: Durante as próximas duas horas, estaremos descobrindo mais sobre a vida de Mary Baker Eddy, sobre seu amor por nós e pela humanidade. Faremos isso com a ajuda de três amigos, dois dos quais são d’A Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade. Lesley Pitts é Gerente de Arquivos e Chet Manchester é Diretor Artístico. Dra. Annette Kreutziger-Herr, professora na Universidade de Hannover, será a moderadora da discussão.
: As bibliotecas representam um rico legado para a Europa. Reconhecendo isso, damos as boas-vindas a essa nova biblioteca.
: Há exatamente um século, em 1903, coisas interessantes estavam acontecendo. A Sra. Eddy enviou uma mensagem às pessoas que tinham se reunido para o culto de comunhão e a Assembléia Anual. Esse evento foi o encontro mais internacional do movimento da Christian Science, até aquela época. Pessoas de Melbourne e Sydney, na Austrália, foram a Boston. Fizeram viagens de navio, por várias semanas. Do continente europeu, muitos chegaram da França, Inglaterra e Irlanda. Do Canadá e da Califórnia, quantos não foram de trem! Ao todo, de 12.000 a 13.000 pessoas foram a Boston.
: A Sra. Eddy tinha enviado uma mensagem a todos os participantes, para dizer que não discursaria durante a assembléia, por isso eles não esperavam vê-la. Mas, no final do culto de comunhão, ela pediu que alguém transmitisse a todos um convite para irem a sua casa, Pleasant View, em Concord, no estado de New Hampshire, cidade a 96 Km ao norte de Boston. O convite era para o dia seguinte e foi uma surpresa maravilhosa para todos os participantes.
Chet: Ao pensarmos sobre a apresentação de hoje, sentimos, de certo modo, que todos estamos fazendo uma visita a Mary Baker Eddy. Mais uma vez, este é um encontro internacional e único. E todos temos a oportunidade de visitá-la por meio de seus escritos históricos, seus papéis, cartas e outros documentos.
Annette: A Sra. Eddy diz que: “ela permanece em seu posto, sem aparecer” (Ciência e Saúde, p. 464). Será que ela não teria preferido permanecer em seu posto, sem aparecer?
Lesley: Creio que essa é uma pergunta muito importante. E espero que A Biblioteca Mary Baker Eddy possa ajudar a respondê-la. A resposta está em seus escritos.
Chet: Ao escrever a 50a edição de Ciência e Saúde, a Sra. Eddy se mudou de Boston. Deixou seu ensino e fechou a Faculdade de Metafísica de Massachusetts. Desfez a organização de sua igreja. Tudo isso para que pudesse se concentrar nessa grande revisão. Temos a tendência de ler Ciência e Saúde e pensar que foi escrito assim logo de início. Mas, o livro cresceu e se desenvolveu durante quase 40 anos.
Lesley: E ela não estava se concentrando só em Ciência e Saúde. Estava também coletando material para outro livro, sua autobiografia, Restrospecção e Introspecção. É interessante saber que, embora estivesse em reclusão naquela época, estava pensando em publicar um livro sobre si mesma. Reconhecia a necessidade crescente de o público saber mais a respeito da autora de Ciência e Saúde.
Annette: Mas, escrever uma autobiografia no século XIX era algo muito corajoso para uma mulher, não era?
Lesley: Sem dúvida. Na América do século XIX, era aceitável uma mulher escrever poesias ou ficção, ou mesmo escrever sobre sua vida num diário pessoal e publicá-lo. Mas era inusitado uma mulher escrever sobre temas importantes como a ciência, a teologia, a medicina e depois escrever sobre si mesma como a descobridora de um novo sistema de cura.
Annette: Há muitas autobiografias de autoras européias. Por exemplo, Meine Lebensgeschichte (A história da minha vida) de Fanny Lewald (1861); a autobiografia de George Sand (1854), a amiga de Frederic Chopin; e a minha favorita, a autobiografia de Regula Engel, 1821, chamada A Swiss Amazon (Uma amazona suíça). Todos esses textos tratam da vida, atitudes e pensamentos femininos, mas não abordam as questões abordadas pela Sra. Eddy.
Chet: A Sra. Eddy, como mulher do século XIX, estava desempenhando papéis que, tradicionalmente, eram reservados para os homens. A sociedade achava ruim e especulava sobre sua vida. Eis uma mulher que se casou três vezes e se divorciou uma. As pessoas especulavam sobre muitos aspectos de sua vida e seu sistema de ensino. O clero, por exemplo, ao saber de suas idéias, afirmava que eram anticristãs e não coincidiam com a Bíblia. Médicos e cientistas, ao saber de seu sistema de cura, o rotulavam de não-científico e charlatanismo.
