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Em busca da espiritualidade no mundo inteiro

Da edição de junho de 1999 dO Arauto da Ciência Cristã


A busca pela espiritualidade, se é que alguma vez ela tenha esmorecido, está agora tendo um renascimento em nível mundial. Mary Baker Eddy dedicou sua obra-prima, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, "aos que honestamente procuram a Verdade" (p. xii). Hoje em dia, há pessoas "que honestamente procuram a Verdade" no mundo inteiro, praticamente.

Os líderes dessa renascença não são necessariamente pessoas famosas ou cheias de títulos. Podem estar seguindo diversos tipos de tradições espirituais ou religiosas, ou mesmo trilhando um caminho pessoal. Podem ser encontrados na África do Sul, Uruguai, Índia, Japão, Indonésia, Estados Unidos, quase em qualquer país que nos venha à mente.

Um profundo anelo pela Verdade é o que todas essas pessoas têm em comum. Por isso, é natural que O Arauto da Christian Science, fundado, como o foi, para "anunciar a atividade e disponibilidade universal da Verdade", dê seu apoio a essas pessoas que buscam a espiritualidade. Com esse intuito, a equipe do Arauto quis conhecer algumas delas e apresentá-las aos nossos leitores. Nossos repórteres conversaram com uns quinze pensadores de diversas partes do mundo, representando uma vasta gama de pontos de vista espirituais.

Nas páginas seguintes, o leitor encontrará alguns trechos de nossas conversas com esses pioneiros espirituais, que incluem de uma atriz argentina a um experiente praticista da Christian Science originário de Nova Orleans, nos Estados Unidos, além de diversos outros.

Essas pessoas nos ensinaram muito. Por mais diferentes que sejam seus caminhos espirituais, elas têm em comum algo fundamental: uma profunda dedicação ao Criador do universo e aos filhos dEle, onde quer que estejam. Essa dedicação encerra em seu bojo uma promessa de união que nos lembra o que Mary Baker Eddy previu e expressou em Ciência e Saúde:

"Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'; aniquila a idolatria pagã e a cristã — tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído" (p.340).

Perguntamos a pensadores de vários lugares...

• O que o levou a esse caminho espiritual?

• Que valor teve essa busca em sua vida e para a família dos homens?

• Já teve de enfrentar uma crise de fé?

• Existe algum caminho trilhado em conjunto por todos os que buscam a espiritualidade?

Entrevistas com pensadores espirituais

Cientista Cristão da África do Sul

Frank Magwegwe é estudante da Christian Science desde 1993 e mora em Joanesburgo, África do Sul.

Frank Magwegwe 1993 foi um ano cheio de problemas para mim. Eu morava com uma tia em Joanesburgo, estava desempregado e ela não podia dar-me a ajuda financeira de que eu necessitava. Tive medo de ficar de novo sem ter onde morar, pois nem podia contribuir para a despesa do aluguel. Não sabia que rumo dar à minha vida.

Foi aí que eu passei em frente a uma vitrina. O que ali estava exposto levou-me a uma Sala de Leitura da Christian Science, no centro da cidade. Chamou-me a atenção, naquela vitrina, um cartaz com o relato de um menino que tinha sido atingido na cabeça por uma bola de beisebol. Ele pediu que avisassem seus pais, que logo chegaram e o levaram para casa. Depois, todos juntos, oraram. No dia seguinte, ele acordou sem nenhum sinal de ter sido atingido pela bola e sem apresentar nenhum sintoma das previsões negativas feitas com relação ao acidente.

Eu fui muito bem recebido pela bibliotecária da Sala de Leitura. Expliquei-lhe todos os meus problemas: que eu não tinha nada para comer e que estava na iminência de perder a moradia. Minha esperança era de que ela dissesse: "Ah, talvez nós possamos lhe arranjar um emprego ou um lugar onde ficar, ou lhe dar um pouco de dinheiro."

Em vez disso, com toda a calma, ela me disse que eu já tinha algo a fazer, que era refletir a Deus. Continuou dizendo que Deus não nos cria para depois nos deixar por nossa própria conta. Ele atende às nossas necessidades diárias. Ela me falou de um conceito que eu ainda não conhecia: um Deus amoroso. Nós estamos aqui para refleti-Lo. Falou-me ainda de outros nomes para Deus, tais como Amor, Verdade e Espírito. Depois contou-me que havia um livro maravilhoso, talvez eu me interessasse por ele. Ela pegou um exemplar de Ciência e Saúde e disse que eu poderia levá-lo por empréstimo.

Fui para casa e comecei a ler o livro, não conseguindo compreender seu conteúdo, a princípio. Apesar disso, continuei a ler. Percebi então que algo estava mudando em minha vida. Em vez de confiar só em mim mesmo, comecei a pôr minha confiança em Deus, comecei a confiar em que Ele me mostraria o caminho a seguir. Eu sabia que Ele não me deixaria sofrendo, sem emprego e sem nada para comer.

O que mais me impressionou, ao abrir o livro pela primeira vez, foi o que a Sra. Eddy diz na primeira linha: "Para os que se apóiam no infinito sustentador, o dia de hoje está repleto de bênçãos." Ao ler essa frase, eu sabia que ela se aplicava a mim também. Achei que essa idéia poderia ajudar-me. Em pouco tempo eu havia lido o livro de capa a capa.

Foi então que alguém perguntou se eu estaria interessado em vender verduras, e foi o que fiz. Vendi verduras para eles por algum tempo e economizei algum dinheiro. Pouco depois, comecei a vender por minha conta, indo ao mercado central, comprando e revendendo. Continuei a ler Ciência e Saúde, e a essa altura já conhecia as Lições Bíblicas do Livrete Trimestral da Christian Science. Foi assim que conheci a Christian Science.

Arauto — Antes da Christian Science, você tinha alguma inclinação para o que chamamos de espiritualidade?

F. Magwegwe — Não, diria isso. Eu costumava ir a outra igreja, mas a atitude era bem diferente.

Arauto — Então, desde o início, a Christian Science fez sentido para você?

F.Magwegwe — Sim com certeza. Eu me dizia que era isso que eu estava procurando parecia natural e fazia sentido.

Arauto — O que lhe aconteceu espiritualmente, naquela ocasião?

F. Magwegwe — Eu percebi que Deus nos conduz àquilo que é verdadeiro a respeito de nós mesmos. Todos temos, dentro de nós, a capacidade de conhecer a Deus. Somos a imagem e semelhança dEle. Por isso, a atração pela espiritualidade faz parte de nossa natureza.

