Eu tinha treze anos. Era domingo de manhã, muito cedo, no bairro do Queens, em Nova Iorque. Estava meio sonolento, quando ouvi algo. Sentei-me na cama e olhei ao redor. Pensei que talvez minha tia estivesse me chamando (vivia com ele naquela ocasião). Mas, ela estava dormindo e a casa em total silêncio. Não tinha a menor idéia de onde vinha a voz. Contudo, ela foi clara: "Vá à Escola Dominical". Cocei a cabeça. Bocejei. Ninguém em minha família ia à igreja ou sequer pensava nisso.
Quando eu estava com três anos, meus pais se divorciaram. Eu tinha vivido na casa de vários parentes, e vez ou outra, na casa de minha mãe. Meu pai morava do outro lado do país com sua nova família. Nunca tive uma vida muito estável. Entretanto, quando estava com nove anos, já era ator infantil profissional de televisão e de teatro. Como cheguei lá é uma outra história, mas era a evidência do amor de Deus, de Sua orientação em minha vida, mesmo quando ainda não estava ciente disso. Contudo, emocionalmente, minha vida era algo como uma montanha russa.
Estava ali sentado na cama. Não voltei a ouvir a voz, mas a idéia "Vá à Escola Dominical" não me saía da cabeça. O único problema era que eu não sabia aonde ir. Lentamente, fui me lembrando de que uma vez, quando meu pai me visitara, mencionara uma igreja da Christian Science que ele freqüentara havia alguns anos. Lembrava-me, vagamente, de onde ele dissera que essa igreja ficava. Então, vesti-me e logo peguei o metrô que ia para o centro da cidade.
Encontrei a igreja e consegui até chegar lá a tempo. Algumas pessoas simpáticas me receberam na Escola Dominical, me encaminharam a uma classe e indicaram a mesa em que meufuturo professor estava conversando com alguns alunos. Fui até ele. Não tinha a menor idéia de que minha vida mudaria para sempre.
Durante uma hora, o professor, Chuck, e outras crianças diziam como éramos, exatamente naquele momento, filhos de Deus e Seu reflexo perfeito. Eles conversaram sobre o amor incondicional de Deus por nós, sob qualquer circunstância. Não contribuí muito nem compreendi muita coisa. Contudo, prestei atenção e sabia que voltaria.
A melhor coisa: depois da aula, Chuck me encorajou a ligar para ele, a qualquer hora, com perguntas sobre Deus e sobre a Christian Science, o que acabei fazendo. Não demorou muito para ele se tornar um bom amigo, um mentor espiritual. De muitas maneiras, Chuck acabou sendo um pai substituto. Entre Chuck e sua doce esposa, Mary, senti-me amado pela primeira vez na vida. Amado altruisticamente, sem nenhum compromisso. Mas aqui está o melhor de tudo: descobri que Chuck e Mary eram atores e diretores veteranos em Nova Iorque. Não havia nenhuma maneira de ter sabido disso quando tomei o metrô naquela manhã de domingo.
Esse universo me circundava, cuidava de mim, de uma maneira que ainda não havia atribuído a Deus, mas que deveria tê-lo feito.
Chuck era Cientista Cristão dedicado, profundamente sincero e se tornou um guia fiel em minha jornada espiritual. Ele também me ajudou muito, artística e profissionalmente. Esse foi um dos primeiros sinais de que, se eu ouvisse a Deus que estava sempre falando comigo, e deixasse que Ele conduzisse as coisas, o que de qualquer maneira Ele já estava fazendo, as minhas necessidades seriam satisfeitas e, muitas vezes, de formas inesperadas.
Assim sendo, comecei a freqüentar a Escola Dominical todas as semanas. Para minha própria surpresa, minha família não me proibiu, pelo que sou grato, pois a Christian Science estava abrindo um mundo novo para mim, um universo espiritual que eu estava começando a perceber e que havia sempre estado ali e era absolutamente real, concreto. Esse universo me circundava e protegia, de uma maneira que ainda não havia atribuído a Deus, mas que deveria tê-lo feito. Por exemplo, quando olho para trás, surpreende-me a fato de sempre ter tido um teto sobre minha cabeça, mesmo quando isso significava me mudar da casa de um parente para a de outro. De uma maneira totalmente imprevisível, havia sido tirado das ruas do Brooklyn, com a idade de nove anos, e instalado em uma escola de Manhattan para crianças que trabalhavam fora. Como cheguei até lá, ainda é um mistério para mim, mesmo porque, até aquela ocasião, tudo o que havia feito se resumia em ler gibis e jogar bolinhas de gude em terrenos baldios. Isso me faz pensar em um verso do Hinário da Ciência Cristã: "Deus te protege, te guarda, te ama" (Hino 278), o que realmente aconteceu comigo.
