O pensamento humano geral às vêzes considera que a independência e a obediência se excluem mùtuamente. O pensamento apoucado julga a independência como um estado em que se está livre da necessidade de obedecer, isto é, um estado em que se pode fazer o que se quer. E pensa-se na obediência meramente como num estado de sujeição a contrôle, ou de concordarmos com algo que uma autoridade exija. Quem aceitar essas limitadas definições, provàvelmente sentirá que a obediência de qualquer espécie, priva-nos da liberdade de ação e da independência. Enfrentando êsse conceito errado, universalmente aceito, a Ciência CristãChristian Science — pronuncia-se: Crístian Çai'ens. ensina que a independência só pode ser obtida quando compreendida espiritualmente pelo indivíduo obediente.
O que, então, é a verdadeira independência, e o que é a obediência mediante a qual a podemos conseguir?
Pensamos ser independentes se temos independência política ou financeira. No entanto, estaremos conscientes de que somos, na verdade, independentes no que se refere às questões básicas da vida, da inteligência, da substância, e do êxito em geral? Ou cremos que a vida e a saúde dependem do corpo, a inteligência depende da formação do cérebro, e a substância e o suprimento dependem de certas formas de matéria estarem à nossa disposição? Porventura aceitamos a idéia de que nossa liberdade e nossa felicidade dependem do que os outros possam, ou não, fazer para nós? Se é isso o que cremos, admitimos que em todos êsses aspectos importantes, estamos longe de ser independentes, pois dependemos da matéria, da chance cega, dos caprichos das circunstâncias. Nesse caso, excluímos Deus da nossa valorização das coisas, e vivemos, desnecessàriamente, uma vida de temor à dependência do jôgo do bem e do mal.
A Ciência Cristã ensina que essa sensação de dependência, êsse mêdo ao desconhecido, é servidão a um amo irreal. É uma ilusão que pode ser destruída. E nossa verdadeira independência espiritual é a verdade sôbre nosso ser. É nosso direito inato, que podemos realizar e desfrutar, por meio de uma sagrada dependência de Deus — não, porém, de um Deus como um Ser mitológico, misterioso e indefinível, mas de um Deus que se pode compreender e demonstrar, como Amor divino que tudo sabe, o único legislador, a quem devemos completa obediência.
Depender de Deus não é sujeitarmo-nos timidamente à servidão, mas é apoiarmo-nos, com confiança, na própria Verdade; é a verdadeira independência espiritual.
E o que é a verdadeira obediência? O exemplo mais inspirado dessa obediência nos foi dado por nosso Mestre, Cristo Jesus. Seus ensinamentos mostram que a obediência, no mais alto sentido, nunca está separada da verdadeira inteligência. Não é, portanto, mera subordinação, nem é uma irrestrita aceitação da vontade de outrem. Mesmo o espírito do exemplo de sua vida mostra — e isso está claramente declarado na Ciência Cristã — que a obediência, como preço da verdadeira independência, é um feliz permanecer na lei divina do bem espiritual. Em sua resposta ao escriba, Cristo Jesus resume [em dois mandamentos] as exigências que essa lei nos faz (Marcos 12: 29–31). O principal [mandamento] é: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de tôda a tua alma, de todo o teu entendimento e de tôda a tua fôrça. O segundo é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que êstes.”
Como continuação dêsse ensinamento, Mary Baker Eddy indaga Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 256: “Quem é que exige nossa obediência? É Aquêle que, na linguagem das Escrituras, opera ‘segundo a Sua vontade ... com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem Lhe possa deter a mão, nem Lhe dizer: Que fazes?’ ” E elabora ela sua própria resposta, na qual declara (ibid., p. 184): “A Verdade, a Vida e o Amor são as únicas exigências legítimas e eternas impostas ao homem, e são legisladores espirituais, que compelem à obediência por intermédio de estatutos divinos.”
A única prova que podemos dar de obedecermos a Deus porque O amamos de todo o nosso coração, é expressarmos, em nossa vida cotidiana, apenas a Sua pura, gentil inteligência, da melhor maneira que pudermos, e resistirmos a tôdas as sugestões que argumentem contra o fato de Deus ser Tudo, compitam com Sua autoridade única sôbre nós, e exijam que nos submetamos às ameaças dos sentidos materiais.
Essa resistência, porém, não é mera determinação humana para manter os padrões morais e éticos reconhecidos por todas as religiões cristãs, não importa quão valiosa e digna de louvor seja tal determinação. Na Ciência Cristã resistimos ao mal, como resistimos aos efeitos de um sonho mau, pois compreendemos cientìficamente a natureza ilusória, a própria irrealidade de qualquer poder ou mente que pretenda existir separada e oposta a Deus. É, portanto, por meio dessa resistência ao mal, associada à obediência ao Amor divino, que conseguimos alcançar nossa independência de tudo quanto pretenda nos amarrar a um estado de dependência na materialidade.
A desobediência à lei divina do bem nunca ajudou alguém a conseguir espécie alguma de independência, nem mesmo no seu estreito sentido financeiro, sem extrair dessa pessoa o horrível preço da deterioração do caráter, da saúde, e das relações humanas.
A plena obediência às exigências divinas requer submissão consciente da vontade humana escravizante, e de todos os desejos mesméricos dos sentidos, à orientação sempre presente do Princípio divino. Tal obediência, simultâneamente com sua recompensa, a felicidade, a inteireza, a bondade da verdadeira independência, vem ao coração sòmente quando, através do estudo da Ciência Cristã, chegamos a compreender a inteligência e a pura bondade das exigências divinas, quando nos tornamos espiritualmente sensíveis a elas, e nos devotamos à sua realização. Então sentiremos a alegria de obedecer a Deus e experimentaremos a liberade da independência espiritual total, que é o legado perpétuo de Deus aos seus amados filhos.