O que é interessante, porém, é que durante a década de 1880, em que a Sra. Eddy deu grande atenção ao ensino da Christian Science e à Faculdade de Metafísica de Massachusetts, ela ajudou muitos homens e mulheres a compreender a prática da cura espiritual e a estabelecê-la como profissão. À medida que essas práticas cresciam e o registro de curas aumentava, as pessoas não mais podiam negar que havia algo de verdadeiro ali. Mas, foi aí que um novo desafio surgiu.
Lesley: Julius Dresser começou a declarar em público que a Sra. Eddy não era a Descobridora da Christian Science e roubara as idéias de Phineas Quimby, que praticara a cura pelo magnetismo em Portland, Maine. Quimby já tinha falecido, mas Julius Dresser declarava que a Sra. Eddy não descobrira aquelas idéias. A Sra. Eddy respondeu a essas alegações, escrevendo um artigo no The Christian Science Journal, intitulado “Mind-Healing History” (A história da cura-pela-Mente), que refutou as declarações de Dresser (junho de 1887, p. 109).
Chet: Esse artigo é mais um exemplo de como a Sra. Eddy estava vendo a necessidade de apresentar fatos corretos sobre a história da Christian Science e sua própria história. Estava começando a aprender, por meio de experiências difíceis, que estabelecer a Causa da Christian Science também significava estabelecer os fatos sobre a Descobridora e Fundadora da Christian Science. Ela era modesta de nascença, mas agora estava descobrindo que seus feitos e os fatos sobre a história de sua vida precisavam ser conhecidos.
Em Ciência e Saúde ela escreveu: “A perseguição a todos os que falaram alguma coisa de novo e de melhor a respeito de Deus, não só obscureceu a luz dos séculos, como também foi funesta para os perseguidores. Por quê? Porque tal perseguição lhes ocultou a verdadeira idéia que lhes havia sido apresentada” (p. 560).
Annette: O que acho interessante nessa citação é o tema da luz e da vida.
Lesley: Creio que se pode vislumbrar em suas cartas e seus escritos, o amplo alcance desse tema. Vê-se que não se trata de uma mulher americana preocupada com a maneira como o mundo a vê pessoalmente. Trata-se de não permitir que a luz da Christian Science seja obscurecida por uma sombra lançada sobre a Descobridora e Fundadora desse sistema de cura.
Chet: Todos provavelmente reconhecem esse tema de luz e vida. Foi o tema da Assembléia Anual do ano passado. E vem de uma afirmação que a Sra. Eddy escreveu a seu aluno Edward Kimball em 1893: “Se o mundo me compreendesse em minha verdadeira luz e vida, isso faria mais em favor da Causa do que qualquer outra coisa. Depreendo isso do fato de o inimigo procurar esconder do mundo essas duas coisas, mais do que ganhar em quaisquer outros pontos. Também a vida e o caráter de Jesus foram tratados de forma semelhante, quando primeiro apareceram. E eu lamento ver que alunos leais não estejam mais atentos para essa grande exigência, nas medidas que eles tomam para enfrentar as táticas do inimigo” (L07433).
Annette: Ela fala de um inimigo. Não é uma pessoa, é?
Lesley: Não, ela não se refere a uma pessoa. Quando usa a palavra inimigo em seus escritos, refere-se a uma oposição mental, que, nesse caso, tentaria obscurecer o seu papel ou impedir que o mundo o compreendesse.
Ajuda muito entender um pouco mais sobre o contexto dessa afirmação a Edward Kimball. Foi feita depois da Feira Mundial de Chicago em 1893. Essa Feira Mundial incluiu um Congresso sobre Religiões. A Sra. Eddy não o assistiu, mas escreveu um discurso especial para essa ocasião. Um de seus alunos, o Juiz Septimus Hanna, foi incumbido de lê-lo para a platéia. Mas, ela lhe deu instruções claras de que nenhuma cópia deveria ser distribuída à imprensa. Depois do discurso, porém, no meio de muita confusão, foi exatamente isso que o Juiz Hanna acabou fazendo. Deu o discurso para a imprensa, que o publicou como se Hanna fosse autor daquelas idéias, e não Mary Baker Eddy. Por essa razão, ela estava muito desapontada, no final da Feira Mundial. Mais uma vez, suas idéias tinham sido separadas dela.
Annette: Mas isso sempre aconteceu na história. Há muitos exemplos de idéias de mulheres que foram atribuídas aos homem. Temos um até no Hinário da Ciência Cristã. Todos amamos e conhecemos o hino número 174, “Deus nos conforta tal qual a mãe aos filhos...” A melodia é atribuída a Felix Mendelssohn, mas foi escrita pela irmã dele, Fanny.