Arauto — Então, é necessário que alguma coisa desperte dentro em nós o interesse pela espiritualidade?

"Eu sabia que Deus não me deixaria sofrendo, sem emprego e sem nada para comer."

F.Magwegwe — Sim, esse despertar difere de pessoa a pessoa, dependendo das circunstâncias.

Arauto — Você afirmaria que é o Cristo que nos desperta?

F.Magwegwe — Sim. É a operação do Cristo no mundo todo, quer tenhamos consciência disso quer não. O Cristo está em todo lugar.

Arauto — Você acha que aqueles que pertencem a outras religiões têm o mesmo sentimento com relação à espiritualidade?

F.Magwegwe — Há um elo comum entre todas as religiões e isso pode ser ilustrado com uma experiência que tive na semana passada. Estava assistindo a uma reunião com um colega de trabalho, que não é ligado a nenhuma religião. No almoço, ele disse algo que me provou que todos têm uma qualidade espiritual dentro de si que os atrai às coisas do Espírito. Ele disse que, embora os outros o vejam como um ser material, feito de sangue e ossos, ele percebe que o importante mesmo são seus pensamentos. Ele não se vê como sendo um corpo. Para mim, foi a atuação do Cristo que o fez pensar assim.

Arauto — Você acha que a raça humana em geral está progredindo na compreensão da espiritualidade?

F. Magwegwe — Sim. Há organizações preocupadas com a espiritualidade na Universidade de Joanesburgo. Estão interessadas em perguntas como "Por que estamos aqui? Qual é o propósito de estarmos na terra?" O fato de as pessoas formularem essas questões tão profundas mostra que a humanidade está avançando na espiritualidade.

Arauto — Você teria um conselho para alguém que deseja progredir espiritualmente?

F. Magwegwe — É preciso começar com a pergunta: "Qual é a minha relação com Deus?" Isso leva a pensar mais em termos das qualidades que expressamos. Leva a pensar em algo além do próprio corpo.

Arauto — Como foi sua carreira, desde que começou a estudar a Christian Science?

F. Magwegwe — De vendedor de verduras, fui estudar numa universidade, onde estive quatro anos. Em 1997, formei-me em Matemática Financeira Avançada, com ótimas notas. Atualmente trabalho como gerente num banco de Joanesburgo.


Sikh que mora na Índia

A Sra. Surjeet Maini é Sikh praticante. Sua filha é Cientista Cristã.

Surjeet Maini — Eu nasci numa família Sikh, no Paquistão. Mudamo-nos para a Índia depois de 1947, quando os dois países se separaram. A maior influência espiritual em minha vida foi a de meus avós. Eles eram ambos muito especiais e eu gostaria de ser como eles. Qualquer que fosse a situação, boa ou má, eles estavam sempre contentes. Nunca se queixavam.

Arauto — Suas escrituras sagradas são chamadas "Gurbani"?

S. Maini — O nome de nosso livro sagrado é Guru Granth Sahib, Gurbani é uma parte desse livro, escrito por vários gurus. Esses gurus acreditavam num Deus único e que todos nós temos uma centelha de Deus. Somos todos atraídos para o poder de Deus. Esse poder, ou energia, de Deus está sustentando cada um de nós Nós acreditamos que o corpo humano não é nada. É feito de barro e volta para o barro.

Arauto — A senhora já teve alguma experiência que colocou em cheque sua fé?

S. Maini — Sim. Mas quando quero ter paz, volto-me para o meu Gurbani. Quando perdi meu marido, fiquei arrasada. Foi o Gurbani que me recolocou de pé.

Arauto — Há alguma passagem especial, em suas escrituras, que a ajudou particularmente?

S. Maini — O livro todo está cheio da mesma mensagem: que este mundo é uma ilusão. O que permanece são nossos valores e Deus que está expresso em cada um de nós.

Arauto — Eu sei que a senhora medita regularmente. Poderia nos explicar no que consiste essa meditação?

S. Maini — Para dizer a verdade, só comecei recentemente. As minhas escrituras e o Gurbani mandam meditar no nome de Deus. Meditação significa que a pessoa não pensa em mais nada. Eu oro pela graça de Deus e Ele me dá paz, alegria, beatitude. Depois, toda a agitação do mundo não me perturba porque me parece muito temporária. Essa meditação nos dá força.

Arauto — Como a senhora definiria a espiritualidade?

S. Maini — O esforço para entrarmos em conexão com a grandeza de Deus, é espiritualidade.

Arauto — Em sua opinião, qual é o major empecilho ao crescimento espiritual?

S. Maini — É o apego às coisas materiais. Os cinco inimigos do ser humano são: desejo, raiva, ganância, apego e, acima de tudo, o ego. O ego é a maior ilusão de todas.

Arauto — A senhora acha que a pessoa continua a crescer espiritualmente, mesmo depois de passar pela morte?

S. Maini — De acordo com minha religião, a morte é apenas uma troca de roupas. O espírito nunca morre.

Arauto — A senhora mencionou antes que sua filha é Cientista Cristã. Já trocaram idéias sobre religião?

S. Maini — Sim. Ela costumava me mandar o Sentinel. Essa revista me trouxe a mensagem de que todos nós somos filhos do mesmo Deus.

Arauto — A senhora acredita na cura espiritual?

S. Maini — Acho que a pessoa pode ser curada espiritualmente. Quando pensamos em Deus, não temos consciência do corpo, da dor, da doença. Eu, pessoalmente, fui curada muitas vezes, sem tomar remédios.

Arauto — Se alguém lhe dissesse que está perdido, espiritualmente, que conselho lhe daria?

S. Maini — Eu lhe diria: "Você pode orar a Deus, pedindo fé, amor e devoção. Deus trará você de volta no caminho da devoção e do amor."

Arauto — A senhora acha que a pessoa precisa ser religiosa para ser espiritual?

"Eu oro pela graça de Deus e Ele me dá paz, alegria, beatitude."

S. Maini — Religião não é sinônimo de espiritualidade. As religiões, no início, tinham como alvo a espiritualidade. Mas em alguns casos, as coisas mudaram. Eu não consigo imaginar como alguém possa viver sem espiritualidade. Onde consegue a força para enfrentar os problemas do dia-a-dia? Existe um poder que cuida de nós. Somos como uma criança que caminha com os pais, um de cada lado. A criança se sente bem, sabendo que alguém está ali para cuidar dela. Sabe que não se perderá no meio da multidão. Quando somos espirituais, sabemos que há uma mão nos segurando. Não nos perderemos.

Arauto — Como é o interesse pela espiritualidade, na Índia?

