Em 1987, fundou a ONG ASAFE, uma organização de apoio a mulheres empresárias, que as ajuda a desenvolver o seu trabalho e a superar a vulnerabilidade econômica e social feminina, oferecendo formação empresarial e estabelecendo contatos com outras organizações e redes.
A Association pour le Soutien et l'Appui à la Femme Entrepreneur (ASAFE), com sede em Douala, República dos Camarões, conta com 2 mil associadas. Hoje, 90% de seus membros dirigem pequenas empresas em atividades têxteis, transformação de alimentos, confecção ou prestação de serviços. Pelos resultados conquistados e a seriedade do trabalho, a ASAFE é uma das Organizações apoiadas pela importante Fundação Suiça Schwab, que oferece oportunidades de qualificação e acesso a financiadores.
Pela primeira vez, desde 1971, quando foi criado o Fórum Econômico Mundial pelo engenheiro, professor e empresário Klaus Schwab, a reunião anual aconteceu em Campinas, SP, Brasil, em novembro de 2004. Estavam presentes mais de 400 empresários do Terceiro Setor. Nessa ocasião, em um domingo à tarde, a Sra. Gisele Yitamben conversou com colaboradores do Arauto.
Magda Volker: Como lhe veio a idéia de ajudar as mulheres e qual a conexão dessa iniciativa com seu conhecimento da Christian Science?
Gisele Yitamben: Conheci a Christian Science logo após uma viagem que fiz a Nairobi, quando havia perdido meu emprego de instrutora, na Pan African Institute for Development (Instituto Africano Pan para o Desenvolvimento), um instituto de grande prestígio para treinamento. Logo a seguir, meu marido também perdeu o seu trabalho como diretor de um Programa de Apoio a Pequenas Empresas.
Sabendo da situação de terror que eu estava enfrentando, uma amiga de Nairobi, que é Cientista Cristã, pediu para as pessoas da igreja de minha cidade me ajudarem. Assim o fizeram. Certa vez comentaram: "Como você pode se sentir tão triste tendo amigos tão maravilhosos?" Convidaram-me para que eu fosse à igreja. Passei a freqüentar os cultos regularmente e a ler Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy. Iniciei a leitura com o capítulo Oração. Imagino que esse seja um tema que todos querem entender melhor.
Naquela época, eu estava completamente abalada; não havia paz em casa, pois não sabíamos de onde tirar dinheiro para comprar alimentos para nossas duas crianças pequenas. Eu me sentia muito mal, pois havia perdido uma posição de grande prestígio. Como estava desempregada, aproveitava meu tempo para ler e orar. Lia todas as revistas da Christian Science que conseguia: O Arauto, Sentinel e Journal. Procurei aplicar o que compreendia, com muita sinceridade.
MV: Houve alguma cura espiritual nesse período como resultado de seu estudo?
GY: Eu estava com algo muito feio em meu olho. Meu marido e amigos sugeriram uma cirurgia, mas eu continuava estudando Ciência e Saúde. Não estava orando especificamente para aquele problema, mas certa manhã, ao acordar, percebi que meu olho estava normal.
Naquela época, meu marido tinha um pouco de resistência à Christian Science mas, passado algum tempo, ele também aderiu ao estudo dessa Ciência.
MV: Houve algum momento decisivo para solucionar a falta de dinheiro?
GY: Certo dia, disse a mim mesma: "Vou fazer o que puder, mas não vou pedir esmolas a ninguém. Se tiver de vender coisas no mercado, vou vender." À noite, quando estava orando, pedi a Deus que me dissesse o que fazer.
MV: O que foi que Ele lhe disse?
GY: Veio-me a idéia de estabelecer uma organização para apoiar mulheres com pouca renda. Contei para o meu marido e ele me respondeu: "Onde você vai conseguir dinheiro para isso?" Apesar disso, senti que a minha idéia havia sido uma mensagem divina. Assim, instalei um pequeno escritório em casa. Meu marido ficou muito exaltado, porque investi o resto das economias da família. Baseada em estudos que havia feito no Pan African, sabia que as mulheres trabalhavam duro, em média 15 horas por dia, mas seus negócios iam sempre mal. Percebi que só lhes faltava organização.
