A tão sonhada estabilidade econômica do Brasil parecia estar desmoronando dia após dia, com as sucessivas quedas da moeda, os boatos e os discursos pouco convincentes. Um amigo telefonou-me revoltadíssimo, precisava desabafar. Como pequeno empresário, estava sentindo na pele os efeitos dos acontecimentos e como economista formado, estava convencido de que as atitudes e medidas tomadas por pessoas do governo eram erradas e contraproducentes.
Meu amigo não era nenhuma exceção; muitos estavam, e estão, se sentindo vítimas indefesas da situação. Haverá algo que nós, pessoas do povo, possamos fazer?
Pensando nisso tudo, encontrei interessantes paralelos no livro do profeta Jeremias, na Bíblia. Aqui vale notar que as Escrituras são uma espécie de "mostruário" de praticamente todos os tipos de comportamentos e acontecimentos humanos. Embora referindo-se a fatos ocorridos há milhares de anos, revelam mais semelhanças do que diferenças em relação à época atual. Não é à toa que os ensinamentos inspirados da Bíblia se mantêm tão válidos agora como no tempo em que foram proferidos.
Voltando ao profeta Jeremias, lemos que o reino de Judá estava em situação periclitante. O rei havia feito alianças políticas erradas, por isso a nação estava sob a constante ameaça de invasão por parte da poderosa Babilônia. Os sacerdotes e profetas estavam mais interessados em agradar à classe dominante do que em dizer a verdade e repreender os erros. Jeremias sentiu o chamado de Deus para falar contra esse estado de coisas e alertar para as conseqüências.
O que chamou a minha atenção, no relato, foi o fato de que, embora denunciasse os erros do rei e das autoridades civis e religiosas, ele também denunciou os erros cometidos pelo povo todo. Não considerou o povo como vítima inocente, mas como cúmplice relapso: "Ó povo insensato e sem entendimento, que tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis... os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; é o que deseja o meu povo... porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à ganância..." (Jeremias 5:21, 31; 6:13).
Todos haviam abandonado a lei do Senhor e haviam se deixado influenciar por crenças e práticas idólatras. À primeira vista, poderíamos pensar que isso só fazia diferença na hora das cerimônias religiosas: em vez de fazer sacrifícios a Deus, sacrificavam a ídolos de madeira ou barro. Será que isso fazia tanta diferença? O fato é que, dessa forma, não se pautavam mais pelo padrão moral dos Dez Mandamentos. O segundo mandamento dizia para não fazer imagens nem lhes prestar culto. Uma vez esquecido esse mandamento, era fácil passar por cima dos outros que alertavam para não roubar, não cobiçar, não dar falso testemunho. Na ausência de um padrão moral, estavam confundidos sobre o certo e o errado, o bom e o ruim. Nesse estado mental, não conseguiam ouvir a orientação divina quanto ao que pensar e fazer. E isso "desde o menor deles até ao maior". Em poucas palavras, os erros políticos do governo eram apenas o reflexo de um estado coletivo de confusão mental e espiritual.
Ninguém deu ouvido às advertências de Jeremias. Veio o rei Nabucodonosor, da Babilônia, destruiu Jerusalém e levou para o cativeiro grande parte do povo de Judá. Jeremias não foi levado e continuou a profetizar aos que restavam. Mas jamais deixou de falar sobre a responsabilidade individual para com a coletividade. Até escreveu uma carta aos judeus exilados na Babilônia, dando sábios conselhos sobre como deveriam portar-se no exílio. Entre outras coisas, ele aconselha: "Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz" (Jeremias 29:7).
Estaremos nós cumprindo com nossa responsabilidade individual? Será que estamos fazendo nossa parte para ajudar a purificar o estado mental coletivo, de maneira a ouvir a orientação de Deus e vê-la refletida em sábias decisões humanas? Precisamos vencer a tentação das pequenas corrupções do dia-a-dia: como, por exemplo, fazer promessas de conveniência, sabendo que não serão cumpridas, ou cuidar sorrateiramente de assuntos pessoais em horário de expediente. Se fizermos um bom exame de nossos hábitos, à luz dos Mandamentos e dos ensinamentos de Jesus, encontraremos, sem dúvida, muita coisa a ser corrigida e estaremos ajudando o fortalecimento moral e espiritual da coletividade.
Além disso, seguindo o conselho do profeta, podemos orar pelo país. Orar não significa meramente suplicar a Deus que ilumine os governantes. Significa, isso sim, reconhecer, compreender, afirmar e manter na consciência o fato de que Deus é o supremo e verdadeiro governante, não só do país, mas de cada um de nós. Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy nos dá uma definição de Mente, sinônimo de Deus, que serve de fundamento a esse raciocínio: "Mente: O único Eu, ou Nós; o único Espírito, Alma, Princípio divino, substância, Vida, Verdade, Amor; o único Deus; não aquilo que está dentro do homem, mas o Princípio divino, Deus, de quem o homem é a plena e perfeita expressão; a Divindade, que delineia, mas não é delineada" (p. 591).
Com base nessa definição, podemos pensar na união divina que existe entre "Eu" e "Nós". Nessa união, na Mente única e infinita, não há conflito de interesses, não há choque entre o bem individual e o bem da coletividade, não existe a possibilidade de alguém se beneficiar em detrimento da comunidade. Lembrando-nos de que "o homem é a plena e perfeita expressão" do Princípio divino, Deus, podemos reconhecer que cada um, o cidadão e os governantes, têm a inspiração e a capacidade de tomar as decisões corretas, de encontrar soluções adequadas. Conscientizando-nos de que é essa Mente de inteligência infinita que delineia com perfeição todas as coisas, podemos ter a certeza de que o plano espiritual delineado por nosso Pai abençoa todos os Seus filhos, sem distinção, e não está sujeito a planos econômicos que podem ser bem, ou mal, sucedidos.
O cultivo desses conceitos mais espirituais é oração científica. Ela eleva nossa consciência e nos ajuda a ouvir as mensagens divinas, ou inspirações, quanto ao que fazer ou deixar de fazer. Essa consciência espiritualizada é uma influência poderosa para o bem em nossa vida pessoal, na comunidade, no país e no mundo.
