de uma vida material passada. Nem é uma interrupção no eterno agora de nossa vida espiritual genuína. Poderíamos considerá-la essencialmente como uma percepção mortal, sendo que sua limitação, pecado, doença e morte constituem drásticos mal-entendidos daquilo que a vida realmente é, sempre. A mente humana nunca conseguirá definir adequadamente a natureza da existência anterior à experiência chamada nascimento. Por quê? Porque a própria mente humana é uma falácia; não consegue enxergar além de suas próprias crenças autolimitadoras.
A verdade espiritual não é real para a mente mortal. Essa mente suposta diz que a realidade começa na matéria, é definida pela matéria, e termina na matéria. Mas essa é uma falsidade. O Espírito é a realidade. O ser genuíno é reconhecido do ponto de vista do sentido espiritual, não do sentido material; do ponto de vista da Mente imortal, não da mente mortal. O que é que poderemos conhecer da nossa existência anterior ao nascimento, se virmos as coisas no contexto de uma memória eterna, baseada no puro sentido espiritual? Nossa visão não estará presa a um parâmetro material e à dimensão tempo, mas sim estará lastreada no ponto de vista mais elevado de um agora espiritual, sem medidas de tempo. Em outras palavras, aquilo que existia "antes do nascimento" é esse eterno agora. A consciência divina, imortal vê toda a existência a partir da perspectiva da realidade de Deus sempre presente. A presunção de um ser baseado em limites perde seu significado, ao descobrirmos o Ser sem limites.
As verdades espirituais começarão a ficar claras, pois nossa consciência real vem à luz.
Quando estamos dispostos a pensar no homem como alguém que expressa a Mente infinita, Deus, começamos a discernir que a existência real, no fim das contas, não é limitada. Em realidade, não está confinada a uma série de eventos mortais. Aquele pequeno conjunto de percepções materiais, colecionadas em relativamente poucas décadas, é uma interpretação errônea de nosso ser real, sempre presente. Não podemos chamar a mortalidade de realidade outorgada por Deus. Aquilo que parece tão real, esse espaço de tempo que começa e termina na matéria, perde sua aparência de substância, quando é visto a partir do ponto de vista da eternidade. Esse fato, porém, só pode ser visto de uma perspectiva espiritualmente elevada, desperta, iluminada.
Renovação espiritual
Em vez de subir em um helicóptero, como é que podemos nos libertar da visão material e definir a realidade? Podemos ver as coisas de uma perspectiva livre de confins, em vez de pensar em termos de limitações, a partir do infinito, em vez do finito. O cristão chama a isso transformação espiritual. Renovação cristã e regeneração. O novo nascimento devido a aceitarmos o Cristo é a única forma possível de começar a ver, recordar, saber aquilo que está acima e além dos limites da mortalidade. Em realidade, não há outra maneira. Conhecer totalmente nossa vida (em realidade nossa única vida real, que não tem nada a ver com a perspectiva errónea de nascimento e morte, de um passado e futuro mortal) requer que cresçamos e abandonemos a mentalidade material limitadora.
Esse crescimento espiritual não é um trabalho fácil. A transformação do pensamento para este se assemelhar ao Cristo, é a tarefa que mais empenho irá exigir de nós. Mas não é difícil começar. O processo todo de espiritualização pode começar com um pouco mais de bondade. Uma palavra atenciosa. A vitória sobre um impulso menos puro, substituindo-o por um ato de respeito ao próximo. Gratidão. Um crescente amor a Deus. Maior ênfase ao estudo diário e à oração inspirada.
À medida que a consciência fica cada vez mais imbuída dessas qualidades, vamos ganhando uma visão da vida que expressa mais imortalidade e menos mortalidade. Conseguimos captar o fato de que nosso ser completo, definido por Deus, está em realidade, existindo agora. Sempre existiu no agora. É isso que Cristo Jesus nos ensina sobre a continuidade e a permanência da identidade espiritual, verdadeira. Foi por isso que ele pôde dizer: "Antes que Abraão existisse, eu sou" (João 8:58) e "Eis que estou convosco todos os dias" (Mateus 28:20).
Se quisermos estar conscientes dos fatos reais da existência anterior ao evento chamado nascimento, ou dos fatos reais do futuro, começaremos a ceder espaço para o saber da Mente divina e seu agora infinito.
Aquilo que poderia ser chamado de memória imortal não é, em realidade, uma capacidade da mente humana. É um despertar impulsionado pelo sentido espiritual que Deus nos deu e que nos eleva, não só acima de um conceito limitado, errôneo, de existência iniciada no nascimento, mas também acima da perspectiva de um futuro incerto e de um findar da vida. Capacita-nos a ver as coisas mais do ponto de vista da Mente divina, e a expressar essa Mente sempre consciente. Começamos a deixar para trás o suposto caminho de mortalidade, vendo as coisas de uma perspectiva espiritual. E compreendemos mais profundamente o que é que o Pregador nos insta a abandonar: "Já não há lembrança das cousas que precederam; e das cousas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas" (Ecles. 1:11). Uma consciência iluminada, arraigada na totalidade de Deus, esse é o matiz imortal da memória, em vez de uma mente humana se esforçando para entender as coisas no dia-a-dia. Essa consciência imbuída do Espírito manifesta a natureza da Mente que tudo sabe.
Mais cedo ou mais tarde cada um de nós tem de começar a elevar-se acima da visão mortal e relativamente mesquinha da existência. Em última análise, essa visão é falsa. Até mesmo um trilhão de anos de mortalidade perdem o significado, quando tratamos do trabalho fortalecedor de cristianizar nossa vida e começamos a pairar acima do pequeno caminho mortal com sua limitada série de crenças sobre a existência. Os mínimos aspectos de nossa vida diária podem começar a tomar um rumo mais puro e mais independente do tempo.
Em vez de nos identificar com a mente humana, tentando recordar a realidade, devemos abandonar essa crença de uma mente separada de Deus. Então as verdades espirituais começarão a ficar claras, pois nossa consciência real vem à luz. A Sra. Eddy descreve o ser verdadeiro do homem como sendo perfeito e espiritual. Ela escreve em Ciência e Saúde: "Ao continuarmos nossa definição de homem, lembremo-nos de que o homem harmonioso e imortal sempre existiu, e sempre está além e acima da ilusão dos mortais, de que exista qualquer vida, substância e inteligência na matéria" (p. 302).
Se quisermos estar conscientes dos fatos reais da existência anterior ao evento chamado nascimento, ou dos fatos reais do futuro, começaremos a ceder espaço para o saber da Mente divina e seu agora infinito, que tudo abrange. Isso implica uma transformação do pensamento que vê a onipresença da criação espiritual de Deus. Implica aprofundar nosso cristianismo, aumentar nossa integridade, inocência, inteligência e afetos espirituais.
 
    