Chet: Espero que possamos fazer uma mudança da próxima vez que o Hinário for impresso. Gostaríamos de atribuir a Fanny a melodia dela.
Lesley: Vejamos algumas cartas que a Sra. Eddy escreveu a conferencistas da Christian Science em 1899, apenas um ano depois de o Conselho de Conferências ter sido estabelecido. A primeira carta foi enviada a William McKenzie: “O que as pessoas necessitam, a fim de amar e adotar a Christian Science, é apenas uma compreensão verdadeira de sua fundadora. Nossa Causa avançará na proporção em que elas adquirirem essa compreensão” (L13046).
Chet: E aqui está o que ela disse a Carol Norton, outro conferencista da Christian Science, naquele mesmo ano: “Agradeço sempre por teres tu uma noção bem fundamentada a meu respeito. Há muito mais que depende disso, mais do que os alunos todos percebem. Sem uma noção correta a meu respeito, a escuridão se aglomera e aumenta até que chega a noite (a separação) e nós nos separamos de maneira visível. Ao passo que o pensamento verdadeiro a respeito de sua líder permite que entre a luz, mesmo quando eles não sabem de onde vem” (L02047).
Annette: “O pensamento verdadeiro a respeito de sua líder”. O que significa isso? Quer dizer em um sentido espiritual?
Chet: Gostaria que você respondesse a essa pergunta, Annette, porque você é historiadora. Perguntaria a você: por que é útil compreender a obra de qualquer pensador importante em relação à vida dessa pessoa?
Annette: Bem, os historiadores trabalham com fontes de informação, pois, em geral, a história está num tempo distante do nosso. Isso significa que não estamos lá e, se não há ninguém para nos contar o que aconteceu, dependemos exclusivamente de fontes originais. A Nona Sinfonia de Beethoven é um exemplo que todos conhecemos e amamos. Quando você a toca, é claro que ela eleva você para o céu. Mas, para realmente compreender o que Beethoven poderia estar dizendo com sua música, é muito importante entender o que é classicismo, o que estava acontecendo em Viena em meados de 1820, o impacto que a Revolução Francesa teve no pensamento de Beethoven.
Chet: Creio que isso é muito relevante para o estudo da Bíblia. Por exemplo, quando você aprende mais sobre a vida de Paulo, consegue entender um pouco da transformação dramática pela qual passou quando estava a caminho de Damasco. Imaginem o que seria ler as cartas de Paulo, sem uma compreensão dessa transformação. A Bíblia é um exemplo maravilhoso de algo que nos dá detalhes suficientes sobre as vidas que estão ligadas às palavras, de modo que possamos apreciar a profundeza dessas palavras e de como elas surgiram da experiência vivida.
Lesley: As idéias da Sra. Eddy surgiram de uma experiência vivida. As palavras que escreveu e publicou em Ciência e Saúde nasceram de sua experiência, sua prática e suas orações. Creio que, ao compreendermos mais sobre a vida dela, deveríamos ter a expectativa de que nossa compreensão de Ciência e Saúde será iluminada.
Annette: Vocês dois trabalham bastante com o acervo da Biblioteca. Também são Cientistas Cristãos muito dedicados. A leitura de Ciência e Saúde mudou como resultado do trabalho com as coleções e dos maiores detalhes sobre a vida da Sra. Eddy?
Chet: A palavra mais certa seria revolucionou. Posso dizer honestamente que, antes de meu contato com essas coleções, tinha apenas um senso vago da autora em conexão com as idéias em Ciência e Saúde.
Lesley: Sou da Inglaterra. Enquanto crescia, as idéias de Mary Baker Eddy eram importantes para mim, mas a vida dela não o era. Não entendia por que precisava compreender a história de uma mulher americana. Para mim foi uma revelação e tanto!
Chet: Creio que permitiu que nós dois víssemos como o livro surgiu diretamente da experiência dela. Sob muitos pontos de vista, Ciência e Saúde é autobiográfico. Se você o lê com uma compreensão do contexto e da história associada a ele, as páginas tomam vida.
