À sós, eu orei mais ou menos assim: “Deus, eu pensava sinceramente que me sairia bem na tarefa de ser pai, mas sinto que estou fazendo tudo errado, preciso de Tua orientação, sim, preciso muito, muito, para poder ajudar estes filhos”.
Na Bíblia, encontramos a seguinte afirmação do apóstolo Paulo: “…quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12:10). Por mais assustadora que seja a fraqueza humana, em muitos aspectos, não é tão ruim alguém estar nessa situação — especialmente em relação à paternidade. Perceber que não podemos agir sozinhos abre a porta para buscarmos a presença de Deus e ouvir Sua orientação. Nesse momento, eu tive o profundo desejo de ser o reflexo de como o Pai-Mãe estava cuidando de nossos filhos, de colocar em prática o que eu compreendia sobre a verdade de Deus, sobre mim e minha família.
Naquela noite, Deus me ajudou. Ouvi três respostas sobre paternidade, que eu precisava compreender, do ponto de vista espiritual. A partir de então, tenho crescido em minha compreensão dessas respostas e em minha capacidade de colocá-las em prática. Estas são as três questões que aprendi: esperar em Deus, cuidar do trigo e entregar meus filhos a Deus.
Esperar em Deus
Essa orientação bíblica mostra o valor de silenciarmos as palavras, fazer uma pausa nas ações humanas e, em oração, buscar a orientação do Amor divino.
Quando nos tranquilizamos e somos pacientes, permitimos que seja sentida a presença do Deus conosco, o Cristo, a ideia espiritual do Amor divino, e assim, enquanto esperamos para ouvir a Deus, percebemos que não estamos exercendo a paternidade sozinhos.
Quando as coisas ficam difíceis com nossos filhos, o erro — aquilo que Jesus chamou de “mentiroso” — sugere que nós, por nossa conta, temos de fazer alguma coisa, e que devemos fazê-lo agora mesmo. No calor de um momento difícil, pode parecer que, entre o que um filho está fazendo ou dizendo e a necessidade de reagir, não há tempo para decidir como responder, nem tempo para esperar por Deus. Contudo, na verdade, entre o estímulo e a resposta há sempre uma opção — existe o direito dado por Deus de se fazer uma pausa, de ser paciente, ouvir em espírito de oração e prosseguir com inspiração. Esse processo não precisa ser demorado. A pausa, o ouvir e a resposta podem acontecer em um instante.
Esperar em Deus nos permite confiar em que a resposta a uma determinada situação será eficaz. Em parte, é admitir que nós, como Mary Baker Eddy ensina em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras “…[achamos] tudo em Deus, o bem, sem necessitar de nenhuma outra consciência” (p. 264). Fazer uma pausa nos permite ver como Deus vê o filho. Ver espiritualmente como Deus vê nos permite fazer a separação entre ações ou palavras inadequadas e a identidade do filho criado por Deus.
Apoiados na compreensão de que os filhos são representantes de Deus, é possível perceber que o comportamento inadequado não é um ataque pessoal contra nós, mas uma imposição material sobre eles — sobre sua identidade espiritual criada por Deus. Então compreendemos que a atitude de rebeldia é um pedido de amor e, em oração, podemos afirmar que eles são capazes de ouvir diretamente do Amor divino aquilo que atende às suas necessidades mais profundas.
É um direito outorgado por Deus que cada filho tem, o de ouvir a comunicação vinda do Amor divino e ser receptivo.
Cuidar do trigo
O passo seguinte é: focar nas soluções e não nos problemas. Jesus ensinou isso na parábola do joio e do trigo, no Evangelho de Mateus (ver 13:24–30). No relato, Jesus discorre sobre alguém que espalha ervas daninhas (joio) no campo de outra pessoa, para destruir a colheita de trigo. Quando os trabalhadores descobrem o que aconteceu, perguntam ao proprietário do campo se devem arrancar as ervas daninhas, mas o proprietário, surpreendentemente, responde que não, porque o trigo também poderia ser arrancado. Em vez disso, ele diz para deixarem o joio e o trigo crescerem juntos até a colheita, quando o joio será facilmente identificado porque é mais alto e mais escuro do que o trigo.