S. Maini — Os indianos, na grande maioria, independentemente da religião que professem, acreditam na espiritualidade. Faz parte de nossa cultura. Deus é importante para nós.

Arauto — Gostaria de acrescentar alguma coisa ao seu depoimento?

S. Maini — Eu só gostaria de dizer que ainda estou aprendendo, e oro a Deus para que aquilo que eu disse seja certo e não errado. Estou me empenhando para dizer honestamente o que eu penso.


muçulmano residente na Indonésia

O Dr. Syukur é secretário do Departamento de Religião Comparada do Instituto Nacional de Estudos Islâmicos, na cidade de Bandung, Indonésia. Embora seja muçulmano praticante, Dr. Syukur ensina budismo no referido Instituto.

Abdul Syukur: Eu me interessei por outras religiões porque na Indonésia existem diversas. Aprendi o que é o islamismo, o que é o budismo, o que é o cristianismo. Achei que há pontos em comum, em todos eles. Acredito que podemos todos nos respeitar mutuamente.

Arauto: O senhor acha que todas as pessoas têm senso espiritual, independentemente de serem muçulmanas, cristãs, budistas, ou o que forem?

A. Syukur: Sim. Temos todos o mesmo âmago de espiritualidade, quer sejamos americanos, indonésios, ou de qualquer outra nacionalidade.

Arauto: Quais são algumas das características do islamismo?

A. Syukur: O islamismo consiste de seis princípios: acreditar em um único Deus; nos anjos de Deus; nos livros de Deus; nos profetas de Deus; na vida do além; e no desígnio que Deus tem para a vida humana.

Arauto: O senhor diria que o nome Allah significa o mesmo que a nossa palavra Deus?

A. Syukur: Eu diria que sim. Acredito que existe um único Deus, não importa qual seja a religião que está falando dEle.

Arauto: O senhor acha que o propósito principal da religião é o de aprofundar a espiritualidade da pessoa?

A. Syukur: Sim, mas é mais do que isso. Temos de aprofundar a espiritualidade em nossa vida, em nossa vida diária.

Arauto: O senhor quer dizer que a espiritualidade nos ajuda a levar nossa vida diária de maneira melhor?

A. Syukur: Exatamente, exatamente.

Arauto: Como muçulmano praticante, como o senhor estuda o Alcorão [livro sagrado do islamismo]?

A. Syukur: O Alcorão é o nosso livro sagrado. Acreditamos que é a revelação de Deus. Esse livro orienta a vida diária dos muçulmanos, ajuda a desenvolver a espiritualidade. Tradicionalmente, lemos e estudamos o Alcorão em família ou na mesquita.

Arauto: O senhor acha que sua compreensão de Deus ajudou a moldar sua vida?

A. Syukur: Sim. Acredito que Deus tem um desígnio para cada um de nós Ele estabeleceu nossa vida. Nosso dever é obedecer à regra de Deus para nossa vida.

Arauto: Qual é a mensagem que mais deseja transmitir a seus alunos, no Instituto?

A. Syukur: Eu gostaria que meus alunos apreciassem as outras religiões. Acho que devemos honrar uns aos outros, respeitar-nos mutuamente. Por esse motivo, quero que meus alunos conheçam bem outras religiões. Ás vezes levo meus alunos para assistir aos cultos da Sociedade da Christian Science em Bandung. Estou também interessado em criar uma espécie de fórum ou organização comunitária, na qual muitas religiões diferentes possam conversar livremente sobre seus problemas e como superá-los.

Arauto: Esse é um objetivo louvável, sem dúvida.


Durante a Segunda Guerra Mundial, o Sr. Hovelsen começou a militar no Movimento de Rearmamento Moral. Seu livro sobre perdão e reconciliação teve influência decisiva na construção de uma Europa unida, no após-guerra.

Leif Hovelsen — Eu tinha dezessete anos quando a Segunda Guerra começou. A Noruega foi ocupada pela Alemanha de Hitler e, de repente, nossa liberdade nos foi retirada. Sentimos na pele o que significa ver a integridade nacional e a dignidade humana serem espezinhadas.

Fui traído por um amigo. A Gestapo cercou minha casa e a invadiu. Fui algemado e levado ao quartel general. A partir daquele dia, fiquei quatro meses na solitária. Depois, vivi um ano e meio em campos de concentração. Depois de três meses ali, veio a notícia de que eu estava na lista de execuções. O estranho foi que, exatamente nesse período, eu comecei a sentir a coisa mais grandiosa que jamais sentira: a espiritualidade. É quando chegamos ao "fundo do poço" que começamos a buscar o céu.

Eu deveria ter sido executado, mas meu caso foi sendo adiado. Vivi um ano e meio sob a ameaça constante de ser morto a qualquer hora. Deus se tornou um valioso fundamento para a minha vida. Ele me sustentou em todas as provações. Mais tarde o país foi liberado e saímos dos campos de concentração. O Movimento da Resistência, ao qual eu pertencia, teve de assumir muitíssimas funções. Uma delas foi a guarda dos prisioneiros, entre os quais os membros da antiga Gestapo.

"Vivi um ano e meio sob a ameaça constante de ser morto a qualquer hora."

Fui encarregado da guarda do pátio de um castelo que servia de prisão, o castelo de Akershus, em Oslo. Nele estava preso o oficial da Gestapo que havia me torturado.

Um dia, enquanto andava pelo bosque, perto de minha casa, veio-me de repente, com toda a força, um pensamento. Eu sabia que não poderia ter vindo de mim mesmo. A idéia foi de que, na próxima vez em que estivesse de plantão, eu iria ver aquele oficial da Gestapo e haveria de dizer-lhe que tudo o que ele me havia feito estava perdoado e eu não levaria meu caso à justiça contra ele. Esse pensamento me veio como um imperativo moral interior e fiquei abalado. Mas sabia que tinha de obedecer.

Arauto — Foi como uma ordem espiritual?

L.Hovelsen — Isso mesmo. Foi uma inspiração divina e eu a aceitei. Fui para casa e contei tudo à minha mãe. Ela me apoiou e pediu que eu dissesse àquele homem que ela estava orando por ele.

Assim, no meu plantão seguinte, chamei o homem para fora da cela e olhei-o bem de frente. Naturalmente, ele me reconheceu. Disse-lhe: "O que você me fez está perdoado, e eu não vou levar meu caso à justiça contra você. Minha mãe quer que você saiba que ela está orando por você."

Aquele homenzarrão não disse uma palavra. De repente, começou a tremer todo e eu o levei de volta à cela. Um ano depois, ele foi condenado à morte, pela lei norueguesa, e executado. Alguns dias depois, fiquei sabendo que ele havia pedido a comunhão, antes de morrer.

