Talvez exista pouca coisa em nossa vida que nos impressione tanto quanto o que vemos — em nosso dia a dia, nos noticiários, nas páginas das redes sociais e nas nossas interações com os outros. O mundo nos apresenta imagens de guerra, doença, pobreza, tensões raciais, relacionamentos tensos e tragédias pessoais, lado a lado com tudo aquilo que consideramos bom. Acaba sendo fácil acreditar que todo esse cenário seja real e digno de nossa atenção e preocupação.
No entanto, as Escrituras nos estimulam a enxergar sob outra perspectiva, para percebermos o que verdadeiramente existe, ali mesmo onde as imagens sombrias parecem tão reais. Quando, por exemplo, os filhos de Israel pareciam ter sido encurralados pelo exército egípcio e acreditavam que seriam destruídos, Moisés ordenou uma mudança de perspectiva, dizendo: “...Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que, hoje, vos fará...” (Êxodo 14:13). Um salmo implora: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Salmos 119:18). Cristo Jesus declarou que o motivo de sua vinda era “...a fim de que os que não veem vejam...” (João 9:39). E quando o apóstolo Paulo foi convertido de perseguidor de cristãos a embaixador do Cristo, “...lhe caíram dos olhos como que umas escamas...” e ele foi curado de uma repentina cegueira (Atos 9:18). Essas e outras muitas passagens da Bíblia destacam o contraste entre a visão comumente aceita de que tudo seja material, e a percepção espiritual, a compreensão a respeito de Deus, o Espírito, e Sua criação espiritual perfeita.
Deus, o bem infinito, é o único poder criador e a única fonte de nosso existir, que é, portanto, espiritual, e não material. Por isso, contemplar algo espiritualmente significa perceber que a harmonia dessa Verdade divina é um fato presente, no qual anteriormente o observador enxergara apenas uma imagem material, limitada.
Um belo exemplo é o relato do profeta Eliseu em Dotã (ver 2 Reis 6:8–17). O rei da Síria, frustrado com o fato de que as táticas de seu exército se mostraram ineficazes contra os israelitas, levantou a suspeita de que havia um espião em suas tropas. Quando seus conselheiros explicaram que na verdade era Eliseu que, em Israel, em sua capacidade e atuação como profeta, estava revelando os planos sírios ao rei de Israel, o rei da Síria encarregou seu exército de capturar o profeta. Pouco depois, o jovem servo de Eliseu saiu cedo certa manhã e constatou que estavam cercados por uma poderosa força militar, com muitos cavalos e carros. Sua reação assustada foi compreensível, diante daquilo que ele viu: “...Ai! Meu senhor! Que faremos?”
Foi notável a resposta de Eliseu: “Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”. Ele não orou para que Deus enviasse uma força poderosa para ajudá-los, para tirá-los dali por algum meio milagroso. Em vez disso, sua oração foi um simples chamado a uma percepção espiritual: “...Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja...” O resultado? “...O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.”
Esse episódio revela que a oração científica não é um pedido para que Deus intervenha de modo sobrenatural em um mundo material. É um ato de percepção espiritual, que torna visível a realidade sempre presente do bem infinito e do poder infinito de Deus, já ao nosso dispor. É essa percepção da Verdade que corrige e esclarece a visão equivocada, e cura.
Essa história adquiriu novo significado para mim, quando eu era capelão da Marinha dos Estados Unidos. Certa ocasião, fui mobilizado com minha unidade do Corpo de Fuzileiros Navais para uma posição de combate na Síria. Nosso posto ficava em uma vila cercada pelo inimigo que, até alguns meses antes, havia sido uma base para extremistas violentos, que aterrorizaram a população local e grande parte do Oriente Médio. Eu estava ali para dar uma perspectiva espiritual, e também nutrimento espiritual à unidade.
Alguns dias depois de minha chegada, realizamos um culto simples na igreja, durante o qual contei a história de Eliseu em Dotã. Mostrei a esses jovens que eles estavam diante de uma escolha. Podiam ver ao seu redor a imagem dura e perturbadora de uma guerra brutal — ou podiam abrir os olhos para a constante presença de Deus, o bem, e de Seu governo.
Era o momento para uma verdadeira celebração, não devido a uma vitória militar, mas a uma vitória mental. Era o reconhecimento de que exatamente ali onde o mal parecia erguer a cabeça de maneira dramática, bem ali podíamos celebrar a presença de Deus e nos regozijar em Seu poder de nos dar liberdade, paz e segurança.
Nos meses que se seguiram, a missão da unidade foi concluída e todos os fuzileiros e marinheiros voltaram em segurança para casa no final da mobilização, motivo pelo qual continuo profundamente grato.
Talvez o maior desafio em nosso trabalho de cura seja esse esforço para visualizar a Verdade espiritual e não nos deixar impressionar com o quadro que os sentidos materiais apresentam diante de nós. É fácil dizer em tom aflito, como o servo de Eliseu: “Ai! Meu senhor! Que faremos?” Talvez seja fácil achar que a imagem pintada pelos sentidos seja real e tenha poder, principalmente quando muitos ao nosso redor concordam com as conclusões materiais. Provavelmente é por isso que as Escrituras sempre voltam a esse assunto e enfatizam tanto a importância de enxergar espiritualmente, enxergar com percepção espiritual.
Mary Baker Eddy descreve essa diferença entre o falso senso material e a percepção espiritual. Em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, lemos: “O senso humano talvez se admire da desarmonia, ao passo que, para um senso mais divino, a harmonia é o real e a desarmonia é o irreal. Podemos até ficar atônitos perante o pecado, a doença e a morte. Podemos até ficar perplexos ante o medo humano; e ainda mais assombrados ante o ódio, que levanta sua cabeça de hidra e mostra seus chifres nas muitas invenções do mal. Mas por que deveríamos ficar apavorados ante o nada?” (p. 563).
A Sra. Eddy destaca a importância dessa mudança de percepção em todas as suas obras publicadas, o que nos faz lembrar de que nós também temos de nos esforçar para deixar de olhar para o que é material e recorrer conscientemente ao que é espiritual. Mas como é que se faz isso?
Dedicando-nos a pensar todos os dias, até mesmo todas as horas, no que Deus é e no que Ele sabe a nosso respeito e nossa situação. Ao compreendermos que Deus é o Amor e a Vida sempre presente, que tudo sabe e é todo-poderoso, podemos ter a certeza de que o Amor está cuidando de todas as nossas necessidades e nos está envolvendo com as evidências do bem, da Vida.
O Glossário de Ciência e Saúde nos dá a definição espiritual de olhos: “Discernimento espiritual — não material, mas mental” (p. 586). Podemos continuamente perguntar a Deus: “O que é que Tu, Deus, estás vendo e revelando para mim aqui, apesar do quadro material que se apresenta?
A beleza da percepção espiritual é que não se trata de tentar mudar a condição humana ou implorar a Deus que o faça. Também não significa que a percepção espiritual seja algum tipo de força de vontade. Pelo contrário, consiste em humildemente não olhar para o que o senso material diz a respeito do mundo, por mais impressionante que seja, e permitir que Deus nos revele a realidade espiritual perfeita que Cristo Jesus trouxe à luz em seu ministério de cura. Deus nos deu a capacidade inata para enxergar esse fato. Nossa tarefa é simplesmente ver o que Deus revelou.