Freqüentemente, vejo a Christian Science como "o grande lembrete". Acho que o que estava realmente acontecendo naquela ocasião era que a Ciência me lembrava de que um Deus amoroso me criara, cuidava de mim e estava por trás desses acontecimentos que se desdobravam em minha vida; lembrando-me de que meus parentes e eu, na verdade, éramos todos filhos de Deus, vivendo no Espírito. A Christian Science me dava consolo e um senso de direção que nunca havia tido antes. Gradualmente, a falta de uma família estável começou a ser substituída por um senso cada vez maior da minha eterna família espiritual. Conforme Mary Baker Eddy o coloca: "...um só Pai com Sua família universal, unidos no evangelho do Amor" (Ciência e Saúde, p. 577). Isso incluía a todos.
Minha mãe era minha irmã. O pensamento veio-me como uma onda. Deus também era o Pai e a Mãe dela, exatamente como Ele o era para mim, por isso, éramos irmão e irmã!
Havia ainda muita turbulência emocional em minha vida. Contudo, estava ciente de que algumas coisas estavam começando a se encaixar com mais harmonia. Por exemplo, tanto quanto podia me lembrar, havia convivido com brigas e lutas amargas, a maioria delas em minha família. Elas faziam parte de nosso modo de viver. Havia amor, mas o ressentimento e a raiva corriam lado a lado com o amor. Algumas vezes, as lutas se tornavam violentas, especialmente entre minha mãe e meu padrasto. Às vezes, quando vivia com minha mãe, ela me colocava para fora do apartamento, por razões que, finalmente vim a descobrir, tinham menos a ver comigo do que com outras coisas. Contudo, quando isso acontecia, eu acabava vagando pelas ruas de Manhattan, algumas vezes, tarde da noite.
Em uma dessas noites, talvez tivesse 14 anos, estava parado em uma esquina imaginando um lugar onde poderia dormir. Naquela ocasião, estava freqüentando a Escola Dominical e aprendendo que Deus estava sempre comigo. Portanto, continuava orando e fazendo o melhor para captar o que Deus me dizia. Veio-me à mente algo que um amigo Praticista da Christian Science havia me assegurado, de que Deus amava minha mãe tanto quanto Ele me amava.
Estava ali, parado, observando o tráfego da meia-noite, sentin-do-me em paz, quando, repentinamente, tive uma revelação: minha mãe era minha irmã. O pensamento veio-me como uma onda. Deus também era o Pai e a Mãe dela, exatamente como Ele o era para mim, por isso, éramos irmão e irmã! Foi um pensamento maravilhoso. Todo medo e culpa que estava carregando se desvaneceram. Finalmente, caminhei de volta para casa, minha mãe me deixou entrar e nunca mais me colocou para fora. A partir daquele momento, nosso relacionamento melhorou e, ao longo dos anos, aprendi a compreendêla melhor, a amá-la mais e a ser grato por ela.
Depois disso, a Bíblia e o livro de Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde, estiveram sempre perto de mim. Fazia a lição de casa com esses dois livros sobre a mesa e, de vez em quando, lia alguns trechos, entre os deveres de história, matemática ou de outras matérias. Além disso, algumas vezes depois das aulas, os estudava em uma Sala de Leitura da Christian Science. Lembro como me sentia importante por estar estudando algo chamado "A Ciência do Ser". Achava fabuloso. Muitas das idéias eram desafiadoras. Entre outras coisas, a Sra. Eddy estava me pedindo para abandonar a crença na realidade da matéria. Que exigência! Contudo, no fundo, isso deve ter soado possível para mim, porque, se havia um Deus, então Ele era tudo o que existia e ponto final. As declarações em Ciência e Saúde eram realmente intrigantes, algumas vezes espantosas, como esta: "Quando nos compenetrarmos de que a Vida é Espírito e nunca está na matéria nem é de matéria, essa compreensão se expandirá até a sua autocompletação, achando tudo em Deus, o bem, sem necessitar de nenhuma outra consciência" (p. 264). Uau! Que idéia formidável é essa, cheia de implicações cósmicas! Gostei do fato de a Sra. Eddy respeitar minha inteligência. Ela não me pedia que aceitasse o que dizia por mera fé ou que aceitasse os mistérios sobre Deus. Na verdade, aprendia que era exatamente o contrário.
Freqüentemente, sentia que ela estava me dizendo: "Você pode demonstrar essas idéias, Alan. É o seu direito. Seu direito de nascença. Existe um Princípio universal em operação aqui que está governando tudo magnificamente. É Deus. É o Amor divino. Ele é vasto, é profundo e é também divinamente simples. Você é o filho espiritual de Deus. Adivinhe! Você já sabe de tudo isso. Estou apenas fazendo você se lembrar".
Existe um Princípio universal em operação aqui que está governando tudo magnificamente. É Deus. É o Amor divino.
Naquela época, o que eu sentia era que a Sra. Eddy estava me estimulando a abandonar o sonho de uma vida separada de Deus, que muitas vezes é mais um pesadelo do que um sonho. Estava insistindo em que eu abandonasse os mitos materiais, testasse suas idéias e deixasse que a lógica e o amor que elas continham controlassem meu pensamento para que eu começasse a ver minha vida melhorar.
