Quando Eu Era pequena, sonhava com o dia em que teria vinte anos. Aí eu seria grande. Usaria vestidos como os de minha mãe, e até poderia usar batom e salto alto. Esperei muito, muito tempo, para esse momento chegar.
Quando meu professor de português, no colégio, pediu à classe que lesse "Meus oito anos", de Casimiro de Abreu, as primeiras linhas me chamaram a atenção:
"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida, 
Da minha infância querida 
Que os anos não trazem mais!"
Durante o curso colegial e depois, eu nunca senti saudades dos "Meus oito anos", embora me lembrasse deles com gratidão e carinho. Aos vinte anos, com batom e salto alto, tudo me parecia ainda mais interessante que antes. Havia muita coisa a aprender e inúmeras oportunidades à minha frente. Mas será que, aos oito anos, eu poderia ter sido gente grande?
Não importa se somos crianças ou adultos, todos podemos contar com o infinito amor de Deus ao nosso redor, a nos proteger, nos guiar e nos ajudar. Neste mesmo momento, somos filhos e filhas de Deus. É assim que Deus nos vê, como Seus filhos, não grandes ou pequenos, mas à Sua imagem e semelhança. E essa semelhança não tem três, ou nove, ou dezesseis ou oitenta anos. Ela é o reflexo de Deus. Sua existência e identidade não podem ser medidas em anos.
Numa ocasião, meu pai ficou muito doente, quando já estava com idade muito avançada. Ele morava no Brasil, eu morava nos Estados Unidos, portanto estávamos a oito mil quilómetros um do outro. Ele me telefonou e pediu que eu fosse ficar com ele. Eu gostava demais do meu pai, éramos muito amigos. Mas naquele momento eu não podia fazer uma viagem ao Brasil. Em vez disso, conversávamos muito por telefone. Eu queria assegurar-lhe que Deus estava ali presente, cuidando dele naquele mesmo instante. Orei muito, em busca de idéias para dar a ele, durante nossas conversas.
Um dia, quando ele me telefonou de manhã, toda a noção de que eu, como filha, estava ajudando a ele, meu pai, desapareceu. "Sabe, papai,", eu lhe disse, "não estamos conversando como pai e filha, por que na realidade nós dois somos filhos, somos filhos de Deus. Você é filho, seu Pai-Mãe Deus está cuidando de você. Nenhum de nós tem uma determinada idade e não somos de idades diferentes. Nós dois existimos inteligentemente como filhos. O único Pai que você e eu temos é Deus. Deus está cuidando de você com muito carinho, como u'a mãe ao cuidar de seu bebezinho, porque você é filho dEle. Você está seguro, a salvo, e esse fato é proteção para você e tranqüilidade para mim."
Não é com o passar do tempo que nos transformamos em gente grande, mas sim ao reconhecer o bem e fazer o bem.
Aí nós desligamos e eu me senti completamente livre da sensação de que ele era um senhor de idade. Naquela noite ele me telefonou para contar que havia sarado completamente. Depois disso nos vimos muitas vezes e falamos muito por telefone. Mas uma coisa ficou bem definida: nunca mais pensei nele como uma pessoa idosa, mas sim como filho, tanto quanto eu era filha, não filha dele, mas ambos filhos do mesmo Pai-Mãe, Deus.
Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Christian Science, nos fala de nossas possibilidades infinitas, ao dizer em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: "Deus expressa no homem a idéia infinita que se desenvolve eternamente, que se amplia e, partindo de uma base ilimitada, eleva-se cada vez mais. A Mente manifesta tudo o que existe na infinidade da Verdade. Nada mais sabemos do homem, como verdadeira imagem e semelhança divina, do que sabemos de Deus" (p. 258).
Num sentido mais profundo, não é com o passar do tempo que nos transformamos em gente grande, mas sim ao reconhecer o bem e fazer o bem, ao interessar-nos por aquilo que é espiritual e ao querer servir e ser útil aos outros. Quando lembramos conscientemente que somos filhos de Deus, que Deus Se expressa eternamente em nós, progredimos bastante. Nunca terminamos de aprender. Então, não precisamos esperar para um dia tornar-nos gente grande. Crescemos e progredimos sempre, o tempo todo.
 
    