Sob a perspectiva da eternidade, desapareceu toda a questão de os alemães serem os maus e os noruegueses serem os bons. Eu pensei: "Quem sou eu para condenar os alemães ao inferno e mandar os noruegueses para o céu?" Naquele momento, Deus extirpou de meu coração a semente do ódio e colocou em seu lugar a semente do amor. A intervenção divina me fizera sentir compaixão pelos alemães.

Arauto — E isso lhe proporcionou um senso de vida mais elevado?

L. Hovelsen — Sim. Proporcionou-me liberdade. Libertou-me da amargura e do ódio. Trouxe-me um dom estupendo: a compreensão de que a base de nosso relacionamento com Deus não é o medo, não é a necessidade, mas um amor íntimo e profundo que nos é dado por Deus. Esse relacionamento, baseado no amor, é para mim o âmago da vida espiritual. Não consigo viver sem ele.

Estou convencido de que todo ser humano pode receber a orientação e a compreensão necessárias na vida e nas relações do dia-a-dia. Todos têm a oportunidade de receber essa orientação e essa compreensão, desde que estejam dispostos a pagar o preço. E um preço a ser pago: a disciplina e a disposição de se deixar usar como instrumento de Deus.

Arauto — Instrumento, como se fosse na orquestra de Deus?

L. Hovelsen — Exatamente, na orquestra de Deus. Eu almejo ver todo ser humano sendo usado como instrumento de reconciliação, instrumento da verdade que torna visível o amor de Deus.


pastor luterano da Alemanha

Christian Schreiber — Embora nossa família fosse alemã, eu cresci na Finlândia. Meus pais eram católicos praticantes. Por isso, desde a mais tenra infância eu conheci a Igreja Católica e aprendi a amá-la. Mais tarde, quando nos mudamos para a Alemanha, meu professor me convidou a ir com ele à Igreja Luterana. Senti-me bem ali e filiei-me a essa igreja, embora não tivesse nada contra a Igreja Católica.

Aos dezenove anos, alistei-me no exército. Um soldado meu colega era missionário batista e ele viu a Bíblia em cima de minha mesa. Na época, eu não sabia nada sobre os batistas. Através desse rapaz, descobri que pessoas de outras religiões também têm espiritualidade.

"Li Ciência e Saúde, e o livro me tocou profundamente."

Mais e mais eu me perguntava: "É certo falarmos mal uns dos outros, perseguirmo-nos mutuamente? Essa não é a espiritualidade que Cristo espera de nós!"

Depois da guerra, tornei-me pastor. Eu transitava nos meios luteranos, batistas, pentecostais. Em todo lugar me sentia em casa. Eu tinha interesse por aprender mais sobre Cristo e suas realizações, em todo lugar, em todas as pessoas.

Arauto — O que foi que o fez desejar se aproximar de pessoas de outras denominações?

C. Schreiber — Foi a oração de Jesus, em João 17:20, 21, que todos os seus discípulos fossem "um". Precisamos estar abertos para tudo o que Cristo está realizando nos corações de homens e mulheres.

Arauto — Como o senhor define a espiritualidade?

C. Schreiber — Espiritualidade tem a ver com tudo aquilo que é divino. Ser espiritual é estar aberto para Deus, mas não preso à expressão de uma determinada religiosidade, ao dogma. Quando eu era um jovem pastor, eu li o livro de Mary Baker Eddy (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras). O livro me tocou profundamente mesmo. E, no fundo, eu sempre quis saber mais sobre seus ensinamentos. Especialmente quanto à espiritualidade da fé, e a cura pela fé.

Recentemente, entrei em contato com sua igreja e fiquei muito bem impressionado com os membros. Li Ciência e Saúde horas a fio e fiquei enormemente interessado. Pensei: "Isso é maravilhoso, Jesus amado, obrigado por trazer algo tão bom para nossa vida." Senti a mesma coisa pelo trabalho de Wesley, Lutero, e outros.

Arauto — O senhor sente uma busca de espiritualidade no mundo todo?

C. Schreiber — A maioria das pessoas está buscando algo, embora cada um tenha um nome diferente para Deus. É o propósito de Deus estabelecer Seu reino em todas as pessoas.

Arauto — Poderíamos dizer que o Cristo está batendo à porta de cada coração?

C. Schreiber — Sim, e todas as curas que temos são realizadas em nome de Jesus Cristo. É o poder espiritual que as torna possíveis, afinal das contas. Onde os médicos não conseguem fazer mais nada, o poder espiritual consegue curar. É com ele que Mary Baker Eddy pôde estabelecer sua descoberta.


Norma Aleandro, atriz argentina

Conhecida atriz de cinema e teatro, Norma Aleandro também escreveu um romance, História Secreta, que fala de como uma criança de nove anos vê o universo. Ela é leitora voraz de tudo que se relaciona com religião e filosofia.

Norma Aleandro — Eu creio que a espiritualidade sempre existiu, mas atualmente estamos mais informados a esse respeito. Nos dias de hoje, a espiritualidade emerge para contrabalançar um sistema de vida que está um tanto árido, no qual vivemos sempre a alta velocidade e no qual o materialismo vem tendo um papel dominante. O luxo, o sucesso material, as realizações financeiras têm sido aclamadas como o melhor modo de vida. O ser humano como um todo, porém, é mais do que corpo e matéria.

Arauto — Você já pensou sobre a existência de um ser supremo que poderia ser chamado Deus ou outro nome qualquer?

"Tive lindas experiências em que me senti totalmente protegida por algo que está muito acima de nós."

N. Aleandro — Anos atrás afastei-me de minha igreja e cometi o erro de pensar que, devido a isso, também havia deixado de acreditar em Deus. Mais tarde, porém, eu tive revelações que me mostraram o contrário. Tive lindas experiências em que me senti totalmente protegida por algo que está muito acima de nós.

Arauto — Todos nós precisamos ter um refúgio onde nos possamos sentir em segurança, mentalmente. Concorda?

N. Aleandro — Eu preciso de um lugar assim. Um lugar onde possa sentir a harmonia e estar em paz, por dentro e por fora. Essa é minha busca permanente. Quando algo sai do prumo, dentro ou fora de mim, procuro recolocá-lo em equilíbrio.

Arauto — Você tem algum texto que lhe dá esse apoio?

