Você nasceu de novo? Será que com isso quero saber se você é um evangélico "cristão nascido de novo"? Não, estou pensando no nascer de novo, como se aplica a toda a humanidade.
Na verdade, se você é um cristão, nascer de novo faz parte de sua herança teológica. Contudo, o que exatamente essa expressão cristã "nascer de novo" significa? A Bíblia relata que isso começou com a curiosidade de Nicodemos, um líder judeu e membro do Sinédrio (ver: João 3:1-15). Toda Jerusalém comentava sobre um homem cujos ensinamentos eram surpreendentes e cuja capacidade de realizar curas extraordinárias atraía multidões.
Nicodemos estava determinado a conversar com esse homem, Jesus. Na calada da noite, ele foi até Jesus pedir-lhe uma explicação a respeito das curas. Nicodemos ficou totalmente perplexo com a resposta imediata de Jesus: "...se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus".
Envolvido com as leis e tradições criadas pelo homem, Nicodemos não conseguia conceber o nascimento de outra forma que não fosse como uma experiência humana e contestou: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez"?
Jesus respondeu: "...Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito." Essa explicação deve ter iluminado o pensamento de Nicodemos com a recém-descoberta compreensão de que ele, ali mesmo e naquele exato momento, poderia começar a se afastar do conceito de nascer da carne para a nova percepção de que era espiritual, literalmente nascido do Espírito.
Essa perspectiva radical oferecia uma nova compreensão sobre o significado do ensinamento de Jesus: "Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós" (Lucas 17:20, 21). Jesus esclareceu que o céu só é alcançado, quando se obtém uma visão espiritual da existência e a vivenciamos. O céu é encontrado dentro da nossa própria consciência e vivido agora, não depois da morte, mas ao expressarmos a Deus, que é Vida.
Renascer dia-após-dia
Só porque alguém não é cristão não quer dizer que esteja excluído dessa experiência que transforma vidas. Nascer de novo se aplica a qualquer um que esteja em busca de um caminho espiritual, a fim de discernir as respostas aos questionamentos prementes da vida e ninguém está excluído de vivenciar esse novo recomeço, agora mesmo.
Esse novo nascimento não é necessariamente um rito religioso antigo, ou uma declaração de fidelidade a uma religião, ou, até mesmo, o reconhecimento sobre o nosso relacionamento com Deus. Ao contrário, nascer novamente significa um renascimento contínuo para a espiritualidade, dia após dia, o qual nos liberta dos grilhões do passado e do medo ou da especulação sobre o futuro. Ele oferece uma nova visão sobre o que a vida realmente é e nos capacita a vivê-la intensamente.
Jesus esclareceu que o céu só é alcançado, quando se obtém uma visão espiritual da existência e a vivenciamos. O céu é encontrado dentro da nossa própria consciência e vivido agora, não depois da morte.
Conforme Mary Baker Eddy, uma estudante dedicada da Bíblia desde a infância, escreveu: "O novo nascimento não é obra de um momento. Começa com momentos e continua com os anos; momentos de entrega a Deus, de confiança como a dos pequeninos e de jubilosa aceitação do bem; momentos de abnegação, autoconsagração, esperança celestial e amor espiritual" (Miscellaneous Writings, [Escritos Diversos], 1883-1896, p. 15).
Fazer com que aconteça essa mudança interior exige que nos afastemos das limitações da matéria, do medo, da doença e do fascínio das luxúrias da carne. O arrependimento e a redenção são componentes imprescindíveis nessa regeneração. Nascer de novo exige que vivamos em conformidade com os dois maiores mandamentos que Jesus ensinou: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração..." e: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (ver Mateus 22:36-40). Somente dessa maneira conseguiremos nos despojar do "velho" homem (mortal) e nos revestir do "novo" homem (espiritual), como nos exortou o apóstolo Paulo (ver Efésios 4:22-24).
A Sra. Eddy descreveu a luta para se alcançar essa visão espiritualizada desta forma: "O Cientista Cristão iniciante precisa amadurecer e desenvolver sua própria salvação. Entre o Espírito e a carne há antagonismo. A tentação, aquela neblina da mente mortal que parece ser a matéria e o meio ambiente dos mortais, sugere prazer e dor na matéria e, enquanto essa tentação perdurar, a luta não terá terminado e o mortal não estará regenerado" (Miscellaneous Writings, [Escritos Diversos], p. 85).
Conheço muito bem a verdade dessa descrição! Lembro-me nitidamente de uma ocasião em que estava "nascendo de novo" e, durante um ano inteiro, não havia me apercebido disso. Minha vida havia chegado ao fundo do poço, por assim dizer, e isso me deixara desolada e devastada. Eu só tinha 18 anos! Era triste ser tão jovem e já se sentir velha demais para ter qualquer esperança. Eis como começou.
