A pergunta po título poderia parecer impertinente para o cristão que lê a Bíblia e freqüenta regularmente alguma igreja. Recentemente, contudo, eu estava jantando com um jovem homem de negócios que não vai a nenhuma igreja, e fiz-lhe essa mesma pergunta. Fiquei um tanto surpreso com sua resposta.
Em essência, meu amigo disse que ele sabe que todos temos de ser honestos, trabalhadores, bons, e assim por diante, mas, como Cristo Jesus era o Filho de Deus, ele era tão bom e tão espiritual que ninguém mais pode ser tão bom ou tão espiritualizado quanto ele. Então por que se preocupar em tentar imitá-lo? "Pelo menos não agora", acrescentou, "pois agora existem muitas outras coisas que eu quero fazer."
Esse comentário me fez parar a fim de pensar mais a fundo sobre a relevância atual daquilo que Jesus disse e fez dois mil anos atrás. Perguntei-me quais são as "outras coisas" que as pessoas querem fazer hoje. Pensei sobre a situação de meu amigo. Ele tem um bom emprego, goza de simpatias, tem muitos amigos, está em boa saúde e adora jogar golfe. Em poucas palavras, ele tem tudo! Não parece interessado em mudar nada em sua vida, no momento. Do ponto de vista dele, por que mudar?
Não pude deixar de me lembrar do relato bíblico sobre outro jovem, que veio a Jesus certa vez, perguntando-lhe o que devia fazer para herdar a vida eterna. Ver Marcos 10:17-22. Primeiro, Jesus lhe disse que deveria obedecer aos Dez Mandamentos. Quando o rapaz respondeu que ele já lhes obedecia, o Mestre se deteve a observálo e o amou. Então disse-lhe: "Só uma cousa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segueme."
O homem mostrou claramente que não gostou do conselho. Ele era rico, e aparentemente não estava disposto a mudar aquilo que lhe parecia um estilo de vida agradável, por isso, "retirou-se triste". A instrução que Jesus lhe dera não foi vista pelo jovem como algo útil ou relevante para o conceito que ele tinha de uma vida feliz e agradável.
Conclui que a única maneira de alcançar o "tesouro no céu" a que Jesus se referiu, é seguir o exemplo de sua vida.
Depois de pensar muito sobre a conversa que eu tivera com meu amigo, e sobre o jovem rico que procurara Jesus, comecei a me perguntar se não era o caso de concluir que, quando consideramos a importância de alguém, levamos mais em conta o que a pessoa pode fazer por nós. Poderíamos dizer que foi esse o caso do jovem que procurou Jesus. Parece que ele estava vendo a vida em termos do que poderia ganhar, enquanto Jesus a via do ponto de vista do que ele poderia dar.
Esse ponto de vista de Jesus fica claro nesta sua afirmação: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância." João 10:10. Cabe aqui uma pergunta simples: "Qual a maneira de encarar a vida que proporciona alegria e satisfação duradouras? Aquela centrada na satisfação de nossos próprios desejos e necessidades, ou aquela centrada em Deus, com o pensamento voltado para abençoar os outros?"
Está bastante claro, no relato evangélico, que Jesus estava profundamente interessado nas necessidades humanas das pessoas. Os doentes vinham a ele e ele os curava. Alimentou multidões, devolveu a vista aos cegos e o ouvido aos surdos. Resolveu problemas de relacionamento. Em três casos ele até ressuscitou mortos!
Jesus realizou sua obra por meio de uma compreensão clara de que a natureza de Deus é boa, infinita, por ser Amor divino, e de que o homem é a semelhança de Deus. Essa idéia pura e espiritual era o Cristo. Jesus viveu essa idéia tão completamente que recebeu, daqueles que presenciaram seu trabalho de cura, o título de Cristo, ou Messias. Jesus mesmo atribuiu seu poder de curar a Deus somente. No evangelho de João, ele diz, sem deixar dúvidas: "O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz." João 5:19.
Pode parecer uma pergunta estranha, mas você acha que Jesus era um homem feliz? Você poderia responder a essa pergunta lembrandose de alguma vez em que você tenha realizado espontaneamente um ato de bondade. Como se sentiu? Você já se perguntou o que é que leva uma pessoa a fazer alguma bondade? Eu acho que Jesus sabia. Ele disse a seus discípulos: "Como o pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor... Tenho-vos dito estas cousas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo." João 15:9, 11. Sem dúvida esse gozo a que Jesus se referiu devia ser profundo e duradouro.
Quando falou com o jovem rico, o Mestre prometeu um "tesouro no céu", se abandonasse os bens materiais e seguisse o exemplo espiritual que Jesus estava dando. Para mim, essa promessa representa o desejo de Jesus de compartilhar o segredo da verdadeira alegria e felicidade. Ciência e Saúde, da Sra. Eddy, explica: "Para ser verdadeiramente feliz, é preciso que o homem se harmonize com seu Princípio, o Amor divino; é preciso que o Filho esteja em concordância com o Pai, em conformidade com Cristo." Ciência e Saúde, p. 337.
Se a questão da importância de Jesus nos dias de hoje é, de alguma forma, proporcional àquilo que seus ensinamentos podem fazer por nós, podemos perguntar-nos o que é que honestamente, em nossa opinião, nos proporciona uma vida feliz, enriquecedora, plena de satisfação. Ciência e Saúde nos dá esta resposta: "A ambição isenta de egoísmo, os nobres motivos de vida e a pureza — esses elementos do pensamento, ao se associarem, constituem, individual e coletivamente, a verdadeira felicidade, força e permanência." Ibidem, p. 58. Esses elementos são a quintessência da vida e do ministério de Cristo Jesus.
Lendo e estudando a vida de Jesus, através dos anos, concluí que a única maneira de alcançar o "tesouro no céu" a que ele se referiu, é seguir o exemplo de sua vida da melhor maneira que me é possível. Quando me pergunto o que é que me fez mais feliz, que me fez sentir mais alegria em minha vida, posso dizer com honestidade que foram aqueles momentos em que realmente senti que estava cumprindo o propósito de Deus para minha vida e estava beneficiando a vida de outra pessoa. Esses momentos superam de longe as emoções de comprar um carro novo, ganhar uma partida esportiva ou obter lucro no mercado de ações.
Acho que Jesus expressou isso da melhor maneira no Sermão do Monte, quando disse: "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." Mateus 6:19-21. Essas palavras do Mestre cristão são tão relevantes hoje como o eram dois mil anos atrás. Jesus o comprovou para si mesmo e ensinou outros a fazerem assim também. Isso faz com que ele seja muito especial e é isso que torna sua figura relevante.
Espero realmente ter uma outra conversa com meu amigo, o jovem homem de negócios. Quero perguntar-lhe se alguma das "outras coisas" que ele diz querer fazer, realmente lhe proporcionam mais alegria e felicidade do que ele sentiu nos atos espontâneos de bondade que ele tenha feito em prol de outras pessoas. Jesus nos ensina, melhor do que qualquer outra pessoa que eu conheça, a realizar esses atos.
 
    