MV: Como a Sra. começou seu trabalho?
GY: A princípio, com uma mesa e uma cadeira! Havia lido sobre praticistas da Christian Science e determinei que seria praticista para as mulheres empreendedoras. Passei a orar por elas, com a intenção de lhes dar o que eu havia aprendido. Para minha surpresa, uma organização me disse: "Como ninguém pensou nisso antes?" Ofereceram-me uma verba para iniciar um treinamento e depois começaram a me enviar dinheiro periodicamente.
MV: Houve problemas quando a organização já estava em funcionamento?
GY: É importante falar sobre isso. Quem lidera uma organização em crescimento, se depara com inveja, ciúme e outras adversidades. Era isso o que eu via em várias pessoas com relação a mim. Até que, certo dia, tive um grande problema: obstrução. Nada dava certo. Comecei a orar para saber que ninguém pode impedir o progresso alheio. Quando alguém se mostrou extremamente desagradável, orei e compreendi que o ódio, o ciúme, a inveja e a adversidade não são pessoas, e que o mal é impessoal. Essa mudança no meu pensamento ocasionou a transformação das pessoas que estavam à minha volta. Os relacionamentos melhoraram.
MV: No que a Sra. estava sendo prejudicada?
GY: No apoio financeiro. Havia bloqueios com desculpas sem fundamento. Quando parei de procurar pessoas e me dirigi a Deus, encontrei parceiros que têm dado apoio à organização até hoje. A partir daí, dirijo minha vida em família e no escritório pela oração. A Christian Science faz parte de mim. Se me sinto fraca, às vezes, confio em Deus e me volto a essa Ciência do Cristo. Assim, restabeleço a confiança e harmonia.
MV: Seu escritório desfruta de uma atmosfera espiritual, então? Sua confiança em Deus para guiála é reconhecida?
GY: Eu costumava escolher artigos dos Arautos e pedir para minha secretária digitá-los. Um dia, ela me contou que fazia cópias dos artigos para si mesma! Dei-lhe um exemplar de Ciência e Saúde e ela se tornou uma Cientista Cristã. Nosso ambiente de trabalho é pacífico, alegre e sentimos amor uns pelos outros. Lembro-me de um homem dizendo que gostaria de saber o que fazer para ser sempre feliz. A secretária lhe respondeu: "Você deve estudar a Christian Science." Os princípios que aprendi nessa Ciência e que foram a base do meu progresso são: respeito, confiança no apoio do Amor divino e a oração como fonte de inspiração. Nunca imaginei que teria uma organização tão grande.
Maranatha Milani: Sua organização conta hoje com 2 mil associados. Como a Sra. atraiu tanta gente?
GY: A divulgação ocorreu "de boca em boca" e foi se espalhando.
Dulcinéa Torres: Sua consciência espiritual foi o mais importante.
MM: Como seu propósito era o de ajudar, a oração atraiu as pessoas.
MV: Ao ouvir falar de praticistas, a Sra. pensou em atuar como quem faz o bem.
MM: Como a ASAFE entrou para a Fundação Schwab?
GY: Há um critério para avaliar cada organização. Foi necessário atingir o nível exigido e obter reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Entendo que tudo está interligado, desde a constituição da ASAFE. Sempre tive confiança de que os recursos estariam disponíveis. Quando precisei de um escritório, orei para saber que, como havia a necessidade, haveria o suprimento. Nunca orei para um local, mas sim para a receptividade e apoio pelo serviço prestado e para que as mulheres fossem abençoadas pelo nosso trabalho. Certa vez, recebemos a visita do Embaixador do Canadá, que comentou: "Com uma idéia simples vocês têm feito maravilhas."
MV: A Christian Science ajuda a demonstrar a simplicidade e profundidade dos ensinamentos de Jesus.
GY: Sem dúvida. No ano passado, estabelecemos o objetivo de criar e canalizar empregos e a Internet poderia nos ajudar muito mas, para isso, precisávamos de computadores. Como a gratidão sempre desvanece o medo, orei e agradeci a Deus por sempre suprir nossas necessidades. Logo depois, uma organização nos Estados Unidos nos telefonou oferecendo 70 computadores. Eu só precisava resolver como eles chegariam até a África. Conversei com um amigo que é diretor de uma empresa de transportes e ele trouxe os equipamentos para nós. Em três dias os computadores estavam em Camarões, sem nenhum custo para a ASAFE.
