Skip to main content Skip to search Skip to header Skip to footer

O Evangelho de Marcos em nossa vida

Final do relato — Marcos 16:1-8 +

(Parte 25)

Da edição de maio de 2001 dO Arauto da Ciência Cristã


Os segmentos dos últimos meses registraram os derradeiros dias do ministério terreno de Jesus. Falaram sobre a traição, o abandono, as falsas acusações, a tortura e o sepultamento. Os leitores da Bíblia certamente estão a par da ressurreição, mas convido-os a dedicar uma atenção especial à versão de Marcos sobre ela.

16:1–8 Passado o sábado,as três mulheres identificadas anteriormente, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para embalsamar Jesus. E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo. Tendo presenciado o fechamento do túmulo, sua maior preocupação era como aproximar-se do corpo de Jesus. Diziam umas às outras: Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo? Evidentemente, seria inútil irem até lá para embalsamar o corpo de Jesus, se não tivessem certeza de que conseguiriam remover a pedra.

Constatamos, porém, que elas haviam se preocupado desnecessariamente porque, olhando, viram que a pedra já estava removida. O significado dessa informação é enfatizado pelo comentário de que a pedra era muito grande. Então, as mulheres, entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito, vestido de branco. Imaginem o susto! E ficaram ... atemorizadas. Será uma imagem divina, um anjo?

Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis. Ele sabe que elas buscam a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado. Então lhes diz que ele ressuscitou, não está mais aqui. Muitas traduções modernas dizem “foi ressuscitado”. Isso indica que Jesus foi ressuscitado por Deus. E por ter sido ressuscitado, ele não será encontrado entre os mortos, mas sim, entre os vivos. O jovem, ou anjo, convida as mulheres a verificarem, por si mesmas, e diz: vede o lugar onde o tinham posto. Era como se ele estivesse dizendo: Jesus não estava ali. Então, ele as encarrega de uma tarefa: Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro, especificamente, que ele vai adiante de vós para a Galiléia. A Galiléia é o lugar onde eles haviam sido chamados para se tornar discípulos, e onde Jesus lhes dissera que iria adiante deles depois da ressurreição. Ver Marcos 14:28. Esse seria mais do que um reencontro. Seria uma nova consagração, outro chamado para “seguir” Jesus. Eles eram chamados a segui-lo, mesmo quando não o viam. O anjo continuou: lá o vereis, como ele vos disse. Estava sendo oferecida a eles a oportunidade de um novo início.

Porém, a alegria e a expectativa desse momento feliz, rapidamente se desvanecem, quando lemos que as mulheres, saindo ..., fugiram do sepulcro o mais rápido que puderam, porque estavam possuídas de temor e de assombro; e, de medo, nada disseram a ninguém. Muitos estudiosos contemporâneos concordam que, nesse ponto, Marcos termina seu evangelho. É um final repentino, inconcluso e bastante insatisfatório. É tão inaceitável, que não demorou muito para que finais mais satisfatórios fossem acrescentados ao evangelho.

Um deles é conhecido como o final curto, citado com pequenas variações por antigas autoridades no assunto: Mas elas contaram resumidamente a Pedro e aos que estavam com ele, tudo o que lhes havia sido dito. E, depois disso, Jesus transmitiu, por intermédio deles, desde o oriente até o ocidente, a proclamação sagrada e imorredoura da salvação eterna. O propósito principal desses versículos é negar o silêncio das mulheres, mostrando que elas superaram o medo e fazendo com que elas contem tudo a Pedro. Esse final sugere o aparecimento de Jesus após a ressurreição, e encarrega os discípulos de uma missão universal “desde o oriente até o ocidente”.