Lesley: Vamos abrir Ciência e Saúde e mostrar a vocês o que queremos dizer. Começarei com o prefácio. Eis o que a Sra. Eddy escreveu sobre si mesma: “Antes de escrever esta obra, Ciência e Saúde, a autora fez numerosos apontamentos de exegese bíblica, que nunca foram publicados. Isso foi durante os anos de 1867 e 1868. Esses esforços mostram como, até aquela época, estava ela numa relativa ignorância acerca do estupendo problema da Vida, e as etapas pelas quais chegou, finalmente, à sua solução; ela, porém, preza esses apontamentos, tal como os pais têm estima pelas recordações do desenvolvimento de um filho, e não gostaria que fossem modificados” (p. ix). Bem, esses “numerosos apontamentos de exegese bíblica” estão agora publicados na Biblioteca. Ela escreveu quase 630 páginas de anotações só sobre o livro do Gênesis. E guardou esses documentos pelo resto da vida.
Chet: Pensem numa mulher que está completamente só. Teve uma cura importante. Está morando em pensões, mudando de lugar para lugar, lutando para sobreviver. Mas essa revelação, esse profundo vislumbre que teve, a ilumina. Está mergulhando no livro do Gênesis para compreender o que foi que a curou. E está começando a articulá-lo. Nessas anotações, você quase tem a impressão de estar em pé atrás dela, olhando o que escreve.
Agora, vejamos a página três dessas anotações para obter uma idéia do que está escrevendo. Ela diz: “Às multidões que clamam a Deus, pedimos apenas que, pacientemente e sem preconceitos, examinem as Escrituras que contêm esta ciência. Isso lhes possibilitará desembaraçarse dos pesos da crença que tenazmente as assediam e correr com regozijo a carreira que lhes está proposta” (A0900, s/d, A Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade).
Lesley: Eu gosto tanto disso, porque nos possibilita rastrear os passos da pioneira de uma ciência recémdescoberta. Agora, ser pioneira é complicado. Vocês verão muitos trechos riscados, toda vez que a Sra. Eddy recomeça. Ela volta ao começo do Gênesis repetidas vezes porque, obviamente, não gostou do que escreveu na primeira parte. A dedicação e o esforço enormes sobressaem, quando se examinam essas anotações.
Chet: Evidentemente, são anos de trabalho. E o fato de ela ter guardado essas anotações. Vocês podem imaginá-la enrolando os papéis, colocando-os no baú, mudando com eles para a próxima moradia e depois guardando-os pelo resto da vida.
Annette: Voltemos mais uma vez para o contexto do século XIX. É inusitado uma mulher interpretar as Escrituras, especialmente o livro do Gênesis, não é?
Lesley: Sem dúvida. A Bíblia era citada como autoridade para restringir a mulher na sociedade e na igreja da América do século XIX. A história de Adão e Eva, em Gênesis, era muitas vezes usada para definir o papel da mulher como responsável pela procriação ou como “ajuda doméstica” para o marido. Os Estados Unidos, no século XIX, era uma sociedade muito baseada na Bíblia. Então, se a Bíblia interpretava que uma mulher não podia pregar, ou discursar em público, não podia gozar dos mesmos direitos do homem e fazer parte do clero, isso realmente moldava a visão que a sociedade tinha do que a mulher podia fazer.
Annette: As interpretações da Bíblia também eram usadas para justificar a escravidão, por exemplo.
Chet: Sim, eram. E interpretações restritas da Bíblia foram usadas para justificar questões como o apartheid na África do Sul. E até hoje elas influenciam a mulher poder ou não fazer parte do clero.
Lesley: Temos outra carta do acervo da Biblioteca, uma carta que a Sra. Eddy enviou em 1903 a um homem que havia sido pastor. Ela escreveu: “A Bíblia me proporciona o tempo todo aprendizagem e pesquisa. Todos os outros livros vêm e vão, mas esse vive para sempre” (L05722, Mary Baker Eddy ao Reverendo Jesse L. Fonda, 12 de dezembro de 1903).
Temos também quase 40 Bíblias que pertenciam à Sra. Eddy, com suas anotações escritas à mão nas margens. Ela não tinha medo de marcálas. Ao ler o que está escrito nas margens, começamos a compreender que ela consultava a Bíblia diariamente. Às vezes ela escrevia a data junto aos versículos da Bíblia e explicava o evento que a levara a consultar aquela passagem. Ela estava procurando orientação e respostas.
Annette: Gostaria de abordar outro tema, tão central para Ciência e Saúde quanto o foi a Bíblia, isso é, a busca da Sra. Eddy pela cura e sua pesquisa dos sistemas de cura de sua época.
Chet: Quando você lê Ciência e Saúde, encontra muitas referências aos sistemas de cuidados com a saúde no século XIX. Isso porque o livro foi escrito por uma mulher que passou a primeira metade de sua vida procurando a cura. Ela investigou os sistemas médicos da época. Quando você lê uma de suas descrições detalhadas é porque ela sabia do que esse tratamento consistia.