Uma jornada rumo ao renascimento
De 1929 a 1939, os Estados Unidos viveram uma depressão devastadora. Durante esse período, o meio-oeste enfrentou a pior seca de sua história. Morando em Kansas, vimos nossos adoráveis jardins se transformarem em deserto de poeira. O dinheiro também sumiu. A depressão trouxe uma mudança radical para a vida de todos.
Claramente, minha relutância em ouvir a Deus era um caso de teimosia e falta de humildade, aliadas à dúvida, ao medo e à pura provocação.
Ainda criança, não conseguia entender o que havia acontecido, e por que não podia mais ter as coisas que desejava. Imaginava que o motivo era meu pai nos ter abandonado e minha mãe trabalhar fora doze horas, diariamente.
A frustração e a rebeldia cresceram dentro em mim. Tornei-me egocêntrica e desagradável no momento em que mais precisávamos estar unidos. Aos 16 anos, fui para a faculdade pensando que agora poderia ser eu mesma. Isso era, pensava eu, o começo de uma nova vida. Acho que presumi que todo mundo estava nas circunstâncias que nós. Ao invés disso, descobri, na primeira semana no campus, que a maioria dos estudantes tinha roupas sofisticadas, dinheiro para gastar e muitos até tinham seus próprios carros. Eu lutava contra a inveja e a mediocridade. Aquele ano foi um desastre.
Nas férias, trabalhei em uma fábrica esperando resolver meus problemas financeiros. Contudo, não foi possível retornar à faculdade. Devido à situação difícil, tive de continuar a trabalhar na fábrica o resto do ano. Ver meus amigos indo para a escola foi a parte mais dolorosa. Eu não tinha nenhum propósito, nenhuma saída, nada em perspectiva a não ser um tédio enfadonho!
Estava freqüentando a Escola Dominical da Christian Science e realmente amava o que aprendia ali sobre Deus. Entretanto, apesar da minha confiança nEle, sentia-me extremamente infeliz. Havia resistido à consoladora orientação de Deus e à segurança que Ele me proporcionava, com aquilo que eu achava fosse um raciocínio válido, uma verdadeira ladainha de justificação própria e autopiedade: "não sou digna", "minhas orações não são eficazes", "por que tenho de lutar, se sou uma boa pessoa?". Claramente, minha relutância em ouvir a Deus era um caso de teimosia e falta de humildade, aliadas à dúvida, ao medo e à pura provocação.
Contudo, a oportunidade para nascer de novo estava em ação. Eu finalmente me tornei humilde o bastante para escutar a Deus.
Dois livros guias
Há mais de um século, Mary Baker Eddy conceituou a igreja que fundara como uma "igreja de recém-nascidos" (The People's Idea of God, [A Idéia que os homens têm de Deus] p. 14). Essa igreja está alicerçada nos ensinamentos e obras do Mestre, Cristo Jesus, tendo como nosso Pastor dois livros: a Bíblia e Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. Portanto, eu me "encontrava" com meu Pastor diariamente, ao ler a Lição Bíblica do Livrete Trimestral da Christian Science. As idéias da Bíblia e de Ciência e Saúde contidas nessas Lições e a leitura usual desses dois livros me proporcionavam a clara orientação sobre o que eu precisava fazer para minha vida progredir.
O desespero cedeu lugar a momentos de esperança. Comecei a me afastar da obsessão por mim mesma e encontrei oportunidades para ser generosa, amorosa e humilde.
Ciência e Saúde afirma: "A disposição de vir a ser como uma criancinha e de deixar o velho pelo novo, torna o pensamento receptivo à idéia avançada. A satisfação de deixar os falsos marcos e a alegria de vê-los desaparecer — eis a disposição que contribui para apressar a harmonia final. A purificação do sentido e do eu é prova de progresso" (pp. 323-324).
Também me apoiei no Sermão do Monte, proferido por Jesus (ver Mateus: 5-7), como um guia prático para todos os aspectos de minha vida. Com esse estudo dedicado e vivendo os novos conceitos que estava aprendendo, comecei a me despojar da concepção mortal e deprimente, que tinha sobre mim mesma, e a adquirir uma nova perspectiva espiritual e cheia de alegria.
O desespero cedeu lugar a momentos de esperança. Comecei a me afastar da obsessão por mim mesma e encontrei oportunidades para ser generosa, amorosa e humilde. A inveja desapareceu. Meus pensamentos e ações foram purificados, regenerados. Eu estava amadurecendo como uma Cientista Cristã recém-nascida.
Hoje, muitas décadas depois, tendo o privilégio de ser Praticista da Christian Science por quase meio século e visto inúmeras vidas renascidas, rememoro meu nascer de novo daquela época, como um momento maravilhoso. Desde aquela ocasião, todos os dias têm sido um novo começo, não somente para mim, mas com alegria, testemunho o mesmo fato em outros.
Desperte para as possibilidades presentes de seu próprio renascimento espiritual e descubra que a regeneração é verdadeiramente uma bênção contínua. Esse é o nosso legado como filhos do Espírito. Reivindique-o! Nasça de novo a cada manhã!
