Lembro-me da primeira vez em que, na minha infância, me sentei no auditório para o Culto de Ação de Graças da igreja de Cristo, Cientista, em vez de ficar, como de costume, no salão infantil. Eu estava empolgada por poder assistir ao culto com meus pais, junto com os adultos. Quando chegou a hora dos testemunhos de gratidão, levantei-me e disse: “Obrigada, Deus, por me amar”.
Algumas vezes ainda acho que essa aceitação pueril do amor de Deus para comigo é a oração mais poderosa que posso fazer em momentos de desespero ou de autocondenação. Podemos ser tentados a pensar que as qualidades como generosidade, compaixão e amor despojado de ego se relacionam só com o amor para com os outros. Mas também nós próprios estamos incluídos no mandamento bíblico que diz: ama ao teu próximo como a ti mesmo. O livro de Marcos mostra Jesus explicando que o principal de todos os mandamentos é: “Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (12:29–31).
O fato de que estamos incluídos no segundo mandamento que Jesus menciona tem relação com nosso senso de propósito, nossa saúde, nosso Cristianismo e até nossa vida. Quão importante é, então, entender que a humildade e a mansidão, as essenciais qualidades do Cristo, não obstam a que vejamos nosso próprio valor e importância. Ao contrário, elas são a base para declararmos com firmeza diariamente o quanto somos amados e importantes, e elas nos capacitam a cumprir o nosso propósito divino, e usufruirmos de saúde e harmonia, nas formas mais práticas e permanentes.
Mas precisamos ir além do senso humanístico de amor ou afeição, o qual declara ou “faz afirmações” do valor de alguém como um mortal que é bom e expressa qualidades maravilhosas e capacidades impressionantes. Deixar de ver nossa origem divina, Deus, é como dar atenção a uma cópia de uma cópia de uma obra-prima, distanciando-nos mais e mais do original, quando, logo de saída, é o original que faz bela a obra. O conceito do bem sem Deus, ou de um bem que se limita a um senso mortal a respeito de nós próprios, nos impediria de ver nosso valor como a expressão da infinita e incansável fonte do bem que Deus é.
Cristo Jesus inicia o Sermão do Monte com a primeira bem-aventurança, que declara radicalmente: “Bem-aventurados os humildes de espírito...” (Mateus 5:3). A interpretação literal ou material dessa bem-aventurança pode nos levar a pensar que somos abençoados quando somos subservientes, nos sentindo inferiores e consequentemente colocando os outros em primeiro plano. E assim passarmos a crer que temos apenas duas opções: servir aos outros até à exaustão, sem atender às nossas necessidades, ou colocar a nós próprios em primeiro plano a ponto de ficarmos tão enfatuados de ego que não enxergamos nossos irmãos e irmãs para ajudá-los. Mas são essas realmente as duas únicas opções?
A interpretação espiritual dessa bem-aventurança anula essas duas opções porque nos faz lembrar que temos necessidade de Deus, o Amor divino, e não de mais ego mortal. Cristo Jesus indica um aspecto fundamental do que significa ser “humilde de espírito”, ao declarar: “Eu nada posso fazer de mim mesmo...” Reconhecendo a Deus como a origem de todo o bem, ele procurava fazer “não a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou” (João 5:30).
Jesus sabia que Deus concede a bênção, e a bênção está em conhecermos a Deus; e é a vontade de Deus que sejamos abençoados em conhecê-Lo. Ele é a Vida, a Verdade, o Amor, a única inteligência e substância. Deus governa, supre e é a causa. Se nos ocupamos em tentar ganhar a aprovação de Deus, não somos “humildes de espírito”; em vez disso, nos esgotamos na roda viva da crença de que existe alguma coisa que podemos fazer pessoalmente, nós próprios, para gerar o bem. Na verdade, nós somos bons, mas não somos a origem do bem. Não produzimos o bem, mas refletimos o bem. Somos a expressão do bem que vem de Deus. Em nossa experiência humana, nossa tarefa é deixar que Deus nos guie ao pensarmos e vivermos constantemente com essa verdade espiritual.
Visto que o Amor divino é ele próprio, o Princípio, é uma lei que só pode ser cumprida.
Podemos sentir-nos tentados a pensar que não somos capazes de amar, por várias razões, ou que não temos merecimento, por várias razões — ou que somos livres para escolher não amar por essas várias razões. Mas qual é o poder que consegue paralisar o Amor divino? Visto que o Amor divino é ele próprio o Princípio, é uma lei que só pode ser cumprida. Exatamente onde um impulso a ser rigorosos conosco próprios parece nos esmagar, podemos reconhecer o quanto Deus nos ama, não como mortais que são às vezes bons e às vezes maus, mas como a verdadeira imagem espiritual do Amor. Como aparece em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy: “Esta é a doutrina da Ciência Cristã: que o Amor divino não pode ser privado de sua manifestação, ou objeto...” (p. 304).
Há alguns anos, meu marido e eu estávamos apertados financeiramente. Comissões diminuindo, trabalhos escasseando, e ainda por cima, milhares de dólares em gastos imprevistos para reparar atos de vandalismo contra nosso imóvel. Fizemos o que normalmente fazemos em situações difíceis: oramos. Mas eu não estava encontrando paz, e parecia não haver soluções à frente. Contatei uma praticista para orar por mim, e ela me ajudou a ver que o único propósito do homem é depender de Deus para tudo.
Tenho de admitir que inicialmente me rebelei contra essa ideia. Mas dei-me conta de que estivera pensando que, quanto mais eu crescesse espiritualmente, menos precisaria de Deus — como se esse fosse o maior objetivo da demonstração espiritual. Mas vi que no fundo isso não era apenas uma rejeição da natureza toda amorosa de Deus, que inclui a todos, mas, por não reconhecer, com humildade e gratidão, o Amor divino como minha origem, eu não estava me amando! E minhas orações, que passaram a ser afirmações de que sou uma com Deus, me levaram a ver que confiar em Deus era a solução perfeita, juntamente com um amor mais profundo para com Deus, e para comigo mesma como filha de Deus. Vi que a própria existência do homem é o reflexo do infinito amor e bondade de Deus.
Em poucos dias apareceram várias soluções para nosso problema financeiro, nas quais não tínhamos pensado. Pudemos pagar nossas contas e cuidar dos estragos. Desde essa ocasião, temos tido tudo o de que necessitamos financeiramente, e passei a ver com mais clareza que para me amar melhor, preciso olhar exclusivamente para Deus. Quanto mais faço isso, mais sinto e mais conheço, de forma exponencial, o Amor divino e a experiência de cura.
O Amor divino nos faz conhecer a Deus como a origem de toda a bondade, e nos faz expressar compaixão, paciência, propósito despojado de ego, e dinamismo. O Cristo, a mensagem de amor vinda de Deus, nos faz ver nosso próprio valor como imagem de Deus, e ver o valor de nossos semelhantes, amá-los como filhos do Amor, como nossos irmãos e irmãs. E visto que Deus nos ama e nos faz amorosos, não sobra espaço para o ódio, a autocondenação, a vontade do ego, ou a ansiedade. Essa é a verdade do nosso existir; somos espirituais e infinitamente valiosos, e refletimos a consciência disso, a qual vem do próprio Deus.
Como reflexo de Deus, somos felizes, completos, íntegros, e sabemos disso. Somos amados e sabemos disso. Somos amorosos e sabemos disso. O Amor divino nos conhece, e nós conhecemos o Amor divino.
Obrigada, Deus, por me amar.