O mais comum, porém, é o final mais extenso, que inclui os versículos 9 a 20 e que utiliza pequenos trechos de outros evangelhos, bem como do livro dos Atos dos Apóstolos. O aparecimento de Jesus primeiro o Maria Madalena, é descrito mais detalhadamente em João 20:11-18. Seu aparecimento a dois deles que estavam de caminho para o campo, para uma aldeia chamada Emaús, é narrado em Lucas 24:13-35. Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa. Esse aparecimento também é relatado em Lucas 34:36—49. A incumbência de Jesus para eles era: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. É uma repetição do que é dito em Mateus 28:19-20. Entre os sinais que hão de acompanhar aqueles que crêem está o incidente relatado em Atos 28:1-6. A ascensão de Jesus é descrita mais detalhadamente em Atos 1:1— 9. O fato de que eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam, está confirmado em Atos 14:3.

Ninguém pode negar que esse final mais extenso é mais satisfatório e mais completo. Porém, muitos estudiosos acreditam que esse final foi acrescentado durante o segundo século, para dar “uma conclusão satisfatória” ao evangelho. Ele não consta dos melhores e mais antigos manuscritos e é muito diferente do restante do evangelho, tanto em estilo quanto em vocabulário. E, embora certamente se constitua numa leitura mais agradável, esse final não tenta resolver as questões deixadas no final original. Ele não procura conciliar esses versículos com a atitude das mulheres no versículo 8. Maria Madalena reaparece no versículo 9, embora seja uma das mulheres que estavam no túmulo.

Esse final confirma a universalidade da missão de Jesus; fala de batismo e de sinais, temas que não tiveram muito destaque em Marcos. O último versículo declara que os discípulos obedeceram e fizeram o que lhes havia sido recomendado. Esse comportamento difere bastante de seu comportamento anterior. Sem dúvida, é um bom final, mas poucos sustentariam que ele tenha sido escrito por Marcos.

Opiniões anteriores sobre o porquê de o evangelho de Marcos terminar no versículo 8, aventam a possibilidade de que Marcos tenha sido martirizado antes de ter conseguide terminar o trabalho, e também de que a última página tenha sido perdida. Apesar dessas considerações, estudos mais recentes da Bíblia, do ponto de vista literário, apontam fortes razões para aceitarmos o versículo 8 como o final do Evangelho de Marcos. Por acaso esse livro não esteve repleto de mudanças repentinas, reviravoltas, surpresas e inversões? As coisas nunca aconteciam da maneira como esperávamos. Não seria o estilo do autor deixar o evangelho inacabado, com um final em aberto? Os estudiosos da Bíblia consideram que essa ausência de um fechamento no evangelho produz uma reação sobre os leitores. Muitos de nós não gostamos quando as questões apresentadas não são resolvidas. Resistimos à tensão resultante disso. Muitas vezes, não conseguimos parar de pensar no assunto.

No início desta série de artigos, observamos que a única coisa que poderíamos saber, com certeza, sobre esse evangelho, era como nos sentíamos ao nos inteirarmos sobre ele, qual era nossa reação ao que ouvíamos e líamos. Observamos que o livro nos convidava a sentir e a reagir, a adentrar seu mundo. O primeiro versículo nos dizia que Jesus era o Messias, o Filho de Deus. Era uma “informação adicional” que nos foi dada bem no começo. Então, observamos como as personagens, durante toda a narrativa, se debatiam com essa questão. Vimos que as autoridades religiosas rejeitavam, repetidamente, os ensinamentos de Jesus. Colocamos nossas esperanças nos discípulos, regozijando-nos com sua fidelidade, mas desesperandonos com sua falta de compreensão. Que momento triste aquele em que todos fugiram, durante a prisão de Jesus, principalmente depois de terem empenhado sua vida a ele! Nossa esperança renasceu quando descobrimos que algumas mulheres ainda estavam presentes, e que elas o haviam seguido à distância. Três delas viram onde Jesus tinha sido enterrado e, mais tarde, voltaram para embalsamar o corpo que, nós sabíamos, já havia sido ungido por uma outra mulher (ver Marcos 14:3-9). Além disso, em três ocasiões distintas, Jesus havia dito que seu corpo não permaneceria no túmulo.