Lesley: Creio que é útil voltarmos à América do século XIX e pensarmos sobre os cuidados com a saúde que existiam na época. Doenças graves realmente eram um modo de vida para muitas pessoas daquele tempo. A Sra. Eddy não era a única pessoa a buscar a cura. Os doentes não estavam escondidos nas clínicas e nos hospitais. Estavam bem à vista. Eram parentes e vizinhos. E discutiam tratamentos e tentativas de cura. Muitas vezes, era a mulher que cuidava dos doentes, em casa. Precisava cuidar do marido, dos filhos, da mãe e do pai.
Alguns dos tratamentos do século XIX, como remédios e sangrias, eram muito primitivos. A mulheres procuravam tratamentos mais delicados para usar nos cuidados prestados a seus parentes doentes. Mas, já existia na América daquela época, outra alternativa bem estabelecida, que chegara aos Estados Unidos por volta de 1825.
Annette: Mary Baker Eddy deve agradecer aos alemães, pois foi Samuel Hahnemann da Saxônia, na Alemanha, que desenvolveu o sistema chamado homeopatia, no final do século XVIII. A homeopatia trouxe uma visão diferente para o tratamento e poderíamos até dizer que seu slogan preferido seria: “confie menos nos remédios, e não mais.” Diz a teoria que quanto mais se dilui a droga homeopática, mais potente ela se torna.
Chet: Foi o segundo marido de Mary Baker Eddy, Daniel Patterson, que lhe mostrou esse sistema de cura. Ela estudou a homeopatia durante muitos anos e disse que o que aprendeu foi um passo de vital importância em sua jornada, dando-lhe vislumbres significativos quanto à natureza mental da doença.
Annette: A partir dessa perspectiva, poderíamos dizer que a Sra. Eddy foi uma pioneira do que hoje chamamos de medicina mente/corpo. Mas, é claro, a Sra. Eddy seguiu adiante e descobriu que a Mente divina, Deus, é o único sanador.
Lesley: Eu gosto muito do fato de ela enfatizar sua busca inicial, não a omitindo em Ciência e Saúde. Mostra os anos durante os quais pesquisou a medicina e diz que aprendeu muito ao longo do caminho.
Lerei outra passagem de Ciência e Saúde: “Minha descoberta de que a mente mortal falível, por erro chamada mente, produz todo o organismo e toda a ação do corpo mortal, pôs meus pensamentos a trabalhar em novos rumos, e guiou-me à demonstração da proposição de que a Mente é Tudo, e a matéria nada é, como fator principal na Ciência da Mente” (p. 108).
Annette: Hoje, quando as pessoas encontram Ciência e Saúde, naturalmente querem saber quem é a autora.
Lesley: Concordo. Na última década, com a distribuição mais ampla de Ciência e Saúde, um maior número de novos leitores estão querendo saber mais sobre sua vida e suas idéias. No final de sua vida, em 1910, a Sra. Eddy era uma das mulheres mais conhecidas da América. O mesmo não acontece hoje, mas, sem dúvida, o interesse está crescendo.
Decidimos, então, compartilhar alguns exemplos que mostram como cresceu o reconhecimento da Sra. Eddy na última década. Primeiramente, gostaria de mencionar que Mary Baker Eddy foi incluída no “National Women's Hall of Fame” (Galeria Nacional de Mulheres Célebres) por sua “marca indelével na sociedade, na religião e no jornalismo”. Essa homenagem foi em nível nacional, algo que não era muito comum.
Chet: Há um programa nacional de televisão nos Estados Unidos, chamado Religion and Ethics Newsweekly (Noticiário semanal sobre religião e ética). Ao pesquisarem alguns dos líderes religiosos que mais influenciaram o século XX, Mary Baker Eddy foi votada uma das 25 personagens religiosas mais influentes do século XX. A lista incluia o Dr. Martin Luther King Jr., o Papa João Paulo II, Dalai Lama e, para aqueles aqui em Berlim que o conhecem e admiram, Dietrich Bonhöffer.
Lesley: E no segundo semestre do ano passado, o Congresso dos Estados Unidos divulgou uma resolução conjunta, patrocinada pelo Senador Edward Kennedy, na qual as realizações da Sra. Eddy e a abertura da nova Biblioteca foram reconhecidas e elogiadas. Em outubro de 2002, durante uma conferência sobre a paz, quando líderes religiosas se reuniram em Genebra, na Suíça, houve duas apresentações que mencionaram Mary Baker Eddy, suas idéias e sua vida.