N. Aleandro — Tenho um texto que tirei do livro Tao Te king, há muitos anos, já o li centenas de vezes. Diz em parte:
para receber algo
Deve-se primeiro dá-lo...
(Tao Te king de Lao-Tse, Capítulo 36)

Li esse livro durante anos, sem compreendê-lo, e ainda hoje não alcanço seu significado mais profundo. Mas consigo entender que não podemos receber, sem primeiro dar. Sempre me senti responsável por minhas ações e não é de meu feitio culpar os outros pelas coisas. É por isso que essas palavras que mencionei me soam tão verdadeiras.

Arauto — Em sua opinião, a humanidade está progredindo espiritualmente?

N. Aleandro — Desde nosso estágio mais primitivo como seres humanos, sempre tivemos um mundo espiritual imenso. Por isso não podemos conquistar nem perder a espiritualidade, porque ela já faz parte de nossa natureza. A humanidade passa por alguns períodos mais espirituais e outros mais materialistas. Existem Sodomas e Gomorras mas a espiritualidade não acaba com elas. Acho que a espiritualidade é essencial ao universo. Ela existe e não pode acabar.


Dom Pablo Galimberti — A dimensão espiritual, quer ela esteja esquecida, reprimida ou bem definida e desenvolvida, está sempre latente em nosso íntimo. Aquilo de que mais precisamos é prestar atenção aos sinais que o Espírito nos envia a cada minuto. Se deixarmos que essa dimensão cresça, se tornará o eixo de nossa vida e aquilo que lhe dará significado. Nossa volta para "as coisas do espírito" é como uma volta para o lar.

Arauto — Que influência a espiritualidade teve em sua vida?

P. Galimberti — Muito embora todos, inclusive os mais ateus ou indiferentes, tenham algum tipo de experiência espiritual, os seres humanos têm diferentes janelas das quais observam esse panorama. Ás vezes a chamamos de "consciência" e prestamos atenção quando ela nos fala. Outras vezes a chamamos "coração" ou "intuição". De minha perspectiva cristã, aprendi a interpretar esse mundo interior como um lugar onde posso encontrar a Deus, o eterno "Tu" que nos olha com amor.

Arauto — Por que a espiritualidade é importante para o senhor? Como ela ajudou a moldar seu caráter?

P. Galimberti — A espiritualidade me possibilitou iluminar e purificar meus instintos, pensamentos, energias e sentimentos. Peço a Deus que use minha espiritualidade para iluminar a escuridão do mundo, para ajudar outros a encontrá-Lo.

Aos dezoito anos, respondi ao Senhor que O seguiria. A partir daí a "espiritualidade" se tornou algo concreto para mim. Foi uma questão de seguir Jesus com toda minha alma e minha vida. A espiritualidade também tomou a forma de sofrimento e de cruz. Compreendi que, para amar, eu devia renunciar a tudo. É por isso que a espiritualidade se tornou mais envolvente e próxima a cada dia. Lembro-me das palavras de São João: "O Verbo se fez carne"!

Arauto — Há algum trecho da Bíblia que tenha um lugar especial em seu coração?

"Se procuramos a Deus, é porque já o encontramos."

P. Galimberti — Existem muitos trechos dos Evangelhos que me comovem quando os estudo e deixo que eles tomem forma no "hoje" de minha história. Cada passagem bíblica pode ser para mim vida eterna, purificação, esperança que não morre, amor renovado.

Arauto — Será que todos nós possuímos "algo" que nos sensibiliza para as coisas espirituais, as coisas de Deus?

P. Galimberti — Eu acredito firmemente nisso. Todos nós temos a sede que nos conduz à fonte. Se sentimos o infinito em nossa experiência é porque o temos dentro de nós Se procuramos a Deus, como diz Pascal, é porque já O encontramos. O filho tem em sua alma o anelo pelo Pai. Se estivermos ansiosos, cheios de problemas, poderemos também dizer que somos como o filho pródigo que, devido à sua "fome" ou vazio, começa a buscar a Deus.


professor budista no Japão

Issho Fujita — Quando eu estudava psicologia infantil no Japão, conheci outro psicólogo que me sugeriu a prática da meditação Zen (chinesa). Quanto mais eu a praticava, mais sentia a necessidade de fazer isso, não só esporadicamente, mas o tempo todo. Por isso, abandonei a faculdade e fui para um mosteiro Zen no Japão mesmo. É um templo muito especial que se concentra na auto-suficiência. Nós plantávamos arroz, legumes, etc., e fazíamos o molho de soja. Fiquei ali seis anos.

Anteriormente, eu tivera uma vida de estudante muito ativa, porém sem concentração nem integração. Foi diferente com meu estudo do budismo, foi muito difícil adaptar-me à disciplina. Mas bem no fundo do coração, algo me dizia que era disso que eu precisava e eu sentia paz no íntimo.

Arauto — Como o senhor descreveria o budismo?

I. Fujita — Basicamente, o budismo pode ser resumido numa fórmula bem simples, chamada "as Quatro Verdades Nobres". A quarta verdade é a maneira como livrar-se do sofrimento e alcançar o nirvana. É chamada "Nobre Caminho de oito facetas".

Arauto — Poderia explicar um pouco esse caminho?

I. Fujita — A primeira ação se chama "visão correta", depois linguajar correto, pensamento correto, disposição correta, esforço correto e assim por diante. É uma diretriz para se levar uma vida decente. Ao praticar o budismo, procuramos corrigir uma visão centrada em nós mesmos e aprendemos a percepção correta.

Arauto — As pessoas que seguem o budismo acreditam em Deus?

I. Fujita — Cada pessoa usa a palavra Deus de maneira diferente. No budismo, não temos um criador [do universo material], porque cada coisa no universo material é mutável. Não achamos que algo neste mundo seja permanente.

Arauto — Qual o seu conceito de espiritualidade?

I. Fujita — Conforme minha tradição, a coisa mais importante, com relação à espiritualidade, é conseguir perceber profundamente que algo além da minha pequena pessoa está me dando vida. Alguma força universal em atividade, não só fora como também dentro de mim. Essa força faz desabrochar as flores, produz a chuva, faz com que as pessoas permaneçam vivas. Permeia o universo inteiro. É tão imensa que não a podemos ver como um objeto. Podemos, contudo, senti-la.

"Procuramos corrigir uma visão centrada em nós mesmos e aprendemos a percepção correta."

Arauto — O que o senhor disse com relação à força, é parecido com o que muitos chamam de Deus.

I. Fujita — Sim. Quando leio a Bíblia, vejo muitas afirmações com as quais concordo plenamente, como quando Deus diz: "EU SOU O QUE SOU". E também quando o Salmista pergunta: "Para onde me ausentarei do teu Espírito?" (Êxodo 3:14 e Salmos 139:7). Essas idéias indicam que não podemos sair dessa força. Precisamos aceitar a realidade de que existe alguma dimensão além desse pequeno eu, e de que é dessa dimensão que recebemos a vida.