De fato, minha vida melhorou. Tive curas de uma queimadura grave no rosto, de dor de dente, dor de cabeça, e de preocupação crônica. Melhorei também nas coisas que fazia, tanto na escola quanto no trabalho, como ator. Muito embora ainda tivesse dúvidas quanto ao curso universitário, meu desempenho e recursos financeiros, o que estava acontecendo comigo espiritualmente, era mais importante do que qualquer outra coisa.
Uma pergunta que ainda me intrigava era: "Por que a totalidade de Deus significava que a matéria era o nada? Como isso podia ser? Se a matéria é nada, certamente valia a pena saber por quê e como."
Então, certo dia, enquanto estava em um ônibus, olhei para o topo de um arranha-céu. De repente, tudo o que estivera aprendendo se cristalizou naquilo que estava vendo. Compreendi que eu não estava comprimindo aquele edifício, para que ele pudesse passar através do meu globo ocular, a fim de que entrasse no cérebro, para que eu tomasse consciência dele. Para começar, somente algo mental poderia entrar em minha consciência. Portanto, o arranha-céu não era mais do que uma impressão mental, um símbolo mental de força e estabilidade, exclusivamente em meu pensamento. Isso foi uma revelação. Minha experiência humana era totalmente subjetiva. Não estava lidando com alguma coisa fora de minha própria consciência.
O que significava que a qualidade e a condição da vida de cada um de nós estavam sendo determinadas pela qualidade e condição dos nossos pensamentos individuais.
Também compreendi que todas as demais pessoas naquele ônibus estavam tendo o mesmo tipo de experiência, completamente subjetiva. O que significava que a qualidade e a condição da vida de cada um de nós estavam sendo determinadas pela qualidade e condição dos nossos pensamentos individuais. Estávamos todos tendo uma experiência consciente, juntos em algum lugar. Mas, onde? Tinha de ser em Deus, porque a matéria não podia pensar, não estava "lá fora" em algum lugar criando pensamento. O pensamento era tudo, ou seja, tudo o que é real.
Naquele ponto, a declaração de Jesus "...o reino de Deus está dentro de vós" (Lucas 17:21) me atingiu em cheio. Para mim, parecia que ele estava dizendo que não podemos escapar da consciência espiritual e sua perfeição, mesmo que quiséssemos. Não podíamos deixar a bondade e inteireza de Deus, porque não há nenhum espaço para sair delas. Não existe nenhuma outra Mente.
Foi naquele momento que a realidade da matéria começou gradualmente a se dissolver para mim. Comecei a vê-la, cada vez menos como substancial, como algo ameaçador, sob a forma de pessoas ou circunstâncias que eu tinha de resolver ou me esforçar muito para vencer a cada dia, por toda a vida. Eu sou vida, a Vida, Deus, expressando a Si mesma. Assim também, o são todas as demais pessoas.
Naturalmente, uma coisa era vislumbrar essas verdades, outra coisa, prová-las. Contudo, o que eu continuava a ver mais claramente a cada dia, era que não podemos compreender os fatos espirituais, mesmo que em pequeno grau, sem prová-los. Isso porque a presença de idéias espirituais em nosso pensamento significa que elas estão presentes na nossa experiência. Passo a passo, os fatos espirituais que transformavam meu pensamento começaram a transformar minha vida, também.
Por exemplo, certo dia, um amigo que estudava em uma excelente universidade, contou-me sobre o curso de teatro deles, considerado o melhor do país. No ano seguinte, candidatei-me a uma bolsa naquela faculdade, fiz o teste e fui aceito com uma bolsa de estudos de quatro anos. Ali encontrei a mulher que mais tarde se tornou minha esposa e parceira amorosa e constante em minha jornada espiritual. Foi uma demonstração maravilhosa do cuidado de Deus, de Sua perfeita sincronia, planejamento e generosidade. A aventura continua, mesmo depois de todos esses anos.
Exatamente como o amor de Deus. Não tenho de criar o calor, o sol ou sua luz. Preciso apenas aceitá-los e caminhar neles.
É claro que, algumas vezes me esqueço por uns momentos do que aprendi e parece que a matéria, com seus limites, é real e que estou preso dentro desses limites. Contudo, o que constatei é que não importa quão implacáveis esses limites possam parecer, até mesmo o fato de acreditar neles não pode torná-los reais mais do que acreditar em um filme o torna real. Claro, o que aparece em uma tela de cinema talvez possa, temporariamente, me fazer acreditar no que estou vendo. Talvez possa até me fazer ficar oprimido emocionalmente. Mas, quando saio do cinema, a luz do sol me envolve, me aquece e me conforta. Exatamente como o amor de Deus. Não tenho de criar o calor, o sol ou a luz. Preciso apenas aceitá-los e caminhar neles. Portanto, a luz e o calor que procuro são a luz e o calor que eu sou, que todos são, como a expressão de Deus.
Naturalmente, Deus fala conosco continuamente. À medida que prestamos atenção, ouvimos Sua voz nos assegurando que estamos em casa, a salvo; que nunca O deixamos e que a luz nunca se acaba.