Chet: Esse reconhecimento por parte do público e essa demanda por maiores informações sobre ela, é um aspecto importante do por quê a Biblioteca foi fundada. Mas, há dois outros fatores importantes também. Primeiro, a necessidade de preservar esses documentos para gerações futuras, para colocá-los numa instituição que acomodaria o interesse crescente por eles e os preservaria da melhor maneira possível. E, segundo, a necessidade de manter e prolongar a proteção dos direitos autorais desses documentos. Como os documentos foram colocados numa instituição pública antes de 1º de janeiro de 2003, seus direitos autorais estão protegidos por mais 45 anos.
Annette: Eu me pergunto se, no íntimo, algumas pessoas, ainda estão questionando a publicação de todos os documentos e cartas da Sra. Eddy, se ela gostaria que isso fosse feito. Como é que vocês respondem a essa questão?
Lesley: Acredito que a Sra. Eddy tinha um senso de sua própria história. Ao ler suas cartas e seus escritos, percebe-se que ela sabia que sua história seria escrita um dia. No final de sua vida, a Sra. Eddy ditou esta curta afirmação a seu secretário: “Quanto a escrever minha história, isso não deve ser feito enquanto eu estiver aqui na terra.” (Documento L15492, s/d, Coleção Mary Baker Eddy).
Ela tinha muita correspondência. Tudo era arquivado por seus secretários, guardado e armazenado. E a Sra. Eddy pedia que as pessoas devolvessem as cartas que ela lhes havia escrito. Ela teve muitas oportunidades de jogar fora suas cartas, mas nunca o fez.
A Sra. Eddy deixou instruções, tanto em seu testamento, no que se referia a sua propriedade intelectual e seus documentos, quanto por meio de dispositivos específicos do Manual da Igreja, no qual ela deixou ao Conselho de Diretores da Christian Science a responsabilidade por seus escritos e seu legado. Isso não foi tratado de maneira frívola nos últimos anos. Sou testemunha disso. Todo documento, toda carta, todo pedacinho de papel recebeu cuidadosa leitura, discussão e oração, às vezes durante semanas ou meses, antes de ser publicado.
Chet: Creio que está bem claro que a Sra. Eddy queria que sua história fosse contada. Queria que fosse contada corretamente. Era uma mulher muito prática. Sabia que não ajudaria a posteridade, a história e a sociedade manter esses documentos escondidos, como se contivessem algum segredo que as pessoas não deveriam saber. Isso só levaria a mais suspeitas sobre sua vida.
Annette: É evidente que ela guardava as coisas. É interessante ver que ela guardou suas anotações sobre o Gênesis e sua cópia do Novo Manual da Prática da Homeopatia de Jahr. Ela não o jogou fora, dizendo: “Agora estou seguindo um caminho diferente. Não preciso mais disso.”
Chet: E o que nós mostramos a vocês hoje é apenas uma pequena degustação do que existe nas coleções. Ela guardou mais de 32 álbuns cheios de recortes de jornal sobre diversos temas, mostrando seu grande interesse pelas notícias, pela sociedade e pelo avanço do pensamento. Ela guardou sermões e anotações sobre seus sermões. Ela guardou os registros de publicação à medida que Ciência e Saúde alcançava uma distribuição mais ampla. Acho que poderíamos dizer que a Sra. Eddy foi a arquivista de suas próprias coleções.
Lesley: A Biblioteca Mary Baker Eddy realmente foi estabelecida para fornecer e encorajar uma compreensão de sua vida e de seus escritos dentro de um contexto. E para promover estudos e pesquisas das coleções. Muitos pesquisadores já vieram à Biblioteca.
Chet: Mais de 70.000 visitantes só nos primeiros seis meses.
Annette: Estou incluída nesses 70.000 visitantes. O que mais me impressionou é que a Biblioteca realmente é para todos: para o estudioso, para o visitante ocasional, o Cientista Cristão e também, talvez, para a pessoa que apenas precise de um lugar maravilhoso para refletir. Quando fiz pesquisas para escrever meus próprios livros, visitei muitas bibliotecas e arquivos nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na Alemanha. E a Biblioteca Mary Baker Eddy realmente é avançada e moderna. Fiquei impressionada com o nível de profissionalismo e com o cuidado com o qual os documentos estão arquivados. Há 28.000 documentos que podem ser acessados pelo computador, através de busca de palavras. Isso quer dizer que se você está interessado em um tema, pode digitar esse tema no computador e todos os documentos aparecerão na tela à sua frente.
Lesley: Às vezes a caligrafia dos documentos originais é muito difícil de entender. Então nossa equipe transcreveu as 28.000 cartas para que as cópias datilografadas possam ser lidas. Você pode também usar uma tela dividida para comparar a imagem do documento original com a transcrição.