Arauto — O senhor diria que cada uma das diversas religiões do mundo tem sua própria maneira de despertar as pessoas para a realidade?

I. Fujita — Sim. Essas várias religiões, ou caminhos para a espiritualidade, estão tentando despertar as pessoas de seus sonhos, e ajudá-las a construir uma vida baseada na realidade.

Arauto — O senhor acredita que cada pessoa no mundo tem a habilidade de ser espiritual e de dar ouvidos a essa força?

I. Fujita — Sim. Todos as pessoas têm ouvidos para escutar essa força. Precisamos, porém, nos preparar. Temos de preparar lugar para o hóspede. É um visitante muito tranqüilo, por isso nós temos de estar quietos.


Rosie Rosenzweig — A busca da espiritualidade é uma tarefa para a vida toda. Encontramos a espiritualidade quando fazemos algo, ou nos envolvemos em algo que seja maior do que nós. Isso pode acontecer se você estiver recebendo, no sentido mais verdadeiro do termo. Kabala (escritos esotéricos sobre o misticismo judaico) significa "receber". Receber, acredito eu, é uma forma de transformar-se a si mesmo. O mais difícil é transformar raiva em compreensão, mas essa transformação é essencial na senda daquilo que é espiritual.

Arauto — Poderia nos contar um pouco sobre a experiência em sua própria família?

R. Rosenzweig — Tomemos o caso do meu filho por ocasião de seu Bar mitzvah (cerimônia religiosa de confirmação dos meninos judeus), fez um discurso tão maravilhoso que eu pensei que ele se tornaria um grande rabino. No entanto, anos depois, ele se converteu ao budismo! Às vezes, é como se os filhos viessem do futuro para desafiar-nos. E, havendo uma discordância desse tipo com alguém que você ama ardentemente, é preciso aceitar o desafio. Em meu caso, eu precisava me reconciliar com ele. Tive de acompanhar meu filho e conhecer seus mestres budistas.

"Eu precisava me reconciliar com meu filho.

Arauto — E a senhora viu a espiritualidade em outra religião, naquele momento?

R. Rosenzweig — Sim. Todos nós temos aquilo que eu chamo de "metáfora" de nossa própria religião. Eu me sinto bem com a "metáfora" hebraica, mas aprendi a entender a metáfora dos poemas de outras religiões.

Arauto — A senhora acha que sua espiritualidade é a expressão da tradição religiosa que recebeu ou é o fruto de sua própria busca pessoal?

R. Rosenzweig — Bem, poderia ser qualquer uma das duas coisas, ou ambas. Eu nunca realmente vacilei em minha confiança na religião que herdei. Sempre acreditei na "unicidade".

Arauto — Quando foi que a senhora encontrou a espiritualidade pela primeira vez, em sua vida?

R. Rosenzweig — Uma das primeiras vezes foi quando conheci meu marido. Eu estava cursando a faculdade, em Detroit. Durante toda minha vida eu havia pensado: "Quero encontrar uma pessoa de um determinado tipo." Na ocasião em que o conheci, eu ia caminhando para a aula quando senti que algo estava me guiando. Pensei: "Isso faz parte de um desígnio." Senti-me em paz com o universo. Na época, meu marido riu um pouco dessa idéia, pois ele se considerava ateu. Mas agora pensa diferente. Acha que eu provavelmente tenho razão.

Arauto — Poderia dar-nos alguns exemplos de como a espiritualidade moldou e continua a moldar sua vida?

R. Rosenzweig — Ela se sente mais em minha poesia. Essa é a ferramenta de minha transformação. Minhas palavras me precedem e me fazem compreender as coisas.

Arauto — Poderia nos mostrar alguns versos de sua autoria?

R. Rosenzweig — Com prazer. Estes versos são extraídos de meu poema: "O Aleph Beth da oração". ["Aleph" é a primeira letra do alfabeto hebraico e é muda, silenciosa, como o nosso "h"; "Beth" é a segunda letra.] Ele descreve a história do silêncio espiritual e termina assim:

Dá-me o poder do primeiro Aleph.
O silencioso som que precedeu a primeira Palavra,
a primeira Palavra que era vento
e o primeiro silêncio,
antes de minha longa jornada até o significado.


compositor americano pentecostal

Walter Robinson — Um dos meus projetos atuais é um musical gospel, baseado na vida de Moisés, uma fusão da música afro-americana (principalmente gospel) e a história da libertação do povo judeu. Oferece uma mensagem universal por meio dos Dez Mandamentos — um senso de justiça, liberdade, igualdade de direitos, experiência religiosa pessoal, casamento inter-racial, o conceito de lei, milagre, fé.

Arauto — O que o levou a escrever esse musical?

W. Robinson — Sempre adorei música e estive interessado no denominador comum que une todas as religiões. A história de Moisés liga as três principais religiões monoteístas: islamismo, que reconhece Moisés como profeta; cristianismo e judaísmo. As religiões me fascinam pelo fato de haver tantas manifestações de um único Deus. Cada um de nós vive sua própria fé, mas ao mesmo tempo aprecia o que tem em comum com outras religiões.

Arauto — Você vê elementos comuns a todas as religiões?

W. Robinson — Sim, o desejo de reconhecer algo maior do que nós, além daquilo que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos ou provamos. Outro ponto em comum é o fato de que o bem é maior do que o mal — quer vejamos o mal como erro, ilusão, ou Maya [uma palavra hindu, que significa “a aparência ilusória do mundo”]. Mas o objetivo final das coisas tem de ser o bem, porque Deus é bom.

Arauto — Tendo sido criado na religião batista, o que é que você conserva dessa religião?

W. Robinson — Certamente, a oração. Oro desde pequeno e aprendi que minhas orações são ouvidas e atendidas por Deus. E aprendi a prestar conta de meus atos — não podia fazer o que quisesse. Portanto, a obediência foi importante.

Tendo sido criado numa igreja de negros, recebi o legado da música afro-americana, principalmente do Sul — inclusive a arte de cantar sem acompanhamento instrumental, e toda a noção de louvar a Deus através da canção.

“Eu celebro o fato de eu ser completo em Deus, antes de fazer qualquer coisa.”

Arauto — Se alguém lhe perguntasse o que é espiritualidade, o que você diria?

W. Robinson — Espiritualidade é viver com paciência, amor e mansidão. Tal como diz a Bíblia, em Gálatas: “O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5: 22, 23).