MM: O Sr. Klaus, presidente da Fundação Schwab, diz que as pessoas que trabalham em organizações como a ASAFE, são verdadeiros heróis. Alguma vez você se sentiu uma heroína?
GY: Diria que nunca me senti diferente do que sou. O que tenho feito veio por inspiração. Amo as pessoas e o que faço. O Sr. Klaus Schwab é o fundador do fórum mais poderoso do mundo na área econômica e social, o World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial). Sou grata por participar dessa rede de contatos, pois me deu a oportunidade de conhecer o Diretor da DHL, que transportou os computadores para a África e, de conhecer o Diretor da Cisco, que nos possibilitou montar a Academia de Network. Nunca parei para pensar quem sou, além de ser a filha de Deus.
MV: Sua luz está brilhando...
DT: ...a Sra. está sendo obediente...
MV: ...é por isso que seu trabalho tem efeito. O exemplo citado anteriormente de como a obstrução foi desfeita pela oração mostra a importância da inspiração. Uma idéia pioneira sofre, muitas vezes, com a resistência alheia. A pessoa que vai implantá-la precisa de coragem e força moral. Temos como referência Jesus e muitos outros.
GY: Mary Baker Eddy tem sido uma referência para mim, assim como seu livro Ciência e Saúde e a Bíblia. Vejo tudo o que a Sra. fez para beneficiar a sociedade ao estabelecer uma igreja e um sistema de cura.
No fim de cada dia, avalio os resultados que obtive. Também oro para reconhecer que o ódio é impotente, visto que a alegria e o bem são onipotentes e indestrutíveis.
MV: Como foi sua visita ao Brasil?
GY: Em 2001, a Fundação Klaus Schwab decidiu premiar as pessoas que fazem negócios com seriedade, porém com compromisso social. Quarenta empresas ao redor do mundo foram premiadas. A partir dai, a cada ano premiam 15 pessoas e fui uma das selecionadas.
Por isso, participei do Summit Global dos Empreendedores Sociais, aqui em Campinas, São Paulo. O tema de 2004 foi: "Quão grande o pequeno pode ser". Pudemos ver o quanto conseguimos com poucos recursos obtidos aqui e ali. Quando analisamos o orçamento com o qual trabalhamos, é de se admirar que tão pouco investimento tenha beneficiado tantas pessoas. É algo que me faz lembrar a história de Jesus com a multiplicação dos pães para alimentar milhares de pessoas.
Destacou-se a importância de não ser grande em números, mas sim em qualidade. Como o pequeno pode ver a realidade social e se tornar grande. Nesse Summit de 2004, foi admirável a estratégia do Sr. Klaus Schwab: colocar no mesmo espaço físico pessoas que fizeram trabalhos com muito dinheiro junto com outras que, sozinhas, conseguiram causar alguma transformação no mundo. O objectivo é que, juntos, esses grupos descubram uma nova ética comercial e novas maneiras de se fazer negócios.
MM: Como você se sente fazendo esse trabalho?
GY: Sinto-me como uma princesa, a filha real do Amor, Deus.
MV: Essas pessoas estão mostrando que é possível transformar o mundo, de maneiras diferentes, e que cada um pode encontrar seu próprio caminho, não é?
GY: É verdade. Como cada um é a imagem e semelhança de Deus, já tem em si o potencial necessário. Empresários têm sido capazes de tirar crianças de favelas e mostrar a criatividade e os talentos que os pequeninos possuem.
DT: Isso me faz pensar que as pessoas estão tomando consciência de seu ser real, reconhecendo sua habilidade como filhos amados de Deus.
Alcidema: Esse respeito pela individualidade e direito à dignidade de cada um, Mary Baker Eddy conceituou em poucas palavras, em seu livro Retrospecção e Introspecção: "Cada indivíduo tem de ocupar seu próprio nicho no tempo e na eternidade" (p. 70).