Annette: Creio que podemos ter a expectativa de que, com a Biblioteca, a Sra. Eddy tomará seu lugar de descobridora entre os famosos descobridores mundiais. Pessoas como Copérnico, Isaac Newton e mesmo Albert Einstein. Mary Baker Eddy, como descobridora da Ciência divina, tem de ocupar o seu lugar na história.
Comentários de historiadores sobre Mary Baker Eddy
A seguir, excertos de um vídeo de que participaram Ann Braude, Diretora do Programa Estudos sobre Mulheres na Religião, na Escola de Teologia de Harvard; David Hufford, Professor no Departamento de Humanidades da Escola de Medicina da Universidade Estadual da Pennsylvania; Judith A. Wellman, professora de História da Universidade de Nova Iorque, Oswego e a Dra. Gillian Gill, que deu aulas na Faculdade Wellesley e Universidades Harvard e Yale.
: Creio que os melhores historiadores abordam questões que têm relevância para nossa atual situação. Precisamos perguntar: o que isso representou para pessoas no passado? Qual o significado da experiência deles para nós, no presente? De muitas maneiras, as idéias da Sra. Eddy e o desenvolvimento da Christian Science soam como se tivessem sido escritos para nós. E, de algumas formas, o foram.
Antes de começar este projeto, sabia muito pouco sobre ela, além do conhecimento que uma americana culta teria de suas contribuições e realizações. Cheguei a esse projeto com formação na história da mulher, área em que os historiadores têm trabalhado com idéias chamadas esferas separadas para mulheres e homens. No século XIX, o lugar da mulher era o lar e, talvez, a igreja. O lugar do homem era fora do lar, ganhando dinheiro numa economia em expansão, competitiva e capitalista.
A vida de Mary Baker Eddy se enquadra muito bem nesse modelo até a década de 1860. Ela escreveu muitos ensaios e poemas, mas todos à “maneira feminina”, nos quais o lar e o interesse pelos órfãos e pela religião são exatamente o que as mulheres deveriam estar fazendo. Então, numa grande reviravolta, depois do tombo em Lynn, ela começa a escrever Ciência e Saúde. Não é só seu estilo de escrever que muda, mas também começamos a ver a maneira como ela desenvolve esses ideais da “verdadeira feminilidade”. Ela se desloca de uma espécie de esfera doméstica e religiosa, centrada no lar, para o mundo maior. Ela toma valores como a religião e o interesse pelo próximo, que eram considerados valores femininos, e diz: não, Deus não tem gênero.
: No final do século XIX, quando Mary Baker Eddy estava escrevendo e revisando Ciência e Saúde e chegando a sua compreensão da prática da Christian Science, tudo tinha a ver com a realidade do Espírito no mundo e sua causalidade, como algo que produzia efeitos reais. E, de fato, como sendo a causa mais básica e real. E, embora a religião fosse bastante difundida no século XIX, a maioria das principais religiões ocidentais tinha divorciado desta vida as causas espirituais do presente. Entendiam que as causas espirituais operavam num passado apostólico distante e num paraíso separado e transcendental. E Mary Baker Eddy declarou firme, clara e insistentemente que o Espírito é real; que está onde nós estamos; está aqui; o mundo é espiritual. E que entender das coisas espirituais, produz efeitos no mundo, efeitos importantes.
Há outras influências, atuais e do século XIX, que dão grande importância à causalidade espiritual, tais como a revivificação pentecostal do final do século XIX, na qual se basearam a renovação carismática e a neo-pentecostal dos fins do século XX. Disseram que sim, o Espírito é real e produz causas e há curas. Mas uma diferença importante, que faz com que os ensinamentos de Mary Baker Eddy sejam únicos, é que a maioria dessas outras influências tinham a tendência de ser não-intelectuais ou quase anti-intelectuais. São bastante baseadas nas emoções, mas se distanciam de argumentos racionais, inferências, etc. Ao examinar a cura na Christian Science, encontra-se algo ponderado, intelectual; um argumento alicerçado sobre as palavras das Escrituras. Isso obviamente faz parte da razão pela qual Mary Baker Eddy chamou o que ensinava de Christian Science. E isso faz parte do que é realmente único e do que encontramos ao voltar para a espiritualidade no fim do século XX. Creio que um dos resultados mais problemáticos do Iluminismo e da maneira como a ciência no Ocidente tentou se estabelecer, foi a divisão da vida humana entre a razão, pertencendo à ciência; o sentimento, pertencendo às artes, e a religião a quem a quisesse. E o que é único na descoberta da Sra. Eddy é a insistência de que não, essas duas coisas devem funcionar juntas.