Arauto — Todas as pessoas têm sentido espiritual?

W. Robinson — Dentro de cada um está Deus e Seu Cristo.

Arauto — Como você cresce espiritualmente? Você ora todos os dias?

W. Robinson — Minha Prática espiritual é muito simples. Todos os dias começo com pelo menos setenta minutos de não só oração, mas também louvor. Não peço nada. Durante setenta minutos agradeço a Deus por tudo ser perfeito, pelo que Ele é, por Suas características — porque tudo é bom, porque eu tenho mais do que preciso. Celebro o fato de eu ser completo em Deus, antes de fazer qualquer coisa. Também, fico atento a quaisquer ressentimentos que possam surgir durante o dia. O ressentimento é um dos maiores obstáculos ao crescimento espiritual.

Arauto — Qual será o papel da espiritualidade no próximo milênio?

W. Robinson — Penso que no novo milênio vamos ter novo nascimento espiritual. Muitas coisas ilusórias em que as pessoas depositam confiança vão mudar. Essas mudanças despedaçarão o jugo no pensamento das pessoas. Elas verão que não podem ficar dependentes das coisas de que normalmente dependem. Isso lhes abrirá os olhos para aquilo que não muda, para o espiritual — para o amor, o altruísmo, a ajuda recíproca. Essa é a rocha firme, a estrutura que fica para sempre.

Arauto — Falando de novo sobre o seu trabalho, é bastante interessante ver como as pessoas, ao redor do mundo, têm em comum o amor pela música.

W. Robinson — Sendo músico e compositor, eu lido com a linguagem universal da música. É uma linguagem que se comunica com os povos de todo o mundo, não importa a cor, a língua, a nacionalidade ou a religião. Todo o mundo gosta de música. A universalidade da música é algo que já une todos os músicos. Portanto, a música é um elo que liga toda a humanidade. Acho que a música é um tipo de metáfora espiritual para a Verdade, para Deus e para Sua unicidade e unidade.


Redator das revistas da Christian Science nos Estados Unidos

Na entrevista que apresentamos abaixo, do jornal The Christian Science Monitor, conversa com William E. Moody, Redator da publicação mensal The Christian Science Journal, da publicação semanal Christian Science Sentinel, d'O Arauto da Christian Science e do Livrete Trimestral da Christian Science. O Sr. Moody é também praticista da Christian Science e está no ministério de cura há mais de vinte anos. [Nome omitido a pedido do autor] e William Moody conversam sobre diversos assuntos relacionados com a busca da espiritualidade, em todo o mundo.

Nome omitido a pedido do autor — O senhor poderia dizer exatamente o que vem a ser o ministério de cura pela Christian Science?

William Moody — Os praticistas da Christian Science se dedicam em tempo integral a ajudar outras pessoas a encontrar, por meio da oração, a cura em todos os aspectos da vida. Incluem-se aí curas de doenças físicas, problemas emocionais, dificuldades de relacionamento, desafios profissionais, ou seja, qualquer situação em nossa experiência humana que necessite do toque curativo de Deus.

Nome omitido a pedido do autor — Como o senhor começou a exercer esse tipo de atividade?

W. Moody — Eu não fui Cientista Cristão a vida inteira. Fui criado na tradição Metodista e em minha família acreditava-se em Deus. Quando iniciei a faculdade, parecia que eu estava patinando, espiritualmente. Isso aconteceu durante um período difícil de nossa história, aqui nos Estados Unidos. Estávamos em meio ao conflito do Vietnã, quando muitos rapazes e moças de minha idade viam-se às voltas com dilemas extremamente difíceis. Naquela época, conheci a Christian Science através de uma pessoa que eu conhecera no colégio e que havia encontrado um exemplar do livro-texto da Christian Science, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria de Mary Baker Eddy, de maneira bastante incomum. Essa moça estava em busca de espiritualidade e tinha ido a uma feira de livros em Nova Orleans, minha cidade natal.

Ela estava procurando livros sobre religião e espiritualidade. O objetivo dessa feira, que vendia também livros usados, era levantar fundos para a Orquestra Sinfônica de Nova Orleans. Essa colega viu um Ciência e Saúde que estava sendo vendido por 10 centavos, na seção de livros religiosos. Ela raciocinou que seria muito difícil se arrepender da compra, tendo pago apenas 10 centavos, e comprou o livro. À medida que o lia, foi constatando que a obra parecia não apenas responder às perguntas com as quais ela vinha se debatendo, mas também antecipava perguntas que ela não havia feito ainda. Ela contou sobre esse livro a diversos colegas da escola, e eu estava entre eles.

Naqueles primeiros meses de estudo da Christian Science, lendo Ciência e Saúde e conversando com um praticista dessa Ciência, houve uma mudança importante no meu modo de pensar a respeito de mim mesmo e do mundo ao meu redor. Já não me senti perdido. Comecei a sentir propósito e orientação em minha vida, e isso provinha basicamente do conceito maravilhoso que eu acabara de adquirir a respeito de Deus: de que Ele era Amor puro. Essa mudança era conseqüência direta desse novo conceito de Deus, como Amor absoluto, divino e infinito.

A partir desse momento, tornei-me mais ativamente comprometido com o estudo da Christian Science. Isso naturalmente me levou a procurar uma maneira de expressar esse amor de Deus de uma forma mais prática. Alguns anos mais tarde, comecei a ajudar outras pessoas por meio da oração, quando me pediam ajuda. Foi assim que me dediquei à prática da Christian Science, ao ministério de cura.

Nome omitido a pedido do autor — O senhor já tinha um senso de espiritualidade em sua vida, antes dessa época, ou foi algo que aconteceu de repente?

W. Moody — Acho que já havia algum indício anterior que, entretanto, acabou sendo sepultado. Lembro que certa vez, quando eu tinha cerca de doze anos, tive um momento de percepção espiritual. Eu sempre me lembro desse momento, em que senti a presença de Deus. Mais tarde, já adolescente, eu era muito apegado a meu avô, que estava bastante doente, embora eu não soubesse disso naquela época. Lembro-me de tê-lo visitado certa noite e de ter ido despedir-me dele, ao sair. Ele estava lendo a Bíblia. Observei que essa era uma coisa que eu sempre o vira fazer, todas as noites. Ele então me disse: “É muito importante ler este livro. Se eu pudesse lhe pedir apenas uma coisa, pediria que você encontrasse uma forma de ler regularmente a Bíblia.” Devido ao grande amor que eu devotava a meu avô, prometi: “Vou fazer isso”.