Para corrigir nossos filhos, devemos seguir essa orientação da Bíblia, que trata da importância de pensar no trigo, mais do que em arrancar o joio. Quando o bem é cultivado, ele cresce, e aquilo que parecia tão difícil se transforma em algo que, de fato, nunca teve nenhuma realidade ou poder para destruir o bem. Cuidar do trigo é vislumbrar a ideia divina, o filho criado por Deus, e reconhecer o bem que esse filho expressa. Como Deus é todo o bem, Ele desconhece os problemas. Deus conhece e mostra as soluções, tanto aos pais quanto aos filhos.
Criar filhos dessa forma é pôr em prática a orientação da Bíblia que diz “retende o que é bom” (ver 1 Tessalonicenses 5:21). Mary Baker Eddy, por sua vez, ilustrou como Cristo Jesus se apoiava no bem, no espiritual, e o efeito que disso resultava, quando escreveu: “Jesus reconhecia na Ciência o homem perfeito, que lhe era visível ali mesmo onde os mortais veem o homem mortal e pecador. Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes” (Ciência e Saúde, pp. 476–477), e cura tudo o mais. Portanto, a criação dos filhos com os fundamentos da Ciência Cristã deve apoiar-se nesse ponto —reconhecer a ideia criada por Deus e saber que os filhos estão capacitados por Deus para ouvir e agir de acordo com o que é bom.
Um aspecto importante para alcançarmos esse ponto é reconhecer que a paternidade, em sua forma mais pura, em sua forma espiritual, não é algo que nós, como seres humanos, exercemos por conta própria. Exercer a paternidade ideal é refletir o que Deus, o divino Pai-Mãe de todos nós, está fazendo. A partir dessa compreensão, a paternidade ideal não é apenas possível, ela é inevitável e natural.
Entregar nossos filhos a Deus
É de grande valor estar disposto a mentalmente entregar um filho a Deus e confiá-lo ao Amor divino. Isso não significa negligenciar as necessidades do filho, o que inclui dar orientação adequada, mas os pais podem confiar e comprovar a verdade de que Deus comunica exatamente o que é necessário, para que a jornada de seus filhos seja construtiva.
Quando eu era criança, minha mãe leu e decorou o seguinte poema publicado no Christian Science Sentinel e orava com ele diariamente, tanto para si mesma, como para mim. Quando minha esposa e eu tivemos filhos, eu também o decorei.
Entrega
Filho amado, sob as asas dEle,
Acima de minha maternidade mortal,
Que tenha eu a graça de ver-te ali,
E que eu saiba apenas o que Deus sabe.
Oh, deixa-me te libertar das amarras
De falsas exigências
Que o senso mortal forjou
Com meu medo finito, desejos, sonhos,
Com os quais eu amarraria tua vontade à minha.
Ao contrário, à Sua autoridade,
Cujo amor sustenta a você e a mim,
Possa eu entregar minha vontade humana,
E, assim ainda mais perto te sentir.
(Abigail Joss, 29 de setembro de 1962)
Entregar um filho a Deus é ter a consciente expectativa do bem, da transformação sanadora, é despojar-se do senso de posse e reconhecer o poder da presença de Deus, Pai-Mãe Amor. Entregá-lo a Deus é também confiar em que, embora momentos antes tenhamos aparentemente feito tudo errado, na verdade o amor de Deus está protegendo, instruindo, purificando, fortalecendo a eles e a nós, e dando a vitória.
Compreender que só o Espírito faz desabrochar a vida de nossos filhos, e que o Amor os ampara a cada etapa de sua jornada, nos permite prosseguir com humildade, esperança e graça em nossa missão de pais. Portanto, espere em Deus, cuide do trigo e mentalmente entregue seu filho ao sempre presente Amor divino. O resultado certamente será bênção e progresso.