: Uma das questões mais difíceis para as mulheres chegarem a assumir posições de liderança é o sentimento de que isso é algo que as mulheres nunca fizeram. Os homens lideram o mundo há milênios. Por que mudar? O que há de diferente hoje em dia?
Bem, quando estudamos a história, vemos que, de fato, as mulheres já lideraram no passado, só que isso nunca foi documentado. Descobrimos que as pessoas que controlam os documentos e que têm decidido quais documentos devem ser preservados, quais documentos merecem ter instituições estabelecidas para eles, a fim de que futuras gerações possam saber de sua existência, são homens. E, assim, os documentos de homens foram considerados meritórios de tal tratamento. Por isso é muito difícil descobrir o que as mulheres estavam fazendo.
Com a decisão de fazer dos documentos de Mary Baker Eddy o foco desta biblioteca, vemos um enorme avanço: a perspectiva, os documentos, os papéis, as ações, as idéias e a inspiração de uma mulher são colocados bem no centro do registro histórico. Não há nada mais importante que possamos fazer, em termos do futuro da liderança feminina e para educar futuras gerações sobre o papel da mulher no mundo.
Mary Baker Eddy é um exemplo incrível das mulheres habilitadas pelo Espírito para superar o papel muito limitado que a sociedade diz ser seu. Mary Baker Eddy não levou a sério nenhuma das restrições da sociedade sobre a feminilidade. Ela simplesmente não se deixou limitar pelas expectativas sociais de seu tempo.
O que mais me surpreende é a controvérsia que ela causou em sua própria época e a que foi causada pelas pessoas que, de uma maneira profunda, achavam suas idéias muito perturbadoras. Havia a sensação de que, se essas idéias fossem aceitas, as coisas realmente iriam mudar! E isso realmente perturbava algumas autoridades religiosas, jornalistas e todo tipo de figura pública de sua época.
Estou realmente impressionada com a coragem da Igreja da Christian Science e sua disposição de partilhar Mary Baker Eddy com o mundo além da Igreja. Vejo nisso uma compreensão de que ela não é propriedade de um único grupo, que ela pertence não só àqueles que são membros da Igreja, mas ao mundo todo. O pensamento dela é importante para o mundo todo.
: A diferença entre a Sra. Eddy e algumas de suas grandes contemporâneas, Clara Barton, Catherine Beecher, Harriet Beecher Stowe, Elizabeth Cady Stanton, é que suas idéias vivem diretamente no presente. Ela fundou um movimento que continua conosco. Escreveu um livro que ainda é lido, não só por interesse histórico ou como ficção. Está sendo lido porque as pessoas ainda acreditam que o livro vai dizer alguma coisa para elas. Que, de algum modo, ele vai mudar a vida delas, assim como mudou a vida de muitos no século XIX.
Mary Baker Eddy chegou à sua verdade transcendental por meio de uma tradição cultural bem específica: o Cristianismo Protestante. Isso não quer dizer que pessoas que vivem em outras culturas ou que são de outras tradições religiosas, não encontrem algo em Ciência e Saúde com que possam se relacionar. Ao contrário, creio que Ciência e Saúde é um dos livros cristãos que pode ser lido em culturas que são drasticamente diferentes e, ainda assim, ser relevante.
Uma Biblioteca aberta para o mundo
Chet: Gostaríamos de convidar a todos a manter contato com a Biblioteca. Entrem no site da Biblioteca que é:
www.marybakereddylibrary.org. O site inclui uma lista de eventos, alguns online. Também inclui itens que fazem parte das coleções.
Lesley: E estamos continuando a adicionar itens das coleções ao site. Em breve estaremos incluindo uma descrição completa de todo o acervo da Biblioteca
Chet: A Biblioteca também tem uma revista. Faz parte dos benefícios que a pessoa recebe quando se inscreve como Amigo da Biblioteca, o que os convidamos a fazer: essa revista é enviada quatro vezes por ano. Inclui pesquisas e discussões como a que tivemos hoje. Proporciona um vislumbre das coleções e lhes oferece o contexto do século XIX.
Joachim: Quando visitei A Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade, há três semanas, senti uma apreciação sincera por todas as pessoas responsáveis por sua existência, as que tiveram a visão de construí-la, de desenvolver essas grandes idéias, e que sentiram tanta gratidão pelas idéias da Sra. Eddy que as colocaram à disposição do público. Nos anos vindouros a Biblioteca estará apresentando milhões de pessoas, do mundo todo, à vida, às idéias e às realizações dessa mulher notável, por meio de suas exposições, seu site na Internet e suas pesquisas.