"Comecei a sentir um conceito maravilhoso a respeito de Deus: de que Ele era Amor puro."

Não atendi imediatamente ao desejo dele. Porém, alguns anos mais tarde, quando comecei o estudo da Christian Science, percebi que ela me levara diretamente à Bíblia e estava me ajudando a compreendê-la como nunca antes a havia compreendido. Comecei a aprender realmente lições espirituais significativas, da Bíblia. Sinto-me muito grato pelo fato de a Christian Science ter-me ajudado a cumprir a promessa feita a meu avô, há tantos anos.

Nome omitido a pedido do autor — O senhor acredita que aqueles primeiros sinais de espiritualidade indicavam um caminho, esse mesmo caminho que o senhor está seguindo agora?

W. Moody — Em minha própria experiência não penso em caminhos diferentes. Costumo pensar em nossa jornada espiritual individual simplesmente como "nossa jornada". Ela começa em algum lugar, continua, e acho que nunca termina. Assim, nesse sentido, é o mesmo caminho, porque é a mesma jornada. Ainda estou nela. Ainda não consegui descobrir tudo aquilo que pretendo descobrir e ainda não aprendi tudo o que espero aprender.

Nome omitido a pedido do autor — Nessa jornada, o senhor nunca teve uma "parada para descanso" ou uma crise de fé?

W. Moody — Como acontece com todo relacionamento a longo termo, como um casamento ou uma grande amizade, o nosso relacionamento com Deus é algo para toda a vida. Você tem de se empenhar nesse relacionamento. Há dias que para mim são melhores do que outros. Em alguns dias eu me sinto mais próximo de Deus do que em outros. Mas eu sei que Ele está presente a cada passo do caminho.

Nome omitido a pedido do autor — Como o senhor descreveria brevemente a Christian Science para uma pessoa que nunca ouviu falar dela?

W. Moody — Eu não tentaria descrevê-la como uma denominação religiosa. Para mim, ela é infinitamente mais do que isso. Eu acho que ela é a verdadeira Ciência do Cristo, a Ciência do Cristianismo que aplica as leis de Deus disponíveis para cada um e para todos, não importando qual seja a nossa tradição religiosa. E dessa forma que a própria Sra. Eddy a define: como a lei de Deus, a lei do bem universal. Trata-se de um conjunto de leis que podemos entender, praticar e demonstrar. Elas trazem regeneração e transformação à nossa vida e nos proporcionam uma nova visão da realidade. Elas trazem cura.

"Nossa jornada começa em algum lugar, continua, e acho que nunca termina."

Nome omitido a pedido do autor — O senhor poderia definir a espiritualidade?

W. Moody — Há muitos conceitos diferentes de espiritualidade, hoje em dia! Vão desde a terapia com cristais, elementos da astrologia, até um relacionamento profundo e pessoal com Deus. Para mim, a espiritualidade está na essência de nosso ser. É ela que define quem realmente somos, como filhos e filhas de Deus. A espiritualidade, realmente, diz respeito à nossa natureza divina como criação de Deus. É a compreensão da natureza divina, a percepção de sua presença e de seu poder. É viver na presença e no poder de Deus.

Nome omitido a pedido do autor — A espiritualidade é algo inato, que todos têm, ou temos de fazer alguma coisa para consegui-la?

W. Moody — No meu entender é uma coisa inata. A espiritualidade é a parte mais genuína de cada um de nós. Se temos de fazer alguma coisa a respeito dela? Certamente, porque muitas vezes ela está escondida atrás de tantas outras coisas. O materialismo de nossa época tenta esconder de nós a espiritualidade. Tenta dizer que ela não tem lugar em nossa vida, que a alegria, a paz, a felicidade, a satisfação, tudo depende de uma maior e melhor materialidade. Acredito que haja alguma coisa a ser feita a respeito da espiritualidade, mas não a ser criada. Ela já está aí. O que deve ser feito implica devoção e oração, o desenvolvimento de um relacionamento mais humilde com nosso Criador, com nossos semelhantes e com o mundo ao nosso redor. Implica revestir-nos de humildade e perceber a graça de Deus, dispondo-nos a expressar amor quando pareceria mais fácil não amar.

Nome omitido a pedido do autor — A espiritualidade precisa ser cultivada?

W. Moody — Pensemos em um jardim. Você pode não cuidar de seu jardim e, por alguns anos provavelmente ele lhe dará flores. Porém, se você jamais cuidar dele, muito provavelmente o jardim será sufocado por plantas daninhas. Acho que devemos cuidar do jardim de nosso próprio coração, livrá-lo das ervas daninhas que atrapalham o nosso relacionamento com Deus.

Nome omitido a pedido do autor — O cultivo do jardim de nosso coração inclui estudo?

W. Moody — Para mim, é muito importante estudar a Bíblia. E esse estudo, no meu entender, inclui Ciência e Saúde. O estudo desses dois livros tem sido uma parte importante no cultivo de minha espiritualidade.

Nome omitido a pedido do autor — O senhor acredita que a Christian Science tenha um denominador comum com outras religiões?

W. Moody — O vínculo comum a qualquer pessoa que esteja em busca da verdade espiritual é, de certa forma, a própria busca. Todas as pessoas que estão nessa busca procuram alcançar alguma coisa que está além delas mesmas, estão em busca de uma realidade mais profunda e de um relacionamento mais próximo com o Ser Supremo. Onde quer que exista a compreensão de um único Deus e de nossa eterna relação com Ele, existe um elo comum a todos nós. Obviamente, os elementos de nossa crença serão bastante diferentes. Mas podemos nos unir, baseados no fato de que o Senhor nosso Deus é o único Senhor.

Nome omitido a pedido do autor — Mas, e se a busca espiritual de uma pessoa fizer com que ela se volte para dentro de si mesma, e não para Deus?

W. Moody — Esse é um dos perigos contra o qual temos de estar atentos, ou seja, o risco de que a busca espiritual se concentre totalmente em nós mesmos. Tudo o que Jesus ensinou em seu ministério tinha o objetivo de fazer com que nossa vida se voltasse para fora do eu, se votasse para Deus. O amor espiritual não é um amor voltado para o próprio eu. É o amor de Deus refletido e significa que temos de amar universalmente.

A promessa de nossa jornada espiritual individual é incrivelmente maravilhosa. Está muito além de qualquer medida mortal. Significa realmente reconhecer a presença de Deus em nossa vida, sentir o Seu amor em quaisquer circunstâncias. Saber que existe um poder que está presente para nos curar, salvar e nos mostrar a verdade, vale tudo o que pudermos dar em troca. É a pérola de grande valor.

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