Quando ficou claro que a sepultura estava realmente vazia, e que Jesus havia ressuscitado, nossa alegria aumentou. Nós queríamos saber do Cristo ressurgido, e vivenciá-lo. Assim que soubemos que o túmulo estava vazio, mudou completamente nosso conceito sobre os eventos relacionados com a crucificação, bem como a preocupação com o fato de o povo não ver e não entender o que ele dizia. Tudo se desvaneceu com a glória da ressurreição. Ouvimos com expectativa as instruções do jovem que disse às mulheres que Jesus iria adiante deles para a Galiléia, “como ele vos disse”, e que elas deveriam contar as boas-novas aos discípulos. É em busca dessa mensagem que estivemos desde o primeiro versículo, que anunciou que esse era o “princípio do evangelho” ou das boas-novas. Tivemos muitas razões para acreditar que era assim que as coisas iriam acontecer, pois muitas das promessas de Jesus já haviam sido cumpridas.

Porém, para nossa grande surpresa, lemos exatamente no versículo seguinte que as mulheres não foram até o final, que elas fugiram com medo e “nada disseram a ninguém”. Talvez queiramos nos apegar imediatamente ao argumento de que elas devem ter ficado caladas a respeito do caso apenas por algum tempo. Afinal, estamos a dois mil anos desse acontecimento, e como sabemos da história, as mulheres necessariamente devem tê-la contado a alguém. Mas esse raciocínio pode nos afastar do ponto mais importante da questão.

Na condição de leitores, como nos sentimos ao saber que nada resultou da visita das mulheres ao túmulo? Que o relato realmente termina de maneira repentina e incompleta? A falta de um fechamento nos deixa com uma sensação desconfortável. De uma certa forma, ficamos sem palavras e profundamente decepcionados. Mas com quem? Com as personagens? Será que ficamos pensando que eles deveriam ter agido de uma forma diferente? Como nós agiríamos se estivéssemos na situação deles? Tentaríamos não cometer as mesmas falhas que eles?

De repente, percebemos que estamos aplicando “o Evangelho de Marcos em nossa vida”, em um nível totalmente diferente. Talvez a questão mais importante não seja o que Pedro e os discípulos fizeram, mas o que nós estamos fazendo. Esse evangelho é sobre “eles” ou foi escrito para “nós”? Jamais se pretendeu que ele simplesmente apresentasse uma história imparcial sobre Jesus; ele também é um relato feito por Jesus. Portanto, estamos diante da profunda percepção de que nós, também, precisamos dar um enorme salto no que se refere à fé. A conclusão em aberto nos convida também a “seguir”, pois Jesus vai “adiante de vós..., como ele vos disse”. Estaremos preparados para obedecer a esse chamado, para aceitar o convite de Jesus e segui-lo, aonde quer que ele nos conduza? Talvez esse seja o começo das boas-novas, porque é o início do nosso próprio aprendizado, na condição de discípulos. O fato de conhecermos a história é uma prova do perdão, da restauração e da redenção de Deus. Aí encontramos a mensagem e a promessa.

Agora, compreendendo o final inacabado, talvez nos sintamos inclinados a voltar ao início e ler o evangelho novamente, percebendo sua mensagem de uma maneira diferente. Não poderia haver homenagem mais adequada do que essa a Marcos.

Para conhecer mais conteúdo como este, convidamos você a se inscrever para receber as notificações semanais do Arauto. Você receberá artigos, gravações em áudio e anúncios diretamente via WhatsApp ou e-mail.

Inscreva-se

Mais nesta edição / maio de 2001

A missão dO Arauto da Ciência Cristã 

“...anunciar a atividade e disponibilidade universal da Verdade...”

                                                                                        Mary Baker Eddy

Conheça melhor o Arauto e sua missão.