Era uma noite agradável de verão. Estávamos todos sentados na sala, conversando. De repente, surgiu o assunto sobre violência na cidade. São Paulo tem um dos maiores índices de criminalidade no país e muitas famílias preferem morar em apartamentos para se sentirem mais protegidas. Essa conversa amedrontou uma de minhas sobrinhas menores. Soluçando, ela puxou-me para o lado e disse-me: “Mas, se os ladrões são filhos de Deus, eles não nos podem fazer mal, não é?” A garotinha estava certa, mas eu queria que ela entendesse um pouco melhor porque isso é verdade. Falamos sobre o amor de Deus e sobre a importância de amarmos a todos, indistintamente. É importante para cada um de nós amar e ver todas as pessoas como Deus as vê, sempre boas e incapazes de fazer o mal. A natureza espiritual de cada um dos filhos de Deus é pura e perfeita. Essa forma de pensar nos acalma e nos protege. Em seguida, a menina perdeu o medo e voltou a brincar.
A Bíblia mostra que podemos nos sentir protegidos, mesmo quando somos bombardeados por notícias amedrontadoras. Com a leitura das Escrituras, aprendi a sentir cada vez mais a presença de Deus, que com Seu amor protege, ilumina e guia a cada um de Seus filhos.
Uma cidade é formada por um conjunto de habitantes, com várias características, costumes, níveis sociais e de educação. Isso me faz pensar na Epístola aos Efésios, pois essa carta foi dirigida a uma ou a diversas comunidades, não se sabe ao certo,The Access Bible, New Revised Standard Version, p. 289, Gail R. O’Day and David Peterson. Oxford University Press, New York, 1999. com a intenção de mostrar como o amor de Deus é poderoso e capaz de trazer a união até mesmo entre judeus e gentios, que naquela época não conviviam em harmonia.
Como podemos relacionar esse amor com a violência desta época? Podemos partir do princípio estabelecido na carta, de que “há um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (4:6). Essa é uma verdade para o mundo de hoje, para todos os habitantes de nossa cidade e do planeta, e não deixa lugar nem razão que justifique a violência, pois Deus é bom e só faz o bem. Conseqüentemente, se Ele age por meio de todos, a ação de cada um só pode ser boa.
Há alguns anos, pude comprovar como isso realmente funciona. Fui buscar meus sobrinhos na escola, com o carro da minha irmã. Ao chegar à casa deles, estacionei e todos descemos do carro. Quatro rapazes vieram em nossa direção. Um deles veio até mim e, mostrando uma pistola, pediu a chave do carro. Não senti medo e imediatamente pensei que aquele rapaz era filho de Deus, perfeito e bom. Hesitei em entregar-lhe as chaves do carro. Eu continuava orando em silêncio, sabendo que nada de mal poderia acontecer a mim ou a ele. Acabei por entregar-lhe as chaves, a pedido da minha sobrinha. Então, ele quis levar minha bolsa, que continha todos os meus documentos e uma elevada quantia em dinheiro retirada do banco naquele dia. Pedi por favor que não a levasse, e ele concordou. Em seguida, os rapazes partiram, levando o carro.
As crianças e eu entramos na casa. Estávamos todos bem. Chamei a polícia para comunicar o assalto e liguei para um praticista da Christian Science para que me ajudasse por meio da oração. Mais tarde, eu e meu sobrinho mais velho fomos à delegacia para fazer um boletim de ocorrência. No caminho, conversávamos sobre Deus e sobre a proteção divina que havíamos presenciado, porque apesar de o carro ter sido levado, não havíamos sofrido maus tratos nem violência. Como havíamos ouvido um comentário de que, graças ao seguro, aquele assalto seria uma oportunidade para comprar um carro novo, meu sobrinho refletiu sobre o assunto e disse: “Tia, Deus não pode mandar o bem através do mal, não é?” Esse comentário caiu-me como um bálsamo! Senti-me aliviada, em paz, inocente, ilesa e certa de que não poderia ser prejudicada, nem enganada. Na mesma noite recebemos um telefonema, avisando-nos de que o carro havia sido encontrado. E o rapaz que me havia apontado a arma foi detido e admitiu sua culpa.
Ao orarmos constantemente, compreendendo que há um só “Pai de todos”, estamos nos unindo a Deus e aos que estão ao nosso redor, sejam eles quem forem, estejam onde estiverem. Essa união, em pensamento, traz paz, esperança e proteção a nós mesmos e à nossa cidade. Paulo escreveu sua carta aos Efésios, provavelmente, enquanto estava preso por pregar os ensinamentos do Cristianismo. Ele se refere a si mesmo como “prisioneiro no Senhor” (4:1) e nos exorta a que vivamos de acordo com o que Jesus ensinou. Paulo nos mostra a Cristo Jesus como “o Legislador de um império universal”, no qual todos temos direitos e obrigações iguais. The One Volume Bible Commentary, p. 960, J.R.Dummelow. Queens’ College Cambridge. Macmillam Publishing Company, New York. Podemos, então, ver que todos temos a “obrigação” de fazer o bem e o “direito” de receber o bem. Essa “obrigação”, entretanto, não é ruim, mas sim natural e deve-se ao fato de sermos regidos pelas leis divinas, pela nossa natureza espiritual, completamente boa. Cristo Jesus deixounos vários exemplos dessa bondade e do amor divino que sempre abençoa.
Oremos por nossas cidades; “...falando a verdade com espírito de amor, cresçamos em tudo até alcançarmos a altura espiritual de Cristo, que é a cabeça — ’a fonte da união, do crescimento espiritual e da energia’. É ele quem faz com que o corpo todo — ’a comunidade’ — fique bem ajustado..”Ibid., p. 964 e A Bíblia Sagrada — Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000, Efésios 4:15-16. em paz e sempre protegido.
